Três coisas que não têm nada a ver uma com a outra

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Renasceu. Abbado e músicos de Bologna | Foto:  Raffaello Raimondi
Renascido: Abbado e músicos de Bologna | Foto: Raffaello Raimondi

A Filarmônica de Berlim é atualmente um túmulo de maestros. Claudio Abbado, 80, depois que saiu de lá, tornou-se leve e criativo, deixando de lado o ser apocalíptico (e doente) da época berlinense. Criou a Orchestra Mozart em Bologna, onde nos brinda com luz, leveza e ousadia. Ouçam as gravações das sinfonias de Mozart para conferir. Já Simon Rattle, que era um monstro em Birmingham e foi para Berlim, lá tornou-se um regente crepuscular e rotineiro. O que fez? Ora, pediu demissão. Como o contrato é longo, retira-se em 2016, salvo engano. O próximo a adentrar a caixa mortuária de Berlim deverá ser Christian Thielemann. R.I.P. e depois saia correndo, Christian.

Na verdade, o que engessa a orquestra é o compromisso com um passado conservador, já enterrado. Se não mudar, ver a Berliner vai tornar-se mera atração turística.

.oOo.

De Danielle Magno no Facebook:

Me deixa triste ver feministas pedindo censura à pornografia, dizendo que é objeto de submissão feminina e direito do homem sobre o corpo da mulher. Acho nada disso, que sociedade chata que regula nudez e sexo sob paradigmas tão autoritários.

.oOo.

Trechos de ‘Canto ao Homem do Povo – Charles Chaplin’, de Drummond:

(…)

e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece
com qualquer gente do mundo – inclusive os pequenos judeus
de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos,

vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem
nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia,
e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor
como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua.

(…)

Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo,
que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida,
são duras horas de anestesia, ouçamos um pouco de música,
visitemos no escuro as imagens – e te descobriram e salvaram-se.

Falam por mim os abandonados da justiça, os simples de coração,
os parias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os indecisos, os líricos, os cismarentos,
os irresponsáveis, os pueris, os cariciosos, os loucos e os patéticos.

(…a parte toda negra, inspirada pela roupa de Chaplin…)

A noite banha tua roupa.
Mal a disfarças no colete mosqueado,
no gelado peitilho de baile,
de um impossível baile sem orquídeas.

És condenado ao negro. Tuas calças
confundem-se com a treva. Teus sapatos
inchados, no escuro do beco,
são cogumelos noturnos. A quase cartola,
sol negro, cobre tudo isto, sem raios.

Assim, noturno cidadão de uma república
enlutada, surges a nossos olhos
pessimistas, que te inspecionam e meditam:
Eis o tenebroso, o viúvo, o inconsolado,
o corvo, o nunca-mais, o chegado muito tarde
a um mundo muito velho.

(…)

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5 comments / Add your comment below

  1. Não querendo ser chato, e já sendo, é claro, digo que não tenho nada contra ver mulheres nuas, mas as feministas tem razão em apontar o efeito degradante da exploração da nudez, porque associado ao comércio, tornando a mulher um objeto, com a exposição permanente dos corpos femininos, isso sem qualquer razão “artística”. Mulher nua vende carro, cerveja, seguros, o diabo. E continua sendo vista, a mulher, como adereço e objeto de cama e mesa. A liberação dos costumes passou fazendo uma curva para a direita quanto à igualdade entre os sexos, daí a sobrevivência do puritanismo de braços dados com a exploração para tornar o “objeto” mais atraente, mantendo os tabus para fins de lucro. Não se trata de censurar, mas não ver inocência alguma nesses procedimentos relativos à amostragem da nudez feminina, não por ação libertária e reconhecimento do corpo, mas afim à lógica comercial e a entronização do erótico enquanto item de compra e venda.

  2. A mulher justifica a existência do homem. Vê-las nuas ou de qualquer jeito não é colocá-las como “objeto”, mas apenas um modo de nos lembrar de que sem elas nossas vidas não tem sentido. Precisamos delas. É nelas que encontramos a perfeição, a beleza e a sensualidade em seu estado mais belo e puro. Abaixo as feministas recalcadas, feias e velhas. Eu quero mais é ver Monica Bellucci desfilando seu lindo corpo nu em ensaios, filmes ou onde quer que seja. Imaginem a vida sem isso!? Óh, céus, isso sim seria o inferno!

  3. O trabalho, o amor, o conhecimento, a política e as religiões, aparentemente, nada têm a ver entre si… Contudo, quer queiram ou não, com o aparecimento do ser……humano (não ainda do “ser-humano!”), são as únicas fontes efetivas, até o momento, à continuidade da vida… nesse nosso planetinha tão sozinho.

    1. SONHO DE UM CADÁVER
      by Ramiro Conceição
      .
      .
      Quando teu olhar vestiu-me, soube
      que não poderia mais… despir-me.
      Foi tal qual um mar a batizar-me,
      dando-me um verdadeiro nome.
      Agora padeço de uma sina:
      te perder na curva de uma esquina
      e tornar-me o sonho de um cadáver
      que dorme… quando a alma some.

      1. POEMA MORTAL
        by Ramiro Conceição
        .
        .
        Não necessariamente tudo acontece com o poeta,
        mas necessariamente acontece tudo com a poesia
        que o poeta sequer planejou; consequentemente,
        a arte se utiliza do artista como mero instrumento.

        No fundo, somente são atores de uma peça a existir.
        No fundo, só há uma plateia num teatro que gera a si,
        pois tudo é um processo num turbilhão que passeia.
        O que sobra? Ora, encenar o possível que escasseia.

        Necessariamente tudo aconteceu com o poeta,
        mas nem tudo necessariamente virou… poesia
        que o artista quis inventar; consequentemente,
        o poeta – da sua arte – só cabe saber uma parte.

        No fundo, é uma peça com seus atores… a existir.
        No fundo, é um teatro com uma plateia a gerar a si,
        pois tudo é um turbilhão dum processo de estrelas.
        O que não sobra? Ora, está no coro… das sereias.

        Por isso que somos inacabados
        e qualquer poema em si é mortal.

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