O estranho concurso da Ospa (Parte IV – A Banca)

O crítico tem que educar o público; o artista tem que educar o crítico.
OSCAR WILDE

Verdade. Aprendi muito e me senti muito honrado ao receber diversos textos com opiniões de mestres a respeito de concursos para músicos em geral. Como o fluxo de informações não foi estancado pelo final de minhas publicações — ao contrário! — fico obrigado a elaborar um curto post a respeito das últimas manifestações. Alguns músicos, ao lerem as publicações anteriores e verem garantida a confidencialidade, acharam interessante meterem sua colher no assunto com uma franqueza aparentemente impossível de se usar num ambiente tão pontuado pelo compadrio como o gaúcho ou o brasileiro. (Isto ocorre não somente na música, os escritores também trocam elogios de forma baratíssima). Vi elogiada a minha “coragem” de colocar em discussão algo que não costuma ser tema em nosso ambiente. Grande coisa…

Outra conclusão a que chego é que a maioria dos músicos leram corretamente em minhas manifestações o mais profundo interesse em guindar a orquestra a um patamar artístico superior, fato que permaneceu obnubilado para alguns membros da orquestra que simplesmente não concebem tal interesse. Espero que minha atitude não lhes pareça por demais inusitada. Quero uma Ospa melhor — penso que ela seja deficiente — e acho que melhores músicos mudarão também o perfil cultural da cidade. Além disso, poderão também trabalhar como professores e aumentarão o número de recitais de música de câmara. Enfim, teriam o potencial de arejarem o ambiente musical da cidade, deixando-o mais rico e diverso.

Sigo achando o edital apressado e torto. Obviamente, não sou contra o concurso, mas que deveria ter sido feito antes, que a primeira parte deveria ter obras solo já que não tem piano, deveria ter prazos maiores, deveria ter uma abertura bem clara aos estrangeiros, e, bem… Já disse que tinha ficado muito decepcionado porque nenhum dos “comentaristas” que me mandaram suas opiniões haviam falado numa coisa que considerava fundamental, ou seja, a banca?

julgamento

Claro, já que ninguém falou nela, não devia ser tão importante e recolhi-me ao silêncio. Porém, na quinta e sexta-feira, eu recebi belas explicações sobre a composição de bancas e, se algumas pessoas da orquestra ficaram furibundas com meus posts anteriores, este irá deixá-los dez vezes mais contrariados. E só vou colocar trechos leves.

Um dos discursos é este: “O importante é garantir a entrada dos melhores músicos. A OSPA não tem em sua estrutura membros capazes de formar várias bancas completas de primeira linha. Há bons músicos somente aqui e ali. A sociedade não cobra suficientemente seus secretários de cultura e governadores para que pensem a OSPA como uma grande representante do RS em uma das esferas de produção cultural. A orquestra poderia ser excelente. A banca examinadora pode e deve ter músicos da orquestra, principalmente aqueles de primeira linha, porém os locais não devem jamais formar uma maioria. Isto somente funciona nas grandes orquestras internacionais — aquelas em que os próprios músicos cobram de si mesmos e de cada colega que apresente o seu melhor em cada ensaio e concerto. Não é o caso de Porto Alegre”.

E vem um velho músico aposentado e enfia o dedo ainda mais profundamente: “Acho que os erros de avaliação podem ocorrer não como um pacto combinado, mas como reflexo do referencial pobre dos membros da banca. A maioria não consegue detectar arte de alto nível porque não têm cultura de alto nível. Por isto, a banca deveria ter convidados incontestáveis que formassem maioria em relação aos locais ‘sem horizonte'”.

E outro: “Na Europa, por exemplo, o comum é que cada banca seja formada pelos spallas dos naipes junto com convidados e o regente titular. Os naipes devem assistir e, quando dois ou mais candidatos chegam no final com a pontuação igual, o naipe é perguntado sobre quem cabe melhor no grupo”.

Não lembro de ter lido detalhes sobre a formação da banca no edital. Só lembro do anúncio da banca para o dia 11 ou outro dia. Não se sabe quantos convidados haverá lá. Espero que vários. Se eu estiver errado, bastará explicar calmamente nos comentários. Não estou aceitando ofensas, OK?

Concluo a quarta parte com duas ou três afirmativas. (1) Se o salário da Ospa não é maravilhoso, há estabilidade, o que torna cada vaga objeto de cobiça. (2) Os candidatos serão numerosos e a banca, a ser anunciada em 11 de novembro  — se não me engano –, é fator CRUCIAL para o sucesso do concurso. Espero realmente que haja maioria de autoridades de fora para que não haja isto, tão comum em nossas instituições federais e estaduais — já trabalhei com estatais e sei como é. (3) Mantenho as posições que expus anteriormente. Não li nada que me convencesse cabalmente de que estou equivocado. (4) Com a (lamentável) vitória de Sartori, é provável que o diretor artístico esteja de malas prontas. Sua presença está prevista na banca?

3 comments / Add your comment below

  1. Só agora olhei todos os seus posts a respeito de nosso Concurso e também, os comentários que se seguem.
    E, justamente o quesito concurso para a parte administrativa tem todo um problema – francamente! Era certo que isso iria acontecer e, no fim, isto ?!
    Resumindo:
    Como entrar na mente de gente que vota como cabresto? Achei que isso só acontecia com a pobre gente que necessita de água para sobreviver, mas não: também certos músicos que, ao serem chamados para tocar aqui e ali, se colocam nessa mesma condição – que vergonha !
    O que podemos concluir? Mais 500 anos para mais civilidade – se é que vamos ter Planeta Terra até lá . . .
    Grande abraço!

  2. Admiro tua coragem, Renate. As numerosas manifestações de apoio que recebi ou foram feitas pessoalmente ou no inbox do Facebook. Eu acho que a Ospa é instituição mais doente que já conheci. Quem se interessa e ama a Ospa precisa ter uma postura também crítica. É saudável, inteligente e muito mais útil para a orquestra. De resto, quem me agride não pode falar claramente de seus interesses. Uma pena,.

    1. Querido Milton…Admiro sua preocupação com nossa orquestra e digo que a nível Brasil não é tão diferente,infelizmente. Contudo refuto seu comentário tendo a ospa como a instituição mais doente que conheceu. Se a Ospa é a instituição mais doente que já conheceu, lhe considero alguem que não tem o menor conhecimento sobre instituições públicas. Se tratando de administração do estado,já visitastes uma escola estadual?

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