Gosto de carros, de todos os esportes e de muitas outras coisas que nada têm a ver com prática literária. O prazer não me dá remorso. Onde não há prazer não há proveito, escreveu Shakespeare. Não sou como esses escritores que só sabem falar de literatura e cujas obras nunca se equivalem ao que sabem ou pensam saber. Falo de qualquer coisa, estou atento ao acontece ao meu redor. Não vivo num buraco, alimentando-me de sopa de letrinhas.
Sergio Faraco em entrevista para a Revista Aplauso, Nro. 44.
The cinema is not a craft. It is an art. It does not mean team-work. One is always alone; on the set as before the blank page. And for Bergman, to be alone means to ask questions. And to make films means to answer them. Nothing could be more classically romantic.
Jean-Luc Godard em “Bergmanorama”, Cahiers du cinéma (Julho de 1958)
A tranquilidade de espírito, a ausência de ansiedade, a ausência de medo: são estes os ingredientes da felicidade.
Iris Murdoch em Um Homem Acidental.
Agora, uma pequena amostra de trechos de e-mails. Meus amigos – dentre eles alguns blogueiros – não se mostraram maravilhosos, angustiados, adultos, felizes, tolos, bons, saudosos, inteligentes, bem comportados, engraçados, irritados, tolerantes, simpáticos, sentimentais, insuportáveis, provocadores…? Deixo quase todos anônimos, alguns por motivos óbvios, penso.
Algum tempo atrás, a BBC perguntou às crianças britânicas se preferiam a televisão ou o rádio. Quase todas escolheram a televisão, o que foi algo assim como constatar que os gatos miam e os mortos não respiram. Mas entre as poucas crianças que escolheram o rádio, houve uma que explicou:
— Gosto mais do rádio, porque pelo rádio vejo paisagens mais bonitas…
Quer saber? Adoro crianças. E, sem pretender nem de longe igualar-me a uma, a verdade é que gosto mais de livros do que de filmes porque naqueles vejo paisagens mais bonitas…. Com toda a franqueza, vou te dizer uma coisa que sei que pode soar como fazer gênero ou até hipócrita. Um dos termômetros que considero infalíveis para medir o caráter de uma pessoa é ver como ela se relaciona com crianças. Não precisa nem ser com os filhos: se alguém despreza crianças ou as machuca ou magoa de qualquer maneira, não interessa quantas qualidades possa ter: para mim é um mau caráter.
Naila Freitas
Milton, alguns elementos de RUSSO, assim de supetão.
Em russo, vermelho é “krassnii”. E a origem de “krassni” é a mesma do substantivo “beleza”; ainda hoje, pode-se usar “krassni” para classificar uma coisa de bela, numa linguagem assaz erudita – e um tanto antiquada. E “prekrassnii” – “krassnii” com um prefixo trivial – significa “maravilhoso”, na linguagem usual dos russos. Por acaso não torcemos INCLUSIVE para o time certo? Queres mais? Azul é “galuboy”… Eu, desde o inicio, achava que a palavra soava muito, mas muito estranha. Evitava pronunciá-la até. Pois sabe o que eu fiquei sabendo? O outro significado de “galuboy” é viado, puto, bicha… De novo, nós não torcemos INCLUSIVE para o time certo? A fonética é maravilhosa!
Por outro lado… Sabias que “vodka” é uma palavra que, originalmente, é uma derivacao carinhosa da palavra “vadah”, que significa água? E que o verbo beber é “pivv”, em russo, e que “piva”, o verbo substantivado, significa cerveja? Não é debalde que quando a gente enxergava o Ieltsin ele estava cambaleando…
Marcelo Backes, em momento politicamente incorreto.
Meus poucos prazeres andam se resumindo a emitir tais resmungos — que o X. ainda publica — na “elegante melancolia do crepúsculo”, como diria Chaplin (em Limelight).
Faltam as pequenas, acolhedoras livrarias – e faltam as moças de óculos, muito bonitas sem as lentes, de vista e pernas cansadas, após as passeatas de estudantes. Faz cem anos; liam Sartre (e, mais ainda, Simone); os filmes de Bergman enchiam de sombra cinemas de namorados e éramos jovens de um modo imortal, que não existe mais.
Saudade.
oi meu irmão
amo também Tarkovski, meu cineasta predileto.
sei cenas de cor. a impregnação poética, o silêncio palpitante como um animal ferido, a beleza melancólica, o outro lado úmido do espelho, o bafo dos animais, a extensão de campo do homem: “para um filme viver no tempo é preciso que o tempo esteja vivo dentro do filme”.
o único filme que eu ainda não assisti dele é Andrei Rublev. nem quero ainda. é como guardar uma esperança.
obrigado pelas tuas dicas.
abraços
Sei lá se tô metendo as fuças onde não sou chamada. Mas é que me dói ver pessoas que quero bem, tristes. E esta é uma constante, atualmente, à minha volta. Ela está triste. Muito triste. Havia anos que não a via assim.
É mais difícil esquecer os ódios do que os amores, de outro modo, é mais difícil (não) detestar de imediato o que me lembra o que mais odeio, do que amar mais do que aquilo que amo. Isto é, é mais difícil não detestar o Inter, por ligações diretas, no meu cérebro, ao Benfica, do que juntar ao clube que amo outros clubes para amar. Não sei se fui claro.
Por lealdade aos outros, e por acabar com o tempo concordando com o julgamento dessa colega (sobre como ser pragmática e focada num cesto de ofídios), é que coloquei-a em algum outro mundo. No início foi muito difícil, apagar simplesmente alguém que sabia de mim coisas tão doídas e profundas, e com quem eu me abria, por esse maldito jeito transparente demais, sempre sem filtro, sem qualquer maquete prévia. Acho que enxergar alguém com um pré-projeto definido foi o mais doído.
Recordo-me de meu pai me contar que a minha tia X. foi a tribunal por uma questão qualquer mesquinha. Então, o juiz, depois de minha tia prestar declarações disse – A senhora mente com todos os dentes que tem. Então, a minha tia voltou-se para o Juiz e disse – Meritíssimo tem toda a razão! Não estou a mentir. Abriu a boca e disse – Como V. Exa. pode verificar que nem um só dente tenho.
O lado afetivo é o mais importante na idade dela… Eu, pessoalmente, não pensava no ambiente (materialmente falando) e sim nas pessoas e no carinho que eu recebia, à essa época da vida…. Me lembre, dez anos tem ela, não?
Esse convívio numa atmosfera de carinho e de proximidade vale mais que vida em palácio, estou certo disso, por tudo que vivi …
Espero que todos estejam bem! Há meses que tenho estado ensimesmado com a empobrecedora dualidade “casa-trabalho”. Se o desencanto já era evidente em relação ao governo, com as últimas notícias ele se ampliou como nunca. Sobre isso, gostaria muito de conversar pessoalmente. Por enquanto, prefiro aguardar o desenrolar dos acontecimentos. No entanto, as notícias pinçadas em diferentes fontes não são alentadoras…
A novidade é que serei pai novamente! O rebento se chamará X. e já tem cinco meses.
Uma conhecida diz que ela não está gorda, o problema é a altura que não está de acordo, é muito baixa. Hauehauehauehauehauehuaeua…
Tentei ler As Ondas, da Virginia Woolf, em espanhol, mas achei complicado… Não seria melhor ler Borges em inglês? risos
Me separei com 36 anos. Imagine o bando de peruas maquiadas e vestidas para matar que eu encontrava nos bares em happy hours, dispostas a qualquer coisa. Mas também encontrei mulheres que estavam na delas, tranquilas, divertidas e dispostas a paqueras mais leves e lentas. Com algumas destas fiz amizade.
Quanto aos homens que encontrei pela frente durante este período, mais de 50% era casado, com filhos pequenos e querendo a eterna emoção da conquista. Nos noutros 45% estavam os doidos, os infantis, os separados querendo me botar na sua ” lista” de prováveis candidatas segunda relação. Encontrei bem poucos que queriam um amor e que estavam dispostos a investir tempo, cuidado e sensibilidade em sua construção. Apenas dois.
Perdi a conta dos casados que me cantavam na porta da geladeira de suas cozinhas, com a esposa na sala servido canapés a seus amigos, ela linda e jovem, inteligente e muitíssimo desejável. Acho que cantavam por… por costume… por exercício de machismo… por babaquice… por idiotia. Por acharem que, se eu não tinha um par, estava doida pra “dar” a qualquer um. Homens assim me tiraram a vontade de casar outra vez.
É verdade que seu estudo estatístico tem alguma substância. Entre as 64 advogadas e médicas (treinadas para atacar e defender, em teoria) há um grande número de desesperadas. Tenho algumas conhecidas assim. Uma delas até atacou um dos meus namorados na cozinha!
Pô, Milton, mas eu não sou um fauno, em absoluto. Sou um romântico…
Como imaginava, o almoço na casa de X. foi muitíssimo mais divertido do que o filme. Infelizmente, estou proibida pelo meu marido de contar tudo o que vi e de transcrever as conversas maravilhosas que tive e que ouvi. E que remédio tenho eu senão obedecer-lhe sem questionar. Mas não resisto a contar que as amigas da puta da ex-namorada do meu marido passavam pelo sitio onde eu estava, olhavam e iam-se embora. Iam àquele sítio da casa para me verem. Adoro a decadência.
Pois é. Ele escreve muito mal e esta é uma discussão muito presente no núcleo da revista. Pelo menos, conseguimos fazer com que ele não use mais parênteses dentro de parênteses…
Meu amigo querido,
as emoções começam a se aquietar em meu coração descompassado. Saiba que adoro Truffaut. Mesmo! E Jules et Jim é um dos filmes da minha vida! Aqui tb o frio resolveu aparecer para alegrar meus dias (sim, adoro o frio! Estamos com temperaturas mais baixas desde o fim de semana). E tb já percebi seu carinho para conosco, seus amigos. Essa intensidade é algo meio mágico, não é Milton? A virtualidade aproximando almas que se reconhecem, que se identificam. É assim que vejo e sinto. E isso, de alguma forma me salva.
Claro que Drummond entendia muito pouco de mulher, Milton. Frente a Vinícius, não entendia nada, com aquela cara de farmacêutico, arrependido de ter deixado Minas para colaborar com Gustavo Capanema, em pleno Estado Novo.
Lá na praia, Milton, você leva o CD… Nós ouviremos juntos na reunião de pauta tomando aquele tinto, lembra? Será impossível não dançarmos…
Gente! Esse cara coleciona tudo! é um perigo!
Bacana, Milton. Gostei, afinal, sou uma mulher de frases!
bj, f
Vou pensar duas vezes antes de te escrever novamente 🙂
Acho que não é de se parar de escrever ao Milton, mas sim de escrever mais e mais. já pensaram na gloria de ser citado por ele???
Flávia, adoro um Ctrl C, Ctrl V…
Gilberto, cuide-se. Quando digo que gosto das histórias que conto não estou brincando.
Paulo, muito discutível essa Glória, mas podem seguir escrevendo!
ahahahaha. o colecionador ataca novamente
Pô cara, fiquei impressionado com aquela sujeito que ama o Tarkovski! Tem mais é que colecionar uma confissão tão esdrúxula… Tarkovski só consegue ser menos detestável que Teatro Kabuki!
Milton,
guardaste as minhas frases politicamente incorretas? Era tudo mentira, viu?
Entendo, mas é uma pena não colocares o nome do autor em algumas destas citações.
Se apresente quem disse isso: Pô, Milton, mas eu não sou um fauno, em absoluto. Sou um romântico… Fantástica!
Em relação vermelho/azul, para associar tudo isto, só mesmo com muita vodka.
Abraços
Branco
Branco, as iniciais do fauno romântico são DC.
Ô, Reencarnação!
Eu gosto de Tarkovski…
Parabéns pelo seu blog que foi mencionado no blog eu que indica blogs http://ednamoda.blogspot.com/