O primeiro concerto da Sociedade Bach de Porto Alegre foi muito satisfatório. Talvez, em seu material de divulgação, o StudioClio tenha explorado pouco a rara característica de ser um concerto com instrumentos originais, para o bem e para o mal. Sou suficientemente purista para preferir a utilização de instrumentos autênticos, mas há problemas — são instrumentos difíceis de controlar, principalmente quando a temperatura muda. Lembrem que os primeiros dias outonais ocorreram nesta semana. Por exemplo, o cravo do excelente Fernando Cordella estava falhando e causando preocupação a ele e ao público. Só que, meus amigos, faz parte do jogo, o som não vem sozinho. O mesmo deve ter ocorrido com Carlos Sell, mas nada ocorreu com o imparável Artur Elias, de espetacular atuação na Sonata Trio da Oferenda Musical. Artur parecia meio zonzo ao final do concerto, algo do gênero “”onde estava indagorina?” ou “eu fiz isso mesmo?”. Fez. Também Ângela Diel esteve muito bem.
A propósito de Ângela: ela repetiu a ária Erbarme dich no bis, saindo-se muito melhor do que antes. Fico pensando no Mal de Porto Alegre. Analisemos: o concerto foi preparado para apenas uma récita. Imaginem se tivéssemos público para várias sessões. Neste caso, este grupo de músicos estaria no ponto lá pelo terceiro dia, rendendo tudo o que indiscutivelmente sabem.
A sala principal do Studio Clio acomoda 100 pessoas. Seria esperar demais uma demanda de 300 pessoas para um concerto deste nível? Não, né? Moramos numa cidade de mais de 1 milhão de pessoas. Somemos os ouvintes da Rádio da Universidade, mais os músicos, mais os estudantes de música, mais os curiosos, mais os apaixonados como eu, mais os namorados ou namoradas de todos, quantos dá? Raciocino desta maneira porque acho criminoso o notável esforço despendido para ensaiar obras tão importentes e difíceis somente para um recital. Acho um crime o que esta cidade comete contra si. Há que serem criados novos hábitos, nem que seja à fórceps.
Bem, como sempre posto músicas no fim-de-semana, deixo com vocês a Trio Sonata da Oferenda com o Musica Antiqua de Köln e um curioso filme com Bist du bei mir incompleta. Vale a pena ver e ouvir tudo!
Programa de sexta-feira no StudioClio:
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Sonata em Sol menor para Flauta e Cravo obligatto, BWV 1020
– Allegro
– Adagio
– Allegro
– Presto
Paixão Segundo São Mateus, BWV 244
– Erbarme dich (ária)
Missa em Si Menor BWV 232
– Agnus Dei (ária)
– Bist du bei mir, BWV 508 (Nota do Milton: na verdade esta ária avulsa é de Gottfried Heinrich Stölzel)
Suite Francesa para cravo solo em Sol Maior, BWV 816 (excertos)
– Allemande
– Sarabande
– Gavotte
Aria em Sol Maior das Variações Golgberg, BWV 988
Oferenda musical, BWV 1079
Sonata Sopr’ Il Soggetto Reale a Traversa, Violino e Continuo
– Largo
– Allegro
– Andante
– Allegro
– Canon Perpettus
Angela Diel (mezzo-soprano),
Artur Elias Carneiro (traverso barroco),
Carlos Sell (violino barroco) e
Fernando Turconi Cordella (cravo).
Musica Antiqua Köln:
Wilbert Hazelzet (traverso)
Reinhard Goebel (violino)
Phoebe Carrai (cello)
Andreas Staier (cravo)
Ingrid Kertesi, soprano
Gostaria de ter visto isso.
Bj.
Ainda não tô conformado e, a título de sugestão, fala com o Tiago Halewicz e vê a traducão de obras da Wyszlawa Szymborska. Penso que é inadmissível prum crítico de literatura, festejado e incensado pelos amigos como tu, desconhecer o trabalho de um Prêmio Nobel. Mesmo que seja pra avaliar como chatinho ( o que fizeste com o Sienkiewicz).
Meu caro guru MR,
Atendendo a teus votos, a nossa vocação e a amplo desejo da comunidade, informo que repetiremos o concerto “Uma Oferenda Musical” com pequenas mudanças e com comentários às obras. Será também uma reunião extraordinária da Sociedade Bach Porto Alegre. Conto com seu ribeiro apoio!
Aqui:
http://studioclio.com.br/atividadesDetalhes.php?id=1281