Estava em meu trabalho de editar matérias e escolher posts quando me avisam:
— Índio Vargas está na recepção.
Índio Brum Vargas, escritor, advogado e ex-militante da luta armada, havia chegado para uma entrevista. O único detalhe é que chegara nove horas antes. Desci para falar com homem. Um pouco mais baixo do que eu, de fala tranquila e enorme sorriso, aquele senhor estava achando muito estranha uma entrevista às 19h. Expliquei para ele que nossa ideia era a de uma longa conversa regada a vinho e salgadinhos, que haveria uns três ou quatro, talvez cinco, jornalistas, e que desejávamos saber tudo.
— Tudo?
— Sim, tudo. Nossa intenção é arrancar tudo — , respondi, apesar de ele não estar com cara de quem tivesse intenção de esconder alguma coisa.
Revelei que viria um jornalista de São Sepé — Ah, dos Cassol de lá? Boa gente! — , que o Prestes tinha lido seu livro Guerra é guerra, dizia o torturador como preparação e que a Nubia não apenas lera seus livros como nos informara que havia um inteiro na internet. Ele simplesmente adorou. Disse-me que seu artigo publicado no Sul21 tivera grande repercussão e que ele deveria ter cuidado mais o texto. Fomos até a porta, combinamos o combinado e então veio a surpresa.
Índio Vargas, feliz da vida, atravessou a calçada de um salto e correu pela rua como se não fosse um septuagenário, mas o guri de São Sepé. Saí porta afora para ver bem visto aquilo. Ele corria mesmo e, olha, o calor era sufocante.
Uma graça essa história!
GUAPO DO GUAÍBA
by Ramiro Conceição
Que o Índio
feliz, sob o calor
sufocante,
salte as ruas
de Porto Alegre
mas que nade!,
e que seja um guapo
do Guaíba vivo à verdade
e que nos ajude a decifrar
essa estranha humanidade.
Espetacular!