Serra e Dilma sabem da necessidade de descriminalizar o aborto, porém…

… é complicado.

As pedras das ruas não desconhecem que Dilma Rousseff manifestou-se a favor do aborto, assim como sabem que tal “crime de opinião” terá de ser revisto, pois seu partido não ignora e as pesquisas indicam que este “feio posicionamento” leva à perda de votos junto às igreja católica e evangélicas. E assim, um problema de sáude pública fica na dependência das, desculpem, sandices religiosas.

As pedras das ruas não desconhecem que José Serra foi ministro da saúde e sabe das estatísticas de mais de um milhão de abortos clandestinos praticados no Brasil todos os anos. Também sabe do elevado número de mortes, sobretudo de mulheres jovens, secundárias a esses abortos. E que ele, quando ministro, sistematizou uma série de condições que minorassem o problema, autorizando certos abortos. Apesar disto, José Serra teme perder votos e fica na dependência das, desculpem, sandices das religiões.

A prova está em todas as partes, mas vou escolher uma fonte serrista que indica que ambos pensam que o aborto é assunto de saúde pública.

O fato da religião influenciar tanto em assuntos que deveriam ser discutidos também e principalmente por outras esferas de poder, descaracteriza inteiramente o estado laico. Na verdade, estamos vivendo uma espécie de fundamentalismo passageiro, onde a aspiração aos votos dos crentes sobrepõe-se à razão e a fatos conhecidos por ambos os candidatos. Na prática, o belo estado laico de nossa Constituição volatiliza-se num país fundamentalista, submetendo-se facilmente à religião. Lula também submeteu-se, todos fizeram isso. Há um medo fóbico de enfrentar os 80% de população vagamente católica e os 90% da população que diz professar uma religião.

Então, quando alguns blogueiros e articulistas tentam avançar nas discussões sobre ateísmo, somos normalmente recebidos a pedradas por outros ateístas que afirmam que cantar as maravilhas de ser ateu seria formar uma nova igreja… Por favor, se o negócio é ignorar  a possibilidade de uma vida e de um estado sem deus, não reclamemos e Dilma e Serra. E amém, rapaziada.

E a apresentadora e vereadora Soninha Francine, apoiadora de Serra …

… confessou já ter feito aborto.

14 comments / Add your comment below

  1. Em meio à eleição essa discussão não dá em nada (aliás, durante o pleito o festival de generalidades & mentiras & promessas & sofismas de ambas as partes é insuportável), ou dá em aporrinhação. Deixa passar.

    Mas vamos pensar em fundar uma Federação de Ateus Brasileiros, que dará direito a cada integrante possuir uma carteirinha com um retrato de nosso grande patrono – Groucho Marx – e os dizeres sagrados grafados em dourado-picolé “Não entro em um clube que me aceita como sócio”.

    E não mais que isso!

  2. É preciso ficar claro que o PT defende a legalização do aborto, tendo essa proposta sido aprovada no Congresso do partido no ano passado. Isso não é boato, é fato, tanto é, que esta proposta fez parte do PNDH que acabou abortada na última hora, devido à repercussão negativa que teve na sociedade brasileira.

    1. Se foi “abortada na última hora” a candidatura Serra deve agir com uma ação de cassação da candidatura Dilma, pois ela praticou um ato – o aborto – que é ilegal, conforme a legislação brasileira, mais uma vez comprovando que o PT é um covil de covardes, assassinos e hipócritas.

      Bom, era pra rir. Se não deu a culpa não foi minha.

    2. “legalizar”, como bem definiu Plínio de Arruda Sampaio, é “colocar sob a lei”, e é a única forma de o Estado reduzir (sim, REDUZIR) o número de abortos realizados em clínicas clandestinas, em condições se assepsia desconhecidas. Legalizar é trazer o problema para que seja controlado, ao invés de hipocritamente ignorado (alguém que queria e possa pagar tem dificuldade em conseguir realizar um aborto, no Brasil?).

      Pessoalmente, sou contra o aborto como método contraceptivo e acredito que nenhuma mulher deseja ardentemente fazer um aborto. Para entender o que leva uma muylher a escolher esta via é preciso mais do que idéias preconcebidas, é preciso estudar o fenomeno.

      Por outro lado, apesar de não mser favorável ao aborto, não acho honesto nem desejável, impor aos outros a minha opinião e percepção de mundo.

  3. Típica discussão do Brasil hipócrita. Sou a favor do aborto, porque basta ver o mapa mundi e como tratam essa questão os países socialmente desenvolvidos. Mas o Brasil – que deveria ser um estado laico – fica engatinhando em torno das histerias ideologicas católicas e pentecostais. Como diz o meu guru, o filósofo francês Luc Ferry, as piores e mais atrasadas coisa do mundo são: a religião e a ideologia.

  4. É de um simplismo absurdo, até para mim que não sou católica (nem evangélica, nem umbandista, nem agnóstica ou atéia…) muito menos pautada por qualquer fundamento moralista crítico, todavia acho uma idiossincrasia (altamente equivocada), um comportamento pífio reduzir um problema que resvala em diversas esferas complexas, como a ética, a moral, a humana, a filosófica: raciocinar tal problemática apenas pautado numa ojeriza as premissas (ainda que em sua maioria caquéticas) religiosas,é tão tacanho quanto o mesmo fundamentalismo apregoado á elas. A função vertical das religiões na lógica de uma sociedade, aliás, é frear certos comportamentos desregrados, que amiúde, disseminados podem comprometer as estruturas salutares de todas as demais esferas – como um castelo de cartas, ou efeito dominó desestabilizar gravemente as premissas (inevitáveis) de ordem.
    Fora que não precisa ser dotado de mais que um milímetro de sensibilidade para perceber que dar certos tipos de liberdade práticas é tão perigoso quanto enforcar com teorias cerceadoras, o que se diz bem: deixar enforcar-se com a própria liberdade. Alhures à possível carapuça de conservadora, deveras não me cabe, efetivamente não a pego, no entanto a que se manter certa ordem *vertical* nas coisas, a fim de que tudo não vire um grande caos irrespirável, ‘abalizado’ por ‘anti-paradigmas’ (isso existe?!).
    Imputam o problema a uma causa de saúde pública, certo, o que inevitavelmente vai resvalar nas debilidades sociais, então vejamos, pois bem, uma pessoa que se submete(ria) a uma clinica de aborto clandestino, um açougueiro qualquer,suponhamos: seria mui possivelmente a mesma uma que sem grandes condições (de gerar,suprir uma vida e de bancar o cerceamento dela),hum…então esta,submeter-se-ia quem sabe a um concernente sistema público?!Ahan, este o nosso: “belíssimo”, “referencial”, “modelo” institucional, não é?!
    Tsc, tsc…
    A senhora liberdade, a bem é uma senhora demasia caprichosa, truculenta, mui pouco dada á entrosamentos, plenitude (infelizmente). Mas aí não hei de cair na filosofia, antes encerro.

    Ps:No tocante específico a política, o comportamento de pouca personalidade (uma vez que não pautado por suas respectivas consciências para bem ou para mal),só nivela ambos por baixo.

  5. Talvez a Dilma tenha mudado de ideia a respeito do aborto porque: 1) não tem aquela velha opinião formada sobre tudo; ou 2) não é um caso de impor à sociedade um conceito, mas de primeiro discutir longamente com essa sociedade; ou 3) o PT (e qualquer outro partido) usam de hipocrisia política para angariar votos daqueles que chama de hipócritas religiosos; ou 4) as 3 alternativas anteriores.

    Como disse o ministro Temporão, um sanitarista e não um político, a questão do aborto mexe com a sociedade por tratar-se de um tema de profundidade não só religiosa, mas filosófica, de atitude diante da vida e da morte.
    como eu não tenho tb aquela velha opinião formada sobre tudo, me faço umas perguntas sobre o aborto e sua legalização (considerando somente os casos de aparente normalidade – o que é isso? – do feto e dos pais. não é caso de abuso sexual nem de má formação do feto):
    – se não há condições de se criar um filho, extirpe-o?
    – para corrigir um erro (ou “vacilo”, se alguém prefere dizer), delete-se o erro?
    – ser contrário à legalização do aborto é papo de fundamentalista?
    – é melhor mais informação para evitar a gravidez ou para abortar (a falta) de projeto familiar?
    – o risco do aborto e seus traumas não castiga somente a mulher?
    – em nossa sociedade de consumo, como seria ver anúncios de aborto em clínicas chiques pagas em tantas prestações como nas casas Bahia?
    – a discussão sobre determinar o momento em que o feto é uma criança ou não não é semelhante à discussão sobre a minoridade penal? iremos rebaixar ou aumentar a idade sobre o tal “início da vida” de acordo com as conveniências políticas, morais, econômicas, sei lá mais o quê?
    – por que somos hipócritas e se tivermos como pagar um aborto pra não encher nossa vida de bebês e filhos e crianças temos, então, que propor que agora ricos e pobres terão o mesmo direito e acesso (terão?) ao aborto?

    veja que não são perguntas religiosas propriamente ditas. e os candidatos e nós precisamos arrazoar mais um pouco.

  6. Monica Serra fez aborto de 4 meses: http://correiodobrasil.com.br/monica-serra-ja-fez-um-aborto-e-sou-solidaria-a-sua-dor-afirma-ex-aluna-da-mulher-de-presidenciavel/185824/

    Em 2005, na revista TRIP de nº 41, Soninha declarou que já tinha feito aborto, e que era favorável à descriminalização. (link aqui: http://revistatpm.uol.com.br/41/aborto/01.htm )

    SERÁ QUE O SERRA MANDOU ABORTAR, MATAR O PRÓPRIO FILHO? SERÁ QUE É UM ASSASSINO?
    E O FILHO QUE A SUA SECRETARIA (AMANTE) COORDENADORA DA CAMPANHA ABORTOU, TAMBÉM ERA DO SERRA?

  7. O que me preocupa é as religiões serem elevadas ao ponto de quase poder legislativo por conta da sua influência. Lula já assinou aquele acordo vergonhoso com o Vaticano para ensinar o catolicismo nas escolas públicas, e só mudou o texto para incluir as igrejas evangélicas por pressão destas. O que quase ninguém disse foi que ensinar religião em escola, principalmente endossado pelo governo é um absurdo crime contra o direito à livre expressão e individualidade. Agora querem que a Dilma assine um manifesto declarando que não vai mudar as leis quanto ao casamento gay e aborto, como se o número de eleitores que têm desse às igrejas o direito de legislar. Essas são reformas socias que não tem nada a ver com religião e não devem ser ligadas a ela. Aqueles que são contra não serão obrigados a nada, mas as religiões como sociedades antidemocráticas e preconceituosas que são (alguém já viu padre mulher?) não conseguem entender isso e querem impor a sua opinião à toda a população, menos por ir contra a sua doutrina, que por medo de perder seu público com a liberalização da sociedade. Só com a legalização saberemos com maior precisão quantos abortos são feitos no Brasil e então poderão ser tomadas medidas de saúde pública inclusive no planejamento familiar para evitar que tantos abortos ocorram. Legalizando, além de reduzir muito o número de arriscados abortos clandestinos, é provável que o número de abortos totais também diminua.

Deixe uma resposta