Das tias e da falta de diálogo

Robert Mapplethorpe. Poppy. 1988
Robert Mapplethorpe. Poppy. 1988

Eu tive uma tia-avó solteirona que poderia ser chamada de a reserva moral da família. Meu núcleo familiar era pequeno — é ainda menor hoje — e a tal tia atuava de forma muito próxima. Ela era professora, não tinha filhos e não há notícias de amores. Mas ela dava palpites sobre tudo o que pudesse. Quando estourava um problema, era chamada. Hoje, pensando retrospectivamente, acho que ela era como a ex-freira virgem de Amateur, de Hal Hartley, vivida por Isabelle Huppert, que escrevia contos eróticos. Minha tia dava palpites sobre a criação dos filhos e sobre os casais em crise. Ou seja, dava palpites sobre tudo o que lhe era estranho.

Ela é uma boa metáfora para certo comportamento politicamente correto. Pois minha tia policiava todo mundo e obrigava todos a se policiarem. Desde que inventaram a correção política, a ação de amplificar alguma característica suposta ou claramente errada do pensamento alheio passou a ser uma virtude. Eu acho equivocada esta generalização do PC, pois ele costuma atacar mais o discurso do que as ações. As atitudes ficam subalternas. São pessoas, como disse o Erico Verissimo em O Senhor Embaixador — se a memória não me falha –, que têm medo de palavras, mas não de certas ações. Já vi coisas, meus amigos, que não devo contar.

Eu acho curiosíssima a forma como o politicamente correto, tão bem-intencionado, tornou-se também um guarda-chuva protetor de absurdos. O discurso de ódio de uma minoria, dentro do movimento feminista, invoca o politicamente correto como abrigo. Como conceitos não têm curadoria, a postura de que homem não pode falar de mulher está virando um braço do PC. Simples, seria errado o homem falar de mulher, pois os homens são dominante e, portanto, não têm nada a contribuir. Mas o feminismo não busca a igualdade? Falam em empoderamento, mas discriminam os homens e tudo vira luta e ofensas. Ora, tal exclusão não “empodera” ninguém, apenas cria um gueto resistente e surdo, formado por mímicos que fazem sinais hostis. Lembrem de minha tia!

O fato é que o PC guarda um parentesco muito próximo com a repressão, mas não acreditava que tais posturas discriminatórias pudessem fazer parte da ideia original do politicamente correto.

Um dia, um amigo meu conversou no Facebook com uma feminista que aderiu a esse discurso de ódio aos homens e que possui um pequeno grupo de acólitas. Como piada, o diálogo é sensacional. Leia o que está na imagem e depois meu comentário.

dialogo no face machista

Querida X.

Estou entrando no banho e venho por meio desta solicitar teu consentimento para te objetificar durante o mesmo. Prometo não fantasiar com nada além de um sexo oral e de um ato rotineiro com penetração. Aguardando autorização, subscrevo-me atenciosamente.

É, a falta de diálogo cria monstros.

Aliás, imaginem a masturbação feminina. Já pensaram quantas solicitações George Clooney, Brad Pitt e Johnny Depp teriam que responder?

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