Para meus filhos, sobre o caso da menina Isabella Nardoni.
Meus filhos, o caso da Isabella Nardoni não é para piadas, mas não resisto a uma. Por isso, o título esdrúxulo acompanhado da foto. Mórbido, não? Quero explicar-lhes o que houve naquela noite em São Paulo. Ora, é óbvio que vocês já notaram que às vezes me descontrolo, ficando muito irritado com vocês. Eu já berrei e tive vontade de matá-los por tênis embarrados deixados no meio da sala, por algum esquecimento tolo ou por motivos maiores. Eu juro que, em alguns desses irrefletidos momentos, senti tanto ódio que quis acabar com vocês.
O que diferencia a loucura da normalidade é que as pessoas ditas normais sentem a raiva crescer como um oceano de sangue quente que sobe direto à cabeça e… ou não fazem nada ou apenas gritam feito loucos ou saem da sala batendo a porta. Vocês sabem, já fiz vários escândalos desse tipo. Mas os loucos deixam que o ódio absoluto seja transformado em atos de agressão física. Houve um sujeito chamado Sigmund Freud que ensinou que civilização é um monte de coisas, mas também é repressão. A gente é educado desde pequeno a não sair matando gente por aí só porque nos bateu uma raiva incontrolável. Incontrolável uma merda. A gente sente a raiva, dá um soco na mesa, a mão dói e a gente trata de tentar conversar. É assim que acontece.
Quando te perguntei, Bárbara, se alguma vez tiveste vontade de me matar, tu respondeste que nunca, porém depois pensaste melhor e respondeste que só umas duas vezes… Viste? É normal. Nós nos amamos, mas já tivemos momentos de irreflexão em que achamos que o mundo seria melhor se um de nós não existisse. É normal. O que não é normal são pais que se deixam tomar pela violência irrefletida por longo tempo.
Quando, por exemplo, critico vocês com argumentos e palavras razoáveis, a Claudia normalmente me apóia, mas nas raras vezes que rugi feito um louco, ela sempre me criticou acerbamente e mandou-me parar. Mandou mesmo! E eu obedeci. Noto agora que sempre tive meus ataques na frente dela, talvez porque inconscientemente soubesse que não haveria apoio. Ou seja, os pais controlam um ao outro.
O que é loucura é que ambos se voltem contra uma criança a fim de assassiná-la. O que não é normal é que um tenha tido o descontrole de bater na cabeça de uma menina sem oposição do outro. Mais incrível é que o outro, em vez de protegê-la, ainda a tenha estrangulado. E o mais inacreditável é que eles tenham combinado atirá-la pela janela. Vocês não imaginam o quanto sempre estiveram longe de um ato desses.
O que faz com que esta notícia vire assunto nacional é a conjugação de vários fatos: a criança era branca, paulista e de classe média. Isto é, o crime foi cometido por gente como nós, gente que já sentiu vontade de, eventualmente, atacar suas crianças em momentos de descontrole. Ou seja, a sociedade branca do maior estado brasileiro, está fazendo um tratamento psiquiátrico coletivo. O resto país aproveita e se trata também. Todos estão condenando o próprio ódio e descontrole, que sabem eventualmente possuir, como coisas realmente hediondas. Têm razão nisso. O casal Nardoni entrou como uma luva num medo que é de todos. Quando eu abri o quarto do Bernardo numa manhã dessas e vi que ele não tinha chegado – ele me prometera chegar a determinada hora da madrugada -, quando vi que ele não atendia o telefone, disse para minha mulher que ia matá-lo…, mas só fui capaz de umas ácidas ironias quando ele chegou em casa. Ainda bem. Ele notou que tinha sido grave e passou a me avisar. Mas é contra aquele demônio que deseja matar que estamos fazendo a catarse coletiva que envolve o casal Nardoni.
Afinal, o público consumidor de notícias é branco, de classe média e, volta e meia, sente ímpetos de esganar seus filhos. Se Isabela fosse de uma família pobre e favelada, tendo sido atirada num barranco qualquer por um pai criminoso, não receberia grande atenção dos jornais e televisões. Por quê? Ora, porque os pobres não consomem jornais e haveria dificuldade de identificação por parte dos leitores. Mas um casal que mora bem, que possui carro e é branco e paulista? Nossa! Isso somos nós e por este motivo é tão impactante.
Meus filhos, vocês riram muito quando anunciei o título deste post e é claro que ele está aí para chamar a atenção de quem passar. Saibam que, de qualquer modo, para fazer seus corpinhos caírem de forma eficiente me daria muito trabalho. Teria que subir até o terraço. Não é fácil a vida de quem mora no primeiro andar…
Milton, vc está precisando de ajuda?
posso te dar o telefone de um terapeuta familiar muito bom. mas acho que um individual te ajudaria muito também…
há medicações atualmente muito eficientes com poucos efeitos colaterais e resultados surpreendentes e rápidos.
Ah! vc me dá o celular da Cláudia?
pobres criancinhas…
ah: realmente, o título é ótimo!
“Ou seja, a sociedade branca, do maior estado brasileiro, está fazendo um tratamento psiquiátrico coletivo.”
Muito bom. Aliás, diria que a classe média hoje enfrenta uma espécie de crise moral. Essa notícia, como outras também, forçam-nos a olhar no espelho antes de dormir e dizer: “Não, eu não chegaria nesse ponto!”. Mas o simples fato de olhar no espelho é um reconhecimento da existência, bem lá no fundo, de alguns demônios internos que todos temos e devemos enfrentar.
Milton,
sua “carta” nos permite ‘leitura’ em vários níveis: desde o factual de sua(nossa) relação com a frustração – mesmo que causada por aqueles que amamos – até à compreensão sociológica da cobertura midiática e do interesse ‘coletivo’ sobre o caso Isabella. Ódio todos sentimos, seja por motivos graves seja pelos fúteis, principalmente pelos fúteis. E pior, tanto maior será nossa fúria quanto mais seu objeto tiver significação afetiva para nós. Quantos crimes se cometem nessas circunstâncias? “Matar por amor” é uma explicação comum, não é mesmo?
Você, porém, nos alerta: se o ódio é tão mortífero, há que controlá-lo, reprimí-lo. É operação violenta e difícil, mas a cultura está aí para nos dizer: “isso pode, isso não pode”. O auto-limite será tanto mais eficaz quanto mais formos capazes de encontrarmos saídas “simbólicas” e “sublimadas” para as pulsões. Estas, nos ensina Freud, querem o gozo a todo custo, buscam satisfação não importa como, mesmo que seja pela violência, assassinato, roubo, sacanagem com os outros, etc. Às vezes, até contra si mesmo. É o que constitui a “passagem ao ato”, acontecimento mais comum nos surtos psicóticos ou naqueles que poderíamos considerar psicopatas, portadores de transtorno de personalidade antissocial ou outro nome catalogado nos Manuais. O que espanta no caso Isabella é a convergência de perversão, a simultaneidade da “passagem ao ato” por parte do casal (supondo que sejam mesmo os assassinos, pois não serei eu a afirmar antes da Justiça). Alguns psiquiatras se perguntam sobre a ocorrência de uma folie à deux, fenômeno raro em psicopatologia.
De volta à sua carta, caríssimo Milton, que bom que a tenha escrito!
Sabe, lembrei-me daquela frase:”quando eu aponto o dedo pro vizinho, eu tenho três voltados para mim”. é hora de refletirmos sobre nossos ódios. Aquela história de “mas eu não queria quebra o braço dele”, ou coisa parecida precisa acabar. Se bater fosse educar, os carandirus seriam Universidade de pessoas educadas.
abraço, garoto
Não entrei à 0h00, como pediste, mas antes tarde que mais tarde. Especialmente se a leitura é de primeira grandeza, como essa foi!
Cheguei aqui pelo blog do Claudio. Li seu post e não quero tecer comentários. Já publiquei 3 posts no ellara.blog.uol.com.br falando nesse assunto, sem abordar a comoção pública causada. Cada um tem seu ponto de vista e devemos respeitarmo-nos. Elza
Amar é … acariar, cuidar, alimentar, educar, brigar, beijar …
Se temos como instinto cuidarmos da nossa cria e defendê-la, como os pais podem matar barbaramente os seus filhos queridos ?
É simplesmente ininteligível.
Excelente. Quase. Faltou Bernard Herrmann.
Hahahaha
Milton,
gostei muito do seu texto, embora acredite – e quero acreditar, que a historia nao e bem como a policia nos induziu a concluir. Existem algumas questoes para mim, nao levadas em consideracao. Mas gostaria que voce comentasse tambem o caso daquele pai que aprisionou a filha e teve com ela 7 filhos. Violencia nao se mede pelos fatos nem se compara, eu sei, mas este caso ficou muito marcado na minha memoria, pela violacao do direito mais sagrado do ser humano que e a liberdade. Os filhos nem se quer sabiam o que era a luz do sol, os jardins floridos, o gosto da chuva caindo sobre nosso corpo… O que foi feito de monstruosidade foi feito, nao ha como apagar. Isto condicionara a vida destas pessoas… quebrou-se uma porcelana rara, nao ha como colar… sempre sera cacos…
Parabens pela sua escrita.
Dora
olá Milton,
Gostei muito do seu texto, penso como você ,a grande mobilização aconteceu por causa da identificação massificada com o descontrole dos pais. Mas não foi descontrole , nem raiva , foi um ato planejado, concordo com você sobre a diferença entre : querer matar,e matar! Mas aqui não foi o caso eles planejaram a morte da menina, foi um pacto que aconteceu bem antes do fato , não sei quando, nem como, sequer se foi explícito , mas o pacto entre os dois existía. Eles lavaram o apartamento antes de jogá-la, houve todo um ritual psicótico. Agora continua o pacto e a psicose, quando se declaram inocentes.
Por outro lado ,contei a notícia para minha mãe ,de 84, que mora na holanda, e para ela a notícia era banal , la , na holanda noticias iguais e piores que essa , acontecem todos os dias!
Saudades
Stella
Milton,
Também moro no primeiro andar e tenho um filho de 24 anos que às vezes me tira do sério e me faz fazer o papel ridículo de gritar, vociferar, até dar uns tapas (ele é o dobro do meu tamanho!).
Cair do primeiro andar é só prejuízo: dente quebrado, braço e costela talvez, no máximo uns arranhões. Brincadeira.
É importantíssimo que as nossas crianças saibam do lado totalmente insano dessa tragédia, que é exceção à regra. Pais existem para proteger os filhos e é isso que fazemos a vida toda.
Importante também que eles saibam que podem ser feridos por gente má, louca, que devem se cuidar em relação aos outros.
A Luma comentou seu texto comigo – tem toda razão, é muito bom. E as pessoas que comentam aqui também são ótimas.
Ô Flávia, dá pra você passar pra mim o telefone do psiquiatra? Sei lá, pode ser útil…
mautita mulher ana carolina jatoba
Tem que ser só um pouquinho inteligente pra perceber o potencial que você tem de se expressar!
Há uma coisa que quero lhe dizer agora: PARABÉNS.
Adorei sua matéria!
Quanto aos comentários de psiquiatras e bla bla bla: ESTUDEM INTERPRETAÇÃO DE TEXTO!
foi caso mx reod uadsad pia kadsiow
aos quatro dias atras tive uma visao por um breve momento descubrir por uma filha que meche na internet,se a mae da isabella quiser falar comigo eu vo estar aguardando.nao divugue isso a imprensa ou qualquer tipo de comunicacao.
sentimos sua falta iisa 😉
foi orivel o q fiserao coixa q vai marca pra sempre …
bom eu acompanho o caso isabella desdo inicio…
me comovel muito…
eu moro em pernambuco mas queria muito poder ver a mae de isabella…
perde um bebe ainda na barriga e sofri muito…
imagine ela que conviveu com aquele anjo de luz ne….
bom eu oro todos os dias por ela e pela isabela…
tbm acompanhei o julgamento passo a passo e adorei a condenação…
como se pode ter corajem de tira a vida de uma criança….
covardes os dois ai meu deis tomara que eles apodreção na cadeia…
bom espero que ela melhore apesar da isabella nao vouta mas ela vai descança em paz ne…
bjks fica com deus…
NAO TEM NINGUEM MESMO Q