Diferentes formas de sobrevivência

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O veterano Rubens Barrichello teve um grande 2009. Após quase não arranjar equipe, Rubens acabou o mundial de pilotos em terceiro lugar e em alta. Para completar, saiu da habitual passividade e reagiu ao fato de ser uma piada em todo lugar. Nesta semana, ganhou um processo contra o Google, obrigando a que o gigante retire, principalmente do Orkut, mais de trezentos falsos perfis onde Barrichello era tratado como tartaruga, chofer, etc., além de 90 comunidades ofensivas. O motivo da ação foram as reclamações dos filhos do piloto. O valor da indenização é uma piada para os padrões da Fórmula 1, US$ 500 mil, e a grana vai para instituições de caridade. Barrichello, claro, é multimilionário e só alguns brasileiros o acham incompetente.

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Enquanto isso, o ex-tenista Andre Agassi escolheu outra forma de sobrevivência: o suícidio póstumo como atleta. Em sua autobiografia Open, o vencedor de oito Grand Slam confessa ter tomado regularmente a droga cristal — também conhecida como MD cristal, crystal meth ou ice. Uma vez ao ser flagrado num antidoping, mentiu, em carta por escrito, que seu auxiliar havia colocado a droga num refrigerante e a ATP acreditou ou não quis levar o caso adiante. O auxiliar que “batizara” o refri foi mandado embora e Agassi seguiu a carreira nas quadras e no cristal. Uma maravilha.

Mas é pior. Depois dessa, a ATP afrouxou o controle sobre o doping. Hoje, os tenistas apenas escrevem onde estiveram e o que tomaram. Uma piada. Rafael Nadal e Marat Safin tiveram reações bastante fortes. Nadal foi sério:

— Não entendo porque disse isso agora, já que está aposentado. É uma forma de prejudicar o esporte sem nenhum sentido. Se nesses momentos a ATP escondeu o assunto (do doping) de Agassi e puniu outros, parece uma falta de respeito com todos os esportistas. Quero acreditar e espero que nada disto esteja acontecendo agora. Acho que temos um esporte limpo e sou o primeiro a desejar isso, mesmo sem estar de acordo com a forma (em que são realizados os exames antidoping). Os trapaceiros devem ser punidos, e se Agassi trapaceou em sua época, deveria ter sido punido — disse.

Agassi disse estar triste e arrependido. Coitado.

O tenista russo Marat Safin, mantendo a habitual irreverência e ironia que me fazem admirá-lo, propôs a solução para o “problema de consciência” de Agassi.

— Ele sente culpa? Então que ele devolva os seus títulos, dinheiro e seus Grand Slams — , afirmou Safin em entrevista ao jornal francês L’Equipe. — Se ele agora é limpo e franco, poderia fazê-lo. Vocês sabe, a ATP tem uma conta bancária e ele pode fazer a restituição, basta querer — completou.

Como Safin é do meu time e não alivia, seguiu mandando bala:

— Eu não vou escrever minha biografia, não preciso de nenhum dinheiro. A questão é: por que ele fez e por que confessou após aposentar-se? — , perguntou. — O que ele quer é vender mais livros, é completamente estúpido — , criticou o russo. Safin encerrou sua carreira esta semana em Paris fazendo uma grande partida contra Juan Martin del Potro. Foi eliminado ao perder por 2 x 1.

Além do russo e do espanhol, poucos se manifestaram. Guga foi cauteloso e político.

— Eu confesso que não sei até que ponto essa notícia pode se tornar algo real — , disse. — O Agassi que conheço é um sujeito competitivo e sincero nas palavras dele. Na realidade, se comprovado, ele deve ter tentado demonstrar no seu livro momentos de sua trajetória em que enfrentou dificuldades.

Mas é ainda pior. Os médicos revelam que, em algumas circunstâncias, o cristal provoca pânico e…

Bem, Agassi afirma em seu livro que perdeu de maneira proposital para Michael Chang na semifinal do Aberto da Austrália em 1996, pois queria fugir de Boris Becker na decisão. Apesar de transparecer sempre sério e objetivo. Agassi agora diz que tinha medo de Jim Courier, Thomas Muster, Yevgeny Kafelnikov, Boris Becker (que chama de “maldito alemão”) e de Pete Sampras. Estranho. Sobre Chang, Agassi tem algumas pérolas bastante interessantes:

— Eu o odiava. Ele dava graças à Deus e atribuía suas vitórias a Deus, isso me irritava muito. Por que Deus se importaria com uma partida de tênis? E por que ele se colocaria contra mim e a favor do Chang? Isso é ridículo. Quando ele venceu Roland Garros em 1989, fiquei com vontade de vomitar. Me perguntei: “Por que logo o Chang? Por quê, entre tantos outros, logo ele foi vencer um Slam antes de mim?”

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E a Feira do Livro de Porto Alegre? Por que agoniza? Ora, por sua exclusiva culpa. Há anos que este blogueiro de sete leitores diz que a Feira tornou-se uma grande livraria, que não há variedade, que a quantidade de livros iguais — se a gente pede alguma coisa diferente, os livreiros têm de encomendar (?!) — torna a Feira um espetáculo nauseante. Este ano, não comprei nenhum livro lá, até porque sei que dificilmente os livros que procuro estarão lá. Alguém encontrou na Feira o livro o recentíssimo Música Mundana de John Neschling? Alguém viu por lá a trilogia do Gaúcho a Pé de Cyro Martins naquela bela edição comemorativa ao centenário de Cyro Martins lançada no ANO PASSADO? Melhor o site da Cultura ou a Estante Virtual, né? E, de quebra, não se precisa caminhar no meio de corredores cheio de livros de vampiros e autoajuda. De bom, a Feira tem os bares. Lá é onde estão atualmente os leitores.

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Cada um busca a aposentadoria que pensa merecer. Barrichello aspira a uma dignidade tardia. Agassi faz o exato contrário. Barrichello quer entrar na história de uma forma diferente do que foi sua vida; Agassi quer o desprezo, mas antes venderá livros. A Feira está em fase minguante, mas não sou nada apocalíptico a respeito. Talvez até melhore.

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22 comments / Add your comment below

  1. Viver a vida

    Sempre às quatro da tarde, em diferentes restaurantes, dependendo do fluxo naquele momento, variando assim o horário conforme o acaso do salão vazio – podia ser mesmo às quatro, ou às quatro e quinze, até às cinco da tarde, mais ele não suportaria.

    – Por obséquio, é possível fruir de uma refeição?

    Conhecido como Mariano, na maioria das vezes sua frase não era sequer ouvida; ademais, muitos estabelecimentos já deixavam preparado, não só para ele, quentinhas com as sobras inutilizáveis do almoço.

    Antes disso, bebia apenas água do chafariz da praça onde dormia; acordava às dez horas, mas costumeiramente, bebia água, fazia as mínimas abluções necessárias em público, e partia para as bancas de jornais para se inteirar das notícias do dia, passando antes em algum banheiro de bar para finalizar as higienes diurnas.

    Conforme o dia, passava o resto da manhã circulando pela cidade, á cata de restos de latas de cerveja ou qualquer coisa que lhe rendesse alguns trocados, utilizados para beber, de vez em quando, um café, um suco de laranja, ou umas doses de cachaça, que sustentavam bem as necessidades calóricas do dia.

    Após a refeição, descansava e, por fim, rumava para a Faculdade de Direito, onde lhe permitiam um banho diário. Quando as roupas se tornavam inutilizáveis, passeava pela Rua da Alfândega e obtinha doações de tênis velhos e roupas de segunda linha.

    Hoje à noite está no Largo da Carioca acompanhando um concerto de música de câmara. Tem restrições ao repertório por demais batido, mas é uma boa oportunidade para passar o chapéu na qualidade de ouvinte carente. Se tudo der certo, o caldo de mocotó noturno se garantirá, com o gozo final de um charuto Magnífico.

    Último acorde, o violoncelista agradece os aplausos pouco efusivos. Troca um olhar com Mariano e especula sobre seu próprio futuro.

  2. “Sitting on a park bench”. Belo texto, Marcos! Esfregou na minha cara e na do Milton o quanto pode ser sutil e não revelar a carta na manga. Vou trocar o texto do intelectual pseudosuicida por este. Confesso até que me deixou tocado!

  3. P.S. Algo acerca de uma lista de cinco livros, exclusive clássicos indiscutíveis, que eu apreciaria sem reservas ou termo afim. Ora, isso é impossível, mas quem sabe um dia desses eu listo cinco livros recentes que não me tenham só aborrecido e discorra sinteticamente sobre suas qualidades e defeitos, como, por exemplo, o não tão recente assim Extinção, um vomitório de rancores e rala condescendência sobre a pobre condição de ser humano e, pior que isso, austríaco. É interessante, mas o parágrafo único exige a leitura aos gritos e sem interrupções, além do suicídio do leitor no final, ao que não acedi, mesmo porque ao falar de Lisboa o autor concedeu alguns de seus poucos elogios, e a nostalgia lusitana bateu forte, exigindo ao menos o acompanhamento de uma partida da Portuguesa de Desportos. Depois de todas excrescências a gente supõe que nem tudo que se leu nasce só do ódio, há tembém ironia e, com ela, o ódio se casou com o humor. Mas deixou o leitor cético a pensar que o pobre Tomazinho carecia de olhar para o Atlântico e ver o inerme horizonte com pretensão ao infinito desfazer as últimas ilusões reclamonas daquele que não suporta mais seus fantasmas, de Mozart a Freud, mas principalmente a péssima lembrança do compatriota Hitler, sombra ideológica constitutiva de cada criatura que só tem a tímida imagem de ecasão representada pelo grosso filete d’água do Danúbio, que só os diabos leva para morrer num mar adequadamente nomeado de Negro. Resumindo, é chato é obsessivo é doentio é cruel e eu não sei porque alguém escreveu uma porra dessas, e muito menos porque alguém leu, principalmente se esse alguém responde pelo meu nome. Devo ter uns parafusos a menos.

  4. Marcos,

    como digitas rápido! Isso foi um recorde! Em um minuto apenas respondeste meu comentário. Tu ainda tem digitais?

    Bom. não caio na sua curtição. está no modo “personagem iconoclata absoluto”. o que escreveu, para um desavisado que não te manja, só conspira contra você. Escritores como Bernhard não precisa de defensores. alias escreveste tudo num só parágrafo. Continues como ficcionista, por que de crítico tu ainda tá enfiado na lâmpada muito apertada e não haverá quem a esfregará para te libertar.

    Só o título do texto acima que é horrível.

    1. Um só parágrafo curto….

      O título foi só para constar. Quem sabe mudo um dia desses.

      Modos: são sempre mais de um, a maioria deles inserável um dos outros. Não saberia destrinchar esse cadáver.

    2. Hum… esqueci. Pareceu-me que você supôs que eu tinha um arquivo-comentário, de forma que pude copiar e colar sem me preocupar em escrever de imediato uma, como disseste, contestação. Ora, nada disso. Um cara desorganizado como eu só tem um lugar paara guardar as coisas, que é na cebeça, e ela costuma viajar sem muito método, parando aqui e ali mesmo que o panorama visto da ponte seja deslumbrante ou deprimente. Viver a vida, sabe como é que é…

        1. e outra. só pra atiçar a coisa (q, em geral, é trabalho – bem feito – do milton). o charlles campos mencionou MODOS, mas, ironicamente (para mim ao menos) em comentários SEUS, neste post, percebi teores novos, certa libertação que dá a conhecer outras faces. o q é bom (mais ainda no caso do marcos, q parece não ter receio algum em mostrá-las. melhor, brinca com elas)

  5. Sobre a Feira do livro de Porto Alegre: o pior é correr o risco de encontrar escritores sorridentes por lá, autografando e vendendo livros quase sempre dispensáveis, em troca de 15 minutos de fama no excelente Jornal do Almoço.

  6. Sobrevivência

    Tô de saco cheio. Vou debandar. Há ainda um lindo sol lá fora. Vou para praia de Camburi conversar com as tartarugas e pedir conselhos para Iemanjá. Volto amanhã… Amanhã não! Volto depois de amanhã. Quem sabe com algum poema…
    A termodinâmica fica pra depois. A aula de mestrado pra depois. A aula de engenharia pra depois. A correção das provas pra depois.
    Agora é a hora das cervejas… Afinal, todo mundo é de barro…

  7. Oi Milton,

    Confesso que nunca fui a feiras literárias. Tenho preguiça. Parecem-me grandes supermercados de livros, atacadões, como versões amplificadas das Laselva e Sicilianos da vida: pessoas que não gostam e não entendem de livros vendendo-os como escovas de dentes.

    O mesmo vale para as pessoas que compram os livros nesses lugares: chegam e perguntam “tem o livro do Dan Brawn?”. O vendedor lhe entrega o best-seller com a satisfação de quem atendeu bem o seu cliente, que sai contente por ter adquirido cultura — na verdade, irá dar o livro de presente no “amigo secreto” de fim de ano da empresa.

    Desculpe-me pelo desabafo, mas é que até hoje tenho um trauma. Há muitos anos, li “O tempo e o vento”. Quando cheguei no “Retrato 2”, descobri, aterrorizado, que o volume que havia deste livro lá em casa sumira irremediavelmente. Entrei em pânico, pois estava louco para continuar a leitura. Rodei um monte de livrarias de BH e, contrariamente ao que faço (fuçar as prateleiras por minha conta e risco), ia logo perguntando: “tem o retrato, de Érico Veríssimo?”. Numa dessas, escutei um vendedor perguntando pro outro: “fulano, tem foto do Érico Veríssimo aí?”

    É mole?

    Abração!

    Lelec

    1. Hahahahaha!

      Isso me fez lembrar de uma vez em que estava em uma grande livraria de um shopping, com uma edição especial de Dom Quixote nas mãos, quando a atendente se aproximou com esta: é o lançamento mais recente do autor. Está excelente!

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