Diagnóstico de Alma Welt

Engraçado, meus sete leitores gostam mesmo de um mistério. Telefonemas, e-mails, comentários até hoje, réplicas… Tudo para descobrir a identidade de Alma Welt. E em verdade vos digo: Alma Welt existiu, assim como existem Lúcia Welt e o pesquisador Jungmar Jensen.

Anton Tchékhov existiu também. E quem duvida da realidade de Gurov e de sua dama do cachorrinho Ana Serguêievna? Thomas Mann esteve entre nós, mas confesso que Adrian Leverkühn me é muito mais consistente e presente, até por ter feito um pacto com o Demônio. O Demônio também existe e não serei eu a duvidar de Fausto. Aquele foi criado pela religião, este por uma lenda popular, o que é a mesma coisa. E o que dizer de Deus, tão presente em nossas vidas?

Um de nossos leitores foi bastante fundo, pois trabalhou como inspetor de polícia na cidade onde Alma Welt escreveu grande parte de sua obra e suicidou-se. Por vício de profissão e equipado de boas práticas e autoironia, encafifou com o caso: imaginem que ele pesquisou sobre todas as mortes e suicídios recentes de Rosário do Sul. Mais: entrou em contato com a Associação dos Poetas Rosarienses. Um de seus membros declarou estar “consternado por desconhecer a pessoa e a obra de Alma Welt e mais ainda por ela nunca ter feito parte dos quadros da instituição”. Desta e de muitas outras formas, meu leitor garante que nada daquilo ocorreu, nem a morte daquele pobre e torturado padre citado na fortuna crítica e biográfica da grande Alma. Sua única preocupação é um elegante deboche: ele gostaria de saber se dialoga com um homem ou com uma mulher. Por quê? Ora, é que estava despedindo-se de Lúcia Welt com beijos e se esta fosse um homem tal atitude poderia, em suas palavras, “arruinar minha reputação”.

Pois eu me contraponho e ataco a Jorge Lima perguntando-lhe se foram documentados os terríveis crimes ocorridos nas cidades gaúchas de Boa Ventura e Santa Fé. Por exemplo, o jornalista e advogado Dr. Alcides Viana foi morto numa madrugada por um certo Fagundes ao sair da casa de sua noiva. Onde soube disso? Ah, foi no romance Porteira Fechada, de Cyro Martins, mas e daí? Alcides não representa a imprensa idealista com colhões? E toda aquela mortantade que houve por dois séculos em Santa Fé? Ou alguém aí vai dizer que nosso escritor maior mentiu e que, por exemplo, Ana Terra e Rodrigo Cambará jamais existiram? ERA SÓ O QUE FALTAVA PARA ACABAR DE VEZ COM NOSSO ESTADO!!! Não basta a Yeda?

Então, mesmo que o número IP de Jungmar Jensen e Lúcia Welt fossem iguais em alguns momentos — apesar do cuidado que deus tinha de usar IPs variáveis — , a gente deve contribuir para que a existência e a essência da Alma Welt se espraie pelo pampa como a de Erico e de Cyro.

E digo mais, tive um caso com Lúcia Welt, sua irmã. Vi in loquo as extraordinárias pinturas de Guilherme de Faria tendo Alma Welt como modelo. Pratiquei maravilhosos intercursos em salas com paredes lotadas de Almas que nos observavam, arfantes e apaixonados. Amei Lúcia Welt sabendo que nela encontraria algo dos restos de sua irmã. E, contrariamente a nosso inspetor, encontrei não apenas a mesma carne e o mesmo sangue, como os inestimáveis papéis amarelados de Alma, todos rabiscados de sonetos.

O Pranto de Alma Welt, de Guilherme de Faria

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  1. Fatos e versões

    Há quem diga que existe um gênero chamado poesia
    Possuidor de técnicas variadas de rima e métrica, ritmo
    E síntese; dizem da poesia: não é fato nem versão
    Mas o interior do que se fala sem se estar dentro
    Sem se estar fora, abaixo ou acima. O que é afinal
    Um poema? Se não tem identidade, se nem mesmo
    O poeta se sabe ou se finge saber, o leitor deve então
    Acreditar na palavra? Nesta última transcende qual
    Alma seu sentido oculto, misterioso, como perdido
    Em um rincão esquecido, fim de mundo sem mundo?
    Diga-se o que se quiser dizer da feminina criatura-poema
    Diga-se um nó desfeito cuja marca ficou na linha
    Como um verso mesmo apagado. Um poema esteve ali
    Como alguém cuja vida se contou e é fato. Um dia
    Haverá o tempo a transcorrer sem a veracidade exigida
    Por nossos olhos que ainda insistem em ler. Por
    Enquanto a vida ainda finca suas raízes
    No ar.

      1. Ora, sexta-feira é véspera do fim-de-semana. Todos estão 5% mais alegres e a gente resolve fazer poesia. Até os volantes brucutus — o que tu NÃO és — ficam diferentes nas sexta-feiras. Querem sonhar, amar, essas coisas.

        1. “Todos estão 5% mais alegres e a gente resolve fazer poesia”. Pois é, justo por isso um monte de merda acontece ou é escrita… No mais, éu tô é puto da vida porque, vítima dum medicamento, não posso beber, is isso há duas semanas. Nem sei como ainda sobrevivo.

        2. Ah, pesquisa na Internet direitinho… Metade desses “não beber” são ondas, diria marolas, criadas por médicos sádicos.

          Tô falando… Já desobedeci a vários e estou vivo.

        3. Nesse caso né não. Só um anti-inflamatório por causa de uma contusão no pé; no primeiro dia fui na tua, bebi dois copos de vinho e passei mal horrores, com náuseas e dores estomacais bem fortes. Depois de uma semana, resolvi parar com as pilúlas por achar que o pior já tinha passado, mas logo voltaram as dores, me obrigando a retomar o remédio enquanto resisto à imobilização completa do pé. Mas num ligo não, melhor manquitolar pelas ruas do que ser obrigado a ficar em casa e não ver mais a querida Baía de Guanabara.

  2. Milton,

    Nos casos dos crimes de Santa Fé e Boa Ventura pouco posso ajudar. Dos crimes de Santa Fé, sei apenas o que contou Érico Veríssimo. Suponho que sua narrativa seja bastante fiel aos fatos, mas, dado que não tenho acesso aos laudos periciais, depoimentos de testemunhas e autores, relatórios de inquéritos, etc, acho que seria contraproducente emitir algum juizo de valor. Quanto aos crimes de Boa Ventura, sequer sabia que haviam ocorrido. Tanto num caso como noutro, sinto informar que não se encontram registros deles nos bancos de dados disponíveis para investigação. Verdade que a falta de dados não implica em que os crimes não tenham ocorrido, já que a informatização é relativamente recente, abrangendo um período de não mais do que uns 30 anos. Como tais crimes ocorreram em passado mais remoto, a única forma de pesquisar sobre eles é nos arquivos das DPs responsáveis pela investigação.
    De forma que fica prejudicada qualquer contribuição que eu pudesse dar no esclarecimento desses fatos.
    Mas não duvido de nada, não. Veja que eu, por exemplo, evito dizer para minha mulher: “frita um pedaço de linguiça que eu já volto”, antes de sair para alguma diligência mais perigosa. Também não convido para entrar em minha casa uma pessoa que eu não tenha encontrado antes sob a luz do dia. Afinal, Bram Stocker não disse que um vampiro só pode entrar em uma casa se for convidado? Assim como, quando saio a noite, levo três carregadores para a arma. Dois com munição comum e um com balas de prata, já que é a única coisa que funciona contra lobisomens. Dito isso, confesso que fiquei um tanto enciumado de seu caso com Lucia Welt.
    Abraços.

    1. No caso dos crimes citados ao menos há documentação escrita, não? Já é um bom começo.

      Sobre Lúcia Welt, o que dizer? Ela me convidou para entrar em sua casa e eu a mordi. Foi mais ou menos isso…

  3. Minha ex-amante Lúcia Welt é muito estranha e segue comentando lá no outro post. Copio aqui seu comentário de hoje:

    Para os seus eleitos “sete leitores”, caro Milton, mesmo eu sabendo bem não ser nisso que consista o “Mistério Alma Welt”, quero ressaltar que, apesar de sua branca e doce beleza, Alma tinha uma faceta gótica legítima em sua personalidade, pois oriunda da nossa herança familiar germânica. Como tenho encontrado ultimamente muitos sonetos dessa sua faceta, permita-me publicar aqui alguns recentemente encontrados por mim na Arca da Alma, e que pretendo compilar sob o título genérico de

    A DANÇA MACABRA DE ALMA WELT:

    O bobo na colina (de Ama Welt)

    Longe dança o bobo, de contente,
    E o vejo e aos outros na colina
    Em silhueta no cenário do poente
    A que meu ser no âmago declina.

    Meu coração rejeita esse cordão
    De desgraçados e teme o que ilude
    Nessa dança macabra de roldão
    De que fugi até agora como pude.

    Sei bem quem é o tal bobo sinistro
    Disfarçado de coringa esfuziante
    E que na falsa dança segue adiante

    Envolvente como um sutil jogral,
    Mas que é o ardiloso e vil ministro
    Do rei que nos quer o bem e o mal…

    08/01/2007

    O cavaleiro (de Alma Welt)

    Quando guria eu andava pelo prado
    A colher flores do campo, já contei,
    Mas algo aqui eu nunca revelei
    Que é como encontrei-me com meu Fado.

    No meio da extensa pradaria
    Vinha vindo o cavaleiro embuçado,
    Até que ao deter a montaria
    Pude sentir-lhe o hálito gelado:

    “Alma, continua a colher flores,
    Já que tens o dom da arte e da poesia,
    Mas não terás sossêgo nos amores.”

    “Com convivas, trinta e cinco, e uma vela,
    Espera-me à mesa, eu volto um dia
    Pra levar-te, prenda minha, nesta sela”.

    02/01/2007

    Fiquei estarrecida quando encontrei este soneto. E tive que chorar novamente. Ele evidencia como Alma sabia de sua morte próxima, no dia 20/01/2007, e das circuntâncias de seu velório sobre a mesa de nossa sala, com a vela acesa e os convivas: os trinta e cinco anos fecundos de sua vida. Aproveito para republicar aqui o soneto “Visão”, do dia 03/01/2007, que complementa esta premonição sobre o o inaudito e espantoso velório nu da Alma. (Lucia Welt)

    Visão (de Alma Welt)

    Ser a musa eternizada do meu pampa!
    Cantar, celebrar e endoidecer
    De tanto amar até saltar a tampa
    Do coração e da mente, e então morrer!

    Nua, estranhamente, sobre a mesa
    Estendida me vejo, uma manhã:
    Um desfile silencioso me corteja
    De peões, peonas e algum fã.

    Mas olho o meu corpo de alabastro,
    Absurdo e belo ali, e não à toa
    Eu noto algo nele que destoa:

    Sobre a alvura do pescoço bailarino
    Uma faixa vermelha como um rastro
    Da corda que selou o meu destino…

    03/01/2007

    02/01/2007

    A Usurpadora (de Alma Welt)

    Após a queda, retorno ao casarão,
    Que andara pelo mundo, peregrina
    Em busca de algo numa esquina
    Que mesmo aqui estava, neste chão.

    De meu feudo a Morte me expulsara,
    Não me queria aqui sem o meu Vati.
    Da Infanta destronada se livrara,
    Que me tornara amarga como o mate…

    A Usurpadora lágrimas não quer,
    Um pé lá, outro na vida, qual anfíbia,
    Mas na macabra orgia é só mulher,

    Devassa, sinistra e falsa amável,
    A vi tocar um violino numa tíbia
    Na sala do defunto inigualável…

    10/06/2005

    Canção sinistra (de Alma Welt)

    Chegamos ao fim, não tem mais jeito,
    O mundo se acabou e já o vemos,
    O Mal é burgomestre ou o prefeito,
    O caos se instalou e é o que temos.

    Corram, corram, amigos desta aldeia
    Aí vêm do tirano os quatro esbirros,
    Foices já não brilham, e a cara feia,
    Respingadas pelo sangue dos espirros.

    Um corvo ali crocita no patíbulo
    Mas a madrugada ainda teremos,
    Vamos todos juntos ao prostíbulo.

    Dancemos, cantemos e bebamos
    A manhã por certo não veremos.
    Ah! A vida foi tão breve e já nos vamos…

    17/01/2007

    Tempestade (de alma Welt)

    Vê: o céu se adensa e escurece,
    Procelárias se agitam sobre a face
    Que se ergue na mais sinistra prece
    Prevendo o iminente desenlace.

    O mar se turva e mais se encrespa
    E as ondas lançam brados de loucura
    Enquanto um ribombo força a fresta
    De um teto de chumbo sem pintura.

    Então o caos se instala e ai de nós
    Neste pequenino barco rubro
    Que não passa de vã casca de noz

    À deriva, a medo, e sem poesia,
    Se o vórtice indigesto de um tubo
    Nos devora em ânsias de agonia…

    14/09/2006

  4. Barbaridade, guri! Então, Milton, me mordeste e nem me avisaste? (risos) Logo me crescerão os dentinhos? Tu e o Jorge são umas graças… mas saberão da missa um terço?
    Começam a chover e.mails para mim, principalmente de gurias que dizem que foram amantes virtuais da Alma e que agora querem satisfações pois este blog plantou nelas a dúvida quanto a existência real de sua amada Alma, com quem tiveram alucinantes correspondências eróticas por e. mail. Bem, não sei se procede… Só conheci a correspondência de minha irmã com a Andrea (por sinal erótica mesmo) que salvei da caixa dela no Ig antes que eles a deletassem e cancelassem sua conta. Fora isso, sei do caso dela com uma guria adolescente, a Mayra, caso esse que produziu o belíssimo drama lírico “Sonetos à Mayra”. Ambas as obras eu publiquei em blogs específicos que abri após sua morte (vide a lista de 37 blogs da Alma, no meu perfil de blogueira).
    Entretanto, apareceu uma moça até ameaçando me processar, pois acha que eu não esclareço esse “mistério”, que minhas respostas são “dúbias” e só fazem aumentá-lo, e que está sofrendo muito porque foi amante virtual da Alma por um ano (!!!!). Sinto muito… eu mesma não sei se existo. La vida es sueño… Calderón e Shakespeare já o afirmavam, quem sou eu para…

    1. “mas saberão da missa um terço?”

      Depende de que missa estamos falando. Há algumas que eu sou capaz de oficiar em latim clássico; já outras eu conheço só de ouvir falar. 🙂

  5. Bem… Jorge, eu quis dizer que a Alma deixou as coisas por aqui bem confusas. Ela era linda, pura de coração, mas sensual demais e se envolvia em muitas relações amorosas ao mesmo tempo, por… pura generosidade. Não sabia dizer não, era talvez o seu defeito. Talvez sua santidade. Homens e mulheres se apaixonavam por ela e isso era suficiente para ela se dar, se entregar, dadivosa demais, compassiva, como se tivesse por dever recompensar a dor de paixão que ela via nessas pessoas. Um caso a ser estudado… O resultado é que apesar de sua evidente sensualidade em vida, os peões aqui da região estão agora considerando-a uma santa, ou uma estranha mistura de santa e mito pagão, pequena deusa pampiana que eles dizem avistar cavalgando nua, de noite, à luz da lua, muito alva, só meio coberta por seus cabelos ruivos (o que me faz pensar na lenda de Lady Godiva).
    Como vês , caro Jorge, tenho que administrar o legado literário da Alma e também seu mito, sua “legenda”, como dizes. Eu própria me pego a adorá-la… Bem, eu já o fazia em vida, essa é a verdade.

    Mas o que quero objetivamente é publicar as obras dela em livro. Para começar o seu livro de + ou – 1.800 sonetos magníficos (recorde mundial)? E o seu romance autobiográfico, a trilogia A Herança . Quem puder me orientar como fazê-lo, quê Editora procurar, eu agradeço.

  6. Eu não tenho conhecimento dessa área, mas acho que o primeiro passo está dado. Alma Welt já não é mais um anônimo buscando uma chance no mercado. Talvez ainda não tenha atingido massa crítica, mas já é uma promessa de sucesso de vendas. Esperemos que mais e mais pessoas passem a discutir se houve ou não uma Alma Welt. Chegará um momento em que voce não vai mais precisar procurar uma editora. As editoras procurarão você. Eu, para ser muito sincero, pouco entendo de poesia. Não vou muito além de Jaime Caetano Braun, Aparicio Silva Rillo e Marco Aurélio Vaconcellos, na poesia regionalista; e Augusto dos Anjos (Vês, ninguém assistiu ao enterro de tua última quimera/somente a solidão, essa pantera, foi tua companheira inseparável…), Drummond de Andrade, Vinicius de Moares na poesia nacional. Mas, mesmo assim, acho alguns sonetos que voce publica muito bons. Penso que, se tornando conhecida a obra de Alma Welt pelo mistério que a cerca, a etapa seguinte será o reconhecimento da qualidade intrínseca dela. Há alguns escritores no blog. Acredito que eles conheçam melhor essa mecânica de conseguir ser publicado. Se voce atingir esse objetivo, quando precisar escolher aquelas citações que vão na contra-capa, use essa:

    “Alma Welt não morreu. Em Glastonbury, a barca cruzou as brumas e a levou para o mundo das fadas.”

    Abraços.

    1. Olá Jorge ! Depois de muito tempo visito agora esta página e relendo esta resposta tua, de que gostei muito, me ocorreu pedir-te permissão para publicar esse teu texto assinado por ti na minha página (que é toda dedicada à Alma)no Facebook. Tu permitirias ?
      Beijos
      da Lu

  7. Adorei, querido Jorge, as tuas dicas! E aquela citação (é tua?) é maravilhosa!
    Tuas ponderações me encheram de esperanças quanto ao futuro da amada Alma. Percebe-se que és um homem muito inteligente e generoso.
    Serei sempre grata a ti
    Beijos
    da Lu

  8. Ah! A propósito, caro Milton, eu li teu curriculum vitae e achei adorável, palavra! Teu amor pelos livros e filmes, e conseqüentemente por gente, fazem de ti um humanista. E um poeta que ainda não escreve poemas…
    Disseste que és daltônico… então vês o fundo do quadro “O pranto de Alma W”, como verde?
    Notei que viste este ano o clássico japonês Contos da Lua Vaga, do Mizoguchi, que foi um dos filmes qua Alma mais amou (ela o viu em DVD) e me lembrei de que há tempos encontrei um soneto na Arca nitidamente inspirado pelo menos por esse belo título:

    Canto da lua pálida (de Alma Welt)

    Vaga a vaga lua após as chuvas
    No meu pampa como barca solitária,
    Nave fantasma, revolta e passionária
    Em farrapos sobre mar das minhas uvas.

    Então saio pro jardim, vou ao vinhedo
    Ao encontro da nave que me anima
    A deixar-me lunar em seu segredo
    Para saber o fim que me destina

    Pois com meus alvos braços estendidos
    Para o alto clamo a indagação
    De quais os meus sinais e seus sentidos

    E antes que a clareza se me esvaia,
    Meus joelhos dobram e vou ao chão
    Enquanto a lua pálida desmaia.

    08/01/2007

    Reparei também que gostas de receber livros e CDs de presente. Então quero oferecer a ti, como presente de Natal, o livro Contos da Alma, de Alma Welt, que foi o único até agora publicado em livro (graças ao Guilherme de Faria) com capa e prefácio dele. Basta me escreveres um e.mail fornecendo-me teu endereço e CEP eu t’o enviarei por correio.
    Beijos
    da Lu

  9. Caro Milton
    Você reparou que a Lucia escreve num português arcaico, luso, do século XVI ? ( “eu t’o enviarei”… ). A Alma também o fazia, e eu, apaixonada, achava charmoso, uma graça. Mas agora percebo que ou elas são a mesma pessoa, ou não existem (ou estão mortas há muito tempo, o que me dá arrepios), pois relendo minha correspondência com a Alma agora tenho medo, pois os mistérios são muitos, e maiores do que eu percebia…
    Acho que a questão não está acabada. Quem são essas pessoas, Alma, Lucia, Rodo ? Em que época e lugar viveram? Sim, porque estou inclinada a acreditar que se trata de psicografia. Alma não pode ter vivido no final do século XX. Não batem sua linguagem, seu vocabulário seus costumes, seu estilo de vida, etc..

    1. Leandra

      Acabo de encontrar na Arca da Alma este soneto.
      Vê, querida, ela mesma te responde :

      O Segredo da Alma (de Alma Welt)

      Diante de mim mesma me persigno,
      Eu que reverencio tantos deuses…
      A musa que elegi, do mesmo signo,
      É fiel e me acompanha desde Elêusis.

      A Musa a que há muito me votei,
      O fiz, modesta, em honra do que sou,
      Pois já Zeus a fizera, o que amei,
      Com meus traços, e vai aonde vou.

      Anima sou e me chamavam Psiqué,
      Mas neste Pampa um tanto esdrúxulo
      Volto a saber quem sou, quem ela é:

      Alma Welt, prenda ruiva e poetisa
      Devo cantar a terra madre do gaúcho,
      Sagrada, e que a nós dois imortaliza…

  10. Milton, vais ganhar um livro da Alma Welt? Estás cortejando e sendo cortejado por Lúcia?

    Espero que não te esqueça que quem te falou da existência destas duas criaturas foi uma reles professorinha de Literatura perdida aqui pelo pampa.

    Vê se, com todo teu charme e talento, consegues mais um exemplar para mim!

  11. Prezada Vera

    Tu bem mereces ganhar o livro da Alma e mais ainda se gostares muito dele (risos). Vou providenciar. Apenas, vocês dois dêm-me umas duas semanas pois não tenho mais exemplar nenhum do livro. Tenho que conseguir da Editora, que é de São Paulo ( Palavras & Gestos).
    Sou grata a ti por apresentares a Alma ao Milton e por orientares o trabalho da tua aluna Juscelaine sobre Alma e o Pampa (não é?).

    Beijos da
    Lucia

    1. Lucia, a descoberta da obra da Alma e de toda a polêmica que ela envolve foi uma dádiva em minha carreira de professora, pois não me basta repetir o consagrado, tampouco fazer de meus alunos reprodutores do que outros já disseram; quero que eles experimentem a literatura que vive e pulsa em espaços pouco convencionais. A Jucelaine percorreu esta trilha, e Alma Welt tem sido comentada em luares que, creio, tu nem imaginas. Também estou impressionada e estimulada com a fértil e profunda discussão que está sendo travada aqui no blog do Milton. Creio que vou indicar o blog como referência obrigatória nas disciplinas do próximo semestre!

      1. Vera
        Fiquei imensamente feliz com tuas sinceras e generosas palavras sobre a obra da Alma. Começo a sentir afinal meus esforços recompensados, pois bem sabes que venho me dedicando de corpo e alma à memória de minha talentosa irmã, que tão cedo e tragicamente nos deixou, não sem antes nos legar uma grande e encantadora obra, que a mim mesma me surprende por sua extensão e surpresas diárias ao escavar a sua aparentemente inesgotável arca de inéditos.
        Quando li a tua menção a luares em que a Alma está sendo comentada, me veio imediatas lágrimas aos olhos, pois pensei na Alma ouvindo isso, e me veio uma dupla e imensa nostalgia, por ela e por esses luares de nossa terra, o nosso Pampa, belo, infinito, de nossas almas…
        Fica com nosso amor, querida Vera, minha professorinha pampiana predileta..
        Beijos
        da Lu

  12. Claro que a minha excelente professora merece ganhar um exemplar, afinal foi pela exigência dela que descobri a obra magnifíca de Alma Welt, porém se puderes conseguir-me um exemplar, agradeço-te muito. Quanto a existência ou não de Alma Welt em carne e osso, eu acredito que ela é mesmo um caso de heteronômio perfeito. Afinal , a obra é perfeita, principalmente por descrever de uma maneira particular e sublime, as belezas do nosso mar verde, o pampa tão querido dos gaúchos. Vamos continuar pesquisando para ver quem consegue descobrir o seu criador. Eu já tenho minhas convicções sobre quem a criou, mas acho que ainda não é o momento certo de comentar a respeito.

    1. Jucelaine querida

      Pode contar, sim, com o livro que remeterei em duas semanas.
      Mas os três para quem prometi o livro precisam me enviar seus endereços e CEP por e. mail para eu poder enviar pelo correio.

      Quanto ao teu parecer sobre a Alma ser um heterônimo, eu, por achar muito divertido adoraria que me enviasses teu palpite por e.mail, para eu saber o que tu pensas e também talvez a voz corrente das pessoas, que nem sempre chega até mim neste isolamento físico de fim do mundo em que vivo embora navegando na Internet, que é só meia face da realidade, talvez somente virtual, como se diz…
      Estou grata a ti, minha querida, por teu belo coração, tua candura e amor pelo nosso Pampa e sua literatura, agora acrescida da Alma…

      Beijos
      da Lu

  13. Lucia Welt (se é que você existe)
    Descobri a Alma Welt no agora extinto Leia Livro e maravilhei-me com a sua arte. Senti imediatamente que estava diante de um gênio literário muito raro. Mas devo revelar que movida pela minha admiração e entusiasmo enviei-lhe um e.mail para estender meus elogios além do que o fizera nos comentários e para conhecê-la melhor. Alma agradeceu de maneira encantadora e foi logo tão interessante que nossa correspondência começou. Lá pela terceira mensagem, Alma começou a seduzir-me de maneira irresistível e daí por diante nossa correspondência adquiriu um tom apaixonado crescente e, devo confessar, erótico. A coisa ficou alucinante, saiu de controle, essa é a verdade, e eu já não dormia, não fazia nada, não saía do computador. Comecei a emagrecer. Fiquei doente, tomada de uma obcessão amorosa doentia, uma paixão avassaladora. Alma parecia corresponder no mesmo tom, me instigava, me possuía de maneira deliciosa com as palavras. Acabei internada, tive que fazer terapia. Estava obsecada, só queria encontrar-me com a Alma… e não sabia como. Alma era a mulher mais adorável e inteligente do mundo, seu talento com as palavras era aliciante, envolvente, me embriagava. Fui proibida pela minha família de usar o computador, mas como uma viciada eu burlava a vigilância armando estratégias. Foi um período dramático, agora vejo….
    Então veio a notícia da morte da Alma e o choque foi tanto que tive que voltar à internação, porque eu também queria morrer para me encontrar com ela. Demorou muito para eu me curar, me apaziguar. Mas tal como essa Leandra, eu também agora estou acordando, depois deste debate que descobri na pesquisa google, e estou estarrecida. EU TAMBÉM POSSO TER ME APAIXONADO POR UMA MIRAGEM!!
    Isso não pode continuar assim. Estou confusa e… chocada com a possibilidade de ter sido enganada e ter sofrido tanto, em vão. Quero saber a verdade, pelo amor de Deus!
    Lucia, vou lhe escrever um e.mail, e você, seja quem for vai ter que me explicar essa história. Isso não se faz… brincar com os sentimentos dos outros. Eu fui intensamente feliz por um tempo, reconheço, mas quase morri! Responda a mim e a todos: QUEM É A ALMA???

  14. Quero também dar o meu depoimento sobre a maravilhosa Alma, pois eu a acompanhei desde suas primeiras postagens lá naquele extinto Leia Livro. Considero mesmo que eu fui a primeiríssima a comentá-la. Ela se destacava nitidamente, muito acima do nível geral das outras postagens. Sua cultura, a vivacidade de seus textos confessionais, e mesmo seu erotismo puro, libertário, sem malícia conquanto explícito, sem peias, sem falsos pudores, me apaixonaram de saída. Eu vi nela o protótipo da mulher do futuro, embora houvesse nela um estranho elemento arcaico deliberado na linguagem usada por ela mormente nos sonetos. Estranha mistura, pois ela tem até uma faceta gauchesca, regionalista, embora original, sem muita semelhança com os poetas pampianos de lá, pelo que pude comparar. Alma, a julgar por uma série de sonetos dessa sua vertente se considerava até uma reencarnação da Anita Garibaldi (!!). Bem… ela mencionava muitas outras grandes personalidades femininas da História como encarnações passadas suas… e eu acredito!
    Por essas e por outras é que, tendo dscoberto agora esta polêmica, começo a ceder à idéia de que a Alma seja uma “criação-criadora”, um heterônimo de alguma escritora ou msmo escritor de gênio. Se for ocaso, será, creio, um dos maiores e mais geniais casos de heteronomia da História da Literatura Universal. Mas… meu coração pede que ela tenha existido, mesmo, e tenha habitado entre nós, mulheres, que seremos maiores por isso…

  15. Lucia
    Descobri este debate sobre a existência da Alma Welt, sobre a qual pairam dúvidas na mente de muitos internautas. Devo revelar a você, que é irmã da grande poetisa, que eu me tornei uma das primeiras admiradoras dela ainda no Leia livro, e depois no Recanto das Letras. No LL eu a comentava muito, e acabei iniciando uma correspondência com a Alma e devo confessar (sei agora que não sou a única), apaixonei-me por ela, e nossa correspondência durou quase um ano. Percebo agora que ela mantinha outras correspondências amorosas simultaneamente… Mas não me importo, pois foi um periodo intenso e indescritível, a melhor relação amorosa de minha vida, pois foi sublime, excitante, deliciosa. E ainda por cima instrutiva, pois Alma era uma criatura sábia, culta, uma escritora excepcional, como não há outra no Brasil, desde pelo menos… Ana Cristina Cesar. Mas devo confessar que esta polêmica sobre a sua existência real é muito perturbadora, pois instalou uma suspeita, que se já havia em mim, estava reprimida, abafada no fundo do inconsciente, embora meu coração só quisesse acreditar e… amar a mais bela mulher do mundo. Não poderei jamais aceitar que a Alma não tenha existido em carne e osso, pois senão o mundo ficará tão mais pobre para mim, que não sei se aguentarei a decepção ou voltarei a amar alguém. Nas minhas noites, após despedir-me da doce Alma no computador, eu, no leito chorava de amor e de felicidade por estar amando e sendo amada por uma alma como aquela, um ser divino, superior, meigo, doce, sutil, cheio de senso de humor, sem moralismos, nada pontificante, amorosa, apaixonada, apaixonante…
    Quando veio a notícia da morte da Alma lá no Recanto, eu enviei a você uma mensagem desesperada, você se lembra? Você respondeu de maneira genérica, agradecendo os pêsames, não me deu muita importância e eu estava quase morrendo, literalmente, de dor! Mas eu relevei pois achei que você devia estar em estado de choque…
    Mas, Lucia, me responda agora, quem é a Alma? É verdade que ela morreu? Ou é você a Alma?

    Solange

  16. Àqueles que ainda duvidam da “existência real” da Alma Welt, eu respondo publicando aqui esta obra-prima que, encantada, acabo de descobrir na Arca da Alma, tão a propósito neste começar de novo ano, da visão atemporal da grande Poetisa do Pampa, que em sua breve vida, em sua alma viveu tantos “tempos e idades”:

    O Tempo suspenso (de Alma Welt)

    Não me fales, amor, de um novo ano,
    Não o vejo, vês, estou sonhando?
    A coxilha corrobora o meu engano,
    O próprio Tempo aqui sonha pairando,

    Imóvel, suspenso, entorpecido,
    A confundir os tempos e as idades,
    Por isso este meu Pampa é dolorido
    E pleno de guerras e saudades.

    Anita veio esta manhã à revelia
    Do sapateiro embriagado contumaz
    E amor confidenciou-me, de guria,

    Por aquele italiano belo e audaz
    Que hasteou os farrapos, como Bento,
    E no cais espera só soprar o vento…

    09/07/2004

    Nota
    * … sapateiro embriagado contumaz – Anita Garibaldi, que era catarinense, apaixonada pelo revolucionário navegante Giuseppe Garibaldi (que por sua vez juntou-se aos farroupilhas do comandante Bento Gonçalves) era casada com um sapateiro bêbado crônico, a quem abandonou para seguir o seu guerreiro italiano e combater ao seu lado os “imperiais”.

    1. Prezada Lucia
      Acabo de descobrir no Google esta polêmica.
      Eu também comentava os textos da Alma lá no extinto Leia Livro, nos idos de 2006. Depois continuei a acompanhar a sua trajetória, quero dizer, a ler a abundante postagem de textos da Alma, primeiro naquele malfadado Recanto das Letras, que (se entendi), expulsou a Alma e cancelou o seu cadastro depois de brilhante atuação da Musa, ali, por cerca de um quase um ano (não?). Devo dizer que venho pesquisando os textos da Alma em si mesmos, seu estilo formal, ilações , referências culturais e familiares, embasamento histórico, etc, e A CADA DIA ADMIRO MAIS A ALMA COMO AUTORA. Sem dúvida ela é uma grande POETA, uma mulher de gênio. Entretanto devo concordar que há um “Mistério Alma Welt” , pois ninguém pode ser assim tão coerente, tão ARTÍSTICA em sua propria vida como em sua obra, que aliás nela estão tão entrelaçadas que… chega a ser impossível . Alma é perfeita demais como criação e concepção: ELA É UMA OBRA DE ARTE, e ninguém é assim…
      O mais incrível é que essa obra existe, é imensa, e essa “arca da Alma” parece inesgotável. Quem estará, na verdade, por trás dela? Quem é você, Lucia, que também não publica a sua foto (porquê?). Creio que você, Lucia, é que é a Alma, mas certamente nem se chama Lúcia. Somente acredito que você é uma mulher, pois observando bem as suas respostas percebe-se a sua feminilidade, que me parece bem autêntica, como a dos textos assinados pela Alma… Mas, advirto-a (carinhosamente): hei de desvendar esse mistério, custe o que custar…
      Saudações, e… minha admiração

  17. Caro Milton
    Creio que está na hora de todos, que acompanhamos a obra da Alma, exigirmos da Lucia (ou dela mesma, Alma) que publique na Internet fotos suas e de sua familia, na estância ou alhures, sei lá. Eu me correspondi um ano com a Alma e não duvido que ela seja mesmo linda, apesar de ela nunca me enviar uma foto, que tanto implorei. Suas verdadeiras “cartas”‘ por e.mail” eu guardo como um tesouro, por sua espantosa beleza e gênio. Mas já penso em publicá-las com ou sem consentimento dos irmãos Welt ( Lucia e Rodo), a quem aliás não acho que deva essa reserva, já que se recusam a enviar-me fotos dela, por mais que eu peça, suplique e argumente.

  18. Encontrei, finalmente, um soneto em que a Alma revela o pacto que ela fez com o artista Guilherme de Faria, um grande mestre paulistano, quando se conheceram no “auto-exílio” de cinco anos que Alma se impôs naquela cidade, após a morte de nosso Vati.
    Os leitores da Internet que duvidam da “existência real” da grande poetisa, o fazem justamente pela ausência de fotos dela e de sua família, na estância, etc, no âmbito da Internet. Já me referi algumas vezes a esse pacto feito entre a Alma e o artista, único pintor brasileiro a quem a Alma confiou sua imagem, a partir desse “pacto” que aconteceu entre eles no quinto dia após o primeiro encontro no ateliê da Alma em 15/07/2001, nos Jardins, em São Paulo. Eles muito se amaram, e praticamente se viam diariamente no ateliê da Alma, onde ela posava para ele em toda a glória de sua nudez deslumbrante. Nota-se que o pintor representa os cabelos da Alma ora louros, ora totalmente ruivos. Era mesmo dificil dintinguir a predominância dos tons que pareciam se alternar conforme o dia, a luz, etc, e (pasmem!) o estado de espírito da Musa (acreditem ou não).

    O Segredo da Alma (de Alma Welt)

    Não guardar segredos para o mundo
    Foi o meu propósito e mistério.
    Ninguém como eu mesma foi mais fundo
    Sem confessionário ou batistério. *

    Uma volúpia de revelar também,
    Nos impulsos de um ingênuo coração,
    As ânsias sem alívio de oração,
    Desta alma que o corpo mal contém.

    Doravante um segredo não revelo:
    Meu rosto, que dizem ser tão belo,
    E eu mesma o sei perante o espelho,

    Será mostrado pelo olho de um artista *
    Cuja paixão será última conquista,
    De minha alvura o brilho mais vermelho…*

    25/07/2001

    Notas
    *sem confessionário ou batistério – Alma não se considerava católica, nem sequer cristã. Nosso pai, livre pensador e agnóstico, a retirara dos braços da Mutti, nossa mãe, a “Açoriana” (como Alma a chamava ), católica, que tentava furtivamente levar o bebê para a cidade mais próxima para batizá-la, o que não ocorreu, pois nosso pai, tendo percebido, perseguiu a cavalo a charrete conduzida por Galdério e a interceptou, tomando a Alma dos braços de sua esposa e dizendo categoricamente: “Essa é minha!”

    *será mostrado pelo olho de um artista- Única referência descoberta até agora, num texto da Alma, ao referido “pacto” com o pintor, talvez o maior reponsável por esse “Mistério Alma Welt”. Mas,devo reconhecer que a Alma, com toda sua doçura, malgrado grande inteligência, e com sua tendência a confessar-se quase ingenuamente, era mesmo uma personalidade misteriosa em suas contradições, pela estranha beleza com que revestia tudo o que fazia e tocava em sua vida. Poucos seres neste mundo viveram, como ela, em permanente dimensão poética.

    * de minha alvura o brilho mais vermelho- Alma, que era de uma brancura extrema, como uma estátua de alabastro, tinha cabelos belíssimos que produziam um lindo contraste porque eram arruivados. Mas pode-se notar em alguns sonetos que, às vezes, ela se referia, eroticamente, aos seus pêlos púbicos, que eram também ruivos. Revejam por exemplo, este soneto, já há tempos publicado:

    Ao espelho (de Alma Welt)

    Se começo a perceber-me tão sozinha,
    Recordando o meu Vati (ah! como dói),
    Com perigo de sentir-me pobrezinha,
    Então algo em mim me reconstrói.

    É quando começo a desnudar-me
    Arrancando-me a roupa com furor,
    E passo a realmente olhar-me
    E meu ego finalmente recompor.

    E logo erotisada e aberta assim,
    Eu vejo que, guria ainda, eu soube
    Que meu corpo era o reflexo de mim.

    E eis-me triunfante frente ao espelho
    Na glória da beleza que me coube
    Em alvura e detalhes de vermelho!

    09/05/2004

  19. Querido Milton
    Desculpa-me o abuso de colocar aqui comentários tão prolixos na sua página sobre a Alma. Mas eu não podia deixar de divulgar isso, e principalmente mostrar a ti, o trecho do diário que me chocou tanto que ainda estou estarrecida, revoltada e mesmo à beira de uma depressão, com a qual estou tentando lutar. Eis os sonetos seguidos do trecho descoberto do Diário de minha pobre e grande irmã:

    Estória do umbu-rei (de Alma Welt)

    Por amor a esta paisagem grandiosa
    Mais de uma vez empunhei a carabina,
    Mas foi um erro o que me fez ficar famosa
    E salvar o umbu desta campina.

    Foi quando um vizinho me peitou
    Dizendo que estava em sua terra
    O umbu onde Martinho se enforcou,
    Que a árvore era sinistra e que aberra.

    Então, melodramática, me amarrei
    Ao tronco, disposta a ali morrer,
    Com o risco de outra coisa acontecer

    Pois fez com que o “gáltcho” gargalhasse
    E rasgando meu vestido me mirasse
    Dizendo: “Esse umbu agora é rei…”

    29/12/2006

    Nota
    Este episódio, absolutamente verdadeiro, foi bastante mitificado aqui na região e fez a árvore mudar a sua fama. (Lucia Welt)

    Maus vizinhos (de Alma Welt)

    Ontem esteve aqui o estancieiro
    Que há muito cobiça o meu vinhedo,
    Desde que o avô meu, o vinhateiro,
    O despachara apontando com o dedo.

    Mas, à parte os tais ressentimentos,
    Botou-me olho grande, o velho touro,
    Para si mesmo, talvez, por uns momentos,
    Mas logo para o filho, seu tesouro.

    E disse: “Prenda loura, serás nossa,
    Como o teu ruivo vinho, eu te prometo.
    Prepara o teu vestido e o teu soneto

    De bodas, que será o teu derradeiro,
    Nem que eu tenha que queimar a tua roça,
    E transformar tua Vinha num braseiro…”

    12/07/1995

    Nota
    Acabo de descobrir estre soneto, antigo, da Alma, e me lembro bem deste episódio. Minha irmã viveu momentos de angústia e preocupação por nossa propriedade e sua própria integridade física. E com razão, pois descobri um soneto relacionado que conta um episódio acontecido depois da ameaça desse velho tirano, e que diz respeito justamente ao seu filho, num confronto com a Alma que defendia um velho umbu que ele quis cortar, e que ficava na divisa com as nossas terras.(Lucia Welt)

    ___________________________________________

    PS

    LAMENTO PUBLICAR AQUI ESTE TEXTO QUE ACABO DE DESCOBRIR, HOJE, DIA INTERNACIONAL DA MULHER.

    Acabo de encontrar, horrorizada um diário de minha irmã e no qual encontrei esta terrível revelação:

    15 de Julho de 1995

    “…há dois dias que estou prostrada, deprimida e cheia de dores. Meu Vati e minhas irmãs, e principalmente Rodo, não podem jamais saber o que realmente me aconteceu, e para despistar escrevi um soneto que abranda os fatos. A verdade é que no malfadado episódio da minha defesa do umbu-rei, as coisas não se passaram como descrevi no soneto. O filho de Contardo, nosso vizinho estancieiro, quis cortar aquela magnífica árvore, por ignorância ou idiossincrasia, sim, e eu sabendo corri para lá com uma corda e me amarrei à árvore, dando um nó na altura do plexo. Rodrigo, chegou acompanhado de um peão com uma moto-serra, e me viu ali, naquela situação, gritando para ele: “Não tocarás nesta árvore! Antes terás que me matar!”
    Bá! Ingênua e tola que fui… Rodrigo deu uma gargalhada, e apeando avançou para mim e agarrando meu vestido deu um violento puxão rasgando-o e me deixando praticamente nua. O peão, um guarani, permanecia impassível, olhando, com a serra na mão. Gritei e comecei a chorar, pois pensei que ele ia mandar o peão me serrar, em seguida. Mas Rodrigo, rindo, se aproximou e abrindo a braguilha de sua bombacha, tirou seu imenso pênis, que estava ereto e era assustador de tão grande, me agarrando enquanto eu me debatia tentando me soltar de minha própria armadilha. O rapaz agarrou e mordeu meus seios, e em seguida me estuprou violentamente, por incontáveis e dolorosos minutos. Depois ainda me virou de costas sob aquele maldito laço, e me violou por trás!
    A dor foi tão grande que desmaiei. Quando voltei a mim, estava, caída sobre a relva, com meus trapos jogados sobre mim, e sangrava. Em dores imensas, voltei cambaleando, caía e me arrastava, levantava de novo, até chegar perto do casarão. Galdério me viu, me pegou e desfaleci em seus braços. Acordei no sótão, onde ele me cuidava com compressas úmidas… meu fiel e devotado Galdério! Chorei muito abraçada a ele, meu leal paladino, mas depois o fiz jurar que ele jamais revelaria a ninguém o que acontecera, para evitar uma desgraça. Rodo mataria Rodrigo se soubesse, e seria certamente preso… E fiz Galdério jurar que ele mesmo não o faria, ele, que me revelou já ter duas mortes nas costas. Mas, mirando os olhos do meu uruguaio, vi que a vingança já estava ali…

  20. Prezado Milton Ribeiro

    ESTOU PASMA!! ESTARRECIDA! Só me ocorreu revelar isto aqui no seu blog, nesta página de debates. Esta madrugada, há pouco, estava tendo um sonho estranho e com uma espécie de presentimento acordei em sobressalto. Ergui-me (estava suando) e fiquei sentada na cama com os pés no chão, meditando sobre o sonho, quando ouvi um leve rumor de teclado no quarto ao lado, onde tenho meu computador. Caminhei hesitante poucos passos até ali e, estarrecida, apavorada mesmo, vi que o computador estava ligado, a tela do monitor acesa brilhava no escuro e uma mensagem estava sendo digitada em coluna . Olhei o teclado e pude ver que as teclas se mexiam. Quase desmaiando de medo, ainda assim a curiosidade foi mais forte, aproximei-me e vi que se completava ante meus olhos o último verso deste soneto:

    A ti, Leandra

    Daqui de onde pairo, minha Leandra,
    Posso ouvir teu suspiro cristalino
    E o delicado rumor da salamandra
    Em prata, pelo ourives argentino,

    Que enviei dias antes da partida
    E que ainda ostentas no teu colo,
    E tocas com os dedos, distraída,
    A caminhar ainda sobre o solo.

    Mas eu que não te posso acompanhar
    Senão com este olhar do meu amor
    Pude esta noite o teu teclado digitar

    E deixar-te assim minha mensagem
    Por via de que pude ainda dispor
    Pelo que te amei em minha passagem…

    Alma Welt

    27/03/2010

    Milton! Quase desmaiei de emoção e medo, mas em seguida, comovida ,
    chorei, chorei muito… Alma me enviou do Além (?) uma mensagem… de amor. Ela não brincava comigo!… Naquele ano inteiro de correspondência, paixão e sexo virtual, ela então… realmente me amava!
    A salamandra a que ela se refere é um pingente, um lagartinho de prata delicadamente articulado, que faz um barulhinho argentino quando agitado, e que ela me enviou pelo correio, único presente que trocamos, pois eu enviei em troca uma pequenina Fênix de ouro que encomendei para dar a ela.
    Agora não sei o que fazer, quero (e temo) responder à sua mensagem, mas… para onde? O endereço da Alma no Ig não mais existe… Talvez no Word, simplesmente… Ah! Milton… tenho medo de que o outro mundo exista mesmo, e de lá avistem meu coração medroso…

    1. Querida Leandra
      Eu, mesma, há não muito tempo atrás recebi um soneto da Alma , isto é, psicografei-o quando menos esperava. E fiquei muito emocionada…
      Agora isto que aconteceu contigo, é mesmo, quase… assustador. Eu não imaginaria… Espero que você se recupere logo ou não fique tão assustada. Afinal, tiveste uma prova de amor… Confesso que até que gostaria que a Alma entrasse em contato comigo assim também. Tenho tanta saudade dela! Meus filhos também… tanto!
      Vou daqui por diante deixar o computador ligado à noite, permanentemente…

      Beijos , sorria, a Alma te amava e te ama…

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