(É que falei tão bem de Huck Finn que me senti em falta com Mody Dick. Então, invoco Borges, que normalmente está disponível para equilibrar as coisas. Além da famosa citação abaixo, Borges também referiu-se a Moby Dick como “um caos não apenas perceptivelmente maligno aos gnósticos, como também irracional”).
Página a página, o relato se agiganta até superar o tamanho do cosmos: a princípio o leitor pode supor que seu tema é a vida miserável dos arpoadores de baleias; em seguida, que o tema é a loucura do capitão Ahab, ávido por acossar e destruir a Baleia Branca; depois, que a Baleia e Ahab e a perseguição que esgota os oceanos do planeta são símbolos e espelhos do Universo.
Pura verdade.
Eu sempre fico imaginando se alguma vez Hermann Melville deu uma entrevista, dizendo que o livro tinha a intenção de tecer toda essa tapeçaria psicológica. Eu li Moby Dick com uns 12 anos de idade. Minha interpretação da motivação de Ahab é simples: essa baleia fdp fuck me e agora eu vou atrás dela até fuck her. A baleia é só uma baleia, embora “tunada”, pois cachalotes são animais sem agressividade, para representar o herói (ou será o vilão?) da história. Já o personagem narrador, coitado, pegou o bonde andando. Quando viu qual era a bronca, já era tarde demais para desembarcar.
O problema foram teus 12 anos. A obstinação de Ahab é uma coisa sem fim, é uma frustração, uma insatisfação imensa que parece açambarcar tudo e todos. É um romance muito filosófico, com a vantagem de não ensaístico.
Milton, se um dia calhar de a gente compartilhar a mesma mesa de bar, eu vou te contar histórias de obstinação e insatisfação que resultaram em grandes tragédias. Com a vantagem de que eu as refiz de trás para a frente, então sou capaz de descrever todo o nexo causal. Eu entendo como um sujeito pode criar em torno de si um vórtice que leva a destruição, simbólica ou literal, dos que o cercam. O que eu questiono é se a intenção do autor era essa.
Melville é um gigante sim. Não se questiona isso.
Ah, e tinha Melville, um mestre absoluto, escrevendo.
não li os comentários, não sei se alguém falou isso, mas HEMINGWAY era fã de MOBY DICK, é uma referência de O VELHO E O MAR. dizem que O VELHO E O MAR é o MOBY DICK DOS POBRES. e há quem veja tal METÁFORA UNIVERSAL naquela pequena história.
“uma referência PARA”