Somos devedores pelos grandes favores que o Grêmio nos prestou neste final de Brasileiro. Na rodada de domingo passado, eles nos permitiram passar à frente do Cruzeiro com o heróico empate que obtiveram para nós em pleno Mineirão. Neste fim de semana, ultrapassamos o Palmeiras, mas tal fato não teria sido possível sem a vitória do Imortal Tricolor sobre os verdes do Parque Antártica na última quarta-feira.
No próximo fim-de-semana, eles estarão de folga enfrentando o Barueri, porém, na última rodada, faremos novamente uso de seus préstimos contra o Flamengo para, quem sabe, acalentarmos a doce, diminuta e ainda fraca — como um pastel de Santa Clara — esperança de sermos Campeões Nacionais após 30 anos.
Hoje, graças a nosso coirmão, temos 93% de chances de ir à Libertadores e 9% de sermos campeões. Há que fazer mais e temos confiança de que esforço, competência e solidariedade não faltará ao grande time do Olímpico.
Agradecemos antecipadamente.
Prezado Milton,
preciso lhe fazer uma confissão. Neste último final de semana, sofri uma terrível crise existencial. Foram vividas horas e horas de desassossego. Somente hoje, nesta manhã ensolarada, aqui em Vitória, consegui apaziguar meu ânimo para elaborar a fundamental questão filosófica que tanto me afligiu: onde estão os costumeiros linguarudos deste Blog?
Prezado Ramiro, (com a licença aos adeptos do futebol ao comentário abaixo, sem relação alguma):
talvez não tão coincidentemente, também nestes últimos dias estou acometido de uma tristeza profunda, falta de horizontes, perspectivas, uma grande câmara de eco reverberando abaixo das percepções cotidianas, de forma que às frases de minha esposa eu respondo com uma teatralidade vencida, que ela reconhece e secreta mas ativamente, de forma feminina, faz que não ve, reza para que antigos pesadelos não se repitam, procura sinais do acordo de responsabilidade firmado em meu comportamento, e isso eu sou capaz de garantir, ainda que precisei pegar algumas tralhas e me isolar, e dou graças por ela ser a pessoa que melhor me conhece sem excessão para saber o que é loucura e o que é minha velha inadaptação, ingenuidade, vaidade, orfandade, e dar-me o direito ao escoamento, sabendo que apesar dela ser a pequena e eu o grande, a força está invertida, minha capacidade é só assustar os incautos, deixar os inoportunos à distância, enquanto ela é a verdadeira fortaleza, cheia de pragmatismo e falta de conversa, a força que pechincha, que impõe seu direito sobre o trânsito para passar em frente aos carros com o carrinho de bebê (enquanto minha neurose se prontifica a ergue-los nos ombros porque sempre parece que os carros avançarão, sem consideração alguma).
Então, nesse fim de semana fui para a chácara de um amigo e fiquei lá sozinho. Remoendo a velha questão. Nessas horas a febre não vem, e a saúde é um martírio. Levei dois livros e um mp3 do Vangelis. Nem “Opera Sauvage” surtiu efeito. Abandonei o romanção do Isaac Bashevis Singer e me pus a ler, de cabo a rabo, “Putas Assassinas”, na tentativa de me reconciliar com Bolaño. Os três primeiros contos me alegraram um pouco, depois a tristeza do autor foi me atingindo em cheio. Não gostei do livro, excessão feita para O Ano de 1973, que me pareceu ser onde Bolaño abriu mão dos misteriosos horrores constantemente mencionados, e deixou fluir seu humanismo na últimíssima página. conclui o livro com o claro pensamento que esse tipo de tristeza literaria funcionava quando as ideias proliferavam pelo ar, quando o mundo era rico em opções de confortável desespero, e se podia abraçar o existencialismo, o comunismo, o sanatório… hoje essa depressão já não funciona; a doença escreveu Putas Assassinas, a doença e algo mais, um interesse de proteção aos que ficam, os filhos e esposa do autor. E isso me deixou mais para baixo ainda, a constatação de que a literatura atual esteja num beco sem saída, presa a seus caçoetes e arremedos sofisticadamente institucionalizados, pronta para continuiar a cantar para a morte, o nada, a técnica. Choveu muito onde estava, faltou luz. Fui ao serviço hoje, voltei para casa, confirmei a segurança indubitável de todos os queridos, acessei esse blog_ vi a original exposição de filósofos no PHES, e antes de desligar o computador, aventurei-me a ver quem havia comentado neste post sobre futebol… e vejo suas palavras, que, de certa forma, serviu para contribuir para o ajuste das coisas.
Bom, um dos linguarudos está aqui, confirmando que continuia vivo!
Ufa!
Um está vivo!
Charlles, penso que a morte da literatura é anunciada de tempos em tempos, quando os cacoetes vão tomando conta, as fórmulas se repetem e do meio disso tudo surge uma merdinha de nada e vira a próxima Grande Esperança Branca; só que, depois de tudo, aparecem uns livros que nos levam adiante, como tudo que é humano e não cansa ou só cansa para poder descansar e depois levantar de novo e experimentar viver outra vez, e assim vamos, et cetera.
Vangelis? Experimenta “Hergest Ridge” ou “Incantations”, de Mike Oldfield.
Taí, Marcos, é chato para nosso mote usual de provocações quando concordamos, mas seu primeiro parágrafo expressa o que eu penso. Que me desculpe o Milton, que é um notório aficcionado pelo Bolaño, (e o Bressane e milhares de outros!), mas a única coisa que as Putas me provocou_ para realçar mais a tristeza do fim de semana_ foi um enorme (sem exageros) saudosismo de Julio Cortázar. Senti a saudade do cara, como se o tivesse conhecido_ e como não, oras!! À medida que avançava na leitura, pensava como Cortázar teria transformado aqueles temas por outro lado valiosos de Bolaño em muito mais que simples literatura passadamente interessante, tendo-lhes dado seu toque de grandeza mítica. Por detrás das palavras de Cortázar pude sempre intuir algo mais, uma zona de indefinição onde, se nada mais fosse possível, o humor jovial, a catarse da realidade expurgada nas sínteses vigorosas, já me motivava. Algo como Sad Songs Make Me Happy. Meu conto preferido do Cortázar é Fim de Jogo. Para quem não o leu_ ou não se lembra_ é a história singela de uma perversão: algumas garotas ficam vendo o trem passar, do campo de uma fazenda. Uma delas, a mais bela, é aleijada, não saindo da cadeira de rodas. Toda vez que o trem passa, um rapazinho que viaja ao lado da janela enamora da menina da cadeira, a qual as colegas disfarçam a cadeira cobrindo-a de tecidos, para que o rapaz não saiba da insuficiência da moça. Para os que vão ler esse conto, excluo de revelar o final, que é um dos mais dolorosos e belos da produção de Cortázar. Mas fica aquela possibilidade indefinida, como aquele assovio mágico de uma música bela demais para ser apreendida que um protagonista de um conto de Machado de Assis nunca mais ouvirá novamente. Bolaño sempre está prestes a nos oferecer a intuição desse assovio, mas nunca consegue. Ou quando ele, de forma maestral, consegue nos envolver na narrativa, fazendo que tudo seja possível, perde o fio da meada_ penso nos contos “ùltimos amanheceres sobre a terra” e “Buga” (não estou com meu exemplar aqui!).
Vangelis é muito bom, Marcos! Não Blade Runner ou o filme do Colombo. Ouça três discos sublimes dele: “Odes”, com a Irene Papas; “Opera Sauvage”; e “Heaven and Hell”, com a bela música de abertura adotada por Sagan para a série “Cosmos”.
“Últimos Entardeceres…”
Domingo cinzento
Está sentado diante da televisão desligada. Não olha para a tela ou para as paredes (à sua frente uma infiltração vinda não se sabe de onde produziu uma mancha alaranjada, e é melhor que ele não a veja mesmo). A mulher, ativa e operativa, anda de lá pra cá, fazendo coisas, cumprindo tarefas, verificando a excelência do molho, a transparência dos copos, a temperatura do vinho.
– Não terá começado o futebol?
– Não sei, ele respondeu, desanimado, a pensar, começou, não, e daí?
– Fiz uma promessa: se o Inter for campeão passo a torcer pelo Grêmio.
Ele ouve o absurdo mas não pergunta nada, nem protesta. Mesmo assim ela explica.
– É porque o Inter só será campeão se o Grêmio colaborar e, se ele colaborar, é porque, no final das contas, Grêmio e Inter são uma coisa só, ou ao menos existem os dois para ajudarem um ao outro, daí que a solidariedade é devida e…
– Vem cá, queridinha – ele levanta a voz, finalmente – você enlouqueceu de vez?
Ele então liga a televisão e vê que o time, aos trancos e barrancos, está ganhando, jogando atrás, feio, dando chutões e fazendo faltas. Estranhamente é isso que o livra da angústia.
Ufa!
Dois estão vivos!
Ramiro, se continuar desse jeito eu vou mandar te matar…
o campeão voltou!
(porque os outros não querem nada com este título)
Este campeonato é, sem dúvida, a maior demonstração de esforços para perder o título, empreendidos por um número enorme de participantes.
Ficará para a história.
O campeão será aquele que fizer menos força para perder.
Milton,
Esta foi a “corneta” mais bonita que eu já levei em toda a minha vida. Talvez só esteja no mesmo nível da que eu dei na minha cunhada colorada marinheira de primeira viagem em conquistas planetárias:
– Agora tu sabes COMO É BOM ser campeão do mundo, né? PARABÉNS! 😉
[]’s,
Hélio
É tudo verdade. O que fazer?