A tal visita ao túmulo do sionista…

Lula fez muito bem ao não visitar o túmulo do fundador do movimento sionista Theodor Herzl. Em primeiro lugar porque a visita não estava prevista em sua agenda em Israel e depois porque é absurda e suspeita a súbita insistência para que Lula fizesse a visita, tirasse fotos e, afinal, demonstrasse com ela algum comprometimento para com a política de Israel.

Vejam o desplante: a responsável pela América Latina no Ministério de Relações Exteriores de Israel, Dorit Shavit, envidou “todos os esforços” para convencer o presidente Lula de que não haveria intenções ocultas por trás do pedido de visita ao túmulo de Herzl, cujos 150 anos de nascimento está sendo celebrado neste ano. A resposta da comitiva brasileira é a de que também não haveria intenções ocultas por parte do presidente Lula em não ir ao túmulo.

O resultado é que Israel considerou a negativa de Lula em fazer uma visita não prevista — isto é, sua negativa em não cair na malandragem israelense — um grave insulto. Em protesto, o descontrolado ministro de Assuntos Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, não compareceu ontem à sessão especial do Parlamento israelense na qual Lula discursou. Não creio que um chefe de Estado deva ser forçado a visitar o túmulo e que o Brasil tenha obrigação de mudar uma agenda em função de pressões.

A imprensa brasileira certamente não escreverá que Lula, depois de Cuba, visita outro país com presos políticos. Pior: visita agora um país que mantém palestinos em Apartheid imensos campos de concentrações, cercados por muros de ferro recentemente construídos.

Fico indignado com tudo isso, porém feliz por ter vários amigos judeus que compreendem minhas posições. No final de 2008, ficamos todos muito surpresos ao ver uma conhecida escritora gaúcha, de origem judaica, ser execrada por seus patrícios ao posicionar-se a favor da criação do Estado Palestino, contra os ataques à Gaza, admitindo ser a Faixa de Gaza um campo de concentração. Foi chamada de vadia, puta, vaca, etc. Como eu sempre digo, as ofensas dizem mais do agressor do que do ofendido. Então não pensem que eu, um provável cristão-novo, odeie judeus ou algo perto disso. Não, meus amigos, sou contra qualquer campo de concentração e tenho imensas dificuldades em relação ao vocábulo “sionista”.

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  1. Quando um convite passa a ser uma intimação fica demonstrada a capacidade de intimidação e pressão do anfitrião. Lula faz muito bem em não demonstrar qualquer apreço. Aliás, Lula oriundo do distrito de Caetes, sabe bem o que é segregação. Lá como em Israel a separação dos povos dá-se com clareza. Quem tem come, quem não tem jejua.

  2. Na realidade, o tal incidente diplomático foi provocado por Israel ao tentar constranger um visitante a fazer algo, no mínimo, de consequências delicadas. É óbvio que Lula, com a missão que tem na região, jamais poderia visitar o túmulo do fundador do estado sionista. Aliás, alguém já perguntou com muita propriedade, os motivos pelos quais o estado de Israel não foi criado dentro da Alemanha, já que a ela foi atribuído o infortúnmio judeu. Que tal o PIG mensionar a Constituição de Israel, que permite, em seu texto, a prática da tortura como meio de interrogatório. Ah se fosse em Cuba ou na Venezuela. Podres!

  3. Gostei muito do post, achei que deste conta de explicar a situação toda.
    Quem perdeu foi o ministro intolerante, porque o discurso do Lula no parlamento foi realista e utópico, porque falou da realidade e propôs alternativas civilizadas para a solução dos conflitos.

    1. Excelente, Daniel.

      É curioso como Israel deixou de ser aquele “bloco monolítico” (ao menos em sua relação com o exterior) de anos atrás. Quando esta noção chegar aos EUA, haverá esperança, creio eu.

      Abraço.

  4. Milton,
    se eu fosse da imprensa escreveria: Lula visita MAIS um país com presos políticos.
    Em relação ao Herzl, que eu saiba ele fundou o sionismo, mas esta juntando verba para comprar uma área na Argentina. Ele não tinha intenção de fundar Israel onde ela está hoje. Alguém pode me dizer se isto é verdade?
    Branco

  5. Sou a favor de que os políticos da importância de estadista a que Lula chegou abram mão da espontaneidade na hora de discursar, e escrevam o texto antes ou o encomendem a um escritor oficial.

    Churchill, por exemplo (um grande escritor. Tenho dele o excelente “Grandes Homens do Meu Tempo”, com retratos de Shaw, Kipling, Hitler, Trotsky, etc, de uma elegância e afiamento shakespearianos), elevou a moral dos ingleses durante a segunda guerra, como todo mundo sabe, com o trompeteante “sangue, suor e lágrimas”, mas tinha consciência do risco em deixar à deriva o seu humor anárquico quando cobravam dele sentenças imediatas. Numa delas, recebendo oficialmente uma comitiva de uma rainha de um país africano, foi perguntado por um de seus assessores quem era o homenzinho exótico que acompanhava a visitante, ao que, sem os freios da língua, respondeu: “provavelmente seu almoço.”

    Um erudito do peso de Churchill cometer uma gafe destas, ainda que restringida ao ambiente particular dos funcionários governamentais, gera deliciosas situações banhadas de genialidade e incorreção política; já o Lula, carente das mesmas proficiências com as letras, seu apego às jam sessions ao vivo tem rendido, no melhor das vezes, frases que redefinem o humor brasileiro (“minha mãe nasceu analfabeta”, “até Cristo e Judas se coligariam na corrida eleitoral”, “quando Napoleão invadiu a China”, “os efeitos do aquecimento global acontecem porque a Terra é redonda, se fosse quadrada não aconteceriam”,…), e, no pior das vezes, dá na sua observação leviana de comparar os presos políticos cubanos com os presos comuns brasileiros.

    Lembro que no ano de 2008, quando concluía o curso de História, veio fazer uma palestra na universidade um monge da Cidade de Goiás que até então eu o admirava de longe, o monge Sérgio. Fui assistir. Auditório lotado; quando chegou a vez da atração principal falar, até me recoloquei na cadeira para uma maior atenção. Então, seguiu-se o mais tolo, inconsequente e educativo desmoronamento da primeira impressão que um pensador havia conseguido comigo. O monge fez uma defesa tão radical de Cuba e Fidel, que, eu que não sou de falar em público, tive de me segurar para não me levantar para retrucar o rosário de sandices que o religioso dizia. Ele chegou a dizer, ipsis litteris, que Cuba estava mais próximo do Céu, que era abençoada por Deus e modelo da comunhão proposta pelo Pai. Não aguentei; quando menos me vi, já estava de pé, com um microfone na mão cedido pelos intermediadores, e lhe perguntando: “Caro senhor Sérgio, se for assim mesmo, por que a fuga em massa dos atletas cubanos nos jogos do Pan, incluso aí o boxeador fulano de tal; por que, proporcionalmente, segundo mesmo diz o escritor Pedro Juan Gutiérrez, a prostituição em cuba é maior que a do Brasil; e o que o senhor, um religioso e cristão devoto, me diz do paredón perpetrado por Fidel, onde estão sendo executados vários dissidentes ao regime cubano?” A cara de embasbacamento total do monge (via-se que eu o tinha pego de surpresa: mas os universitários não são de refutar!!) lhe rendeu apenas o argumento, com o qual finalizo esse comentário em que defendo o silêncio nas horas extremas em que uma nação, uma classe de aula, ou um cenário exórdino escolhido como Israel pelo nosso presidente para expurgar erros passados, estão á espera da palavra precisa e confortadora.

    Esse servo de Deus_ o monge Sérgio_, defensor do mando cristão de não julgar e não matar, achou apenas o recurso de me perguntar:

    “Mas que tipo de dissidentes são esses?”

  6. Charlles,
    uma vez, quando parlamentar, Churchill debatia com uma velha senhora e parlamentar (deve ter sido depois de do sufragio universal, claro) muito espevitada e esta disse-lhe:
    – Se o senhor fosse meu marido eu lhe daria estricnina para beber
    – E eu fosse SEU marido eu a tomaria com prazer.

    Em relação a Cuba concordo amplamente. Com usa-se argumentos pueris para defende-la.
    Por exemplo, fala-se em medicina exemplar e uma das mais modernas do mundo. Ora, seria impossível se-lo com um embargo. Isto é ilusão

    Branco

      1. Branco,

        Quando as crianças órfãs da esquerda vão enfrentar o trauma da realidade? Eu fui de esquerda e hoje sou conradiano: quando me vem com Fidel e Che, jogo-lhes na cara o ceticismo de “Sob os olhos ocidentais” e “O agente secreto”. E quando, mesmo assim, o algodão doce e os balões e o bolo de abacaxi enebriam demais esses ternos garotinhos sensíveis, aí eu apelo anunciando “Os demônios”, do Dostoiévski.

        He,he! essa que você cita, do Churchill, já não a ouvia a tanto tempo que tinha esquecido. Churchill é um dos meus heróis, e como escrevia magníficamente bem. Um dos nobeis de literatura merecidíssimo. O ensaio dele sobre Bernard Shaw é um esbanjar de excelente literatura: ele massacra o Shaw com tanto amor e perícia, que só depois vemos que o modo mais verdadeiro de se fazer um alto elogio de valor.

  7. Enquanto isso, na mídia golpista…

    Leiam esta “reportagem” do Uol: “Lula cometeu “gafe” diplomática ao evitar túmulo de sionista, diz analista”.

    Reparem no título: Analista diz que Lula cometeu gafe.

    Agora, ao ler o texto reparamos que o analista em questão é o Gilberto Sarfati, especialista em Relações Internacionas EMPRESARIAIS (Negócios Internacionais e não em Política Internacional, tampouco em Oriente Médio) e Mestre pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Sem dúvida, não só um especialista em Oriente Médio como absolutamente isento.

    Engraçado que para um suposto especialista em Oriente Médio, o professor Safarti tenha, em seu lattes, a incrível soma de DOIS artigos sobre o assunto publicados… Aliás, o nosso querido Sarfati é ligado diretamente à Federação Israelita do Estado de São Paulo, logo, nem um pouco isento, tendo servido como porta voz para o trabalho sujo da mesma na defesa dos genocídios cometidos por Israel.

    http://tsavkko.blogspot.com/2010/03/o-pig-nao-sabe-contar.html

  8. O Governo da Síria de Assad matou dez crianças hoje em mais uma chacina contra o povo Sírio. O governo sírio é aliado do Irã, de Ahmadinejad e dos Aiatolás, que fornece armamentos, foguetes e bombas para o ditador sírio, bem como para o radicalismo islâmico terrorista de extrema direita do Hezbollah (Líbano) e do Hamas (Faixa de Gaza). Radicalismo islâmico este que foi o grande vencedor da “Primavera Árabe”. O novo presidente egípcio da Irmandade Muçulmana reprimiu os protestos de seu povo contra a ditadura que está pretendendo impor, já com mais de cem feridos nos últimos dias no país dos faraós. É a extrema direita neonazista que o PT, o PC do B, o Psol, PDT, que supostamente seriam partidos de esquerda estão trazendo a Porto Alegre.

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