Qualquer bibliófilo sabe que a primeira edição de uma obra é sempre mais valiosa que as outras, apesar de muitas vezes ter sido impressa em papel de pior qualidade ou da má qualidade de sua impressão. O seu valor acaba por ser alto justamente porque são raros e poucos a possuem.
Mas, há casos em que uma primeira edição se torna mais valorizada devido a um erro tipográfico que escapou à revisão do editor ou do autor e foi parar nas livrarias. Corrigido o erro nas edições subsequentes, estes exemplares conquistam então o status de raridade bibliográfica. Este é o caso da primeira edição das Poesias Completas de Machado de Assis, publicado em 1901 pela Livraria Garnier.
Ao organizar este volume das suas poesias, Machado de Assis reuniu os livros Crisálidas (1864), Falenas (1870) e Americanas (1875), expurgando-os de algumas poesias e acrescentando um novo conjunto, intitulado Ocidentais.
No começo do século XX quase todos os livros desta editora eram impressos na França, mas, apesar da revisão, às vezes escapavam alguns erros. E foi justamente nesta obra, do mais importante autor brasileiro, que escapou um erro gravíssimo: Machado escrevera à página 20, no prefácio, “… cegára o juízo …”, e o tipógrafo francês trocou o “e” por um “a”!
O erro só foi percebido depois que a edição já estava na livraria e alguns exemplares tinham sido vendidos. Para corrigir o erro, um empregado da livraria (Everardo Lemos) sugeriu raspar com cuidado a letra a e escrever a letra e com tinta nanquim.
Depois o editor Garnier providenciou a reimpressão da folha com o erro, para substituí-la em todos os exemplares que ainda não tinham sido vendidos…
Por causa disso existem três tipos de exemplares da primeira edição das Poesias Completas de Machado de Assis: o primeiro sem a correção (raríssimo) com a palavra cagara, o segundo com a correção feita a mão e o terceiro com a folha impressa sem o erro.
O felizardo que possuir na sua biblioteca um exemplar sem a correção tem em mãos uma obra cobiçada por qualquer bibliófilo digno deste nome. O Mercado Livre já vendeu a obra com a correção feita à mão por R$ 850,00, uma barbada.
Adaptado do blog Tertúlia Bibliófila.
Estimado!
1901 já é século XX, salvo melhor juízo, e não mais XIX.
Cordial Abraço!
Obrigado pela correção. 🙂
… E vc também colocou as aspas no “o” em vez de no “e”; foi de propósito? rs
Claro que não… Eu sou um boca aberta mesmo! Obrigado! 🙂
Obrigado pela história, Milton! A segunda melhor de erros tipográficos em português. A primeira continua sendo o do Correio Braziliense ao noticiar o desembarque do já idoso Imperador Dom Pedro II no porto do Rio de Janeiro. Ele chegou carregando duas maletas e o jornal deu atenção ao fato para valorizar a humildade do regente. Mas o tipógrafo errou e saiu que o Imperador carregava duas muletas. Preocupado em desfazer a impressão de que o Imperador estava doente, o jornal colocou na primeira página da edição seguinte a errata. Mas a errata também saiu com erro e os súditos foram informados que o Imperador desembarcou segurando não duas muletas, mas duas mulatas. 🙂
hahahahahahaha
Bem, pelo que viso tenho duas observações: (1) existe um versão anterior desse texto, agora também rara, em que se escrevia que o fato de deu no século XIX o invés do XX (2) e nada melhor para espancar a notícia de possível doença do Imperador do que ele descer do navio ladeado por duas mulheres!! Isso sim requer muita saúde! Rssssss
Prezados, a edição das Poesias Completas (1902) com o erro tipográfico é a “segunda” edição. A 1ª edição é do ano de 1901 inclusive, esse é um dos mistérios pois, a composição do livro da 1ª edição já estava pronta e quando foram reimprimir (2ª edição), saiu com a “gralha”. Já li até sobre algumas teorias conspiratórias de sabotagem desta edição. Não sei. Outra informação que já li também em alguns sites é que a Garnier providenciou a reimpressão destá página e a substituiu nos exemplares restantes. Nunca vi um exemplar da edição de 1902 sem o erro. Os exemplares que consegui consultar, todos, ou estão com a palavra “cagara” ou estão corrigidos à mão. Se alguém já examinou algum exemplar de 1902 sem o erro, relate aqui. Que eu saiba, sem o erro, somente em 1924 (3ª edição), última pela Garnier.