Meu caro Ramiro Conceição.
Li teu comentário — que transcrevo abaixo — e tenho reparos a ele. Poucos, é verdade; e os que há são relativos à isonomia e à lastimável postura da sobrinha Belô Velloso, filha de Mabel Velloso, irmã de Caetano e Bethânia, e cuja única boa referência foi a de ter vindo ao mundo num 19 de agosto. Ela, na minha opinião, prestou severo desserviço para sua tia famosa.
Mas hoje é DOMINGO e, apesar das imagens, a música e a letra são esplêndidas! (Quase ninguém conhece esta música, mas ela faz parte dos dois últimos CDs de Bethânia — Tua e Encantería — , lançados juntos. A boa MPB é ouvida apenas do exterior. Por que o MinC não age também neste ponto, o qual é muito mais importante: o de proteger a música brasileira de qualidade? Não dá para fazer? Ah, dá, sim. Assim como o cinema e a literatura.).
Ou clique aqui.
MERDA, POESIA!
by Ramiro Conceição
Até onde compreendi, a cantora baiana está autorizada somente a batalhar no mercado recursos que, se obtidos, fomentarão concretamente, durante um ano, vídeos diários sobre poesia (não estou a par do conteúdo proposto para tais vídeos), mas acredito que, por toda a obra artística de Bethânia, tal iniciativa não tenha qualquer característica de amadorismo.
Até onde compreendi também, as empresas que endossarem livremente tal projeto terão a sua marca associada ao empreendimento cultural bem como um incentivo fiscal, um desconto, em seu imposto de renda.
Até onde compreendi também, tudo se dará sob a total transparência da lei. Até o momento, não percebi, em tudo que li, qualquer falcatrua porventura escondida na decisão do MinC.
Bem, se não há nada ilegal, então resta analisar se houve, ou há, alguma falta ética no acontecido, ou seja, qual a falta ética de Bethânia ou do MinC no episódio em questão?
Até onde compreendo, haveria uma falta ética se, e somente se, algum outro projeto de caráter semelhante não tivesse sido autorizado antes ou tivesse sido indeferido por favorecimento claro ao aprovado agora pelo MinC. E, por outro lado, se Bethânia tivesse claramente se utilizado de tráfico de influência em detrimento de outro projeto superior ao seu.
Vive-se no Brasil um regime democrático, portanto, que os injustiçados apareçam, se pronunciem competentemente!
Mas, por favor, não me venham com argumentos do tipo: “Ah, Bethânia é rica” ou “Ah, 50.000 por mês, que absurdo!” ou “Ah, eu faria o mesmo ‘di gratis’” ou “Filha da puta da Bethânia” ou “Tal grana poderia ser destinada à educação”.
Não, o buraco é muito, muito, mais em baixo e, minhas senhoras e senhores, não se trata aqui de nenhuma baixeza.
Minhas companheiras e companheiros de história, gostaria de lembrá-los de um fato. Amyr Klink, quando do seu projeto de hibernação na Antártica, a duras penas, conseguiu o patrocínio à construção de seu barco por meio da “AÇOS VILLARES”, à época importantíssima empresa brasileira do setor SIDERÚGICO, isto é, da metalurgia do FERRO!!!!. Detalhe, importantíssimo, seu barco foi construído totalmente em ALUMÍNIO!!!!!!
Por que a AÇOS VILLARES não poderia ter obtido qualquer benefício fiscal – como não obteve!!!! – ao financiar tal empreendimento histórico?! Com terrível angústia, Amyr descreve em seu livro de relatos que, sem a VILLARES, seu projeto não teria existido. Outro detalhe: Amyr fora o único ser humano a atravessar a remo o Atlântico Sul.
Diante disso, brota em mim, infelizmente, a seguinte constatação histórica:
o padecer crônico do Brasil não se constitui essencialmente de seus milhões de miseráveis, mas, ao contrário, de sua maligna, insignificante elite miserável!
Diante disso, só posso clamar à Maria Bethânia:
MERDA, POESIA!
(À merda, hipocrisia)!
Milton, trocar os compositores eruditos que costuma haver por aqui aos domingos por ISSO!
Ramiro, as questões que colocastes, sobre se Bethânea é rica etc, são importantes sim. O artista que pode bancar sua própria obra não poderia recorrer a ajuda federal, isso é uma afronta moral, uma falta de caráter. E do ponto de vista da federação, quantos projetos apresentados por artistas iniciantes são desconsiderados, para colocar ISSO no lugar. Há sim uma grande margem de favoritismo, corrupção, as velhas fórmulas do corporativismo governamental tão bem conhecidas desse lado de cá da Africa.
Há pouco, ouvistes o maravilhoso Teatro Mágico, e comentastes no meu blog (ou aqui, não me lembro), de que já me ouvira te recomendando a eles, e que não os procurara por esquecimento. O Teatro Mágico lançou seus 2 cds e 2 dvds, independentemente, por isso pouquíssimas pessoas sabem o quanto são bons, o quanto são a melhor coisa a acontecer na MPB nesses últimos anos.
Essa verba federal deveria ir para caras assim, não a ISSO!
Morra, Charlles! Bethânia é deusa, é orixá, é arquétipo, é inigualável! Tem uma gravação dela no youtube cantando Carcará, com uns 17 anos. Aquela mulher miudinha, mal saída da adolescência e cantando daquela maneira. Uma cantora que não existe e não existirá outra igual, nem ao menos comparável.
Quanto ao projeto em si, não tenho posição definida. Apenas acho um erro colocar a culpa disso na figura da Bethânia. Pediram algo estrambólico e ela deu o preço – que nem é tão absurdo assim se considerarmos o volume e a qualidade do material usado. Pra mim a questão recai muito mais sobre a necessidade desse projeto, se deve feito pela Bethania (não poderíamos pensar em outras pessoas, por exemplo?), etc.
Charlles, você tocou em algo muito interessante: por que o Teatro Mágico não participa dos editais do MinC?
Por exemplo, eu soube que a Marisa Monte teve um projeto aprovado, semelhante ao da Bethânia, para montagem de um espetáculo com uma orquestra sinfônica. O total de recursos que ela pode batalhar na iniciativa primada é em torno de 4 milhões.
Bethânea é lixo! Um vídeo por dia, cantando material dos outros? E um título chulo destes, típico de autoajuda! Não vale um centavo meu, mas mesmo assim, EU PAGO!
Típico de um país em que mesmo a dita poesia é uma impostura e uma imposição.
“O Ministério anunciou que o patrocínio, que vai render 600 mil reais à cantora, está dentro da legislação de “recursos junto à sociedade” da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura. A assessoria de imprensa da artista negou ligação entre os dois fatos.
O site da cantora terá filmes de até dois minutos com poesias, gravados pelo cineasta Andrucha Waddington. A ideia do blog seria valorizar a arte, através de subsídios da Lei Rouanet.”
600 mil reais! Valorizar a arte! Uma justiça deve ser feita: a Bethânea é muito superior como humorista que cantora.
Lixo!
Milton, Tu tá de sacanagem!
Grato, Milton.
i like it Domingo, com Maria Bethânia – Milton Ribeiro very lately im your rss reader
Nessa embrulhada toda para mim fica patente o seguinte: é ótimo se colocar de qualquer um dos lados da questão, porque todos eles tem razão; quando isso acontece, periga a tal razão, tão comprometida, ser apenas isso, comprometimento, variado de acordo com estratégias pessoais (o que se faz, como se faz, porque se faz), generalidades de gosto (ela merece, ele não merece, isso é poesia, isso não é poesia), tudo envolvido soberanamente pelo dinheiro, no final das contas os números primários e finais de todas nossas contas, enfim, estamos todos tão comprometidos com a razão do dinheiro que giramos em torno dele para avaliar o que vale com nossas penas digitais. Os dedos doem menos que a bosta da consciência.
Sério, a Maria Bethânia precisa mesmo de 600 mil p/ ler alguns poeminhas? Por que eu estou pensando que você está é com medo de criticar uma artista consagrada, apesar de ela estar fazendo uma besteira descomunal? Não critico a música dela, mas o comportamento. E você, como blogueiro, deveria ter um pouco mais de culhões.
Com todo o respeito.