Esse argumento vegetariano da morte e do sofrimento…

… nunca deu para levar muito a sério. Adoro plantas e sou capaz de achar que elas sofrem. Sou um carnívoro médio, contido; almoço todos os dias num reataurante vegetariano pero no mucho (serve peixe); mas como carne vermelha de vez quando, claro. O que não suporto são as elucubrações éticas e tal. Quando vejo minhas cachorras secas por uma carne, só posso pensar que é natural comer uma carninha. Vai ser complicado ensiná-las a comer corretamente. Vou dar rações de cereais para elas… Aqui em casa, ou tudo mundo é ético ou ninguém é!

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      1. Caro senhor, informe-se. A parcela mais expressiva da plantação de soja e outros grãos não vai para a mesa humana, mas para a ração de bovinos. A soja desmata para alimentar a pecuária. Até a FAO reconhece isso em seus relatórios: o desmatamento se dá para a manutenção da pecuária. Fosse a soja destinada apenas à alimentação humana, não seria necessário desmatar como se tem desmatado. Além disso, os veganos não SUBSTITUEM carne de cadáveres por soja: a soja é apenas um dos componentes proteicos da variada dieta vegana. E não é o mais importante. Mais importantes são feijão preto, feijão branco, grão de bico. Informem-se antes de afirmar inverdades.

    1. Eu te respondo. Deixa passar a vez por ter evoluído do assassinato de animais inocentes para o prazer, evoluído para outros pratos saborosos e sem sofrimento alheio. Os estupradores também se perguntam como podem certos homens deixar passar aquelas menininhas gostosas sem as atacar. Se tiverem dez aninhos,então!

        1. Fabiano, sinceramente falando, acredito que as comparações são estapafúrdias. Com analogias nós vamos podemos justificar qualquer imbecialidade que se cometa como condenar qualquer coisa sublime que alguém faça. Distorcer palavras e contextos não ajuda muito, como sua analogia a estupros.

  1. Agora sério: não acho que seja possível comparar o sofrimento de uma planta ao de um animal. Tua filha adora cavalos e duvido que ela comesse um. Acho que fica fácil ridicularizar o argumento de sofrimento animal porque não o vemos; para nós, a carne é aquilo que está no açougue. Estamos acostumados a olhar alguns animais como domésticos e outros como comida. Coreanos vêem cachorro como comida, e isso nos parece cruel. O gado é muito maior e está tudo bem. São todos animais, e eles não sofrem pouco com o abate. Eu amo meu cachorro e meu amor por ele me levou a amar todos os vira-latas; quem não come carne pelo sofrimento animal está estendendo esse argumento.

    Concordo contigo quando você diz que gostar de carne é instintivo. Acho maldade privar cachorros de carne, porque eles não o fariam se pudesse. Mas essa questão de instinto, me parece, é sempre usada de acordo com a conveniência do freguês: sexo? nós não temos instinto, não precisamos fazer só pra reprodução. Carne? É nosso instinto, devemos comer. Envelhecimento? Somos o único animal ciente dele, logo não temos que seguir instinto nenhum relativo a matar ou afastar os mais velhos. Fidelidade? Homens devem distribuir suas sementes, é o instinto do homem ser infiel. E por aí vai.

    1. Na verdade, caríssima Caminhante, sou meio indiferente a este debate. Eu vou conforme a onda ou a moda ou com o que dizem que é saudável. Minha irmã é endocrinologista, metida a saudável e come carne. Ela acha absurdo não comer carne. Por que eu não comeria?

      O que eu comia qdo criança — muita, mas muita gordura com toneladas de carne, etc. –, mudou muito. Porém, de modo algum abandonaria meus peixes; nem a carne, que consumo menos; nem os ovos.

      Se os peixes sofrem e se debatem desesperadamente quando morrem, se o broto de alfafa cresceria, simplesmente não está no meu horizonte, principalmente quando estou com fome. A posição não é razoável? Talvez não, mas também não acho razoável as formigas reconstruirem para oitava vez um formigueiro ou os japas construírem algo onde vai haver um terremoto.

      A gente não é razóvel, nem a natureza da qual fazemos parte.

      :¬)))

    2. É um argumento completamente furado e hipócrita.

      Quem não come carne come outros produtos provenientes da agricultura, horticultura e outras culturas, que se aproveitam de áreas desmatadas, levando a morte e sofrimento a centenas, milhares, milhões de animais silvestres (aqueles que ainda vivem nas florestas ou nos seus habitats naturais).

      Sem falar nos agrotóxicos, que se não fazem bem para nós humanos, imagine para pequenos animais, como pequenos roedores.

      Não existe alimento sem sofrimento animal. PONTO.

      1. Affe, fui lavar uma louça e vim aqui pronta pra dizer que não vejo nada de mal em comer carne, que não tenho simpatia por vegans radicais e lá vem isso. O Milton não deu paulada, eu não dei paulada, não vejo porque desta resposta. Mas tudo bem, vamos lá:

        Qualquer ocupação humana tira espaço de animais silvestres, seja para alimentação ou até mesmo apenas para ter alguém vivendo lá. Então é um argumento tão universal que serve pra se colocar contra de hidrelétricas à fabricação de tecido. Sobre o dano ambiental, tenho dificuldade em dizer certinho, mas é sabido que o dano da criação de gado é infinitamente maior do que da agricultura. É verdade, a monocultura devasta e retira o espaço de animais silvestres. Por outro lado, a pecuária suja lençois freáticos, ocupa uma área que produz muito menos comida do que a mesma área correspondente de cultivo e cria resíduos muito maiores (onde está o Charlles quando se precisa dele??). Os países desenvolvidos não querem lidar com esses danos ambientais – muito mais fácil dizer que os subdesenvolvidos aqui que produzam a carne deles.

        Não acho que as pessoas precisam ser coerentes e muito menos estou pregando que todo mundo deva ser vegan (nem eu sou). Mas dizer que é hipócrita e inválido também não é o caso.

        1. Ôpa, aqui estou.

          Sou carnívoro, mas desde há muito me limito a comer aves e peixes. Carne vermelha, igual a de vaca, carneiro e porco (embora esse, alguns considerem, numa tentativa de engodo mercadológico, a “outra carne branca”), como cada vez menos. A de porco, em definitivo, NÃO COMO. Como já disse exaustivas vezes, trabalho como veterinário em um matadouro e a visão do sofrimento dos animais e do sangue, e das infinitas coisas relacionadas das quais o consumidor padrão está saudavelmente isento de ver, me fez ficar com nojo da carne. Adorava um churrasco, aliás, era minha comida preferida. Mas já não tenho estômago para suportar. Não que a tenho excluído em definitivo: há duas semanas tentei enfrentar um suculento e grosso bife de filé na grelha, mas desisti pela metade. Trocando em miúdos, e crente que posso ser alvo de críticas por exagero, a carne espuma na minha boca como se fosse carne humana. E olha que o matadouro no qual trabalho adota todos os procedimentos necessários para um abate asséptico e … (risos nervosos) “humanista”.

          Penso que o abate kosher seja um grande avanço na compreensão do quanto é primitivo e violento matar animais em usinas de morte em série.

          Mas é um assunto complicado. Revela incomodamente a verdade de que estamos na cadeia alimentar, e somos predadores. E a carne, está provado, foi um importante fator para nossa evolução biológica. Meus filhos comem carne vermelha. A proteína da carne é insubstituível. Os vegetarianos gastam uma nota e vários artifícios para substituir à altura tal proteína.

          Sei que nossa visão quanto à vida animal tem que mudar. O fato de nas feiras livres as galinhas serem amarradas pelas patas e transportadas como se fossem vegetais imunes à dor, diz muito sobre nossos problemas sociais e nossa violência inerente. Coetzee e Adorno batem nessa tecla, de forma excepcional. Não é por consumirmos carcaças que devemos tratar os animais como mercadoria que, por um levíssimo acaso do aborrecimento, ainda não foi abatido.

          Convidaria o Milton a vir aqui participar de um mês de acompanhamento no abate. Por mais que ele tenha esse comportamento marcosnunesco de “não estar nem aí”, após a visão de tanto sofrimento, de tanta condução mecanizada de um ser vivo à morte, nos faz pensar.

  2. O que eu vejo de pior nos jornalistas em geral, e da RBS muito em particular, mais ainda em jornalecos como Zero Hora, são os jornalistas dando pitacos em economia, política, ecologia, engenharia, tudo o que lhes dá na ideia comentar. E aí é o terreno do vale-tudo. “Afinal é minha opinião”. Ok, diferencie-se opinião de dados. Neste caso, teu texto não se enquadra, pois dá claramente a sensação de ser uma opinião. Como doxa, se percebe que não tem a pretensão de ser fundamentada. E não é. Desconhece o conceito de senciência, vai por uma linha, que nós, veganos, conhecemos de longa data e chamamos de “as perguntas de sempre”. Vcs não tem pena da alface? E a cadeia alimentar? E as minhas proteínas? e bla bla bla. Não temos por que ficar respondendo um a um desses argumentos tanto porque disseste não ser tua intenção se aprofundar neste debate, mas também por que estas respostas já foram dadas há décadas por filósofos, dentre os quais os mais respeitados como Peter Singer (mal compreendido e não menos fundamental no cenário filosófico), por escritores (Coetzee, para ficar no mais nobelizado). Agora a falácia da incoerência é dura até dos teus cães roerem. Se queres ser coerente e viver arraigado aos instintos, alguém aí em cima já respondeu. Põe o cachorro a sentar contigo na mesa, faz tua castração ou tenta transar com toda mulher que passar na tua frente e esteja no cio. Afinal, na tua casa, ou todo mundo é ético ou não é.
    Sugestão: o médico, doutor com doutorado na Alemanha, Alberto Gonzalez, autor do livro Lugar de Médico é na Cozinha, tem bons argumentos científicos para a dieta vegana e é uma sugestão para sua irmã. Ele demonstra como esta dieta é saudável para humanos, sem deixar de ter no horizonte o nosso dever moral para com os animais.

  3. Claro que toda a alimentação humana provoca efeitos sobre os animais. A questão não é e nunca foi essa. O que os vegetarianos questionam (e não sou vegetariano, aliás) me parece estar mais no sofrimento que pode ser evitado ou do qual a nossa sociedade, no estágio em que se encontra, poderia abrir mão. É necessário criar animais em espaços exíguos, enchê-los de hormônios para que cresçam mais rápido, submetê-los muitas vezes a tratamento degradante e brutal? Estamos fazendo o que realmente é inevitável, ou estamos tolerando sofrimento desnecessário em nome de comodismo ou raciocínio cínico? É uma questão que se aplica nos mais diferentes aspectos de nossa sociedade, e que acho muito pertinente no caso do consumo de carne, sim senhor.

    Pessoalmente, detestei a imagem, porque senti que ela insultava minha inteligência. Para mim (que repito, não sou vegetariano e muito menos vegano), ela faz uma comparação rasteira, simplória e que beira a estupidez. OK, ela é uma resposta irônica a um argumento muitas vezes levado às raias da histeria por vegetarianos de menor noção, mas mesmo assim é uma resposta pobre demais. Comparar o sofrimento de uma alface com a de um boi ou galinha é algo típico de quem acha que a Terra está aqui para nosso usufruto, que as coisas (e os seres vivos) só têm valor na medida em que nos são úteis. Acho isso deplorável, e por isso acho a montagem deplorável também.

    1. Bom, sou vegetariano há um bom tempo e fico feliz com a lucidez de alguns comentários, como o acima, por exemplo. Já fui militante e tudo o mais, e tenho que dizer que hoje em dia estou um pouco cansado desse debate. Mas o Igor tocou no ponto nevrálgico: a possibilidade, dado o nosso desenvolvimento social, tecnológico, de evitar sofrimento animal. É incrível o cinismo de considerarmos os animais tão similares a nós a ponto de fazermos testes de drogas neles, que tanto já serviram para curar doenças em humanos, e sentirmos empatia e até amor por eles, e , ao mesmo tempo, lhes negarmos, com um veemente “ah, é instinto” ou coisas do gênero, um tratamento “mais humano” ou menos coisificante. Sob qualquer ótica a diminuição da matança animal é um ganho em termos de civilização.

  4. Milton tá numas bem estranhas. Outro dia, encrencou com a luta dos negros. Agora encrenca com o argumento vegetariano (não sou vegetariano, mas está mais do que provado que a criação de rebanhos atualmente é uma catástrofe planetária). Me pergunto o que será a próxima. Direita, volver!

  5. Não sou vegetariano, mas tento ser intelectualmente honesto. Alguns dos argumentos apresentados aqui contra o vegetarianismo ou contra o debate em si são pueris. E todos serviriam também para sustentar a escravidão negra pelos brancos no século XIX, por exemplo. Outra postura pueril – muito comum aos vegetarianos – é dizer que não se debate tal ou qual argumento porque ele “já foi respondido”, ou seja, a resposta que eu aceito tem que ser aceita por todos.

    1. Só mais uma coisa, Caminhante, sobre “o que esperar dos gaúchos”: um amigo inglês, vegetariano há muito tempo, morou uns anos em Porto Alegre, depois de ter morado em vários lugares do mundo, de vários tipos, e sempre repete que nunca teve tanta facilidade de ser vegetariano e comer bem como em Porto Alegre. Não sei as razões nem o significado disso, é só a visão de uma pessoa. Vai ver que é o efeito ação-reação. Aqui temos um dos maiores níveis de consumo de carne e de livros do país. Sigo comendo carne, mas é um bom debate.

      1. Rocco, você viu o link que eu coloquei? Era uma música que eu acho super engraçada e disse aquilo brincando. Tanto que depois fiz outro comentário, falando sério.

        Jura que há facilidade em ser vegetariano em POA? Já estava ficando preocupada com minha futura curta estadia, obrigada pela informação.

  6. Eu tenho respeito pelas pessoas que decidem ser vegetarianas ou veganas, evito as piadas (essa da alface é boa!), mas o argumento da dieta ética, que coloca homens e outros animais dentro da mesma comunidade moral, despreza não só o aumento da minha salivação quando sinto cheiro de carne assando, mas também a minha inteligência.

    1. É mais ou menos como pensavam os escravistas do século XIX sobre os negros. Sentiam-se moralmente superiores a eles, o que lhes dava direito de escravizá-los (claro que muito do discurso que constroi ‘comunidades morais’ superiores a outras tem por trás uma agenda, e os escravistas queriam mão-de-obra para suas fazendas).
      Repito: como carne, mas não engulo simplificações.

        1. Mas a própria ideia de comunidade ‘moral’ é construída, e por filósofos humanos, e não tem que ser a base que define o que se come e o que não. A não ser que realmente achemos que deus nos criou para ser o centro do universo, não temos por que considerá-la natural, dada e indiscutível. Inclusive há quem a corte em ‘seres sencientes’, e não em ‘humanos’.
          Os citados escravistas também achavam que integravam uma ‘mesma comunidade’, da qual excluíam vacas, chimpanzés, alfaces, negros e índios, mesmo que estes dois últimos grupos também fossem humanos. Muitos israelenses se consideram membros de uma comunidade onde não entram humanos palestinos nem gentios em geral, pois deus não escolheu a estes.

  7. O FUTURO É COM AS MINHOCAS
    by Ramiro Conceição

    Como se sabe, as minhocas se distribuem em solos úmidos por todo o planeta. Uma minhoca em média pesa 30g, ou 0,03kg. Aqui não se está a considerar o minhocuçu (que pode chegar a dois metros de comprimento), mas as minhocas médias.
    Após 20 meses, sem predadores, um m3 de terra gera aproximadamente 200kg de minhocas; logo, um m3 pode ser habitado por 350minhocas/mês. Dessa maneira, cada metro quadrado, considerando-se o substrato com profundidade de 1m, possui uma concentração superficial de, aproximadamente, 350minhocas/m2.mês
    Este cálculo aproximado está a levar em consideração apenas uma geração de minhocas. Fontes fidedignas afirmam que cada minhoca vive em média 3 anos e, em condições ideais, isto é, sem predadores, pode gerar em média 250 descendentes por mês. A massa proteica duma minhoca média é em torno de 75% de seu peso. Em poucas palavras: cada geração de minhocas tem o potencial de dar existência a 87000 indivíduos/m2.mês, quer dizer, aproximadamente, 2600kg/m2.mês de proteína anelídea.
    Com 2,5 anos, um boi médio para o abate deve possuir 450kg, então, estamos a falar numa produção em torno de 6bois/m2.mês ou 180bois/m2 para o abate, após 2,5 anos.
    Mas por que tal argumentação detalhada sobre minhocas?
    1) A farinha de minhoca acelera o crescimento, desenvolve a musculatura, aumenta o peso, cobre deficiências de proteínas e aminoácidos, e aumenta ainda o desempenho sexual.

    2) Embora elas possuam um sistema circulatório fechado completo, com uma complexa rede de capilares para a troca de gases com o ambiente, e para a circulação de sangue – as minhocas felizmente, AO SEREM FEITAS EM PICADINHOS, não gritam, apenas pulam de infelicidade. Desta maneira, o seu abate não traria nenhuma crise de consciência para um vegetariano que, porventura, passasse a apreciar tal nova fonte proteica, que pode seguramente, por exemplo, substituir a soja.

    3) Uma minhoca produz diariamente uma quantidade de matéria orgânica equivalente ao seu próprio peso, portanto, o húmus poderia ser destinado às próprias minhocas e/ou, para alegria dos vegetarianos, ao cultivo de qualquer vegetal destinado ao consumo.

    4) A criação de gado (bovino, caprino, asinino, ovino etc.) seria eliminada do planeta e substituída pela minhocacultura

    5) Em duas ou três gerações, a criatividade humana aproveitaria tudo das minhocas e, dessa maneira, as minhocas paulatinamente adquiririam o papel das vacas – e as mulheres das minhocas, na boca dos machos politicamente corretos.

  8. A moral é uma exclusividade humana justamente por isso, Rocco. E eu não também reputo a dieta de ninguém como antiética, acho que isso é coisa de vegano maluco.

  9. Certo, Fábio, então é só definirmos nossa comunidade e podemos comer, escravizar e usar outros seres a nosso bel prazer, independente do sofrimento. Qual é a diferença desse expediente e da atribuição ou não de alma que a igreja usava para justificar a escravidão? Se podes julgar a atitude de alguém, por que não a dieta? Se não, de que serviria pertencer a uma comunidade moral? Aceitarias o canibalismo? Se não, não é verdade que “não reputas a dieta de alguém como antiética.” Se aceitas, então podemos testar novos medicamentos – anestesias, por exemplo – em seres humanos? Podemos comer índios sem alma nem comunidade moral ao molho de minhocas hiperproteicas.
    Um abraço e obrigado pelo bom debate

    1. Rocco,

      Até onde eu sei, o canibalismo nunca foi para fins de alimentação propriamente dita, mas ritual. Ao derrotar um adversário poderoso, acreditava-se que comer sua carne transferiria para o “alimentado” seus talentos. Talvez comessem seus próprios pares (da mesma tribo ou clã) por razão semelhante. Logo, não reputo esse dieta como antiética, porque eu posso/devo compreender a circunstância cultural que a cerca.

      Comer outro ser humano só para fim de alimentação? Eu não poderia tolerar. Porque implica a vida de outro ser humano.

      Eu não julgo indiano que não come carne de vaca, tampouco judeu que não come carne de porco. Eu os respeito. Por razão cultural, eu até admito a hipótese de que parte deles irá me julgar, mas repilo tal julgamento, porque, na verdade, é um desrespeito comigo, está atravessando a fronteira do fanatismo e ignorando minhas circunstâncias culturais. Eu não julgo quem come cachorro, aliás.

      Tenho pé na roça. Lá no sítio, de pecuária leiteira, nunca tivemos trator, equipamento que às vezes alugamos. Arroz e milho? Terra preparada no arado de boi. Inúmeras pequenas culturas (de subsistência) tiveram terra estercada a partir da carroça puxada pelo burro. Cavalo era e é meio de transporte. A tração animal é importante, mas o pessoal vegano, quase sempre classe média urbana, talvez pense no trator como panaceia tecnológica substituta (o que tem impacto péssimo para o meio ambiente, mas é ético na visão deles).

      Uma das vacas lá do sítio morreu no parto. Eu alimentei a bezerra, Caputira, no balde. Eu adorava a Caputira, ela se transformou numa vaca cheia de dengo e de charme. Mas aconteceu de ela cair num barranco. Precisou ser sacrificada. Eu comi a Caputira.

      Eu não posso negociar com uma vaca o leite dela. Porque ela nunca irá me responder “não”. Nem “sim”. E tem gente que reclama ser porta-voz ou defensor da vaca supostamente escravizada.

      Não podemos testar anestesias em seres humanos sem antes cumprir outros protocolos, o que inclui testes em animais. Ratos foram esfolados para que tenhamos sabonetes especiais, filtro solar, hidratante e maquiagem. Existe maquiagem específica para quem tem vitiligo, há seres humanos que sofrem disso. Sombra verde-glitter garante a sobrevivência da drag queen, que compõe a diversidade humana.

      Acho que todos vamos vacinar nossos filhos. Ninguém deseja, mas eu não acredito que recusaríamos antibióticos para nós mesmos ou para nossos filhos. A realidade é bastante complexa, Rocco. E eu acho que quem por vezes simplifica a coisa são veganos dispostos a me julgar.

      1. Fabio
        Acho que o pessoal precisa é conhecer mais e conviver mais, mesmo. O canibalismo não foi só para fins rituais, teve muito de alimentação, inclusive até bem perto de nós no Rio Grande do Su, lamento te informar. E se fosse só ritual seria necessariamente ético? Então posso caçar crianças e fazer rituais, se a cultura e a religião assim indicarem? Se não aceitas que se coma outro ser humano só para fim de alimentação, então está estabelecido: reputas, sim, a dieta de outros como antética, ou seja, julgas.
        Depois, essa questão de julgo/respeito tem um certo tabu, todo mundo julga o tempo todo. Eu como carne e tenho muitos amigos veganos, eles me julgam, no sentido de ter uma opinião sobre minhas atitudes, como fazemos com tudo e com todos desde que nos levantamos até ir dormir (e também dormindo), mas sempre me respeitaram. Claro que tem louco pra tudo, mas aí serve pra vegano, carnívoro, gremista e corintiano.
        Acho que um dos problemas está nessas frases “o pessoal vegano (ou qualquer outro pessoal)… talvez pense…”, “ético na visão deles”, etc. acho que tá na hora de abandonar os estereótipos desinformados – base do preconceito – e se abrir. Quem talvez pense o que? Eles quem?
        “Não podemos testar anestesias em seres humanos sem antes cumprir outros protocolos, o que inclui testes em animais.” Quem disse todos esse estes “não podemos”, temos que, etc? Quem elaborou esses protocolos, foram dados a Moisés? Ou que, definiu que todos os produtos que listaste são realmente necessários? Ah, claro, a tua (e minha) comunidade moral. Os norte-americanos e europeus testaram muita coisa em gente e continuam a fazê-lo, e têm justificações morais para isso, explícitas ou não.
        A única coisa em que concordamos – além de ambos consumirmos animais – é que a realidade é bastante complexa. E em que há veganos dispostos a te julgar que simplificam as coisas, mas certamente os carnívoros simplistas e que julgam sem conhecer são mais numerosos.
        Reafirmo: todos os argumentos até agora serviriam na boca de senhores do século XIX para justificar a escravidão negra.

        1. Rocco,

          O argumento em defesa da vida condena preservativo, DIU, anticoncepcional, proíbe aborto (inclusive de feto anencéfalo), atrasou em décadas a lei do divórcio, reage a direitos sociais para homossexuais. Mas não forço a barra.

        2. E sobre protocolos: foram criados pelas pessoas que realizam pesquisa. Para fazer teste em humano, há razoável consenso (talvez unanimidade) sobre a necessidade/segurança de se testar antes em outros animais. O crédito pelas vacinas e antibiótico que temos, bem ou mal, é dessas pessoas.

          Eu não pesquiso medicamentos. Mas o pessoal que nunca pesquisou às vezes se acha no direito de ditar regras: libertem todas as cobaias. Os loucos criminosos atacam pesquisadores que supostamente escravizam animais e esfolam ratos. Fundamentalismo natureba.

  10. Nenhum vegano é moralmente superior a outras pessoas não veganas. Mas num ponto ele é sim moralmente superior: não escraviza as outras espécies. Não pactua com o uso, a dor e o sofrimento de espécies que obviamente sofrem. No mais, um vegano pode ser tão crápula quanto qualquer pessoa.

  11. Uma simples pergunta: Algum vegano pode me responder qual a diferença entre especismo e antropocentrismo? Eu nunca consegui perceber a diferença entre o primeiro, que é um dos argumentos favoritos dos veganos numa tentativa de comparar com as causas das minorias, e do termo científico utilizado para colocar o ser humano como centro.

    Do mais, minha opinião é semelhante a do velho Karl: Veganismo é socialismo utópico pequeno burguês.

  12. Pra finalizer, Rocco:

    “O pessoal vegano talvez pense no trator como panaceia tecnológica substituta”, eu escrevi. Não sei que outras alternativas eles aventam.

    Daí você diz que “eles quem?”, como se fosse necessário fulanizar, ou como se a frase não tivesse sujeito. Os veganos são 100% contrários ao uso de tração animal, porque escraviza os bichos.

    Agora, fui também.

  13. Rocco não está se referindo à preservação da vida, mas à preservação da vida de seres sencientes. Portanto, senhores, nenhum vegano se opõe ao aborto, desde que, claro, não seja usado como método contraceptivo. E, quanto menos humanos no mundo, melhor para o mundo e melhor para os seres humanos que já estão aí.

    Se, por um passe de mágica, os insetos desaparecessem do planeta, o planeta entrava em colapso, pois os insetos são fundamentais na decomposição de matéria orgânica, na polinização e em um sem número de funções.

    Se, por mágica ou bomba H, os humanos desaparecessem, sabem o que aconteceria com o planeta? Ele teria chance de se recompor. Quem vale mais,da perspectiva do planeta?

    A vida de um inseto tem mais função no planeta do que a de um homem, por mais que cada homem se ache o centro do universo, na melhor tradição cristã medieval. Ego humano, desinfle.

  14. A ignorância não tem limites, seu cachorro gosta de carne porque ele é carnívoro, a formação do corpo humano é de um animal herbívoro, a digestão da carne consome todo o cálcio ingerido por nós, sou vegetariano com orgulho. Einstein, Van Gogh, Buda e Da Vinci entre vários outros também eram, de repente eles também não são tão inteligentes na sua opinião…

  15. em primeiro lugar é uma tolice achar que vegetarianos só comem soja…Sou uma chef Cordon Vert (vegetariana) e nada do que produzo utiliza soja, os orientais fazem na verdade pouco uso da soja no dia a dia e quando sim, a maior parte vem fermentada para que seja possível digerir tanta celulose… Acho também uma tolice se criar uma polêmica ideológica sobre escolhas alimentares,tanto por parte dos carnivoros quanto vegetrianos, “live and let live” e para finalizar sopa de pedras faz parte da literatura gastronômica portuguesa e não da gastronomia vegetariana, no mais atire a primeira pedra…francamente…

  16. “A gente não é razoável, nem a natureza da qual fazemos parte”. Aí está a chave da.

    O terremoto acontece e arrebenta tudo, detona toda uma região. Fenômeno natural, tudo dentro do script. Mas, de forma alguma, é razoável, convenhamos.

    O leão, o tigre, o leopardo está com fome, vai à caça da presa, a mata, sem piedade, e a devora. Nada de anormal. É a natureza. Mas que é razoável (ao menos para a presa), lá isso não é, não.

    Já o ser humano, se policia, cria a si regras de uso na alimentação, numa baita mortificação de seus desejos, buscando ser razoável.

    E chego à conclusão de que, nesse caso, o maior problema do humano é ser razoável, ser racional. Melhor seria se, nessas horas, da fome, tivéssemos só instinto, …. como o leão, o tigre, o leopardo…. ou a fúria da natureza.

  17. Porquê tornar-se Vegano(a)

    Existem inúmeras razões para deixar de consumir produtos animais e derivados.

    Aqui fica uma lista de motivos porque devemos ser veganos.

    01. Ética
    O motivo que muitos argumentam, mas que preferem continuar a consumir carne/produtos derivados, porque sabem bem.
    Muita gente opta por continuar a pensar que os animais criados para consumo humano, são tratados com dignidade e no fim da sua curta vida são mortos sem dor. Não é verdade. Os animais são confinados em uma vida de sofrimento e a sua morte muitas vezes é acompanhada de tortura. Mesmo os produtos de animais criados ao ar livre, estão repletos de abuso e dor por parte de seus criadores.

    02. Ajudar os outros e contribuir para o planeta
    70% dos cereais plantados são usados para alimentar os animais de criação intensiva, o que poderia ajudar a alimentar grande parte das populações que morrem à fome. Na pecuária industrial, para produzir 1 quilo de carne são necessários 15 mil litros de água, enquanto que para produzir 1 quilo de cereais basta 1,3 mil litros de água (FAO – Food and Agriculture Organization)
    Num hectare de terra podem ser plantadas 22,500 kg de batata, enquanto que na mesma área apenas se produz 185 quilos de carne bovina(FAO)

    04. Saúde
    A dieta vegetariana é muito saudável. Cortar o consumo de animais reduz o risco de ter o colesterol alto, previne vários cânceres, aumenta a energia e ajuda a controlar o peso.

    05. Os peixes também são sencientes
    Ao contrário do senso comum os peixes também sentem dor e prazer. A pesca intensiva ameaça a população aquática e cerca de de 40 milhões de toneladas de animais mortos são devolvidos ao mar anualmente pelos pescadores. Por cada tonelada de camarão são mortos 15 toneladas de peixe que é jogado fora pelos pescadores. Os peixes de aquacultura são intoxicados por antibióticos e vivem em águas imundas, sem espaço para nadar. A pesca também causa a morte a outros animais como as aves que ficam presas nas redes de pesca ou comem os anzóis.

    06. Morte e Sofrimento
    Para consumir carne, é preciso matar. Matar é um ato de violência. Normalmente quem trabalha nos matadouros são pessoas incultas e exploradas. Os animais estão muito fragilizados, sentem medo e dor, os matadouros não garantem que os animais sejam mortos sem dor. Há inúmeros relatos de animais que chegam à linha de desmanche acordados, sem que o atordoamento os tenha adormecido, galinhas vivas que são submersas em água fervente, pintinhos são debicados e triturados vivos, o vitelo ou filhote de boi é mantido enclausurado e anêmico para virar um baby-beef, chinchilas e coelhos têm sua pele retirada enquanto vivos e acordados, porcos e filhotes são estripados vivos, filhotes de foca morrem com seus crânios afundados por martelo por causa do valor de sua pele, entre tantos outros animais como pássaros, peixes, camelos, etc…

    07. Paladar
    Será que a carne que carrega tanta dor e sofrimento tem mesmo este sabor gostoso?
    Todo o stress que o animal sofre acaba sendo consumido pelo ser humano, e este, pelo seu desejo.

    08. Risco de Câncer
    Quem segue uma dieta vegana tem 40% menos de probabilidade de contrair câncer que um carnivoro (ou carniceiro) que tem 88% de chance de contrair câncer do cólon, entre outros tipos de cânceres.

    09. Imunidade e Saúde
    Os veganos têm imunidade maior e são menos atingidos por doenças oportunistas.

    10. Pelos animais não humanos
    Os animais são vítimas fáceis e não podem se defender. Se queimarmos um animal, ele sente dor.
    Os animais sentem dor com a mesma intensidade que os humanos. Eles também sentem medo e choram.
    Os seus pêlos ficam hirtos, urinam e tremem tal como nós fazemos quando nos assustamos perante a morte e/ou a iminência de sermos feridos ou assassinados.

    11. Os animais valorizam a vida
    Não há nenhum animal que queira morrer, eles sentem e gostam de viver. Os animais de criação intensiva sofrem imenso com o stress do confinamento. Os animais querem ser livres e não sofrer os abusos de que são vitima.

    12. Os testes em animais não são necessários
    A prática de vivissecção não é necessária, hoje em dia existem imensos métodos computacionais que oferecem melhores resultados do que experimentação com animais vivos. Para testar os produtos para um creme de beleza, não é necessário torturar e matar animais.

    13. E os vegetarianos?
    Os vegetarianos (ovo-vegetariano, lato-vegetariano, ovo-lacto-vegetariano,…) fazem parte do grupo dos onívoros, mas de um modo mais silencioso. Eles contribuem para a morte dos vitelos (as vacas não são fábricas de leite, para a lactação uma vaca precisa de engravidar), consomem produtos de animais que vão acabar na linha da morte, como afirma o Prof. Gary Francione “existe mais sofrimento num copo de leito do que num bife”

    14. Os veganos não odeiam animais
    Os veganos não odeiam os animais, os veganos não aceitam a exploração animal e acreditam num mundo pacífico onde os humanos e os animais coabitem pacificamente em um mundo sem qualquer tipo de exploração.

    15. Porque sabemos que a exploração animal é errada e não é necessária!

  18. Desmatamento só mata animais, quando os irresponsáveis que fazem o desmatamento não fazem reflorestamento, como tem gente burra nesse mundo, e sem informação, vai pesquisar sobre as coisas pra depois vim falar mau dos vegetarianos, se você não tem amor no seu coração é problema seu, cada um faz o que bem entende da sua vida.

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