Chacona da Partita Nº 2 para violino solo, BWV 1004, de J. S. Bach, em transcrição espetacular de Ferruccio Busoni e no original

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Um dia, eu fiz a seguinte brincadeira aqui no blog:

Numa noite fria do século XVIII, Bach escrevia a Chacona da Partita Nº 2 para violino solo. A música partia de sua imaginação (1) para o violino (2), no qual era testada, e daí para o papel (3). Anos depois, foi copiada (4) e publicada (5). Hoje, o violinista lê a Chacona (6) e de seus olhos passa o que está escrito ao violino (9) utilizando para isso seu controverso cérebro (7) e sua instável, ou não, técnica (8). Do violino, a música passa a um engenheiro de som (10) que a grava em um equipamento (11), para só então chegar ao ouvinte (12), que se desmilingúi àquilo.

Na variação entre todas essas passagens e comunicações, está a infindável diversidade das interpretações. Mas ainda faltam elos, como a qualidade do violino – e se seu som for divino ou de lata, e se ele for um instrumento original ou moderno? E o calibre do violinista? E seu senso de estilo e vivências? E o ouvinte? E… as verdadeiras intenções de Bach? Desejava ele que o pequeno violino tomasse as proporções gigantescas e polifônicas do órgão? Mesmo?

E depois tem gente que acha enfadonha a música erudita…

Há que acrescentar a transcrição (esplêndida, esplêndida) de Busoni para o piano até chegarmos às mãos da belíssima e talentosa Hélène Grimaud. Talvez seja a obra mais perfeita que conheço, ao lado das Goldberg e da Arte da Fuga.

E aqui, o original para violino. Maxim Vengerov — meu violinista preferido dentre os da nova geração — interpreta a obra enquanto caminha pelos corredores e exteriores de Auschwitz. O filme faz parte do filme Holocaust: A musical memorial film from Auschwitz. É absolutamente arrepiante, principalmente porque Vengerov não quis limpar a gravação de seus pequenos pecados. Como o conheço de várias entrevistas, sei que ele gosta de registros ao vivo e não costuma corrigi-los. Deveria repetir a sessão em Gaza.

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11 comments / Add your comment below

  1. Liguei o notebook no amplificador e soltei o som nos altofalantes, com graves bem balanceados e agudos equalizados, mode theater. Estou agora mergulhado num espaço transicional onde me vejo participando de energias emotivas que me levam a agradecer-lhe, caro Milton, por esta dádiva. Bom domingo.

    1. Também tenho um bom som em meu micro. A descoberta deste vídeo gravado na Sala de Música de Câmara da Filarmônica de Berlim é que foi uma dádiva.

  2. AVENTURADO
    by Ramiro Conceição

    Bem-vindo
    aventurado
    que pensa
    e sente
    diferente
    de mim,
    que canta
    no telhado
    qual um
    bem-te-vi
    que pula
    – qual saci –
    ao sublime
    que vi.

    PS: Milton,
    estarei em Porto Alegre, na próxima quarta.
    Entrarei em contato. Abraços…

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