Sobre Lars Von Trier: uma posição tola, a do crítico e várias inteligentes

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A tola:

O tom de Lars Von Trier

Se alguém ainda tinha dúvida sobre a misoginia e a arrogância de Lars Von Trier, nesta semana em Cannes ele tratou de dirimir todas. Afora ser deselegante com Kirsten Dunst, mais uma atriz que entra para o rol das que humilhou em sets e filmes, e exibir uma tatuagem com palavrão nos dedos, ele disse ter simpatia por Hitler. Como todo covarde, depois pediu desculpas dizendo que falou em tom de brincadeira. Mesmo que fosse verdade, a declaração não vale nem como provocação. Mas foi dita com o tom que lhe é peculiar, e o pôs ao lado do estilista John Galliano como um exemplo de que os preconceitos de raça e gênero continuam vivos.

Daniel Piza

A jornalística:

Quando conversei com Lars em Mougins, ele contou que sua sensação era a de derrapar na curva e perder o controle do carro — `Não dava mais para parar`, disse — , confesso que me lembrei de Joseph Conrad e Albert Camus. Lord Jim, consciente de que sua covardia no falso naufrágio do Patna seria sua danação eterna; Mersault, ouvindo aqueles tiros ressoarem na eternidade. Estou tendo, talvez, um surto poético, ou literário. Mas o que me doi é que o filme, `Melancholia`, tão belo, talvez nunca venha a ser devidamente apreciado por isso. Tergiverso. Daqui a pouco, tenho minha entrevista com Catherine Deneuve. Vou dar uma volta na Croisette, carpe diem, antes de recomeçar a correria.

Luiz Carlos Merten

E as razoáveis e inteligentes:

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15 comments / Add your comment below

  1. Vindo do twitter (vários):

    De matar, né? RT @andescva: a comparação entre os episódios de galliano e von trier foi de chorar no cantinho! triste.

  2. Uma pergunta e uma observação,

    Daniel Piza escreve agora para a Folha Teen ou algum congênere?

    Admito que não gostei de Anticristo. Sua estética mais que despudorada – qualificá-la de masoquista seria mais exato? – a polissemia da maneira como ele decidiu tratar de um tema tão sensível à crítica, i.e. a misoginia, a violência da(o) techne/masculino sobre a physis/mulher, usando de imagens elas mesmas abertas a serem interpretadas como misóginas, etc, etc.
    Mas mesmo não gostando do filme, não posso deixar de admitir a estatura do filme. Quantos diretores vivos hoje conseguiriam compor o belo e doloroso balé de corpos – os que se fundiam e se misturavam no sexo do casal e o da criança que despencava da janela do quarto – composição impecável de imagem e conceito, na cena que inicia o polêmico filme de Von Trier?
    Torço para que um dia ele retome o projeto da trilogia Amerika. Dogville e Manderlay estão com certeza entre os meus dez maiores filmes.

  3. Bem, Milton, dois comentários…

    1) sobre o dito do dito cujo, sem comentários…
    2) a seguir, um comentário que tem a ver com o dito do dito cujo que não merece comentários…


    by Ramiro Conceição

    De dentro de uma dor,
    a melhor coisa – é a fé,
    que ensina a pensar-sentir de pé.
    O resto é fé que mata, e não cria!

    1. Milton, se eu morasse em Porto Alegre,
      iria até a sua casa lhe contar o que fiz,
      agora, nesta noite de domingo; porém
      não moro por ai… Então…

      PECADO ORIGINAL
      by Ramiro Conceição

      O Amor
      é o fruto
      que é a
      pele e o
      conteúdo.

  4. Vamos então com mais um comentário burro:

    Olha, eu não gosto do cinema desse cara, nunca gostei. É um falastrão pernóstico, um cara que manipula os chiliques do “filme de arte” com uma visão tendente ao “escândalo”, no gênero de um Salvador Dali. Todo esse bochicho dá naquilo que ele quer: difusão de seu nomezinho. Quem é “culto” não deixará de ver o filme dele por isso, e quem “não é” ganhou um motivo para ver.

    Complementando, citação em comentário (meu mesmo) feito no blog do Charlles: “Lembro-me do Anticristo; desci o pau no filme e só faltaram (quer dizer, acho que não faltaram) me chamar de ignorante. Uma bosta dum filme misógino de merda feito por um puto dum corno. Tipinho pernóstico, tá na lista dos piores cineastas do mundo em todos os tempos.”

    1. FÁBULA DO BURRINHO
      by Ramiro Conceição

      O segredo de todo inventor
      é soltar seu burrinho voador…

      Se existe invenção do bem, e do mal,
      por favor, isso nada tem a ver
      com esse burrinho trabalhador…

      A inocência sempre cria.
      A ciência – malicia.

      1. FÁBULA DO JUMENTO

        Toda vez que falta ciência
        sobra coice

        Este é o método, ele diz
        cãmera na mão, nenhuma
        ideia na cabeça

        Nem é preciso inventar
        basta escoicear que todos
        compreendem a mensagem

        e aplaudem.

  5. sim, não q seja obrigatório, mas seria interessante ler aqui as opiniões daqueles q elogiaram bastante o anticristo – milton inclusive – por aqui (no post sobre a película). não q não dê pra separar uma coisa da outra, mas se elas se tangenciam já é um bom motivo.
    eu não tinha visto o anticristo, à época do post. depois eu vi, e fiquei achando supervalorizado. se tem um incontável número de signos ali, como parece e me dizem, fiquei sem entendê-los, e tentado a dizer q eram um exagero.

  6. Não gosto do Daniel Piza e geralmente acho que ele fala coisas ou óbvias ou pedantes ou até pouco inteligentes – contudo, desta vez ele foi bem menos ácido que Trier em sua fala absolutamente perversa e danosa. Caro Milton, lamento: gosto de vários filmes do Trier mas sempre achei o sujeito meio escroto. Agora essa opinião se confirma e não vejo porque eu deva posar de hipster, blasé, ou coisa que o valha, e defendê-lo por conta de seu cinema.

    NÃO.

    NÃO.

    NÃO.

    Fazer isso é de uma imbecilidade atroz. Poderíamos ficar aqui dias trocando argumentos – certamente você os teria de sobra para dizer que eu não tenho razão, e eu terei outros tantos para dizer que você não tem, mas não quero levar isto para o lado pessoal (afinal, nem conheço você.

    O que me chateia (novamente, não é pessoal, pois não é apenas com você) é essa tendência triste e comezinha que o mundo assumiu nos últimos anos de que aquele que mostra ser tosco e entra na festa para estragá-la é sempre e necessariamente um revolucionário bem-vindo para mostrar as mazelas do sistema. Nem sempre. Trier é bom cineasta, mas ou surtou ou – hipótese pior e mais perversa – provoca deliberadamente porque quer trazer um caos que não vai reconstruir nada em seu lugar. Tornou-se o arauto de seu próprio filme. Que venha o fim do mundo, então. A tristeza (mesmo, sério) é ver gente inteligente defendendo o escroto e chamando de tolos (mesmo sendo um Daniel Piza, que por acaso até é tolo mesmo) aqueles que apontam um mero babaca covarde.

  7. em tempo: tbm me parece q fizeram uma tempestade sobre o caso; o cara falar q “entende hitler”, ou seja, achar possível um debate (ao contrário da maioria, q só quer calar sobre o assunto, o q tbm tem suas consequências) sobre o assunto e suas derivações – aí vem aquele jornalismo q quer apenas a síntese, a manchete chamativa, e ele concedeu (no meu ponto de vista, ironicamente, provocativamente, cansado): “ok, sou nazista”

  8. Oi, Milton! Acompanho um pouco as tuas postagens aqui e no Amálgama. Bem, a minha pergunta é a seguinte: o que você achou da decisão da direção do festival? Fiz um texto, que agora está publicado no Amálgama, expondo a minha opinião sobre essa última polêmica do Lars e, bem, mesmo sendo muito fã do trabalho dele – de modo que eu tenho consciência de que ele não quis com o seu comentário infeliz fazer apologia ao nazismo, mas essa é outra história -, eu acredito que a decisão foi correta.

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