Publicado originalmente no Sul21 na tarde do último sábado. Escrito meio às pressas enquanto ouvia Frank e Back to Black.
Viva muito, morra jovem e deixe para trás um bonito cadáver
(“Live fast, die young and leave a good-looking corpse”)
JAMES DEAN
A polícia britânica ainda não divulgou a causa da morte de Amy Winehouse, ocorrida neste sábado à tarde (23), em Londres. O corpo da cantora de 27 anos foi encontrado em seu apartamento após o serviço de emergência ter sido chamado por volta do meio-dia (horário de Brasília). A polícia de Camden Square emitiu comunicado confirmando a morte. “Fomos chamados devido à descoberta de uma mulher morta. Era a cantora Amy Winehouse. As circunstâncias serão investigadas”, encerrava a mensagem.
A carreira de Amy Winehouse foi marcada tanto pelo estupendo sucesso de público e crítica como por uma série de escândalos e polêmicas. Boa cantora, boas músicas, mas a mídia e o mundo revelavam-se mais interessados em seus porres e problemas. Seu nome está mais ligado às drogas do que a seu indiscutível talento; seu público queria tanto os blues, o soul, quanto os vexames. E ela dava motivos a todos, alternando performances espetaculares com shows onde era vaiada, como o ocorrido numa recente apresentação em Belgrado, na Sérvia: o público não entendia o que ela cantava e nem ela parecia dar-se conta do que fazia ali seu grupo de músicos. Aparentemente, estava totalmente alcoolizada.
Amy Winehouse era dona de uma voz poderosa, bela, e de uma maneira negra de cantar. O velho blues e a Motown eram suas maiores influências. Discretamente antiquada, old-fashioned girl, dava preferência aos instrumentos acústicos e aos arranjos que destacassem sua bela voz. Por vezes, também, soava como uma cantora dos cabarés de antigamente.
O terceiro CD da cantora estava sendo produzido desde 2008 e nunca foi concluído. Amy compôs algumas canções, mas estas foram rejeitadas pelos produtores. Ela chamou Mark Ronson para “tentar salvar o disco”, mas os dois não chegaram nem a se reunir. Canções perfeitas como Rehab, Back to Black, Wake up alone e Love Is a Losing Game ficarão sem sucessoras.
A morte de Amy Winehouse aos 27 anos, vem colocá-la no indesejado e ilustre Clube 27, o dos grandes artistas mortos nesta idade. É fenômeno comum os ícones da cultura pop serem reavaliados para cima quando morrem, tornando-se eternos no imaginário popular. Mesmo que sejam famosos e talentosos em vida, se morrerem jovens e, sobretudo, de causa trágica e misteriosa (overdose, suicídio, homicídio ou acidente), tornam-se objetos de culto e de programas e filmes onde se pranteia sua memória. Porém, como disse Virginia Woolf na introdução de Orlando (1928): “Há outros que, embora talvez igualmente ilustres e importantes, ainda estão vivos e, por essa razão, são menos formidáveis”.
http://youtu.be/8UW2S2_m4a8
Se circunscrevermos as mortes do chamado “Clube 27”, teremos um time realmente considerável. Tudo parece ter começado em 3 de julho de 1969 com a morte de Brian Jones, guitarrista dos Rolling Stones. No ano seguinte, foi a vez de Jimi Hendrix (18/9) e Janis Joplin (4/10). Mais um ano e, em 1971, morre o líder do The Doors, Jim Morrison em 3 de julho. Estava formado o “Clube 27” pelo simples fato de todo o quarteto ter morrido num período curto com a mesma idade.
(Na música erudita há famosa Maldição da Nona Sinfonia. Vários compositores morreram logo após finalizarem suas Nonas: Beethoven, Mahler, Schubert, Bruckner, Dvorak e Spohr. Mahler escreveu antes A Canção da Terra procurando fugir da 9ª. Não deu certo.).
Quando Kurt Cobain suicidou-se em 1994, também aos 27 anos, muito falou-se que ele teria confidenciado a amigos que ele desejava unir-se ao Clube. Ainda no rol dos que teriam manifestado vontade de obter uma carteirinha estão o espantoso artista plástico Jean-Michel Basquiat, morto em 1988, e, para voltar aos músicos, o legendário guitarrista de blues Robert Johnson, morto em 1938. Se Johnson morreu bem antes, ao menos manteve a coincidência de talento e de um fim por drogas, caso do quarteto e de Basquiat. Afinal, a estricnina colocada em seu uísque por um dono de bar enciumado de sua mulher também é droga. Ou não?
E James Dean, autor da clássica frase que nos aconselhava a morrermos jovens, foi ainda mais apressado, falecendo aos 24 anos.
Milton, me permita uma correção, a frase “Live fast, die young and leave a good looking corpse” não é de autoria de James Dean. A frase foi dita pela primeira pelo personagem Nick Romano, interpretado pelo ator John Derek, no filme O crime não compensa (Knock on any door), de 1949, dirigido por Nicholas Ray.
Um abraço!
Outra correção, Milton. Amy nunca foi bonita. O que aumenta seus méritos, porque em tempos de cultura audiovisual, quem não é bonito tem que ter o dobro do talento.
O que não procede com a Lady Gaga em nenhum dos dois sentidos.
Só gostava mesmo do sobrenome dela, e traduzia carinhosamente o nome completo por “adoro adegas”
Caro Milton,permita-me colocar aqui o final do poema qe escrevi em homenagem à Amy:
Amy
quê dizer?
senão que te amamos
e quiséramos abraçar
teu corpo martirizado
e juntar com a mão
sobre teus apliques e desajeitados cabelos
tua linda cabeça ao nosso ombro
como o faríamos a essa girl
que bem sabemos
foste e serás
agora para sempre
de volta ao negro
mas também
a nós…
27/07/2011
Milton, tem o Gary Thain, puta baixista do Uriah Heep, que também morreu aos 27.
Bonito cadáver? Imagino os feios…
Ela já foi muito gata sim…