Gisele Bündchen doou US$ 1,5 milhão ao Haiti; Madonna, US$ 250 mil; este menino conseguiu quase U$ 300 mil; vários países, inclusive o Brasil, fizeram vultosas doações. Ontem, José Saramago, anunciou que a editora com a qual trabalha em Portugal e na Espanha, a Alfaguara, relançará A Jangada de Pedra em edição cuja renda irá 100% para o país caribenho. Em nota, Saramago explicou que a iniciativa é da sua fundação e só foi possível graças à “pronta generosidade das entidades envolvidas na edição do livro”. As entidades são a editora, distribuidoras e livrarias ibéricas. Uma bonita atitude, uma atitude esperada. Saramago completa: “Se chegássemos a 1 milhão de exemplares vendidos, seriam 15 milhões de euros de ajuda. Diante da calamidade que atingiu o Haiti, a soma não seria mais que uma gota d’água”. O livro terá relançamento no dia 28 de fevereiro a partir da campanha “Uma jangada de pedra a caminho do Haiti”.
Uma vez, durante uma entrevista a que estava presente, ouvi Saramago dizer que A Jangada de Pedra era uma decepção. A plateia protestou com razão. Ocorre que o romance começa quando uma falha separa a Península Ibérica do resto da Europa e a transforma em uma enorme balsa de pedra à deriva no Atlântico. Saramago disse que um romance não pode começar por um fato tão extraordinário que jamais poderá ser superado depois. Bobagem, Saramago leva o livro brilhantemente até seu final. Não contarei o final. É muito significativo e, sim, meu caro Saramago, tão extraordinário quanto o início da Jangada. Acho o livro muitíssimo consistente e bom.
Achei a ideia maravilhosa e tentarei comprar um exemplar.
Estou esperando. Esperando o livro? Sim, também. Mas antes espero que Lasier Martins reclame do comunista Saramago, assim como criticou o meia-esquerda Lula por sua ajuda humanitária. Para quem não é do Rio Grande do Sul e não conhece a estupidez que nos impinge a “Globo daqui”, indico este post.
O problema é que nós aqui no Brasil não conseguiremos comprar o livro, né? A Cia das letras (detentora dos direitos do homem no Brasil) não aderiu. O Livro custará 15 euros mas o frete pra importa-lo de Portugal é quase o dobro disto.
Saramago, o grande, sempre coerente! Rasgou a carteirinha do PC na televisão, renegando uma vida toda de filiação esquerdista, em repúdio ao paredón de Fidel. Agora esse gesto humanitário de abnegada relevância. Também adoro o Jangada de Pedra; o acho o melhor da lavra do Saramago, junto com O Ano da Morte de Ricardo Reis. Se conseguires saber como comprar essa edição, me informe.
Não sei, Thiago. A livraria cultura costuma ter livros importados à venda bem em conta. Tomara.
Thiago e Charlles, amigos.
Tenho amigos em Portugal. Sou até cidadão português! Vou pedir que me mandem porque é uma edição histórica. Talvez possa pedir mais de um exemplar. Vou pagar, claro.
Abraço.
Ah! Eu também quero!!!!! 😉
Beijão!
Saramago e um ótimo escritor e seu trabalho é magnífico. E é também uma pessoa única. Não é mias do PC, mas ainda pesa uma vida. Não pertencer a uma organização partidária não significa abandonar um ideal, e esta reedição é prova disso.
Ainda não li este livro dele, mas tenho um incentivo a mais para comprar e ler.
Torço para que a edição importada não saia os olhos da cara, pq daí não terei como pagar.
E realmente, o Lasier é a estupidez em pessoa.
Ele poderia lançar o Caim dentro dessa iniciativa também.
Por que eu tenho quase todos os livros dele.
Bruno, ganhei da minha filha o livro Caim do Saramago e é demais. A igreja mais uma vez deve ter esperniado… hehehe
Faça um artigo sobre Caim também, Milton. Seus artigos sobre Saramago são bons.
Por favor:
Você poderia me enviar o código html para eu postar em meu blog
esse do Gilmar Mendes “faltam 84 dias…
Obrigada
Eu não consegui através de clicando lá.
OS ESFORÇOS PARA ACUDIR AO HAITI (MAIS UMAS INICIATIVA…)
É um lugar comum. Os esforços para acudir às vítimas da tragédia do Haiti não serão
nunca demais. Morre-se em cada hora que passa. Cerca de 120 mil mortos, um grau de
destruição quase inimaginável, a agonia das estruturas
estatais/assistenciais/administrativas de um País. Pobre
situação a de um povo que começou a sua História lutando pela liberdade contra os donos
de escravos franceses no início do século XIX, que venceu essa prova, mas que tem
conhecido guerras internas, invasões e ocupações estrangeiras, além de desastres
naturais, ao longo de dois séculos… para já não falar das ditaduras que pouco dignos
filhos seus exerceram.
É curioso ver como se unem esforços.
Uma iniciativa em particular chama a atenção. O Nobel português, José Saramago , vai
promover uma edição especial de solidariedade do seu livro de 1986, “Jangada de Pedra”.
Citando agências noticiosas e a sua fundação, «a acção de solidariedade reverte a favor
das vítimas do sismo do Haiti e decorrerá
futuramente também em Espanha e na América Latina. O livro custa €15 e estará disponível
nas livrarias a partir de sexta-feira; e porque, segundo o próprio Saramago “todos temos
uma obrigação”, a campanha “Uma Jangada
de Pedra a caminho do Haiti” vai prolongar-se até 28 de Fevereiro de 2010.»
Recorde-se que esta obra descreve um cenário imaginário, no qual uma espécie de
terramoto lento separa a Península Ibérica do resto da Europa, e a coloca à deriva, como
uma gigantesca ilha, no que é interpretado por alguns críticos como uma das primeiras
manifestações de iberismo deste escritor. A catástrofe imaginária terá levado o autor a
escolher este livro
para esta acção, em que se procurará acudir às carências resultantes de uma catástrofe
real.
O livro é ainda hoje muito citado. Não parece crível que o autor, com este gesto,
esteja a sugerir que a Haiti se deva deixar governar por alguma potência externa e
vizinha, como por exemplo a República Dominicana, já que Saramago é um conhecido lutador
pela liberdade dos povos e pela direito à auto-determinação, como recentemente se viu em
relação ao Sahará ex-espanhol. Aliás, no livro, o Nobel não hesita em ironizar sobre as
esperanças espanholas sobre Gibraltar… que não acompanha a península na imaginária
ruptura geográfica… referindo mesmo que sobre este litígio o português é pouco
“sensível” … já que «a sua mágoa histórica chama-se Olivença e este caminho não leva
lá.»(página 89)
Receia-se, porém, que Saramago não seja bem compreendido nesta sua iniciativa, por
causa da escolha desta obra em concreto, e que poderá sujeitar-se a alguns comentários
algo cépticos.
Penso que todas as iniciativas a favor do Haiti serão positivas, desde que eficazes
e desinteressadas. Esta não será excepção, mas penso que Saramago, e ele que me desculpe,
poderia ter escolhido outro texto. Valha-nos a qualidade literária!!!
Estremoz, 27 de Janeiro de 2010
Carlos Eduardo da Cruz Luna