Mas por motivos diferentes. A oitava era contra a guerra. E a décima, contra o recém-defunto Stalin. Vale a pena comparar o modo de reger do controlado e genial Mravinsky…
httpv://www.youtube.com/watch?v=0JhdFlFWiSQ
Ou clique aqui.
… com o da nova estrela, o também genial venezuelano Gustavo Dudamel. Nada contra o primeiro ou o último. O resultado que ambos alcançam é esplêndido.
httpv://www.youtube.com/watch?v=2ZbJOE9zNjw
Ou clique aqui.
SOBRE HEIDEGGER
by Ramiro Conceição
Existencialmente, estava ele a arrumar a casa dela que, de comum amor, seria deles. Era aquela típica limpeza sadia, necessária, quando é preciso se desfazer do resistente lixo acumulado durante o existir… Ele, há muito, já se desfizera do seu – por isso a sua casa era sob os seus cabelos.
Pois bem; depois de algum tempo, ele a pegar uma coisa aqui, ela outra acolá, resultou – uma civilizada montanha escura de plástico.
Rapidamente, entre os seios típicos do poder feminino, ele foi promovido ao importante cargo de papai noel – coisa característica do universo das fêmeas quando diante de um esforço físico e, efetivamente, diante de idiotas machos enamorados.
E lá foi ele… a arrastar pelo corredor aqueles pecados em pedaços, até o elevador. Clicou o botão de serviço. Puxou. Entrou. Desceu. Saiu a rir, quando se deparou, no térreo, com um bando de vizinhos assustados… Não havia qualquer dúvida: era um esquartejador a carrear as partes da ex-mulher à lixeira do prédio. Enfim, chegando ao cemitério onde se deposita os detritos dessa civilização, se deparou diante da profunda questão metafísica:
– Caralho, porra! O saco plástico não cabia em nenhuma das abóboras lixeiras condomínicas onde caridosa e amorosamente são deixados todos os lúcidos presentes diários aos lixeiros do mundo…
Um frio filete de suor correu em seu rosto: era a comprovação da lei da gravitação universal de Newton, pois Einstein era válido somente quando da velocidade da luz… Mas, ali… só havia escuridão!…:
– O que fazer? Que saco!… Política e paulatinamente, sem levantar qualquer suspeita, esvaziou… pedaço a pedaço… o saco… E comeu até as entranhas o caroço do fruto proibido do seu trabalho exemplar…
Porém, de repente, diante do seu olhar incrédulo, estava lá, em letras garrafais, no seio do lixo a – “ÉTICA”… Não era possível! Era um sinal dos deuses… Sim, ele estava a jogar fora a ex-mulher, que fora feita em picadinhos…
Entre conflitos de consciência – sem poder se confessar a um padre, a um bispo ou mesmo ao papa, pois todos eram passivos ou ativos pedófilos -, pediu perdão…
E foi perdoado… Pode então ler tranquilamente e compreender: era uma coletânea de trabalhos publicada pela PUC e, entre tantos, um lhe chamou a atenção – uma reflexão profunda sobre a obra de Heidegger, que tratava do social papel do poeta dentro dessa nossa civilização hipócrita. Então finalizou o seu crime…
E após alguns meses, quando aprendeu que existe um espaço-tempo no qual não é mais possível compreender, escreveu a “ILHA DAS ÁGUIAS”.
Sim, ele era um poeta…
ILHA DAS ÁGUIAS
by Ramiro Conceição
Cantam cantos antigos
que o Mal é ardiloso
e que, sedutor, ilude a platéia
que, por ter os caninos escuros
com sangue de assassinatos cometidos,
não percebe – por medo – a insensatez.
Cantam sonhos longínquos
que o Mal é a raiz da culpa
que impede esta monada,
desde a tenra idade,
à iluminação, à Humanidade,
ao cuidado desta Terra única.
Cantam que tudo em nós é fruto
duma moral hipócrita e repressora
e que tudo sempre termina
num medíocre e terrível engano
colossal de templos e religiões:
uma manada de anões primatas,
bambos, prontos pra assassinar
quem ouse à alegria de duvidar.
Cantam cantos modernos
que a nossa civilização
judaico-cristã-muçulmana,
por ser estupidamente desumana,
possui a face dum quadro de Picasso:
o lado esquerdo em cisalhamento ao direito
tal qual o desespero em gritos dos ciprestes
destorcidos das telas de Van Gogh.
Cabe aqui uma pergunta.
Fomos, somos e seremos somente
caretas, caricaturas e canalhas
dum bando de micos amestrados?
Cabe aqui uma resposta.
Por herança da evolução,
somos um milagre repleto
de coragem.
Mas coragem pra quê?!
Para cantar e permitir
a continuidade da vida
nesta casa bendita.
Portanto canto e declaro
claramente que somos parte
das consciências do futuro,
do passado e do presente
em processos de passagem;
canto e declaro
claramente que a diferença
entre um bem-te-vi e Einstein
é simplesmente a maneira
diferente do bater de asas.
O amor é o senhor da Terra!
E não há diferença qualquer
entre a mulher, que nos braços
seus filhos queridos abraça,
e o Sol, que com nove braços
seus filhos queridos entrelaça
(Plutão não é um bastardo!).
Dizem que sou de aquário
pois ao sonhar às vezes rio,
a crer que do nosso aguadeiro
florescerá a sinfonia do amor
que será cantada e amada
em estelares línguas claras.
Porém, confesso: sou um contumaz
devorador de astrólogos à milanesa
regados — é claro— à muita cerveja.
Contudo, lúcido, continuo a declarar
que o amor não necessita de templos
e que nunca será de pouquíssimos,
pois Beethoven canta no Uirapuru!
À frente
das minhas asas,
dança com graça
a Ilha das Águias.
Lá,
elas procriam.
De lá,
elas vigiam.
De lá,
vêm
o início
e o fim.
Eu vim… de lá!
Pra profetizar, instaurar e mediar
toda a forma de amar que está ali,
na estelar sala de estar e, aí,
dentro do teu amor, caro Leitor.
Tenho que admitir que achei seu blog surpreendente, pois seus posts são sempre muito bem elaborados. Matei-me de vasculhar mais informações sobre esse tema e você tirou tudo de letra. Continuarei seguindo seu blog enquanto persistir com o excelente trabalho. Meus cumprimentos!