Necessário Registro de uma Viagem Necessária

Publicado em 28 de abril de 2005

Tínhamos férias marcadas para o último mês de fevereiro, mas aquele período foi péssimo para minha família. Houve doenças, UTIs e, se não foi fatal para ninguém, ficamos impedidos de viajar com as crianças. Prometemos a elas dar um jeito de sair de Porto Alegre logo que possível. Então, improvisamos pequenas férias durante o mês de abril. Foi por isto que não postei na semana passada.

Sem dúvida, uma viagem curiosa, diferente. Os guris estavam felicíssimos com a “transgressão” de matar aulas com minha concordância – logo eu, sempre cuidadoso do bom desempenho escolar deles. Mas foi também uma viagem feita sob a generosidade de vários blogueiros amigos. A primeira e mais importante foi a Laura-RJ. Ao final da FLIP do ano passado, ela me convidou para passar uns dias em sua casa no Rio. Alertei-a na hora de que nunca se deve convidar Milton Ribeiro só por educação para uma visita, pois ele leva a sério os convites que recebe. Ela disse: ótimo então, pois leve a sério e traga as crianças, vou esperar.

Gosto demais da Laura-RJ. O que nunca imaginei era que ela morasse em Copacabana, não sabia que seu edifício era na Av. Atlântica e nem meus sonhos mais delirantes mostravam janelas se abrindo para o mar. Mas é assim. Nossa anfitriã, coitadinha, sofre muito com tanta maresia… Imaginem que ela não desliga nunca o computador para que não estrague! Aquela coisa gosmenta estraga tudo, uma tragédia! E imaginem que ela tem um Bull Terrier (o Brutus) que é super-carente, problemático e que fez a alegria de meus filhos! Mais: imaginem ainda que ela está sempre disposta a conversar e é uma baita companheira para qualquer programa! Uma desgraça, não? (Abaixo, vejam o Brutus num momento de reflexão. A foto é da Bárbara. A última foto também é dela. A primeira – linda! – é minha, mas não me engano: de cima do Pão de Açúcar é impossível errar.)

Laura-RJ é a carioca completa. Fácil no trato, gentil, educada e transparente. Transparente? Sim, se não está gostando de alguma coisa, diz logo; se está tudo certo, está sorridente. Foi uma convivência tranqüilíssima.

Passamos alguns dias também em Petrópolis. Ficamos na Pousada 14 Bis, que indico a quem for para lá. Foi nosso período de descanso e de engorde com a comida farta e maravilhosa que tanto amamos. Tão sossegado que os guris até leram os livros que escola indicou para o semestre.

Mas voltemos ao Rio. O fato é que fizemos tanta coisa lá que:

1. Não telefonei para um primo-irmão “carioca” e que vai desejar minha morte quando (e se) ler isto.
2. Não consegui acertar um encontro com a Ana Merege.
3. Não conseguimos conhecer o Centro Cultural Banco do Brasil.
4. Não visitamos o Hipódromo da Gávea em dia de corridas (a Claudia e Bárbara, as malucas por cavalos, quase choraram).
5. Não conseguimos ir ao Maracanã (eu e Bernardo) ver o Grêmio perder para o Fluminense.
6. Não conseguimos ir com a Sílvia Chueire no Rio Scenarium, pois nos atrasamos e, quando ligamos, ela já estava no berço, prontinha para dormir… Fomos sozinhos, ora!

Como se não bastasse, a Laura-RJ promoveu um encontro entre blogueiros no dia 21, feriado. O encontro foi no Arab, em meio a uma tempestade cuja intenção parecia ser a de submergir a cidade. Lá, conheci o grande, enorme Manoel Carlos. Eu imaginava o Manoel como um gordo. Não é. É magro e é uma pessoa doce, de fala mansa e sotaque pernambucano, é claro. Um cara tranqüilo, bem humorado, inteligente e fino. O dono do Agrestino consegue ser melhor que seu blog. Trouxe-me de presente um espetacular CD da Oficina da Cordas de Pernambuco. Mas espetacular talvez não seja o melhor termo para algo de tamanho bom gosto e com tantos detalhes sutis. Não parei ainda de ouvir.

Conheci também Adelaide Amorim. Já a cumprimentara na FLIP, mas nunca tínhamos conversado. Ela me pareceu tímida, ou talvez seja apenas aquele estilo psicanalítico de ser… Como sou um colecionador de expressões e faces, ficou-me gravado o momento em que ela disse, sorrindo orgulhosa para a Claudia: “tenho 5 filhos, mas como eles estão grandes tenho 3 netos também”. Sei que não vou esquecer esta frase simples e bonita. Ah, ela está publicando seu segundo livro! E fiquei de rindo de orelha a orelha quando ela citou de memória – e com palavras exatas – um post meu de meses atrás, onde dizia que estávamos entalados em nossos blogs, mas este é outro assunto.

Também esteve conosco uma blogueira mais conhecida de mim, a Sílvia Chueire. Já nos conhecíamos da FLIP. Olha, tá aí é um raro exemplo de loira inteligente… (Putz, a Adelaide também é loira. E a Stella. Esqueçam esta bobagem.) Com certeza, a Sílvia é minha poetisa preferida da blogosfera e não é para menos o fato de que ela está publicando seu primeiro livro. E não pensem que ela procurou editora; ela é que foi encontrada. E é poesia! É mole? Como ela é? Ora, é engraçadíssima e palavras como exuberante, copiosa e fértil – no sentido de reagir criativamente àquilo que ouve – assentam-lhe muito bem.

Uma curiosidade: em nossa mesa havia a Laura-RJ (3 filhos), o Manoel (4), a Adelaide (5), a Sílvia (3) e eu (2). Cinco pessoas, dezessete filhos.

(Importante: o Bernardo passou toda a viagem ouvindo os 8 primeiros discos do Black Sabbath, presente que recebeu de outro blogueiro, Tiago Casagrande. Anexado ao disco, um texto de 12 páginas escritas pelo Tiago, explicando cada trabalho, cada faixa. Tudo por um guri que ele nem conhece!)

Quero terminar este post falando novamente da Laura-RJ. O que a generosidade e a amizade dela nos proporcionou está acima de quaisquer agradecimentos formais. Acho que, nestes casos, só ficamos satisfeitos se pudermos retribuir. Laura, no fim do ano estaremos em casa nova, com uma edícula para as visitas. Não será de frente para o mar, nem de frente para o rio será; mas adoraremos te receber. Terás atenção, cachorro para brincar…, vinho e a Claudia garantirá a boa comida. Podes até levar a chave da casa junto. Afinal, tu nos deixaste tão à vontade que simplesmente esquecemos de devolver a tua… A Claudia abriu a bolsa e lá estava ela. Um ato falho, certamente.

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