A primeira parte está aqui.
Como sou um cara chato, fui procurar grandes maestros e músicos com três perguntas debaixo do braço. Eram sobre algumas características da disputa por vagas de músico. Procurei bem longe, é óbvio. Procurei gente que nunca trabalhou em Porto Alegre. Meus sete leitores nem imaginam quais foram os nomes escolhidos. E não vou lhes dizer porque eles não acreditariam. Não, não vou dizer porque sei como funcionam as coisas e garanti confidencialidade. Fiz uma abordagem em inglês, em que só não prometia caixas de bombons. Se me permite, poderia incomodá-lo? Com a intenção de formar minha opinião, estou fazendo algumas perguntas a músicos de destaque. Obviamente, sua resposta ficará em segredo. Sou um experiente jornalista e sei respeitar the confidentiality of sources, which is central to the ethics of journalism. (Apesar de estar num blog…).
Agradecidíssimo pelas respostas detalhadas, tabulo-as abaixo como minha cara.
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Pergunta Nº 1: A fase eliminatória do concurso prevê a execução de diferentes concertos. Por exemplo, os primeiros violinos e solistas tocarão O 5° Concerto para Violino de Mozart e os segundos e o tutti tocarão o 3º. Os flautistas tocarão o Concerto em Sol Maior, e os fagotistas o Concerto em Si Bemol Maior, K.191, sempre de Mozart. Haverá os concertos de Haydn para violoncelo, etc. (explicitei aqui exemplos das partes da segunda fase). As apresentações, assim como as de outros instrumentos e cantores, serão sempre solo, SEM PIANO. Isto é o habitual ou o candidato deveria ser avaliado tocando em conjunto, como fará na orquestra? E como executar um concerto sem acompanhamento? Não seria mais razoável utilizar obras solo?
As respostas foram mais ou menos iguais: 100% afirmaram que um músico de orquestra deveria ser sempre avaliado com um instrumento acompanhando, pois exatamente dessa forma se pode avaliar afinação, ritmo, fraseado e a maneira como ele se relaciona com o conjunto. Três utilizaram a palavra Ridículo! (com exclamação), outro usou Absurdo!, referindo-se a esta característica do concurso. Na minha opinião, é como avaliar um jogador de futebol apenas com a bola, sem vê-lo em campo com companheiros e adversários.
Pergunta Nº 2: Quem deve formar a banca? Ela deve ser formada por músicos da orquestra ou por músicos ou regentes convidados?
Aqui, houve dois tipos de respostas, 50% para cada lado: (1) dificilmente se convida músicos de fora da orquestra, apenas exceção feita se aquele instrumento não tem representantes em seu próprio instrumento. (2) Devem ser convidados um músico representativo do instrumento e um regente.
Pergunta Nº 3: Temos eleições estaduais e a orquestra é estadual. Isto é, pode ser que o diretor artístico e outros membros do staff — que são cargos políticos na orquestra — mudem no próximo ano. O Sr(a). acha normal que se faça um concurso no final de uma gestão?
Novamente duas linhas de respostas: (1) 50% disseram algo como “Claro que seria mais inteligente esperar a eleição para fazer as audições com o novo maestro titular”. 25% disseram quase a mesma coisa: “O melhor seria que já estivesse na banca alguém que pudesse dar continuidade ao que essa pessoa irá ‘carimbar’. Uma questão certamente complicada”. E 25% escreveram que (2) Talvez a mescla com uma banca convidada de notáveis, juntamente com a comissão da orquestra, atenuasse este “problema”.
Na minha opinião, este concurso está acontecendo fora de hora.
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Esta série deverá continuar com comentários sobre os requisitos para o concurso.
Concordo 100% com as respostas (e tuas colocações) nas perguntas 2 e 3. Mas não entendi o que teus contatos acharam tão chocante sobre a primeira questão. Vivo nos EUA há dois anos como estudante e fiz um bom número de audições para orquestras, nenhuma que exigisse acompanhamento de piano. Certamente seria melhor avaliar afinação e produção de som com acompanhamento, mas ter que providenciar pianistas faria o processo bem mais dispendioso (em tempo, energia e $$) para os candidatos, especialmente pra quem vem de longe.
Olá Milton!
Bom, provavelmente você não me conhece, então deixa eu me apresentar:
Sou Gabriel Benhur Schuck, tenho 22 anos e sou deficiente visual, residente da cidade de Novo Hamburgo (Rio Gr ande do sul).
Eu sou músico, toco teclado desde os 5 anos de idade e venho em busca de novas oportunidades.
Atualmente estou cursando técnico em música na Escola Superior de Teologia (EST), em São Leopoldo.
Um colega meu que estuda comigo me falou desse concurso da OSPA pelo Facebook e me incentivou a participar.
Infelizmente, não consegui ler o edital todo, mas, baseado no conselho que as pessoas me deram, de que era uma ótima oportunidade, que mesmo que eu não passasse serviria pra mim como experiência e tal….. Hoje fui dar uma olhada no repertório, mais especificamente para o piano…..
Mais uma vez, não deu tempo de ouvir todas as músicas, mas com exceção da primeira, as outras são para tocar em conjunto. Por exemplo a do J.S. Bach Bach – Aria -Lobe den Herren- from Cantata BWV 137
que pelo menos da versão que retirei na internet não tem nem som de piano e sim órgão, e também da Missa Réquiem – Dies Irae
, que fica evidente que nessa etapa as peças devem ser executadas em conjunto.
Por conhecidência fui pesquisar o que mais falavam da OSPA e encontrei o seu blog…..
Realmente, uma prova em cima do laço, pouco tempo para tirar as músicas e numa época de atividades turbulentas. Aí realmente fica muito complicado.
Eu já estava meio desanimado com o tipo de repertório que domar na prova e agora que constato que realmente as peças que deveriam ser tocadas em conjunto serão executadas sozinhas no instrumento. E outra. As peças, pelo que pude ouvir até agora, não são para piano e sim para órgão, que apesar de ser um instrumento parecido em alguns dos seus aspectos, tem uma sonoridade completamente diferente e é específico em cantos para missa.
Sei lá, não me parece muito bem definido esse repertório, tem muita coisa estranha nisso aí.
Tem músicas que pouco aparecem o piano e a orquestra toda fica bem mais visível.
Tenho até sexta pra tomar uma decisão…. Mas s inceramente….. É melhor não passar vergonha por falta de preparo e uma má avaliação do que talvez perder tempo com isso…
Grande Abraço!
Mas esta prova não é para pianista do coro?? É assim mesmo… Bem comum pedirem peças pra órgão e corais de Bach (que é algo que deve ser totalmente básico pra quem trabalha com coro). E nunca essas provas são feitas em conjunto. Pianista correpetidor é diferente de pianista solista.
Olá Mariana.
Tudo bem?
Respondendo ao teu comentário…….
Sei que posso estar falando besteira aqui, conheço muito pouco de música erudita, mas das músicas que já ouvi, sempre o piano está em peças solo, feitas para esse tipo de instrumento.
O que me deixou certa forma muito constrangido foi o fato de haver um repertório, geralmente preparado para coro, em que o instrumento não é o piano e sim um órgão, por exemplo.
Repare que, como eu disse no outro comentário, apesar de serem instrumentos quase semelhantes pelo fato de serem tocados por teclas, a sonoridade de cada um deles é completamente distintas.
Nas músicas em que o piano tem alguma participação, geralmente são todas executadas por orquestra e, neste caso em específico, fica muito complicado por exemplo você ter que tocar mesmo que seja o último movimento de uma obra sem o acompanhamento desses instrumentos.
Isso reforça muito bem a necessidade de uma avaliação em conjunto, porque uma coisa é você tocar sozinho e outra coisa é tocar de forma coletiva.
Eu por exemplo, se eu quiser posso tocar agora no meu quarto, na minha cozinha, ou pra alguém que queira me ouvir.
Mas, por exemplo, no curso de música que faço na escola superior de teologia (EST), tem muita gente que tem dificuldades ao tocar em conjunto, não compreende divisões de tempo, quando tem que entrar, quando tem que esperar, o uso correto da dinâmica de cada instrumento por exemplo, que sempre é uma dor de cabeça principalmente em orquestra.
Essa é uma realidade que presencio na música. Existem músicos que sabem tocar super bem sozinhos, como instrumentista solo….. Mas em conjunto, não se dão bem…. Isso para a cultura musical do Brasil não é nenhuma novidade….. E por isso que penso que a execução e a avaliação em conjunto tem sim uma importância fundamental.
Mas Gabriel, o pianista correpetidor nunca vai tocar em conjunto. Ele vai tocar somente nos ensaios do coro, auxiliando na passagem das vozes e tocando a redução das peças para piano. Perfeitamente normal a escolha do repertório e exigências da prova.