Pergunta ao povo

Entrei com uma representação na OAB contra um advogado que me atendeu. Ou melhor, que não me atendeu nada bem e que me fez perder uma ação que deveria ter sido um domingo no parque. Minha representação foi aceita e, agora, dois anos depois, fui chamado para uma audiência de instrução. Minha pergunta é bem simples: vou ter que encarar aquele bando de advogados falando juridiquês sem ter um para chamar de meu? E… Audiência de instrução? Instrução? Acabo de descobrir a definição:

É quando o juiz ouve a versão de cada uma das partes e das testemunhas, recebe também as outras provas, e sugere uma solução para o caso ou marca uma data para apresentar o seu parecer, com base no qual o Juiz de Direito decide.

Hum… Sei lá. OK, virei um caminhão de lixo em cima do cara, mas ele mereceu. Pesquisei um monte para conseguir escrever algo numa língua que desconheço. Os caras da OAB dizem que a audiência será compreensível para o asno que sou, que não preciso de advogado… Duvido muito. E o corporativismo? Então eu vou lá sozinho defender o futebol num grupo que só joga curling? Pronto, fiquei nervoso.

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  1. Falando sério, eu não iria a uma arapuca dessas sem meu próprio rábula, aliás, tô pensando até em comprar um prá mim, sai mais barato que contratar cada vez que preciso de um.

    1. Comprar um rábula? Melhor comprar o/um juiz… É um pouquinho mais caro (só um pouquinho), mas é garantido…
      PLANO B: entra pra Maçonaria…

  2. Vai por mim: seja o mais natural possível. Pelo que entendi, você que é a suposta vítima; use o seu repertório de leituras para entender bem o juridiquês retirado das origens latinas da nossa língua, o que pode ser uma grata surpresa perceber que você tem mais chances de proficiência do que a maioria desses advogados que se escondem para não revelar a especialização limitadora.

    Por coincidência, há duas semanas me dedico a ler sinopses jurídicas. É comovedor como homens esclarecidos como nós se demonstram desamparados diante a lei.” Minha representação foi aceita e, agora, dois anos depois, fui chamado para uma audiência de instrução.” Foi “aceita”, demonstra o quanto o desconhecimento de que o MP existe para nos garantir voz contra abusos do Estado e outros elementos faz parecer que a justiça nos gratifica ao nos ESCOLHER representar. Parece demais o K. impotente diante a porta fechada do tribunal, que nunca se abrirá ESPECIFICAMENTE para ele.

    Entrei com uma representação contra o Itaú ano passado. Eles haviam bloqueado minha conta, retirando todos os “benefícios” de cheque especial, talão de cheque, etc. O fato é que eu havia ganho uma ação revisional que reduziu pela metade o valor do financiamento de meu carro, contra o banco BMG. Olha só: em represália, o BMG lançou um mandado de busca e apreensão para apreenderem meu carro, assinado por algum juiz apressado que, confirmando logo em seguida a imensa mancada, deu baixa no mandado no dia seguinte. Mas o BMG continuou mantendo a informação de que o mandado estava ativo, no sistema de informação interno dos bancos. E, solidários como todos os irmãos da yakuza, o Itaú tomou as dores do BMG.

    Conclusão: ambos os bancos processados por danos morais. Na audiência de reconciliação, o Itaú me ofereceu 3.000 reais, prazerosamente recusados. Não é a soma dos quase dez mil reais por banco que me move, mas a esfrega na cara de que eles não mexeram com um qualquer. Como disse brecth: “Verifique a conta É você que vai pagar.Ponha o dedo sobre cada item. Pergunte: o que é isso?
    Você tem que assumir o comando.”

    Aliás, esse poema é tão bom que, se me dá licença:

    Elogio do Aprendizado

    Bertolt Brecht

    Aprenda o mais simples!
    Para aqueles cuja hora chegou
    Nunca é tarde demais!
    Aprenda o ABC; não basta, mas aprenda!
    Não desanime! Comece! É preciso saber tudo!
    Você tem que assumir o comando!
    Aprenda, homem no asilo!
    Aprenda, homem na prisão!
    Aprenda, mulher na cozinha!
    Aprenda, ancião!
    Você tem que assumir o comando!
    Freqüente a escola, você que não tem casa!
    Adquira conhecimento, você que sente frio!
    Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma.
    Você tem que assumir o comando.
    Não se envergonhe de perguntar, camarada!
    Não se deixe convencer!
    Veja com seus próprios olhos!
    O que não sabe por conta própria, não sabe.
    Verifique a conta É você que vai pagar.
    Ponha o dedo sobre cada item
    Pergunte: o que é isso?
    Você tem que assumir o comando.

  3. Conselhos de um expert em interrogatórios:

    1) O depoimento tem de ser fiel ao status cultural do interrogado. Se o interrogado fala “menas laranjas” é assim que vai para o papel. Então não se preocupe com juridiquês.
    2) Vítima não precisa de advogado. No caso, voce representou contra o cara, então ele é que tem de ter defensor.
    3) A audiência tem de ser registrada em ata ou gravada. Se seu depoimento for transcrito, leia com cuidado o que foi para o papel. Se encontrar alguma discrepância, peça que seja corrigida.
    4) Atenha-se aos fatos. Evite incluir impressões e sentimentos pessoais na narrativa. Seja objetivo.
    5) Caso voce veja na sala uma prancha de madeira, parecida com uma gangorra, e um balde d’agua, corra. 🙂

  4. Milton: Conte a eles algumas piadas de advogados, tais como:

    Você sabe como salvar cinco advogados que estão se afogando?
    R: Não.
    Ótimo!
    ——————————————————————————–
    Porquer cobras não picam advogados?
    R: Ética profissional
    ——————————————————————————–
    Como você sabe quer um advogado está mentindo?
    R: Quando seus lábios lábios estão se mexendo.
    ——————————————————————————–
    Quantos advogados precisa para trocar uma lâmpada?
    R: Quantos você pode pagar?
    ——————————————————————————–
    Como você chama 500 advogados no fundo do oceano?
    R: Um bom começo.
    ——————————————————————————–
    O queracontece quando você enterra seis advogados na areia até o pescoço?
    R: Falta areia.
    ——————————————————————————–
    O queré preto e marrom e fica bom em um advogado?
    R: Um dóberman.

    E finalmente:

    Por que as piadas de advogado não funcionam?
    R.: Porque os advogados não acham graça em nenhuma delas, e as outras pessoas não acham que são piadas

  5. Milton!
    Vá com um advogado. De preferência um amigo seu. Alguém que você conheça e deva mais reciprocidade a você, como amigo, do que à solidariedade corporativa.
    Se ele for bom advogado, melhor ainda.
    De resto, seguem válidos todos os conselhos dos comentadores acima.
    É a minha opinião.

  6. Milton

    Sou advogado. Mas gosto muito das piadas sobre advogados, e conheço várias. Costumo contá-las e rir delas, até porque não me sinto atingido. E sei que existem muitos advogados que fazem jus à fama que elas propagam.

    Meu filho, que é advogado meu sócio, dias atrás ficou insistindo comigo para que aceitássemos tentar reverter um erro cometido por um colega. Estava com pena do prejudicado, que nos procurara. Ponderei que seria muito difícil, quase impossível, mas meu filho continuava tentando convencer-me da viabilidade do processo, que na realidade era quase nenhuma, sensibilizado com a situação do coitado. Encerrei o assunto com o argumento de que, na vida, cada um é responsável pelas escolhas que faz, a menos que não tenha escolha. E não era o caso.

    A verdade é que as pessoas não têm muito cuidado ao escolher um advogado, contrariamente ao que ocorre quando se trata de um médico, por exemplo. Normalmente, por acharem que estão cobertas de razão, acham que qualquer um serve, que é “causa ganha”. E gostam de ouvir do profissional que procuram a certeza da vitória.

    Não existe “causa ganha”, e se algum advogado lhe afirmar que a sua é uma barbada, saia correndo.

    Um advogado honesto, e conheço muitos, vai trabalhar com probabilidades, jamais com a certeza. E se for, além de honesto, competente, vai examinar seu caso como se fosse um juiz, antes de tudo, sabendo aquilatar o que a maioria dos juízes decidiria, inclusive frente aos elementos de prova de que você disponha. Com base nessas probabilidades ele julgará se aceita o caso, e lhe fornecerá os elementos para que você decida se quer realmente correr os riscos do processo.

    Na área em que atuo (advocacia trabalhista, e só para trabalhadores), esta é a regra, já que normalmente defendemos os autores das ações. Nossos honorários dependem de sermos bem sucedidos no processo, e são pagos somente ao seu final, representando um percentual sobre o resultado. Portanto, não podemos nos dar ao luxo de aceitar causas inviáveis.

    Sei que em outras áreas a situação é diferente. Eu mesmo contratei um colega, pagando honorários independentemente do resultado, na condição de réu (quem nunca foi fiador de alguém?). É complicado, você já está tendo um baita prejuízo por causa de uma besteira que fez, e ainda tem que gastar com advogado. Parece que é um dinheiro posto fora. Mas não é. Um mau advogado pode fazer com que o prejuízo seja bem maior. Escolhi um bom profissional, e sei que seus honorários foram merecidos.

    Em suma, como em qualquer profissão, na advocacia existem bons e maus profissionais. Há que ter cuidado na escolha.

    Sou seu leitor assíduo. Se foi há dois anos que você apresentou a representação na OAB, o caso não deve ter relação com a escritora aquela. Imagino que deva ser um problema de trânsito, não sei se no cível ou no crime. Lembro-me de ter lido algo a respeito em algum post.
    Pelo jeito, você escolheu mal seu advogado, e isto lhe custou caro.

    Não quero lhe deixar desanimado, mas acho muito difícil você ter algum sucesso na OAB. Infelizmente, a má fama dos advogados decorre principalmente da complacência da OAB com os maus profissionais, o que vem se acentuando muito nas últimas gestões. Tem gente que se apropria do dinheiro do cliente, confessa que o fez, e mesmo assim não é punido. Então…

    Não sei qual é o seu caso, mas eu lhe aconselharia que fosse à audiência acompanhado de um bom advogado.

    Abraço.

    1. Navegador, caríssimo!

      Não, nada de escritora, nada de trânsito. Foi um terceiro caso no qual meu adv teve uma atuação lamentável: apresentou agravos sem cópias de procurações (ou seja, os documentos não foram aceitos porque ele não se identificou como meu advogado)… Transcreveu e-mails que continham piadas e comentários totalmente dispensáveis, cheios de conjecturas; por pura preguiça de elaborar um texto seu… Mentiu em e-mails para mim… Olha, parece piada.

      Meu adv nunca garantiu a vitória na causa, apenas teve atuação desidiosa.

      Sobre o corporativismo: confesso que não esperava. É óbvio que provo para ti e para o mundo a desídia e o não atendimento. Neste caso, sei que tenho razão, as coisas são bem objetivas. Imagine que ele não sabia o nome de algumas pessoas e atribuiu-lhes sobrenomes quaisquer por brincadeira. Informei-o de todos os nomes e… ele esqueceu de alterar… Mas se vou perder, fazer o quê?

      Abraço.

      1. Milton

        Tenho amigos no Conselho da OAB. Relatam casos absurdos. Imagine uma situação em que o advogado recebe valores em nome do cliente, fica com o dinheiro e se recusa a prestar contas. O prejudicado faz uma representação na OAB contra o advogado. Este admite que ficou com o dinheiro, mas alega que estava passando por dificuldades financeiras, filho doente, mãe inválida, uma choradeira, e promete que vai devolver o dinheiro em suaves prestações. E é absolvido. Nenhuma punição, ou no máximo uma censura. Meus amigos esperneiam, tentam, no mínimo, uma pena de suspensão, mas ficam vencidos. A maioria do Conselho é corporativista mesmo.

        Imagine, então, na hipótese de uma “simples desídia”? Com sorte, uma advertência.

        Mas imagino que depois da brilhante exibição do Inter contra o Zequinha você vá para a audiência de sangue doce (não aguentei esperar até amanhã pra tocar uma flautinha).

        Abraço

        1. É, sem querer contribuir com teu desânimo e já contribuindo, é isso mesmo.
          Pense em todas aquelas piadas: caveira fazer bochecha, o Sgt. Garcia prender o Zorro, vacas tossindo, etc.
          Pois, bem. Tudo isso acontecerá antes que a OAB condene um de seus pares. Certeza.

          Braços.

  7. Minha família toda é de advogados. Tenho conhecimento prático sobre a torpeza que é esse meio, e posso assegurar sem medo de ser taxado de intolerante, que a advocacia é uma das profissões que tolhem a humanidade da pessoa. Não tem como não se dobrar ao assim chamado “sistema”. Minha mãe e uma tia, ambas formadas em direito, optaram pelo funcionarismo público. São exemplos raros da reserva moral da família. Quando morava com minha mãe, direto a ouvia xingando, nervosa, ao ser acordada de madrugada pelo telefone tocando. Em sua função na defensoria pública, mesmo a irritando a quebra em sua intimidade, cedia seu telefone aos clientes, que ouviam sua voz transformando-se de dura e raivosa, para receptiva e atenciosa, à medida em que ela se envolvia nos inúmeros problemas dos injustiçados. A maioria de seus clientes era pobre. Não pagavam pelas consultas, claro, mas se mostravam tão agradecidos que todos os dias minha mãe chegava em casa com pães de queijo, bolos de frutas, panos de mesa artesanais, presentes de coração vindas de pessoas que vendiam o almoço para terem a janta, e que minha mãe não conseguia recusar. Seus clientes se submetiam a seus momentos de ira contida, e muitas vezes a ouvi falando coisas que me fazia ter a certeza de era o ingrediente certo para fazer desafetos, mas era impressionante como eles a respeitavam e queriam bem, como viam sua natureza benéfica emergindo de sob a incomodidade cotidiana.

    Já seu irmão_ meu tio_, é um dos advogados mais ricos do estado. Há sete anos, ganhou uma causa para donos de postos de combustível para a Petrobrás, e sua comissão recebida foi de quarenta milhões de reais. É o exemplo do animal superior na cadeia alimentar, um predador difícil de se revelar por sob sua pele de cordeiro, atencioso, doce, agarrado a uma ética pessoal de sempre se mostrar distraído. Quando foi secretário da educação, apareceu na imprensa com sua amável cara de quem era impossível ser o acusado a quem atribuíam ter desviado a verba do lanche das escolas. Minha relação com ele, apesar disso, sempre foi boa. De presente de casamento, me mandou uma máquina de lavar roupas. Na época de seu grande ganho, eu estava desempregado, e ele me chamou em seu escritório. Me mostrou seu artigo de página inteira sobre o caso da petrobrás, publicado na Folha de São Paulo, e me propôs um salário por mês para trabalhar em seu escritório, além do curso de direito todo pago por ele. Um desses desenrolares que só o Diabo tem a concessão de fazer: quando pensava que a única escapatória a esse destino era colocar a mochila nas costas e ir para o Pará ser veterinário, eis que sou aprovado em um concurso público.

    1. Pois é, Charlles. Embora pareça que não tenhas percebido, sua mãe, como Defensora Pública, efetivamente exerce a profissão de advogado. Defensor público é um advogado pago pelo Estado para defender quem não tem condições de pagar pelo serviço.

      Portanto, não dá para generalizar.

      Abraço.

  8. Milton as pessoas próximas a mim perguntam sempre: ‘Ro, você é tão gente boa, como assim você escolheu fazer direito?’.
    Fiz o curso e não me arrependo, mas decidi não advogar depois de 2 anos estagiando e de tudo que vi nesse tempo aconselho levar um advogado, mas não se anime. Lembre-se sempre: ‘bundinha de nenê e cabeça de juiz pode sair de tudo’… é o que sempre ouvi nos corredores da universidade 🙂
    Sorte!

  9. Oi Milton, virei leitor teu. Talvez seja uma forma educada de te pedir desculpas. E falei pra minha patroa sobre o problema que estás passando. Assim como o pessoal aí de cima, ela (que é do ramo) não pareceu animada com a idéia, salientando que podes te incomodar mais ainda com o corporativismo da profissão e alguns rábulas mal intencionados. De minha parte, não tenho conselhos, apenas empresto solidariedade… Sorte.

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