Eu não me acho nada legal. Sou irônico, muitas vezes debochado e faço piadas fora de hora — normalmente de forma voluntária, só para ver o resultado. Também sou opiniático, crítico a um nível bastante chato e, de forma quase inevitável, reviro os olhos abertamente quando julgo ouvir absurdos. Também nunca tive o mel da beleza e já perdi o da juventude. Mas, por alguma razão que desconheço, sou um agregador. Tenho grande facilidade para arranjar amigos e agora vai o diferencial mais importante: meus amigos são os melhores. Não posso mudar a verdade, são os melhores. Tanto que eles invadem as vidas de quem se relaciona comigo, tanto que os apresento uns aos outros e todos se encantam. E são, contrariamente a mim, pessoas qualificadas e reconhecidas em suas áreas. Eles me usam como vetor de elogios que muitas vezes não são repassados, pois sou esquecido e indigno deles. Hoje NÃO tive comprovações disso — afinal, não apresentei ninguém a ninguém — , mas nesta manhã rolou uma estranha vontade nas pessoas de saberem como eu estava. Dentro de um período de relativo isolamento e tristeza, de um período em que este blog está uma bosta, recebi telefonemas e e-mails. E eu, muito ensaboado, pouco falei, quase não deixando minhas escamas no carinho dos amigos, apesar de louco para deixá-las. Peço desculpas.
Depois desta manhã original, tivemos o almoço do um milhão de acessos mensais do Sul21. Sim, um novo almoço, porque desta vez é para sempre, já estamos batendo lá no 1,2 milhão. (Meus sete leitores participam disto garantindo quase 3000 acessos diários aqui neste blog — não sei MESMO o que tanto leem em mim).
Então, vou misturar os dois fatos agradecendo a todos. E vou usar como exemplo alguém que mal falou comigo hoje, mas que é quem divide a editoria do site comigo: Igor Natusch. Ele figura entre meus amigos, claro. Somos ambos editores — ele muito melhor do que eu — e nunca, jamais tivemos uma discussão ríspida. Não somos íntimos, apenas trabalhamos juntos, mas nunca brigamos, o que não quer dizer que sempre concordemos. É difícil existir alguém mais polido do que ele, uma pessoa bem diferente de mim, que sou muito mais deselegante e grosseiro. E vi que o Igor era assim logo quando o entrevistei para o Sul21. Briguei para que ele fosse contratado. Deu certo. Voltando ao primeiro tema deste texto, acho que tenho a qualidade feminina (ui!) de avaliar corretamente pessoas em segundos. Ignoro onde aprendi isso e, assim como alguém me convence rapidamente, posso sentir asco e me afastar correndo. O resultado é conhecido: tenho o melhor grupo de amigos do mundo ocidental. E ponto.
Não sei direito como responder a esse tipo de coisa. Mas me sinto privilegiado com o momento da minha vida e com a chance de conviver com pessoas extraordinárias – em especial no Sul21, onde está a melhor equipe jornalística e vários dos melhores seres humanos do universo, conta na qual tu inquestionavelmente te inclui. E devo a ti a chance de ter entrado nesse ambiente sem igual.
És um grande cara, Milton Ribeiro. Se tens tantos e tão valiosos amigos, certamente não é por acaso.
Obrigado. De coração ^^
Cada um tem os amigos que merece, Milton. Dá pra fazer tranquilamente uma média das qualidades deles e saber que você as tem.
“O que é que há?
O que é que tá
Se passando
Com essa cabeça?
O que é que há?
O que é que tá
Me faltando prá que
Eu te conheça melhor?
Prá que eu te receba
Sem choque
Prá que eu te perceba
No toque das mãos
O teu coração…”
Isso é crise de idade, Milton. Muito mais recorrente que parece. Tive uma braba aos 30 anos, me apaixonei por uma garçonete de 17 anos que trabalhava no restaurante onde almoçava todos os dias, e foi uma sucessão de vexames. Hoje mesmo me senti ancianamente obsoleto olhando as telhas do muro aqui de casa, pela janela da biblioteca, e coisas como a certeza da gratuidade da vida quase me pegaram de cheio.
Tenho três amigos de ótimo caráter e bom papo que encontro com menor esporadicidade do que queria (queria que nos víssemos mais). Não agrego ninguém mas sempre sou agregado. Gostaram de mim muito mais que me fiz merecedor de ser gostado, e apesar de sempre trabalhar contra e me afastar. Fui salvo da depressão determinante várias vezes por amigos sinceros, que na época não me pareciam mais que estranhos suspeitos. E eu reconheço que tenho tudo de deletério para ser um cara legal, sendo a única qualidade que defendo as pessoas de que gosto mesmo que elas sejam o próprio diabo. A maioria de meus grandes amigos da juventude, reencontrados anos depois do fim da faculdade, revelaram a verdade chocante de que se transformaram em zumbies.
Três amigos não servem para segurar as alças completas de um caixão. Por isso penso com simpatia na cremação, desde que não se invente peregrinações exigentes para aspersão das cinzas em mares distantes ou montanhas inacessíveis. Talvez um velho cantão em Minas, que a própria viúva possa fazer sem alarde. Ficamos velhos e vem sempre as crises de idade, a necessidade de suporta. Essa, hoje em dia, tem sido a mais forte de minhas filosofias. Há três meses minha esposa enfiava a ponta de uma bisnaga de pomada retal em meu anus, para o tratamento de uma fístula, e eu me certifiquei dessas desalentadoras, mas em última escala alegras verdades da vida.
Errata (à maneira de Ramiro Conceição): a necessidade de suporte, e não de “suporta”.
O site continua bom, mas o visual anterior era BEM MELHOR do que o atual.
Por que houve a mudança? Parece que o Sul 21 “voltou” a uma versão anterior…
Milton, você é o cara!
Só para complementar: o Sul 21 vai indo bem. Umas ressalvas: o visual da página continua com muitas deficiências (antes achava que eram vírus de meu computador_ tirando os artigos do Dirceu, que na verdade são encostos e não vírus_, mas formatei-o-o e o problema continua), os blogs não aparecem na página principal, assim como não aparecem as colunas. Trabalhem nisso com mais atenção. Na minha modesta opinião de frequentador assíduo do site, o destaque para colunistas como o sensacional Ernani Ssó deveria ser dado com mais enfoque, aparecendo de maneira agressiva para o leitor, para que se possa ver o quanto o cara é bom. Coisas assim desestimulam os escritores do jornal. Percebo que, antes, o Ernani tinha maior gás. Valorizem-no. No mais, esse é o único problema de maior monta: o layout da página principal, que obscurece a cereja do bolo.
Vou dormir. Antes, me deparo com a “homenagem” do Google aos 130 anos do aniversário de Franz Kafka, bem ao estilo de mega-empresas da internet que não ligam a mínima para a leitura. Gregor Samsa apresentado como uma alegre barata que adentra pela porta, com pasta executiva, é o supra-sumo atestado de quem nunca leu Kafka. Uma das obras-primas do pensamento moderno transformada pelos eternos adolescentes do Vale do Silício em um clichê vazio e equivocado. Mas tudo tende ao “bonitinho”, e viva o conceito de boutique.
Grande abraço, meus cumprimentos pelo valioso trabalho ‘a frente do SUL21 e minha admiração pelos excelentes artigos e pela AGENDA CULTURAL, os quais reproduzo sem qualquer cerimônia para gáudio dos leitores dos meus DROPS e TORRES REVISTA DIGITAL..re
” Vai, teu caminho é de paz-
A tua vida é uma linda canção de amor
Abre teus braços e canta a ultima esperança
A esperança divina de amar em paz…
Ahhh!!!!! Se todos fossem no mundo iguais a Você…!!!!!”
Discordo, Milton, da qualidade feminina alardeada. Se as mulheres tivessem esse olho rápido, não viviam casando com uns desgraçados de uns filho da mãe. De qualquer forma, a facilidade com que você se dá com tanta gente legal é realmente invejável. Eu então, velho ranzinza, fico roxo.
PS: quando estiver alegrinho de novo, avisa, pra eu te devolver O mestre e Margarida.
E?
É que você tem todos esses defeitos enumerados, e ainda o de ser um colorado tão chato que, por vezes, é demais até mesmo para mim, que sou outro colorado murrinha.
Então, para ter tantos amigos legais apesar de tudo isso, imagina só as tuas qualidades!
“e, de forma quase inevitável, reviro os olhos abertamente quando julgo ouvir absurdos.”
Tentei imaginar a cena e rir muito aqui. hahaha
Embora tenha acontecido aqui um mal-entendido – nos últimos dias de dezembro de 2012, associado a um comentário que fiz em um PHES dedicado a uma ninfeta ateia – para mim a coisa já foi superada. Fiquei imune ao acontecido? Claro que não… Mas o sentimento maior foi a minha, a nossa, incapacidade, às vezes, de se comunicar num meio em que essencialmente as palavras são protagonistas e, consequentemente, a probabilidade de imprecisões – escritas e/ou interpretadas – aumenta. Uma coisa é escrever um impropério outra é dizê-lo ao vivo e em cores. Nunca escrevi e nem disse nenhum impropério associado ao dono do blog. Ao contrário, sempre o considerei um dos maiores democratas da rede.
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Por outro lado, no que concerne à sua vivência afetiva, o gaúcho, às vezes, se expõe demais em questões pessoais… Nunca deve ser esquecido que em nosso mundinho tal atitude traz em si sempre um potencial perigo, pois demônios e inimigos dormem pouco…
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PS: 1) quanto aos trogloditas de plantão, esse tipo de degenerados da escala animal, tenho pouco a fazer, pois serei sempre mal-interpretado. O que me tranquiliza é que, antes de escrever, sempre me dou ao trabalho, ou seja, nunca é fácil… Se com sucesso – ou ao contrário – pouco importa. Tal fato é o risco de tal ofício; 2) um abraço, Milton.
“Por outro lado, no que concerne à sua vivência afetiva, o gaúcho, às vezes, se expõe demais em questões pessoais…”.
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Que fique bem claro: uma coisa é o artista, o cronista, o contista, o romancista, enfim, o escritor – Milton Ribeiro – criar uma obra sobre as mazelas humanas vivenciadas (ou não). Outra é o jornalista… (Creio que isso você deve saber ou está a perceber, agora, muito mais do que eu, quando o Sul 21 começa a engatinhar como referência ideológica às questões fundamentais associadas à civilização brasileira não é, Milton?).
Ora, parem com tudo isto!
Milton Ribeiro é uma baita duma bicha!
#soquetadepressiva