Publicado em 12 de janeiro de 2013 no Sul21
Sem dúvida, a crônica não é um gênero recomendável a quem almeja a posteridade. Afinal, os cronistas normalmente escrevem para o dia seguinte e seus produtos, como se fossem modernos palimpsestos*, são substituídos no outro dia. Certamente, as crônicas duram mais um pouco mais quando são publicadas em revistas, e sua glória absoluta é aparecerem em livro. Hoje, com a internet e os blogs, as crônicas são publicadas instantaneamente e talvez sejam ainda mais voláteis. O tempo de exposição das crônicas nas capas dos sites é variável e sua glória mais duradoura é a de continuar aparecendo nas pesquisas do Google ou, e aqui voltamos ao ponto comum, em livro.
Temos e tivemos excelentes cronistas em nosso país. Tivemos, por exemplo, Nelson Rodrigues e Stanislaw Ponte Preta, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino, Millôr Fernandes e o sobrevivente – ainda bem! – Luís Fernando Verissimo. Mas tivemos um solitário cronista que se orgulhava de ter nascido em Cachoeiro do Itapemirim e que foi o maior de todos eles: Rubem Braga.
A maioria das crônicas de Rubem Braga cumpriram seus destinos de palimpsesto. Afinal, ele escreveu mais de 15 mil crônicas para jornais, revistas, rádio e TV e não mais do que mil foram selecionadas pelo autor para publicação em livro. Ele publicou mais de 20 livros de crônicas, o primeiro aos 22 anos. O estranho é que Rubem Braga — um jornalista que por anos redigiu notícias em redações – tinha suas melhores performances quando tratava de não-notícias. Como escreveu Manuel Bandeira, o verdadeiro material de Rubem Braga é a escassez de assunto. Quando falava de um tema absolutamente simples e cotidiano, conseguia habilmente espremê-lo de modo a extrair as gotas de uma poesia que era só dele.
Rubem Braga nasceu há 100 anos, em 12 de janeiro de 1913, em Cachoeiro do Itapemirim (ES) e morreu no Rio de Janeiro em dezembro de 1990. Em 1929, matriculou-se na faculdade de Direito do Rio, transferindo-se depois para Belo Horizonte. Em 1932, ano em que se formou, foi trabalhar no Diário da Tarde, de BH. Logo, além de matérias, passou a escrever suas crônicas. No mesmo ano, cobriu para os Diários Associados, na frente de batalha, a Revolução Constitucionalista de 1932. Trabalhou como correspondente ou contratado em diversas cidades do país, tais como São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
Acompanhou também a Força Expedicionária Brasileira na campanha de 1944-45, na Europa, quando era correspondente do Diário Carioca. Sempre viajou muito, escrevendo para jornais brasileiros sobre os países onde estava. Passou longas temporadas em Paris e em Santiago do Chile. Viajou do Paraguai à Índia, da Grécia à Mocambique. Em 1955, chefiou o Escritório Comercial do Brasil em Santiago durante o governo de Café Filho, mas não ficou um ano no cargo. Mandou um telegrama pedindo demissão. Em 1961, com os amigos Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas nunca se afastou do jornalismo.
Falamos que Rubem Braga trabalhou em Porto Alegre. Sim, ele passou somente alguns meses na capital gaúcha, em 1939, aos 27 anos, trabalhando no Correio do Povo. Na época, sofria perseguição política do governo de Getúlio Vargas e chegou a ser preso por algumas horas quando desembarcou.
Seu primeiro livro de crônicas, O Conde e o Passarinho, foi publicado em 1936 pela José Olympio. Na crônica que dá nome ao volume está escrito: Minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser conde. De fato, nunca foi conde, sempre trabalhou muito, apesar da fama de ser um ermitão de temperamento introspectivo, mas ganhou um apelido nobiliárquico: era chamado de “O Príncipe da Crônica”. Seus temas sempre foram as ruas das cidades onde viveu, suas árvores, seus pássaros – adorava descrevê-los – , as mulheres, a infância, o mar, os amigos, a saudade e a morte. Escreveu também muitas crônicas políticas, mas não as selecionava para seus livros. Era um homem de esquerda que foi ficando cada vez mais cético a respeito do discurso político. Nunca fez o habitual percurso para a direita e criticava asperamente o Golpe de 64, mesmo sem morrer de amores por João Goulart. Morreu escrevendo como um humanista cético: Nada me desgosta mais que o primarismo dos anti-comunistas que veem tudo da Russia como obra de capetas ou o tom longamente adotado pela “Imprensa Popular” divisando em tudo que é norte-americano corrupção, imperialismo, bestialidade, ignorância. Tal independência lhe renderia muitas críticas e incompreensões, tanto dos militares quanto da “Patrulha Ideológica” dos anos 70 e 80.
Por exemplo, quatro meses após o Golpe de 64, escreveu uma crônica dizendo que este fora fruto do aventureirismo frenético do Governo João Goulart. Porém, no mesmo texto, fazia a inútil advertência de que não aprovava “tolices como a cassação dos direitos políticos de Jânio Quadros, ou de homens como Celso Furtado e Anísio Teixeira”. Dois meses depois, sua postura já era bem mais decidida:
Sempre houve no Brasil quem pregasse a necessidade de um governo forte, um governo militar. Só assim poderíamos ter ordem e respeito. Um soldado que fizesse cumprir a lei. As virtudes militares de hierarquia, de disciplina, de obediência – para acabar com a clássica bagunça brasileira.
Ora, não é isso o que vemos. Há no Recife um Coronel Ibiapina que não respeita nem Superior Tribunal Militar, nem Supremo Tribunal Federal, nem general, nem marechal: quem manda é ele, quem prende e solta é ele.
(…)
Além dos violentos, dos arbitrários, dos boquirrotos, há os piores, os que torturam presos políticos. Onde está a ordem, a disciplina, onde está o respeito?
Não, fardar a bagunça não é uma solução. Tivemos mais de um presidente civil que não toleraria nem por um minuto nenhuma dessas exibições de insubordinação.
A fama e a condição de lírico não deve ser confundida com indiferença política. Rubem Braga fundou A Folha do Povo, no Recife, jornal comunista que foi fechado e seus redatores presos e espancados. Ele próprio, Rubem Braga, esteve preso no Recife antes de sê-lo em Porto Alegre. O que houve então para ele ser insistentemente identificado como apolítico? Ora, após seus 60 anos, durante o governo Médici e em plena vigência do AI-5, realmente houve um recuo do cronista em direção ao ceticismo, mas não apenas isso: o que houve foi uma escolha estética, uma substituição da crônica social e fática pelo atemporal e indireto, características aliás, adotadas por autores como Saramago e García Márquez em seus livros, apenas para citar dois autores cujas opiniões políticas jamais foram confundidas.
Por exemplo, em Ai de ti, Copacabana, há uma pequena, famosa e delicada crônica chamada O Padeiro (texto integral ao final desta matéria). Nela, Braga descreve um entregador de pães que ia de andar em andar e gritava, logo após apertar cada campainha, Não é ninguém, é o padeiro! Superficialmente, a crônica pode ser lida como a piada do homem que dizia que era ninguém, mas a crônica também permite a leitura da história do trabalhador que entregava os pães para os ricos de Copacabana, avisando-os — e talvez pensando — que era ninguém, que não valia a incomodação de abrir a porta para recebê-lo com um bom dia. A crítica que parte da esquerda fez a Rubem Braga ignorou a dimensão humana de seus relatos, que prescindia de discursos, adotando a graça, a leveza e a transcendência. Mas eram outros tempos.
E são justamente estas crônicas — as combatidas, as indiretas, as poéticas — que Braga escolheu para os muitos livros hoje disponíveis. São crônicas líricas de fundo nada ameno. São aparentadas do Drummond de A Rosa do Povo e estão longe da literatura de salão, apesar de seus amados pássaros e árvores. E também são tristes, muito tristes como a história do homem solitário que nunca conheceu A Primeira Mulher do Nunes (texto integral ao final da matéria), da qual todos diziam maravilhas e pela qual o narrador já estava apaixonado. Mas uma coisa ou outra o impediam de conhecê-la.
Paradoxalmente, o solitário Braga mudava na presença do sexo feminino. Mulherengo, amou uma das mais belas atrizes brasileiras dos anos 40 e 50: Tônia Carrero. Conheceu-a em Paris. Rubem elogiava a sua beleza, fazia piadas — “gosto muito de seu joelho esquerdo” — e, aos poucos, conquistou-a. O marido dela proibiu que os dois se encontrassem. Tônia chorou muito, mas depois, solitária e triste, passou a sair ainda mais com Braga. Decidida a abandonar o marido, Tonia encontrava-se com Rubem num pequeno hotel. Um dia a concierge lhe deu um conselho: “Não perca nunca essa mulher. Ela é bonita demais”. Mas Tonia decidiu pelo rompimento e o escritor ameaçou matar-se debaixo das rodas dos carros de Paris. Nada. Ambos de volta ao Brasil, ele insistiu, mas Tonia o ignorou: “Então vou me jogar no mar!”, gritou Rubem.
Rubem Braga foi muito popular, seus textos eram acessíveis e ele escreveu para os maiores jornais e revistas de sua época. Como pode-se ver pelas fotos, era um sujeito de cara fechada que só se abria para os amigos. Justificava sua simplicidade explicando que um dos versos mais bonitos de Camões — A grande dor das coisas que passaram — fora escrito apenas com palavras comuns do idioma. Simples e perfeita também foi sua morte. Dois dias antes, reuniu os amigos na sua cobertura em Ipanema, no que todos entenderam como uma despedida. Sabia da gravidade da doença, um câncer na laringe, e pediu-lhes que depois o deixassem sozinho. Segundo seu médico e amigo, o neurologista Sérgio Carneiro, preteriu todo gênero de tratamentos e morreu afastado de todos, como solicitara.
* Palimpsesto: pergaminho de couro utilizados por monges da Idade Média para registrar textos e gravuras. De tempos em tempos eram lavados a fim de remover a tinta e gravar novos manuscritos que iam sendo sobrepostos aos anteriores.
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Para fazer que os leitores do Sul21 relembrem ou conheçam Rubem Braga, deixamos aqui as duas crônicas citadas:
O Padeiro
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lockout, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.
Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:
— Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
“Então você não é ninguém?”
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém…
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”
E assobiava pelas escadas.
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A Primeira Mulher do Nunes
Hoje, pela volta do meio-dia, fui tomar um táxi naquele ponto da Praça Serzedelo Correia, em Copacabana. Quando me aproximava do ponto notei uma senhora que estava sentada em um banco, voltada para o jardim; nas extremidades do banco estavam sentados dois choferes, mas voltados em posição contrária, de frente para o restaurante da esquina. Enquanto caminhava em direção a um carro, reparei, de relance, na senhora. Era bonita e tinha ar de estrangeira; vestia-se com muita simplicidade, mas seu vestido era de um linho bom e as sandálias cor de carne me pareceram finas. De longe podia parecer amiga de um dos motoristas; de perto, apesar da simplicidade de seu vestido, sentia-se que nada tinha a ver com nenhum dos dois. Só o fato de se ter sentado naquele banco já parecia indicar tratar-se de uma estrangeira, e não sei por que me veio a idéia de que era uma senhora que nunca viveu no Rio, talvez estivesse em seu primeiro dia de Rio de Janeiro, entretida em ver as árvores, o movimento da praça, as crianças que brincavam, as babás que empurravam carrinhos. Pode parecer exagero que eu tenha sentido isso tudo de relance, mas a impressão que tive é que ela tinha a pele e os cabelos muito bem tratados para não ser uma senhora rica ou pelo menos de certa posição; deu-me a impressão de estar fruindo um certo prazer em estar ali, naquele ambiente popular, olhando as pessoas com um ar simpático e vagamente divertido; foi o que me pareceu no rápido instante em que nossos olhares se encontraram.
Como o primeiro chofer da fila alegasse que preferia um passageiro para o Centro, pois estava na hora de seu almoço, e os dois carros seguintes não tivessem nenhum chofer aparente, caminhei um pouco para tomar o que estava em quarto lugar. Tive a impressão de que a senhora se voltara para me olhar. Quando tomei o carro e fiquei novamente de frente para ela, e enquanto eu murmurava para o chofer o meu rumo – Ipanema notei que ela desviava o olhar; o carro andara apenas alguns metros e, tomado de um pressentimento, eu disse ao chofer que parasse um instante. Ele obedeceu. Olhei para a senhora, mas ela havia voltado completamente a cabeça. Mandei tocar, mas enquanto o velho táxi rolava mente ao longo da praia eu fui possuído pela certeza súbita e insistente de que acabara de ver a primeira mulher do Nunes.
***
– Você precisa conhecer a primeira mulher do Nunes – me disse uma vez um amigo.
– Você precisa conhecer a primeira mulher do Nunes – me outra vez outro amigo.
Isso aconteceu há alguns anos, em São Paulo, durante os poucos n em que trabalhei com o Nunes. Eu conhecera sua segunda mulher, morena bonitinha, suave, quieta – pois ele me convidara duas vez jantar em sua casa. Nunca me falara de sua primeira mulher, nem se de seu primeiro casamento. O Nunes era pessoa de certo destaque sua profissão e afinal de contas um homem agradável, embora não brilhante; notei, entretanto, que sempre que alguém me falava dele era inevitável uma referência à sua primeira mulher.
Um casal meu amigo, que costumava passar os fins-de-semana em fazenda, convidou-me certa vez a ir com eles e mais um pequeno grupo. Aceitei, mas no sábado fui obrigado a telefonar dizendo que não podia ir. Segunda-feira, o amigo que me convidara me disse:
– Foi pena você não ir. Pegamos um tempo ótimo e o grupo divertido. Quem perguntou muito por você foi a Marissa.
– Quem?
– A primeira mulher do Nunes.
– Mas eu não conheço…
– Sei, mas eu havia dito a ela que você ia. Ela estava muito interessada em conhecer você.
A essa altura eu já sabia várias coisas a respeito da primeira do Nunes; que era linda, inteligente, muito interessante, um pouco estranha, judia italiana, rica, tinha os cabelos castanhos claros e os olhos verdes e uma pele maravilhosa – “parece que está sempre fresquinha, do banho”, segundo a descrição que eu ouvira.
Quando dei de mim eu estava, de maneira mais ingênua, mais tola, mais veemente, apaixonado pela primeira mulher do Nunes. Devo dizer que nessa ocasião eu emergia de um casa sentimental arrasador um caso que mais de uma vez chegou ao drama e beirou a tragédia que eu mesmo, provavelmente, mais de uma vez, passei os limites do ridículo. Eu vivia sentimentalmente uma hora parda, vazia, feita de tédio e de remorso; a lembrança da história que passara me doía um pouco e me amargava muito. Além disso minha situação não era boa; amigos achavam – e um teve a franqueza de me dizer isso, quando bêbado que eu estava decadente em minha profissão. Outros diziam que eu estava bebendo demais. Enfim, tempos ruins, de moral baixa, e ainda por cima de pouco dinheiro e pequenas dívidas mortificantes. Naturalmente eu me distraía com uma ou outra historieta de amor, mas saía de cada uma ainda mais entediado. A imagem da primeira mulher do Nunes começou a aparecer-me como a última esperança, a única estrela a brilhar minha frente. Esse sentimento era mais ou menos inconsciente, mas tomei consciência aguda dele quando soube que ela ganhara uma bolsa esplêndida para passar seis meses nos Estados Unidos. Senti-me como e roubado, traído pelo governo norte-americano. Mas a notícia veio n um convite – pata o jantar de despedida da primeira mulher do Nunes.
***
Isso aconteceu há quatro ou cinco anos. Mudei-me de São Paulo, algumas viagens, resolvi parar mesmo no Rio – e naturalmente me aconteceram coisas. Nunca mais vi o Nunes. Aliás, nos últimos tempos nossas relações, eu me distanciara dele por um absurdo constrangimento, pudor pueril do que ele pudesse pensar no dia em que soubesse que entre mim e sua primeira mulher… Na realidade nunca houve nada entre nós dois; nunca sequer nos avistamos. Uma banal gripe me impediu de ir ao jantar de despedida; depois eu soube que sua bolsa fora prorrogada, depois ouvi alguém dizer que a encontrara em Paris – enfim, a primeira mulher da Nunes ficou sendo um mito, uma estrela perdida para sempre em remotos horizontes e que jamais cheguei a avistar.
Talvez fosse mesmo ela que estivesse pousada hoje, pelo meio-dia, Praça Serzedelo Correia, simples, linda e tranquila. Assim era a imagem que eu fazia dela; e tive a impressão de que seu rápido olhar vagamente cordial e vagamente irônico tentava me dizer alguma coisa, talvez contivesse uma espantosa e cruel mensagem: “eu sei quem é você; eu sou Marissa, a primeira mulher do Nunes; mas nosso destino é não nos conhecemos jamais…”
Milton,
ótimo post. Valeu a pena bisá-lo.
Taí um cara que merece todos os elogios que lhe fizeram.
Muito obrigado, sensacional.