Publicado em 21 de agosto de 2005
Observação importante: Este é o texto que ia publicar no dia de meu aniversário (19/08), mas houve a invasão do post abaixo e, agora que timidamente retomo o controle de meu blog, posso finalmente publicá-lo. Achei simpático o post de livres-associações que escrevi e, por isso, sigo falando um pouco mais em aniversário. Agradeço comovido às felicitações e manifestações de carinho de todos os que comentaram, escreveram e-mails e telefonaram.
Abro minha agenda e vejo que não falam em mim. Leio que hoje é o Dia Internacional da Fotografia, o Dia da Aviação Agrícola e o dia em nasceram Bill Clinton, Aracy de Almeida, Francisco Alves e Marcos Palmeira. Fotografia? Nunca seria um grande fotógrafo, meu daltonismo impediria. Aviação Agrícola? Sou inteiramente urbano e concordo com Cortázar quando ele diz que o campo é o lugar onde os bois passeiam crus. Clinton? Até simpatizo com ele, mas nunca fui criativo com charutos. Aracy? Como ela, adoro Noel Rosa, mas não faria aquele lamentável papel de jurada de programas de televisão que ela fez no final de sua vida. O cantor das multidões? Mal conheço, mal ouvi. Marcos Palmeira? Um ator bonito que fez um péssimo Villa-Lobos e um bom Bentinho no cinema.
Informam-me que 1957 foi o ano em que o primeiro ser vivo foi lançado ao espaço sideral. Foi um cão ou, mais exatamente, a cadela Laika, uma vira-latas soviética.
Depois de Laika, veio o primeiro ser humano. Um cara bem pequeno (tinha 1,58m) e gordinho (69 Kg) chamado Yuri Gagarin, que viajou apertadíssimo por 1h48min pelo espaço numa mini-nave, a Vostok I. Quando retornou, depois de uma queda livre a uma velocidade de 30.000 Km/h, estava perturbado e disse aquela frase infeliz que deixa os gremistas felizes até hoje: A Terra é Azul. Ora, não poderia ter dito outra coisa qualquer?
Mas isto já foi em 1961. Em 68, o simpaticíssimo Gagarin foi para a segunda divisão, digo, morreu, num desastre aéreo. Laika tornou-se selo.
Gagarin também.
Minha mãe era ainda menor que Gagarin, tinha 1,55m e hoje tem menos. Talvez tenha dançado, abraçadinha com meu pai, o grande sucesso de 57 — Love Me Tender, com Elvis Presley — que, dizem, ainda está vivo, apesar de também já ter virado selo.
Naquele ano, aconteceram coisas lamentáveis. Os negros lutavam contra o racismo nos Estados Unidos e tinham iniciado um forte protesto contra o governo do estado de Arkansas. Acontece que a Suprema Corte mandara abrir aos negros as escolas antes freqüentadas exclusivamente por brancos em todo o país. A revolta começou quando o fabuloso governador Orval Faubus contrariou a ordem federal e usou tropas militares para impedir a entrada dos negros. Com o clima de violência instalado, a Casa Branca ordenou que mil pára-quedistas saltassem sobre a cidade de Little Rock para restabelecer a ordem. Paradoxalmente, este débil metal, Faubus, acabou imortalizado por um negro, Charlie Mingus,
que compôs uma obra-prima em sua “homenagem”. A música chama-se Fables of Faubus e você deveria conhecê-la. Se não conhece, faz-lhe falta, estou certo disso. Faubus não virou selo e nem terá sua cara estampada em meu blog (ele é muito inferior a Laika, por exemplo), Mingus sim.
Nasci em 19 de agosto de 1957 e, para facilitar seus cálculos, vou logo dizendo que completo hoje 48 anos. No final dos anos 50, tinha esta cara aí.
E hoje tenho esta aqui.
E sou feliz, vivendo ao lado desta gente e de um grande (e crescente, muito crescente) grupo de amigos.
Bom, por hoje era apenas isto.
Caro Milton, encontro-me aqui em Goiânia, visitando os familiares de minha futura esposa. Mas, arranjei um tempo para ler tão saborosas reminiscências. Gosto de ler estes aspectos memorialistas da vida dos outros. Deve ser por isso que tenho uma predileção por ler biografias. E confesso que uma das melhores que li foi uma de seu patrício, Érico Veríssimo – Solo de Clarineta, no caso, uma auto-biografia.
Achei sensacional conhecer alguns traços a mais da sua vida. Que bom! Apesar de não conhecê-lo pessoalmente e estarmos separados por quase dois mil quilômetros de distância, gostei muito de estreitar laços – mesmo que virtuais – neste ano corrente, que ora se extingue.
Desejo a você e à sua família toda sorte de realização e sucessos infindos. Percebo leveza, alegria, felicidade não fingida nas fotos expostas. Parabéns. E obrigado por permitir que tivéssemos momentos tão agradáveis no ano de 2010. Que no próximo ano tenhamos mais esses momentos de exultação.
Espero um dia ir até Porto Alegre e encontrá-lo para bebericarmos um bom vinho, conversarmos sobre “coisas da terra e do ar”, como dizia Renato Russo.
Abraços sinceros de um grande admirador.