Minha mãe divorciou-se de meu pai porque, como muitos oficiais, ele bebia exageradamente a Sljivovica (*). Depois que ela o deixou, ele começou um tratamento a fim de livrar-se da bebida. Pelos 15 anos seguintes ele não bebeu. Minha mãe morreu de leucemia.
A segunda mulher de meu pai contou-me que ela algumas vezes o seguia secretamente pelas ruas. Noite após noite, meu pai podia ser visto sentado, fumando até o nascer do sol debaixo da janela do hospital onde minha mãe agonizara no terceiro andar. Era um hospital militar localizado em Split.
Depois, ele retornou a sua vila na fronteira com a Hungria e plantou vinhedos com os quais produzia 1000 litros por ano. Ele sobreviveu 20 anos a minha mãe e bebia seus 1000 litros mais ou menos sozinho.
Eu dedico ALKOHOL a meus pais.
Texto introdutório do último CD de Goran Bregović, traduzido meio de qualquer jeito por mim.
Eu gosto muito de Goran Bregović. Como todo mundo, conheci-o como autor das trilhas sonoras de alguns dos principais filmes de Emir Kusturica. São trilhas alucinadas, de uma criatividade absolutamente estupefaciente — se há alguma dúvida, ouça a de Underground e a de Black Cat, White Cat –, sempre levadas por ritmos ciganos cujas melodias são ou conduzidas ou ornamentadas por um naipe de metais de contínuo e desencontrado vibrato. Um espanto. Depois de baixar uns dez de seus CDs na rede e de comprar outros seis, descobri que Bregović é menos prolífico como compositor do que eu imaginava e que a área onde é imbatível é a dos arranjos. Por exemplo, neste Alkohol há treze faixas, das quais 4 já estiveram em CDs anteriores e outras duas são de temas tradicionais sérvios. Só que as canções repetidas – e cada canção do CD – recebem uma roupagem tão diferente, original e individual que é impossível não admirar a arte de Bregović. O homem faz três ou quatro arranjos para cada uma e a gente gosta de todos.
Para seus padrões habituais, é um disco de camarístico: esta versão da Wedding and Funeral Band conta com apenas 5 metais (dois trompetes, sax, trompa e tuba), duas cantoras, um percussionista, um baixo e a guitarra e a voz de Bregović. Os destaques ficam para Yeremia, Truckers` song, On the back-seat of my car, Streets are drunk e Gas gas gas. Num disco chamado Alkohol, só há lugar para uma balada: For Esma. O resto é uma paulada atrás da outra.
Filho de um pai croata e uma mãe sérvia, Goran Bregovic nasceu em Sarajevo, é casado com uma bósnia mulçumana. Ou seja, a Guerra dos Balcãs poderia ter ocorrido dentro de casa… Sua música tem enorme influência cigana: “uma música moderna que reúne fusões diversas e que espelha o ecletismo natural da sua cultura” – mas ele também fez parte de um grupo de rock na ex-Iugoslávia… Na verdade, Bregovic alterna loucura cigana com momentos quase eruditos e umas pitadas de rock. É popularíssimo em toda a Europa. Os ingressos para seus concertos são disputados.
Para quem desconhece Bregovic, coloco abaixo a versão original do clássico Kalashnikov (sim, uma “homenagem” à arma favorita de nove entre dez guerrilheiros, criada por Mikhail Timofeevich Kalashnikov). A canção foi utilizada por Kusturica em Underground e esta interpretação é a mais indicada para quem não a conhece:
A versão do Wedding atual, ao vivo.
E uma inacreditável versão sinfônica deste hino da Sérvia.
Para baixar a bola, Cesária Évora cantando Ausência em seu português de Cabo Verde:
E finalizando, uma explicação sobre a Sljivovica:
(*)
Autumn has arrived, along with the need for comfort, delicious rich foods and of course hot plum brandy “sljivovica”. Before 5PM it is medicine, after 5PM it’s alcohol.
Como preparar:
Things you’ll need:
* 2 cups of plum brandy (Serbian or Croatian)
* 2 tbs. of sugar
* 1 tbs of water
Step1: Place sugar and water in a small-medium size pot. Cook it on medium temperature until golden brown. Stay next to the pot, since it may burn quickly.
Step2: Pour 2 cups of plum brandy over caramelized sugar. Turn the heat down a little.
Step3: Begin swirling the pot to slowly melt the sugar. This may take couple of minutes.
Step4: When sugar melts, pour into small glasses.
Step5: Serve with a smile.
Milton, que música fantástica! Eu não conhecia o Bregovic, mas achei interessantíssimo. Irei atrás de mais músicas. Agora, falando em Slivovice, que é como os tchecos chamam a tal bebida, eu devo dizer que é uma delícia. Mas a história dos países do leste da Europa sempre se mistura e apesar de os tchecos sempre me dizerem que esta bebida é típica da Morávia, região leste da República Tcheca, ela é, pelo visto, produzida por todo mundo aqui em volta.
Grande abraço!
Gilberto, há ou havia no Avaxhome grande parte de seus CDs.
Indico Black Cat, White Cat, Underground, Karmen (With a Happy End), The Silence of the Balkans e um com uma cantora de quem esqueci o nome.
Fuja da Rainha Margot e de um disco “escocês” feito em homenagem (sim, isso mesmo) a uma visita de Nelson Mandela àquele país.
Slivovice, ME AGUARDE!
Milton, eu viciei nesta música! Vou ver se baixo algum cd hoje e compro mais uma garrafa de Slivovice para acompanhá-lo. Aliás, eu não sei se é permitido enviar alcóol para o Brasil, mas se for eu posso te enviar uma de presente. Ou então espere um pouco até o próximo parente vir me visitar.
Grande abraço!
Este compositor, além de participar das trilhas dos filmes do Kusturica (que também toca com o grupo doido dele músicas próprias), também comparece em outros filmes, só que não me lembro quais agora (não há um filme meio cigano estrelado pela Asia Argento com música dele?; também em um filme italiano recente com Marguerita Buy não há?). A música é interessante, mas julgo ser cansativa; não aturaria um CD inteiro disso, a não ser que estivesse bêbado em algum bar dos bálcãs e fosse tomado por uma nostalgia folk qualquer, dessas que andam por aí, até mesmo pelo Brasil (a música Elephant Gun, do Beirut, fez sucesso aqui, depois de massificada pela minissérie “Capitu”). Com muitas doses a mais de “slivovice” (uma tradução possível, que li em vários livros ambientados entre a Bulgária e a Albânia; parece ser uma bebida tão popular quanto a cachaça ou a vodka entre a geografia dos países assinalados acima), dançaria ensandecido. Esquisitices assim são legais, mas creio que a duração em nossas sequências pessoais de “músicas do momento” tende a ser curta. Mas não há de ser nada: há algo mais exemplar da efemeridade de tudo que a música (além da morte, é claro)?
Marcos,
ouço Bregovic há algum tempo. OK, também não consigo aguentar muito tempo das coisas mais étnicas, mas seus CDs são bem equlibrados.
O CD de White Cat, Black Cat é absolutamente entusiasmante. Há uma gravação de “I want to break free” do Queen em estilo NAZISTA. Sim, só ouvindo. E há dois rocks de riffs grudentos que recebem interpretação digna de roqueiro inglês.
No mais, é para ouvir bêbado mesmo. Funciona sempre!
Aliás, Bregovic bebe durante seus shows para entrar no clima, entende?
se eu ainda tomasse umas, ia procurar esse brandy de ameixa. fiquei curioso.
então vou começar procurando pelo disco.
abraço!
Como possuo o disco, vou que procurar a bebida…
Oi Milton !
Acabei de encontrar seu Blog por conta de uma busca no Google sobre o “Alkohol” do Bregovic. Eu tb gosto muito dele…ele é genial .
Eu sou Dj de música balcânica e faço a produção de uma festa no Rio de Janeiro, a Go East, que é voltada exclusivamente para a música e a cultura dos Bálcãs e do Leste Europeu. Muito Bregovic, Fanfare Ciocarlia, Taraf de Haidouks, Esma, Saban, Leningrad, Kusturica, Gatlif, Kolo, Cocek…e claro, muita Sljivovica !! Servimos shots de Sljivovica como cortesia durante a festa e vendemos pra quem quer levar pra casa. Então, se você ainda não tinha encontrado a bebida … ela te encontrou.
Fica aqui o meu convite à você e a quem quiser beber e dançar até não poder mais aos sons do Leste.
Um abraço e obrigada pelo seu blog ótimo!!
Awesome!
Bom, o Goran vem ao Brasil para participar do POA EM CENA, dia 08 e 09 de setembro, porem nao consegui adquirir ingressos, pois o sistema de vendas do evento é muito ruim, pena nao terem usado o Ticket master ou o disk ingressos..o jeito agora é tentar cambistas, ou quem sabe ir a um show no exterior. Uma pena, mas ainda nao desisti, quem sabe consigo com cambistas!
Eu comprei 4 ingressos…
Assisti ontem o show da big band do Goran no Porto Alegre em Cena, foi mt bom, alternando climas de pura festa com canções tristes do funeral. Baixei hj algumas coisas, mas as canções de cordas ainda não encontrei (imagino q sejam trilhas). utilizando sampler nas percussões deu um apelo pop dançante ao extremo, o povo comportado e sisudo gaúcho não suportou, e se pôs a bailar meio de qualquer jeito e desengonçado.
Tem gnt q só reclama, tds nós ficamos 4/5 horas na fila, e pagamos apenas R$ 10,00, e nos divertimos a beça por 2h30min…valeu muito a pena!
Mas para alguns é mais fácil “viajar ao exterior p assistir show”, bem deve ser um tocador de fanfarras…quanta fanfarronices…da cidade de Guca onde foi gravado Sljivovica. Aguardo a gravação de Champagne, já coloquei o balde de gelo no bar.
Parabéns pelo blog.
Não acho q o sistema de vendas do Poa em Cena seja tão ruim. Ele é democrático, isso sim! Proporciona espetáculos incríveis como esse do Goran por apenas R$ 20,00. Ficar na fila é até um prazer!