“Emma Bovary sou eu”: Madame Bovary e o processo contra Flaubert

No dia 7 de fevereiro de 1857, Gustave Flaubert foi absolvido da acusação contra seu livro Madame Bovary, considerado imoral pelas autoridades francesas. Dias antes, Flaubert proferira a célebre resposta à pergunta sobre quem seria Madame Bovary: “Emma Bovary c’est moi” (Emma Bovary sou eu). Acusado de ofensa à moral e à religião, o processo foi movido contra o autor e o editor Laurent Pichat, diretor da revista Revue de Paris, onde a história foi publicada pela primeira vez, em episódios e com cortes. Como costuma acontecer, quanto maior o escândalo, maior o interesse provocado nos leitores, que adquirem a obra, que já era notável, movidos pelo sabor do escândalo.

Gustave Flaubert (1821-1880)

A Sexta Corte Correcional do Tribunal do Sena absolveu Flaubert, mas certo puritanismo da época condenou o autor. Muitos críticos não perdoaram Flaubert pelo cru realismo dado ao tema do adultério, pela crítica ao clero e à burguesia. Muitos clássicos da literatura foram condenados pelos contemporâneos. Talvez os casos mais famosos sejam os de Ulysses de Joyce e de Lolita de Nabokov, por exemplo, que foram censurados por ofenderem a moral vigente. Seriam pornográficos.

O livro

O julgamento era um exagero, mas as acusações a Flaubert eram compreensíveis. Afinal, Madame Bovary escancarava certa realidade social do século XIX, demonstrando a insatisfação de uma mulher, sob diversos aspectos, com seu casamento. De quebra, ridicularizava os romances sentimentais. Emma odiava seu marido, o médico Charles, para o qual mal podia olhar. Via-se encarcerada. Sentia sua vida como vazia e sem graça. Como se não bastasse, tinha aspirações a um refinamento incompatível com o interior da França. Então, passa a manter casos amorosos com homens de “gostos mais refinados”, que tivessem o condão de alcançar suas expectativas.

Não contaremos o final da história, a qual é bastante simples. Mas o que interessa não é o final e sim todos os detalhes da trama. Flaubert era um perfeccionista que sugeria aos candidatos a escritores que observassem uma árvore até que ela não pudesse ser confundida com nenhuma outra para depois descrevê-la. Era o escritor da “palavra certa, precisa” (“le mot juste“) e levou cinco anos para terminar o livro, que não é muito extenso. Pensava que “Uma boa frase em prosa deve ser como um bom verso na poesia, imutável”. Madame Bovary é um livro extraordinário. “O romance perfeito”, segundo Henry James.

Madame Bovary foi praticamente a única obra do autor a alcançar o sucesso. Seu romance Salambô (1862) é entediante como a vida de Emma. A educação sentimental (1869) já é bem melhor. Somente quando já estava doente e com dificuldades financeiras é que outro livro, Três contos ou Três histórias (1877), voltou a mostrar a genialidade de Bovary. Sua reputação cresceu postumamente, reforçada pela publicação do romance inacabado Bouvard e Pécuchet (1881) e pelos notáveis volumes de sua correspondência, onde dá grandes lições de arte literária.

O romance, publicado em outubro de 1856, conta a história de Emma, uma mulher sonhadora pequeno-burguesa, criada no campo, que aprendeu a ver a vida através da literatura sentimental. Bonita e requintada para os padrões provincianos, casa-se com Charles, um médico viúvo do interior tão apaixonado pela esposa quanto chato. Ele não é como os heróis das suas leituras. Nem mesmo o nascimento da filha dá alegria ao indissolúvel casamento ao qual a protagonista se sente presa. Ela espera alguma ação do marido que consiga despertar nela o amor tão sonhado e esperado.

Isabelle Hupper como Madame Bovary (1991), filme de Claude Chabrol

Emma, cada vez mais angustiada e frustrada, busca no adultério uma forma de encontrar a liberdade e a felicidade. Evita um caso com o charmoso Léon por medo e vergonha. Vangloria-se de seu altruísmo e honestidade. Mas com Rodolphe é diferente e a fantasia romântica floresce. Ela se torna amável, mas a situação revela-se efêmera. Envolve-se em mais um caso de final melancólico. Não há arrependimento ou reviravolta no livro, nada de redenção, de final feliz. O romance foi considerado cruel por não apresentar saída.

Além disso, Emma não atrai simpatia, só que a arte de Flaubert faz com que os leitores acompanhem sua trajetória com imensa atenção. Na verdade, ela é ambiciosa e medíocre, incapaz de amar ou de sentir empatia por alguém. Entedia-se facilmente e é impulsiva. O que a faz fascinante talvez seja o choque entre suas aspirações e absoluta incapacidade de ser feliz. É fácil compará-la com outra personagem fascinante e trágica, Anna Kariênina, de Tolstói, porém Emma é muito mais voltada para si, despreocupada com o sofrimento dos outros, vendo o mundo através dos estereótipos românticos nos quais vê a única felicidade possível.

Era um tempo em que as mulheres deveriam ser dependentes do desejo masculino. Porém, em Madame Bovary, Flaubert mostra que o desejo e o prazer sexual têm dois sentidos. Deste modo, o romance era agressivo à moral burguesa do século XIX. Mal o livro começou a ser publicado, o secretário da Revue de Paris fez objeções sobre algumas cenas, que acabaram omitidas. Apesar disso, a censura francesa decidiu suspender a publicação da obra e processar o autor.

O julgamento

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Mônica Leal e meu Tempra dourado

Mônica Leal e meu Tempra dourado

Obs. inicial: Hoje, duas pessoas vieram me falar deste velho post. Recordar é viver! Importante dizer que já paguei o que devia à nobre vereadora.

Alguns poucos de vocês devem lembrar que a atual vereadora de Porto Alegre e ex-Secretária de Cultura do RS, Mônica Leal, me processou. Sei que muita gente vai me invejar e devo confirmar que tenho o maior orgulho disso. É currículo, meus amigos! Bem, ela ganhou a causa e fiquei devendo um alto valor para ela. Depois, meu advogado — que é excelente — conseguiu baixar o montante e hoje a coisa está num valor que não lembro qual é, só lembro que é igualmente impossível de pagar. Afinal, se me virarem de cabeça para baixo e chacoalharem, só vão cair no chão minhas passagens e os almoços que devo comer até o fim do mês.

Hoje me ligou um oficial de justiça. A seguir, o diálogo:

— É o Sr. Milton Ribeiro?

— Sim, quem fala?

— Aqui é X., oficial de justiça, e eu tenho uma intimação para entregar ao Sr.

— Da parte de quem? — perguntei, já sabendo do que se tratava.

— De… Mônica Leal — ele disse e deu uma risadinha curta, não sei por quê.

— Ah, sim, pois é, acho que ela deve processar muita gente, né? E o que diz a intimação?

— Ela pede a penhora de um Tempra de sua propriedade.

— Um Tempra? O Sr. quer dizer o automóvel?

— Sim, o automóvel.

— Mas eu nunca tive um Tempra.

— Mas é o que está escrito aqui.

— OK, o Sr. fica de plantão no dia X no horário Y no local Z, não?

— Sim.

— Eu vou aí buscar a intimação, pode ser? Passo aí na frente todo dia.

— Ah, perfeito. Estarei aqui. Obrigado.

— Obrigado, boa tarde.

— Boa tarde.

Quando depositei o telefone no gancho, minha mente se iluminou. Lembrei do Tempra. Estávamos talvez em 1997. Eu e meus amigos Daniel e Corrêa compramos um carro em São Paulo para fazer negócio. O troço era bom e caro e não era um Tempra. Vendemos na primeira semana. Recebemos uma parte em dinheiro e outra na forma de um carro de menor valor: o Tempra dourado.

Eu juro para vocês que nunca tinha visto uma coisa mais feia na minha vida. Eu nunca dei bola para carros, mas aquilo era uma excrescência, um problema de malformação de fábrica, algo que faria a Igreja aprovar o aborto, algo que deve ter feito os operários da Fiat pararem a produção para olharem bem, darem gargalhadas e contarem pros amigos.

— Daniel, que carro é esse?

— É o que a gente recebeu na volta.

— Daniel, esse carro não foi figurante em Carruagens de Fogo?

— Que coisa horrível, né?

— Daniel, quem é que vai comprar isso?

— Olha, Milton, o carro está em excelente estado blá, blá, blá…

Demoramos uns 3 meses ou mais para nos livrar do Chariots of Fire. Mas ele foi adiante. A dúvida que fica no ar é a seguinte: será que ele ainda está em meu nome? Será que, em estando no meu nome, teve pagos seus impostos? Bem, se não teve, aí toda a piada começa a perder a graça. O pior é fucei no site do Detran e nada de Tempra.

Hoje à tarde, só para apavorar meus sete leitores, procurei um Tempra dourado na internet mas não achei. Era um amarelo metálico, credo. Era dessa cor aí embaixo, mas não era digno como este Maverick. Imaginaram o horror?

.oOo.

Acabamos de encontrar uma foto de Tempra dourado!

tempra-dourado

Mônica Leal me processa em razão disso, quando na verdade refere-se àquilo

Hoje, no Fórum da Tristeza, haverá a audiência de instrução do processo que me move a ex-Secretária da Cultura do RS Mônica Leal. Não houve acordo na audiência de conciliação em razão de que, além da retirada do post, ela deseja uma indenização. Pensei em digitar a inicial aqui, porém desisti – era óbvio que seu potencial cômico atrairia todo o tipo de chacotas. Afinal, ela está me processando porque escrevi uma colorida narrativa de um episódio real: o atropelamento do pé de minha filha por um carrinho de bebê dirigido pela ex-secretária num elevador. Mais: nem vi a coisa ocorrer, apenas vi minha filha saltar para trás com cara de indignada. Soube do pé logo que saímos do elevador. Fiquei puto e por isso escrevi a respeito. Quem acompanha o blog deve lembrar de como Mônica entrou no recinto…

Todos me cumprimentam por ter conseguido irritar Mônica Leal, mas não pensam na incomodação. Vou ter que sair de casa no dia de visita de meu filho, tive que constituir advogado, enchi o saco de amigos, perdi tempo explicando coisas fúteis, me preocupo com o que pensará o juiz disso tudo e sei que estou numa posição falsa.

Pois o verdadeiro motivo da ação não é o carrinho de bebê e sim são os diversos posts em que combati a gestão da secretária. O verdadeiro motivo da ação é o de eu ter dado espaço em meu blog para sua – penso – maior inimiga: a ex-presidente do Conselho Estadual de Cultura Mariângela Grando, a qual também foi processada por Mônica (fui informado pela Mariângela no Facebook que Mônica Leal viu frustradas suas intenções de vingança em primeira instância). Deste modo, a ação é intimidatória e alcança seus objetivos. Estou louco para não ir ao Fórum, para esquecer da ex-secretária e até, fato ridículo, pedi para que meu amigo Alex Haubrich não escrevesse sobre o assunto, ele que apenas queria prestar solidariedade. (Alex, pode escrever o que quiser, bobagem minha).

Então, hoje, às 19h, falaremos de elevadores e bebês, mas o real motivo não será objeto da ação. Por isso, sou dos poucos que veem toda a comicidade latente dos fatos. E tenho-os evitado por medo. Por medo do juiz, claro. Mas, se vier a perder a ação e tiver que pagar a indenização, já convoco meus amigos para o Bailão da Mônica, com a finalidade de arrecadar fundos.

Ontem, uma amiga publicou um pequeno vídeo em seu Facebook. Sua intenção era outra, ela nem sabe deste caso. Mas vejam se não é pertinente. O medo do estado todo poderoso (dos juízes que mal leem ou ouvem nossos argumentos) não nos torna estéreis? A voz é do grande filósofo e sociólogo esloveno Slavoj Zizek:

http://www.youtube.com/watch?v=NggzAyHqfkQ&feature=player_embedded

Ou clique aqui.

Ah, peço muita tranquilidade nos comentários. Não quero “engordar” o processo; estou de regime.

Absurdo do dia: Felipe Vieira processa o jornalista e blogueiro Marcelo Träsel

Eu sugiro que, hoje ou qualquer dia desses, vocês liguem o rádio na FM 99.3 ou, mais exatamente, na Band News de Porto Alegre, entre as 9 e 11h, de segunda a sexta. Há um programa apresentado pelos jornalistas Felipe Vieira e Diego Casagrande. É um programa muito ruim, pobre de ideias, miserável mesmo. Os dois amigos ficam trocando piadinhas espertas, comentando notícias, fazendo entrevistas, sendo que Felipe Vieira, de voz grave e baixos profundos, não abre muito a boca para falar; sua voz é uma espécie de ronco. O conteúdo é aquele conhecido de quase todas as emissoras gaúchas: a confusa defesa dos governos Fogaça e Yeda e ataques Millenium styled.

Talvez Marcelo Träsel — que além de jornalista é professor e coordenador da especialização em Jornalismo Digital da Famecos/PUCRS — , tenha exagerado se chamou Felipe Vieira de canalha e o acusou de participar de tramoias. Se tiver provas, tudo bem, mas será que tem? Observando os patrocínios do site de Felipe — uma nada sedutora espécie de clipping — , nota-se que há a Prefeitura de Porto Alegre, o Simers (Sindicato médico), o Sistema Farsul, o Sindicato de Lojistas e o CDL. Parece que há outros, não me detive. É engraçado, a Prefeitura e a Farsul patrocinam um jornalista que aprova suas atuações e isto forma uma espécie de faixa própria.

Acredito ter ouvido uma entrevista de Felipe Vieira com Carlos Sperotto (presidente do Sistema Farsul – Federação de Agricultura do Estado) em que o apresentador e o entrevistado tratavam-se como amigos, mantendo com dificuldade uma pauta objetiva — ou talvez tenha sido no programa de Lasier Martins, eu estava dirigindo, mais atento ao tráfego. Quando falo em “Faixa própria”, quero demonstrar o seguinte modus operandi: Felipe entrevista Carlos para gáudio dos poucos ouvintes do programa, os quais certamente concordam com o conteúdo dos comentários do primeiro. Não conseguem, desta forma, espraiar muita coisa, a não ser entre quem concorda com o jornalista. É o de sempre. Eles pensam estar polinizando qualquer coisa, a gente finge que está atento.

Aqui está o conteúdo do processo contra Marcelo Träsel. É uma besteira, uma coisa que deveria ser respondida ao vivo ou discutida num telefonema ou por e-mail, mas alguns acham melhor intimidar com indenizações. Injúria? Ora, basta ler as notícias pinçadas pelo clipper de Vieira… Aquela simples escolha também não constitui injúria? Ah, é jornalismo? Tá bom. Porém, o principal problema parece estar localizado na frase “jornalista processar jornalista é coisa de maricas”. Esta configuraria “abuso da liberdade de expressão”. Meus caros, na minha opinião, isto é ofensa de sexta série do Ensino Fundamental, nunca difamação.

E vou trabalhar.

Diferentes formas de sobrevivência

.: 1 :.

O veterano Rubens Barrichello teve um grande 2009. Após quase não arranjar equipe, Rubens acabou o mundial de pilotos em terceiro lugar e em alta. Para completar, saiu da habitual passividade e reagiu ao fato de ser uma piada em todo lugar. Nesta semana, ganhou um processo contra o Google, obrigando a que o gigante retire, principalmente do Orkut, mais de trezentos falsos perfis onde Barrichello era tratado como tartaruga, chofer, etc., além de 90 comunidades ofensivas. O motivo da ação foram as reclamações dos filhos do piloto. O valor da indenização é uma piada para os padrões da Fórmula 1, US$ 500 mil, e a grana vai para instituições de caridade. Barrichello, claro, é multimilionário e só alguns brasileiros o acham incompetente.

.: 2 :.

Enquanto isso, o ex-tenista Andre Agassi escolheu outra forma de sobrevivência: o suícidio póstumo como atleta. Em sua autobiografia Open, o vencedor de oito Grand Slam confessa ter tomado regularmente a droga cristal — também conhecida como MD cristal, crystal meth ou ice. Uma vez ao ser flagrado num antidoping, mentiu, em carta por escrito, que seu auxiliar havia colocado a droga num refrigerante e a ATP acreditou ou não quis levar o caso adiante. O auxiliar que “batizara” o refri foi mandado embora e Agassi seguiu a carreira nas quadras e no cristal. Uma maravilha.

Mas é pior. Depois dessa, a ATP afrouxou o controle sobre o doping. Hoje, os tenistas apenas escrevem onde estiveram e o que tomaram. Uma piada. Rafael Nadal e Marat Safin tiveram reações bastante fortes. Nadal foi sério:

— Não entendo porque disse isso agora, já que está aposentado. É uma forma de prejudicar o esporte sem nenhum sentido. Se nesses momentos a ATP escondeu o assunto (do doping) de Agassi e puniu outros, parece uma falta de respeito com todos os esportistas. Quero acreditar e espero que nada disto esteja acontecendo agora. Acho que temos um esporte limpo e sou o primeiro a desejar isso, mesmo sem estar de acordo com a forma (em que são realizados os exames antidoping). Os trapaceiros devem ser punidos, e se Agassi trapaceou em sua época, deveria ter sido punido — disse.

Agassi disse estar triste e arrependido. Coitado.

O tenista russo Marat Safin, mantendo a habitual irreverência e ironia que me fazem admirá-lo, propôs a solução para o “problema de consciência” de Agassi.

— Ele sente culpa? Então que ele devolva os seus títulos, dinheiro e seus Grand Slams — , afirmou Safin em entrevista ao jornal francês L’Equipe. — Se ele agora é limpo e franco, poderia fazê-lo. Vocês sabe, a ATP tem uma conta bancária e ele pode fazer a restituição, basta querer — completou.

Como Safin é do meu time e não alivia, seguiu mandando bala:

— Eu não vou escrever minha biografia, não preciso de nenhum dinheiro. A questão é: por que ele fez e por que confessou após aposentar-se? — , perguntou. — O que ele quer é vender mais livros, é completamente estúpido — , criticou o russo. Safin encerrou sua carreira esta semana em Paris fazendo uma grande partida contra Juan Martin del Potro. Foi eliminado ao perder por 2 x 1.

Além do russo e do espanhol, poucos se manifestaram. Guga foi cauteloso e político.

— Eu confesso que não sei até que ponto essa notícia pode se tornar algo real — , disse. — O Agassi que conheço é um sujeito competitivo e sincero nas palavras dele. Na realidade, se comprovado, ele deve ter tentado demonstrar no seu livro momentos de sua trajetória em que enfrentou dificuldades.

Mas é ainda pior. Os médicos revelam que, em algumas circunstâncias, o cristal provoca pânico e…

Bem, Agassi afirma em seu livro que perdeu de maneira proposital para Michael Chang na semifinal do Aberto da Austrália em 1996, pois queria fugir de Boris Becker na decisão. Apesar de transparecer sempre sério e objetivo. Agassi agora diz que tinha medo de Jim Courier, Thomas Muster, Yevgeny Kafelnikov, Boris Becker (que chama de “maldito alemão”) e de Pete Sampras. Estranho. Sobre Chang, Agassi tem algumas pérolas bastante interessantes:

— Eu o odiava. Ele dava graças à Deus e atribuía suas vitórias a Deus, isso me irritava muito. Por que Deus se importaria com uma partida de tênis? E por que ele se colocaria contra mim e a favor do Chang? Isso é ridículo. Quando ele venceu Roland Garros em 1989, fiquei com vontade de vomitar. Me perguntei: “Por que logo o Chang? Por quê, entre tantos outros, logo ele foi vencer um Slam antes de mim?”

.: 3 :.

E a Feira do Livro de Porto Alegre? Por que agoniza? Ora, por sua exclusiva culpa. Há anos que este blogueiro de sete leitores diz que a Feira tornou-se uma grande livraria, que não há variedade, que a quantidade de livros iguais — se a gente pede alguma coisa diferente, os livreiros têm de encomendar (?!) — torna a Feira um espetáculo nauseante. Este ano, não comprei nenhum livro lá, até porque sei que dificilmente os livros que procuro estarão lá. Alguém encontrou na Feira o livro o recentíssimo Música Mundana de John Neschling? Alguém viu por lá a trilogia do Gaúcho a Pé de Cyro Martins naquela bela edição comemorativa ao centenário de Cyro Martins lançada no ANO PASSADO? Melhor o site da Cultura ou a Estante Virtual, né? E, de quebra, não se precisa caminhar no meio de corredores cheio de livros de vampiros e autoajuda. De bom, a Feira tem os bares. Lá é onde estão atualmente os leitores.

.: 4 :.

Cada um busca a aposentadoria que pensa merecer. Barrichello aspira a uma dignidade tardia. Agassi faz o exato contrário. Barrichello quer entrar na história de uma forma diferente do que foi sua vida; Agassi quer o desprezo, mas antes venderá livros. A Feira está em fase minguante, mas não sou nada apocalíptico a respeito. Talvez até melhore.