Enquanto a Apple lançava seu iPhone 3Gs com uma bússola digital que permitirá a Douglas Ceconello saber onde está mesmo caindo de bêbado, Paulo Autuori nos mostrava que podemos sentir saudades de Jonas e Tite acertava seu time de forma absolutamente casual. Você pode comprar seu iPhone por míseros R$ 2.400,00 no Mercado Livre com a finalidade de descobrir seu lugar no mundo, mas seu time não poderá melhorar adquirindo algum dos flamantes jogadores da vitrine de agosto, pois setembro chegou e as únicas mudanças que você pode esperar são as propostas pelo procurador Paulo Schmitt e as convocações sempre oportunas ao bolso dos empresários amigos da CBF.
O iPhone 3Gs apenas mostra onde você está, mas não sabe para onde você irá. Talvez o GPS que ele contém indique para onde você deve ir e, neste caso, você pode obedecê-lo ou não. Em vez de ir para casa, por exemplo, você pode deixá-lo apitando feito um maluco enquanto dirige-se àquele endereço da Rua Olavo Bilac, 336, caso em que sua mulher, se souber, certamente apitará e mais, ficará rubra. Talvez até peça isonomia, coisa inaceitável. Dizia eu que sua mulher ficaria rubra, mais ou menos como uma sócia campeã do mundo. Foi o caso do campeão do mundo Paulo Autuori. Alguns amigos me disseram que ele não é muito chegado, mas isso realmente não me interessa, não sou homofóbico nem besta, e ele pode fazer o que quiser desde que não me inclua. O fato é que ele não conseguiu prever a cagada que seria convidar um time fraco e ruim como o Botafogo para seu campo. “Times ruins, jogando em casa no ataque” X “Times sem contra-ataque” costuma ser uma combinação fatal para o segundo. É como no boliche: você tantas vezes joga a porra daquela bola que de repente faz um strike sem explicação. O caso de Tite foi outro, ou não. Foi a sorte, a mesma do strike. Sem querer e sem brochuras, ele tirou do prelo o esquema de Abel Braga. Índio empurrou Danilo Silva ao ataque, Eller fez o mesmo com Kléber e quando o Goiás deu-se conta estava tão ou mais perdido do que um bêbado sem o iPhone da Apple pela rua.
A torcida do Inter não dá muita bola para Eller, tipico jogador do Rio. Ele chega com aquela saída de bola sem chutões — ao contrário, tem saídas cheias de argumentos convincentes — e aquela noção de antecipação do zagueiro que não querr (sotaque carioca) saberr de corrpo a corrpo. Ora, ishto não satishfash o desejo que todo o gaúcho tem de uma grossura mais do que argentina, talvez semelhante a de um time de rugby neozelandês. Os gaúchos gostariam que seus times fizessem aquela dancinha tribal para assustar os adversários (que morreriam de rir e aumentariam nossa fama nacional). É o caso também de Tcheco. É o melhor jogador do Grêmio há anos, mas os gremistas tolos o odeiam. Ele corre, desarma, faz gols, dá passes perfeitos, dribla, salva o time e nunca errou um puto pênalti. Pero look at him: ele tem cara de bebê chorão e fala com a cabeça baixa, reclamando sempre. Não é elegante, não parece um Capitão, parece um merda. E não é. Ou seja, ele é tudo aquilo que um americano nojento qualificaria como um loser, mas trata-se de um winner milionário que fez fortuna nos campos de petróleo das arábias. Queria eu ser um loser assim. Porém eu dizia, ou não, que ninguém parece saber onde está e nem para onde vai.
O iPhone 3Gs pode dizer exatamente onde o vivente está e até auxiliá-lo em seu caminho futuro, mas o trânsito pode atrapalhar. Com razão, sempre se disse que 66% de aproveitamento dariam um lugar entre os quatro primeiros e um acompanhamento próximo do líder. No Brasileiro, tal noção matemática aparece ampliadíssima. O líder tem 41 pontos; porém, se tivesse 66%, teria 44. Ou seja, a tabela de classificação está achatada, achatadíssima. Todo mundo é de todo mundo no Surubão 2009. O São Paulo queria ser o herói que trepa por sacadas e janelas e deposita um prometedor ósculo nos lábios da mais bela moça da cidade, mas ganhou 1 ponto dos últimos 6 que disputou. O Avaí também subia pelo mesmo caminho, contudo, antes de se acostumar à vidinha de G-4, foi vitimado por um centenário candidato ao rebaixamento, bem antes de dar o planejado amplexo naquele que antevia como futuro sogro.
Hoje à noite, por exemplo, o Inter quer manter-se em riste na Suruba, enquanto o Atlético só pensa em apagar a luz e jogar uma porca-espinho na festa. Eu fora! Mas vou ao jogo logo após a noite de autógrafos de minha talentosa amiga Carol Bensimon. Deixe de ser inculto e desinformado, vivente! Carol é a melhor coisa literária surgida por essas bandas nos último anos. Seu segundo livro já sai pela Cia. das Letras. Vai lá, animal.
Nem IPhone 3G dá jeito em mim, que abdiquei das minhas simpatias futebolísticas de infância e hoje torço para qualquer um que esteja a jogar bem e não seja um time paulista metido a besta (como a maioria é). Por sinal, não tenho nem celular, mas não é porque costume frequentar Centros de Lazer e não queira ser pego que nem português de piada no motel (Ai, Maria, como sabes que cá estou!) – só não me acostumo com o peso no meu bolso, e tenho a sensação que as ondas e materiais de fabricação fazem mal à minha saúde, ao contrário da feijoada, cujo peso só da modorra e a estranha sensação de que viver vale a pena. Mas o que estava mesmo a dizer, ó pá? Sei lá, mas parece que dois times gaúchos jogam por um esfera lunática num campeonato onde o saudável convívio nesse mundo desajustado provoca reflexões extemporâneas e sem qualquer sentido. Aliás, o que sinto mesmo é que o vinho da noite passada já passou, mas temo que, por opção tática, caia na tentação de escalar dois zagueiros e dois alas mais fixos, arranjando assim desculpa para ficar a noite inteira enchendo a cara e discutindo tolices futebolísticas com a impressão de recuperar, em mim, o ludismo carregado das afeições juvenis, terminando a noite bêbado e torto, lamentando, no fim de tudo, que bem poderia ser um feliz portador dum IPhone 3G, e ter a esposa à disposição de rebocar um troca-perrna pelass ruass malcheirosass duma capital vizinha a Paris.
Marcos, com vinho ou sem, acho maravilhoso discutir futebol. É a total inutilidade. Ninguém move um milímetro sua posição inicial, mas é divertido. Ainda mais quando a coisa é civilizada.
Eu preciso MESMO de celulares, uso o dia inteiro, porém não pense que eu pagaria por um iPhone. Tá louco.
A atriz portuguesa Maria de Medeiros disse amar o teatro sobretudo porque ele é o “efêmero absoluto”. O futebol, enquanto espetáculo, também é assim, e se a gente for pensar sobre ele percebe logo de cara que os atributos dos jogadores e as possibilidades postas na partida são ainda mais ricas do que o de um espetáculo teatral. A melda é que discutir futebol, tantas vezes, não passa daquelas picuinhas clubísticas pentelhas trocadas por bêbados de Minerva Neutro Líquido, ou cerveja, como é popularmente conhecida.
Quem precisa de um Iphone é o time do Flamengo, mais precisamente a zaga (!) e o Andrade, que deve sempre acordar suado no meio da madrugada berrando: “Adriano, cadê você!” Realmente, esse time do Flamengo é um pesadelo mesmo! Quem dera o mengão tivesse aquela típica pegada gaúcha (mas sem muito contato, senão…), somando essa gauchesca virtude à técnica estilo “Eller”, ah, esse time seria um pesadelo… para outros times, claro!
Lembrei de uma coisa que me deixa muito puto quando me lembro do Lauro, o seu goleiro: naquele fatídico jogo contra o Fla no maraca, pela Copa do Brasil desse ano, ele pegou umas bolas impossíveis, e o seu Inter desclassificou o meu Fla; e agora? O tal não tá pegando nada, anda tomando uns golzinhos… Até parece conspiração!
Ah, ia me esquecendo: meio que por acaso achei um texto seu falando sobre a Missa em Si menor de Bach, na versão de Leonhardt – vai aí uma pergunta: você já deve ter ouvido a versão de Karajan, com a Filarmonica de Viena, não? Se sim, qual a sua opinião sobre esa versão? De minha parte, não apreciei muito, principalmente pela baixa qualidade da gravação. Entre as 3 que tenho (Leonhardt, Richter e Karajan), fico com as de Gl e KR, gosto de ambas.
Não, não, a de Karajan é uma piada perto das citadas.
Um GPS para certas zagas se encontrarem é uma boa…
Milton,
Sensacional o texto, como de costume. Só lamentei teu excesso de polidez e de consideração por Tcheco (nada contra a conduta pessoal nem profissional – apenas relacionada à sua falta de competência).
[]’s,
Hélio
Hélio, eu juro que não entendo. Gosto mesmo do jogo do cara.
Milton,
Ele não joga nada fora de casa. Fisicamente, está um caco. Na renovação do contrato, avisou que seria seu último ano no Grêmio. Depois daquela lesão no púbis em 2007, nunca mais cobrou faltas nem escanteios decentemente. Nunca foi veloz e acelera muito bem a bola. Porém, quase tudo nele agora parece que é feito com o freio de mão puxado.
Ele é um líder FORA de campo. Dentro, não acho. Primeiro, porque Tcheco tem pitis veadescos com a arbitragem e leva cartões desnecessários. Segundo, porque ele precisa ser o capitão justamente pra poder reclamar uma vez sem ser amarelado ou avermelhado direto. Então, trata-se de um desperdício, ao invés de por Victor ou Rever de capitão. Muitos dizem que é ruim atribuir a braçadeira para um jogador que passa a maior parte dos 90 minutos lá atrás. Será mesmo?
Só tô comparando o Tcheco com o próprio Tcheco. Não pedi craques nem endosso a titularidade para o Douglas Costa, que é muito imaturo e precisa “botar corpo”…
[]’s,
Hélio
Olha,
por princípio, me pelo de medo do meu time com 3-5-2, porque esse esquema tem de ser muito bem feito. Os alas tem que jogar no meio-campo. O Kleber sabe fazer isso, mas o outro é o Danilo…
De qualquer jeito, qualquer mudança naquele losango morto-vivo faria o time melhorar, porque piorar seria impossível. Tenho esperanças neste 3-5-2 porque o melhor momento do Tite no Grêmio foi com este esquema, creio que saiba o que está fazendo. E temos os zagueiros com características apropriadas, temos stoppers que sabem sair jogando. Aliás, ter Fabiano Eller e deixá-lo só lá atrás é um desperdício.
Espero mesmo que se confirmem as boas atuações. Embora imagine que não se possa esperar uma reedição do jogo contra o Goiás. Ele foi atípico. De agora em diante, os treinadores adversários não darão ao Kleber toda a liberdade que ele teve para jogar e que foi essencial, pois terão 11 jogadores em campo e conhecerão o novo esquema do Inter. O Marquinhos também terá atenção. E os técnicos que seguem não serão o Hélio dos Anjos, que é aquele mesmo que, tendo seu lateral expulso em um gre-NAL, não repôs a peça e fez a fama do Fabiano Cachaça, acabando com a carreira do zagueiro Luciano “todo-duro” do tricolor gaúcho. Imgino o Hélio dando preleção quando soube da escalação do Inter contra o Goiás: “pessoal, vamos marcar o Edu, porque esse Marquinhos é garoto e vai amarelar…”
Não vi nada ruim no time hoje. Cheguei no intervalo…
Se você tivesse assistido o primeiro tempo, veria Tardelli e Renteria passarem voando pelos zagueiros do Inter (o Tardelli chegou a deixaro o Sorondo deitado).
Mas o Atlético jogou um primeiro tempo excepcional, marcou muito e atacou em altíssima velocidade. Não dava espaços, forçando os erros de passe do Inter e contra-atacando quando estávamos desarrumados. Aos 30 minutos do primeiro tempo, a TV exibiu uma estatística das conclusões: Inter 1 contra 6 do Atlético.
Era pedra cantada, não havia como manter aquele ritmo. No segundo tempo, as providências corretas de Tite nocautearam o Galo. Foi lindo, uma grande atuação de 45 minutos. O Inter sobrou e goleou.
Ótimo texto. É aquele tipo de texto que pega vários conceitos soltos e vai conectando uns aos outros numa conversa irônica e repleta de recorrências. Adoro esse tipo de texto, mas imagino que seja muito difícil de escrever com naturalidade. Parabéns Milton.
Então o senhor Tite acertou por sorte. Foda-se, o que importa é que acertou. Enquanto continuar funcionando tá valendo. Por maiores que sejam as cagadas do pastor, basta eu me lembrar de Abel Braga botando Michel e Gabiru em campo (Pato no banco) e eu viro religioso fervoroso. Que o 3-5-2 seja eterno enquanto dure: http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3948.dwt§ion=Blogs&post=221210&blog=558&coldir=1&topo=4238.dwt
Eu moro a algumas quadras do Bourbon Country e não tenho o que fazer hoje (tanto é que estou lendo blogs). Talvez eu dê um pulo na sinuca.
Lembras quando o Abel botou o Michel em campo em 16 de agosto de 2006? PQP, quando é para ser campeão, pode-se fazer todas as cagadas do mundo.
Por um momento pensei que encontraria um texto do João Antonio. Esse lance da sinuca, suruba remete a Perus, Malgueta e Bacanaço.