Uma Morte Virtual

Compartilhe este texto:

Publicado em 23 de janeiro de 2007

Hoje é o dia 23 e vários blogs devem estar postando sobre a filósofa e professora Maria Elisa Guimarães, a Meg do Sub Rosa, falecida no último dia 14. Devido a compromissos profissionais, chego quase atrasado a esta postagem coletiva e não poderei escrever com a calma que gostaria.

Comecei isto aqui em maio de 2003, época em que o vírus do blog, apesar de inoculado, ainda não estava instalado em mim. Pouco tempo depois, fiquei impressionado com o tamanho e a qualidade de um comentário que recebera de uma certa Meg (Sub Rosa). Era assim que ela assinava. O texto era muito inteligente e gentil, mas não visitei-a imediatamente, preferi remoer antes as idéias da leitora. No dia seguinte, publiquei novo post e o primeiro comentário foi novamente da Meg. Se o primeiro fora grande, o segundo era um épico. Fui então conhecer o Sub Rosa.

E, desde aquele dia, nunca mais deixei de ir. Depois, iniciamos a intensa troca de e-mails e comentários que só acabou em 30 de dezembro. Talvez eu tenha uns 1000 e-mails da Meg comigo. Há de tudo ali, pois ela parecia conhecer e ter opiniões relevantes acerca de tudo. Era difícil falar de um autor que ela não conhecesse, de um blogueiro que não tivesse lido, de um filme que não tivesse visto; também era raro ela não elogiar ou fazer reparos compreensivos a textos meus. E suas explicações não vinham como conversa insípida de scholar, mas em tom scherzando, cheio de referências e de analogias bem humoradas, acompanhadas de declarações em que desculpava-se por ser tão tola e prolixa… Ora, é impossível não sentir falta de alguém assim. Era a consultora que me respondia às questões com mais de uma alternativa; era a amiga que apresentava seus amigos sugerindo “conversem, vocês têm isto e aquilo em comum”; era quem sabia de toda minha família em detalhes e quem tinha a prosa mais característica possível: numa mesma frase podia fazer variações sobre um tema, entremeá-las de piadas, de risadas às piadas (Ho ho ho), tudo isso sem se perder, apenas com muitos erros de digitação, característica sua.

Um exemplo?

E-mail 1:
Milton, querido
Bom dia.
Olha, eu quero sim. Me manda por e-mail? Muito obrigada.
E queria saber se poso colocar em contato você e o meu amigo X por um dia desses para vcs conversarem sobre musica.
um beojo

E-mail 2:
Queridos amigos X e Milton,
Milton e X
Apresento-os um ao outro.
O Milton Ribeiro, escritor e melômano.
Já O X, meu amigo há mais tempo, mebora estejamos tão afastados, desde que me mudei do Rio de Janeiro, como já disse é escritor premiado etc etc.
Estou apresentando-os porque acho que tem amuito em comum.
O Milton é gaúcho e X é mineiro. Mas mora em São Paulo.
X, seu artigo na Agulha eu enviei ao Milton, pra que lesse e desse sua opinião, ao que el não se furtou.
Eu como sabem estou doente não me perguntem, por caridade, o que tenho.
Beijos, apresentações feitas que espero, possam redundar em amizade.

Era assim.

Querido Milton.
Sabes? – ou não sabes – cheguei a uma altura da vida em que posso (ou não posso?) – me permitir expressar sempre o amor, o gostar, o querer, a admiração pelos meus talentosos e predestinados etc… Quero, necessito e desejo ser livre para tanto.
Para quem como eu, já chegou algumas vezes, muito, mas muito próximo das fronteiras com o Nada, todo o tempo é tempo e não pode ser desperdiçado, pois bem sei que não teria como Proust a chance do Tempo Recuperado, ou Reencontrado, – enfim Le Temps Retrouvé -(ô coisa difícil e sublime é a tradução, não achas?)
Pois bem, eu estou viajando desde 30 de agosto.
Quem está organizando o blog com republicações é minha cunhada e alguns amigos, inclusive a magaly.
Mas como não gosto de culyivar a imagem de donete, não disse nada.
Mas, mesmo sendo cético e ateu ou agnóstico, como eu, pede e ora por mim, pois farei uma operação de alto risco.
Mais não quero dizer, quero guardar esse momento só para mim e ver como me saio dele.
Consegui afsatar todos os que mo, inclusive namorado, irmã, e todo o ressto da família, pois a mim incomoda que estejam me perguntando como estou o que é semlhante à pergunta: vais viver? vais morrer?
Só quero ganhar ou reapossar-me de alguma saúde: preciso estar bem para ver os filhotes, vocês, tu e mais alguns crescerem ainda mais e ganharem a cavalgada das asas que já possuem.
Beijos ao “teu grande elenco” de casa,
M.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Deixe um comentário