Em tempos de Bienal do Mercosul, minha filha Bárbara, de 16 anos e que prestará (prestará?) vestibular para História em janeiro, experimentou uma súbita criatividade durante o almoço e criou a peça-instalação Capitalismo Selvagem. Pelo custo de R$ 5.000, damos uma mesa pequena de fórmica, uma toalhinha branca e bela peça abaixo, cunhada por ela. Tudo acompanhado por uma plaquinha
Capitalismo Selvagem
Bárbara Ribeiro
(2011)
Ideal para sua sala. A peça é única e exclusiva. 5 pilas, OK?
Não vai vender. E não é por falta de talento da guria, que tá no caminho certo. O problema aqui foi o pai. Pra vender, você deveria dizer que é, simplesmente, uma jovem artista (omite-se a idade, então, jovens artistas podem ter de 12 a 45 anos, ok?) depois, deveria dizer que o trabalho dela vem carregado de uma força simbólica concreta e que o objetivo de sua obra é desconstruir os paradigmas pós modernistas.
Pronto. Acabou de valorizar pra caralho o trabalho da guria!
(ah, e por favor, não cometa a indelicadeza de vir me perguntar o que diabos significa tudo isso, pois eu não faço a menor idéia!)
Não queres me ajudar a agenciar o novo talento?
Pleeeease!!!
Acho que não precisa. Dado o caminho das pedras, sei que podes fazer melhor!
O que mais gostei foi o brilho da parede interna da figura, que deixa-se ver através dos dentes entreabertos. Parece prata, mas é falso e sem valor. A artista, assim, pretende criar um vislumbre das entranhas do próprio capitalismo. Entrevejo, no futuro da artista, boas possibilidades. Há lucidez e ferocidade.
Estou certa que esta obra é infinitamente mais criativa que muitas que estão expostas na Bienal.
Submetam à apreciação de Ariano Suassuna!
Percebo nas dobras e no acesso referência explícita aos trabalhos de Deleuze/Guatari, principalmente uma abordagem inconoclasta da subjetividade da natureza industrial.
Referência essencial em Petrucio Felker, que pode ser visto em http://rachelsnunes.blogspot.com/2011/09/tera-sido-so-uma-coincidencia.html e, é claro, em Nelson Leirner, também abordado no post retro citado.
Bienal
Zeca Baleiro
Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
calcado da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
“Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone”
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria
Na COLA da Bárbara…
ASSIM SEJA
by Ramiro Conceição
“A César o que é de César”
“A Deus o que é de Deus”
– disse a Lenda aos bípedes.
Portanto parece que dois direitos co-existem:
um, profano, é mortal; outro, sagrado, imortal;
no primeiro… uma falta é crime;
no segundo, o pecado se define;
no primeiro, vivo, se vai para o calabouço;
no segundo, ao céu do avesso, só…morto.
Ora, pra onde vão os pedófilos que, durante séculos,
fizeram do sacramento da confissão um instrumento
à perpetuação do poder maligno… no cio das eras?
Ora, o que fazer com a cruel iGREJA omissa
e com todos os dias de rezas… e de missas?
Ora, o que se fará com o livre-arbítrio:
nova ideologia maldita aos martírios?
E com o pecado para o qual não há perdão:
o esconderão sob entulhos… na podridão?
Ah… adoradores do minúsculo
do dia, sábios só do crepúsculo!
Diz a Lenda que aos porcos, sem beleza,
um abismo resta sempre… Assim seja!
Em tempos idos: “L’acqua nera del imperialismo”
Abraço.
A superfície exterior da peça, ainda que o corpo totalmente vazio e desfalecido, tem seu esmalte intacto. O frescor da maquiagem da vítima que antes foi manipulada por seu predador.