Domingo banal

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Ele odiava os finais de tarde de domingo. Não havia pior hora. A semana era suportável em sua rotina de trabalho, cansaço e sono; o sábado era o dia de fazer as compras da semana, de jantar com a mãe e de ir ao cinema; porém aquele horário dominical de completo ócio, em que sentia possuir forças além da necessidade, era terrível. Sentado na sala, pôs um CD e começou a organizar mentalmente a agenda da semana. Sua angústia crescia ao notar os compromissos avolumando-se. Havia os imediatos e os outros, piores, que costumeiramente eram deixados para depois. Procurava organizar-se. Ergueu-se e, deixando o volume da música mais alto, foi ao armário de remédios procurar um calmante. Pegou o comprimido e abriu a geladeira para servir-se de água. Viu um garrafão de vinho pela metade. Largou o comprimido sobre o esmalte branco da geladeira, apanhou o garrafão, um funil e, cuidadosa e amorosamente, passou a dividir o conteúdo do garrafão em garrafas menores. Deixou os três frascos iguais exatamente no mesmo nível e procurou rolhas. Enfileirou o resultado na porta da geladeira, desligou a música e ligou a TV.

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10 comments / Add your comment below

  1. Caro Milton Ribeiro,

    Com pesar, compartilho contigo da banalidade do teu domingo fatal. Antes não compartilhasse. Mas, pensando bem, antes ter alguém com quem compartilhar – com quem se identificar.

    Troco o vinho por rum, um trago de cigarro e uma clave de fá. No fardo da banalidade, estado de solidão, de ânsia por significação, dou-lhe a mão. Embriagado o sofrimento vivido, a ânsia da vida, a força do íntimo. A poesia? O coração.

    (A semelhança de sentimento – imagino eu – foi tanta que, ao ler e sentir, não pude deixar de comentar)

    Um abraço,
    Luis

  2. Bem diziam os velhos “deitados”:
    – Cabeça vazia, oficina do diabo.
    Louis T. Wallace, pesquisador de Neuroendocrinobiopsicologia da Tall University, em recente pesquisa ainda não publicada, entrevistou um número não revelado de blogueiros, categorizou-os em dois grupos, assim discriminados:
    G1. blogueiros do hemisfério norte
    G2. blogueiros do hemisfério sul
    G2 foi dividido em:
    G2a. míopes
    G2b. estrábicos
    G2c. hipermétropes
    G2d. daltônicos
    Surpreendeu-se com a capacidade dos indivíduos G2d de criarem histórietas até mesmo sobre o tédio de uma tarde dominical.
    Alguns destes G2d também entendem de música, vinho e mulheres, principalmente aos sábados.
    No mais, WallaceGT vai bem, obrigado.

  3. Luis e Jorge.

    Nada a ver comigo, inventei um personagem, só isso. Sou um bobo que raramente se entedia…

    Cláudio.

    Tinha algo especial no teu café de hoje?

  4. Milton,

    Desculpe se te invento, mas um personagem é algo de nós. Pelo menos um pouquinho.

    Se vemos ou semos, se queremos ou desprezamos, se vivemos ou atuamos, mesmo fingindo, sentimos.

    Também comentei com um personagem. Como personagem.

    (Há quem diga que somos atores. Personagens são peças de atuação?)

    Também não me entedio fácil. Mas gostei do teu personagem. Como eu disse, sentimento. E algo de improvisação.

  5. Milton,

    Desculpe se te invento, mas um personagem é algo de nós. Pelo menos um pouquinho.

    Se vemos ou somos, se queremos ou desprezamos, se vivemos ou atuamos, mesmo fingindo, sentimos.

    Também comentei com um personagem. Como personagem.

    (Há quem diga que somos atores. Personagens são peças de atuação?)

    Também não me entedio fácil. Mas gostei do teu personagem. Como eu disse, sentimento. E algo de improvisação.

  6. Odiava finais de tarde de Domingo também, aliás, ainda me parecem as horas do dia/semana mais depressivas. Especialmente se forem no inverno, com aquela luz do sol desmaiada (quando tem sol…).

  7. Gostei! Mas só pq vi que não era tu o cara. Gostei pq bem escrito, nunca gostei de devaneios “anti domingo”. Conheçp vários adeptos… e várias das sensaçoes do teu personagem.. Domingos são sempre domingos, mas são inexoráveis… então é melhor aproveitá-los! (ah, banal, e daí?)

  8. Domingos são um saco mesmo.
    O domingo banal começou na verdade quando ele ligou a TV.
    Trinta por centos dos suicídios acontecem no domingo. Talvez influência do Faustão ou do Fantástico.

  9. uso esse post banal para uma banalidade. tenho dificuldade com a pronúncia de nomes – dúvidas e etc. esses dias tu esclareceu, “seis notebom”. seria uma grande ajuda pra mim q, sempre q possível, fizesse isso. já foi barreira para entendimento, ou pelo menos atraso no entendimento, a minha concepção errada da pronúncia, em certos casos. como te leio bastante, e não achei ainda na internet um site q faça bem isso (como seria bom um dicionário com este fim!), quebraria um galho.

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