Se a vida tivesse alguma lógica
jamais deixaria sucumbir tão cedo
Jack Nicholson deve tê-lo amado.
Antonioni reconheceu-o (Clapton também?).
que parecia preferir esconder.
sobre a morte da mulher em O Último Tango (após mil discussões com Bertolucci)
(uma das maiores cenas de toda a história do cinema),
E mesmo que Maria tenha dito que aquele imenso filme
é ainda dele que lembramos nesta trágica semana. Além do injusto sorriso.
Post originalmente publicado em 5 de fevereiro de 2011
Belíssima.
E gostei muito do texto. De doce melancolia.
Ah, Maria. Obrigado. Por tudo.
Eu tentei dizer como Schneider faz parte de mim, como os filmes que fez (especialmente Profissão:Repórter e O último tango…) me fizeram, mas sua homenagem mais delicada, nostálgica e carinhosa me representou melhor que minhas próprias palavras. Era, realmente, um lindo e talentoso sorriso. E o mundo fica um tantinho mais sem graça sem ele.
sei não…
ah, o texto sempre ótimo.
abç
“Bela homenagem ao frágil ser humano (quem sabe, Deus [?] termine por revelar verdadeira piedade por nós todos?)…”
Belo texto, Milton.
A notícia da morte, as fotos, tudo me fez parecer que o mundo é ainda mais cruel do que eu costumo supor.
A vida é implacável com a beleza.
[]’s
marilia
O texto é muito bonito, e melhor seria se eu me abstivesse de comentar. Mas…nunca gostei de O ùltimo Tango em Paris. Assisti-o algumas vezes depois da adolescência _ quando a Bandeirantes o transmitiu de madrugada, num momento memorável de resgatar uma “obra de arte” censurada pela ditadura_, e a coisa nunca me desceu pela garganta. Acho-o de um mal gosto gritante, gratuito, e centrado na cena da sodomia com manteiga, que só se explica para fins de curiosidade lúbrica. Concordo plenamente com o conselho de Schneider para as atrizes jovens: “nunca deixe um velho te convencer a tirar a roupa dizendo que é em nome da arte.”
E não vejo a morte dela como uma fatalidade que aponta a inexistência de misericórdia no cosmos. Numa relação de continuidade, a própria cena da manteiga a levou a uma morte precoce. Ela sempre denunciou que a tal cena não estava no script, sendo um improviso de Brando, que, em termos morais, realmente a estuprara. O choro, ela sempre disse, era verdadeiro. Daí veio o ostracismo, a má sorte de Nicholson não lançar o “Profissão: Repórter” em escala comercial, as neuroses de dissociar-se da imagem erótica recusando papéis que exigissem-lhe tirar a roupa, e, entremeio a isso tudo, um longo histórico com drogas. Resta saber se o câncer tem relação direta com as drogas, mas certamente tem relações diretas com a angústia.
Se existe mesmo um indicador de ausência de salvaguarda divina, foi o câncer que matou Ingrid Bergman, ainda que, no fim, ela se recusasse a largar os cigarros.
Gostei muito de teu contraponto. Apenas discordo sobre a avaliação sobre a qualidade do filme de BB. Por algum defeito de fabricação, nunca relaciono este filme diretamente com a cena da manteiga; alíás, na minha opinião, é cena secundária.
O cerne do filme é o discurso de Brando dirigido à mulher ausente. As outras cenas definidoras do filme é seu início — o acordo — e a cena final — a do tango.
Não sou idiota de pensar que a esmagadora maioria das pessoas não pense apenas no escândalo e não nego que Bertolucci (um tremendo autor) e Brando estivessem interessados em manchetes, mas efetivamente não dou importância àquela cena dentro da amplitude de obra.
É um filme tristíssimo, de um erotismo pra lá do patético. Aliás, tb não vejo grande apelo erótico. Mas Maria ficou estigmatizada, sem dúvida.
Eu não vi o filme. Vocês estão dizendo que há uma cena de sexo anal com manteiga que não estava no scrip e que Brando aproveitou o momento e realmente sodomizou a atriz, que chorou de dor durante a cena? Foi isso mesmo que eu entendi? Que coisa horrível!
Não, não. Texto copiado de Luiz Carlos Merten, na minha opinião o melhor crítico brasileiro:
“A cena não existia no roteiro. Foi inventada na hora por Bertolucci e Brando. Maria, muito jovem, entrou de gaiata. Ela dizia que, mesmo sem penetração, Brando foi tão brutal, para servir ao personagem, que ela se sentiu humilhada. E pelos dois machos. Quem chorava era Maria, não a personagem. Brando nem se desculpou pelo ‘realismo’. Disse que era só um filme. Maria nunca mais dirigiu a palavra a Bertolucci, nem durante a filmagem”.
Fico surpreso ao saber que o choro da Maria era verdadeiro. Veja uma notinha que escrevi anos atrás: ” Uma noite dessas peguei na tevê um pedaço do filme do Bertolucci. Sempre o achei superestimado, mas como ninguém vai me pagar pra saber em detalhes minha opinião, melhor deixar pra lá. Só gostaria de comentar a cena da manteiga. Alguém ainda lembra? Paul (Brando) joga Jeanne (Maria Schneider) no chão, de bruços. Baixa um tanto a calça dela, não muito, tem de se esforçar pra meter a mão com a manteiga. Aí abre a própria calça e faz de conta que estupra Jeanne.
Faz de conta? Sim, faz de conta, porque a cara e os gemidos de Jeanne não convencem ninguém da violência. Mas mesmo que se dê um desconto pra interpretação da Schneider, ou se pense que o negócio não está tão ruim assim, tem o Brando mexendo aquele traseiro gordo pra cima e pra baixo. Era pra ser trágico. É só patético, cômico, porque não tem como Paul penetrar Jeanne naquela posição, com as calças naquela altura.
Foi então que saquei o lance do Bertolucci. É um filme de ficção científica. Paul é um alienígena com um tentáculo de polvo entre as pernas, extremamente longo e flexível. Era tudo uma paródia de ‘Casei-me com um monstro do espaço’.”
Em tempo Charlles: é mau gosto.
Ernani, a não ser que meu nome virou uma escala climática, tem uma vírgula depois de “tempo” na frase “em tempo Charlles”. (Senhor, me livre do pedantismo na terceira idade, amém. )
“Me livrai”. Digitar pelo celular é uma bosta.
Leiam o “mesmo sem penetração” do Merten, não esqueçam.
Gostei muito do tempo Charlles. O tempo Milton é aquele que, mesmo que ele acorde mais tarde apertando botão snooze, vai dar tempo para tudo.
Triste sim, a morte prematura, e também a morte (ou quase) de sua carreira como atriz por causa do puritanismo que sempre vilaniza o que lhe incomoda e ataca o que é mais desprotegido. Ninguém recorda da cena em que ela enfia dois dedos no cu do Brando. Realmente a vida não tem lógica ou propósito, mas é melhor que seja assim, não?
Ah, na pressa esqueci uma vírgula. Imperdoável. Vou me açoitar trinta vezes esta noite.
Se não soubesse a diferença entre mal e mau, me açoitaria sessenta vezes. Se, quando não reconhecesse um erro e me defendesse com ataques pessoais, me açoitaria cem vezes.
Tá bom que eu vou me penitenciar por não escrever gramaticamente correto em comentários de blog… Vai esperando. Nem se fosse uma correção feita pelo Molina.
Vou soprar uma brisa aí para ver se te acalma.
Não é uma questão de gramatiquice, mas de significado de uma palavra. Coisa que me parece interessante num candidato a escritor.
Eu me acalmar? Mas quem foi que, à primeira provocação, em vez de reconhecer o erro saiu me chamando de velho e tudo mais?
Se você não se levasse tão a sério talvez descobrisse a graça disso tudo. Passar bem.
Não me levo nem um pouco a sério. Minha batalha diária, aliás, é justamente a de me levar mais a sério. Mas, essa discussão nossa (se é que se pode chamar assim), aparecida num post de uma mulher morta e iniciada involuntariamente por um comentário meu de cinco anos atrás, revela algo na superfície lógica que é bastante engraçado_ e enternecedor, se contarmos que essa caixa de comentários pode ser vista décadas adiante por pessoas que medirão nosso desamparo pela mesma efemeridade que nós agora medimos da Maria Schneider: tanto eu leio você em seu blog, quanto você me lê em meu blog, em infantil segredo (um segredo tão falho quanto os que eu brinco dizer para minha filha guardar, pois ela a primeira coisa que faz é contar para todo mundo).
Se você acha que eu me leve tão a sério, veja só, é que deve ter lido meus últimos posts. E eu li seus últimos textos e quase comentei neles, mas aí vi que a graça é mantermos essa desavença sem substância e pueril de desafetos cordiais, ou, mais precisamente, descordias afetos (e aí você pode me dizer que pesquisou no Google e viu que não existe a palavra “descordiais”, e eu respondo que, se formos apenas pela rigidez de certezas do Google, o Sério Molina é você são as mesmas pessoas, pois experimente digitar “Sérgio Molina tradutor” no Google images: dá só você na foto).
Como todo humorista, você tem o calcanhar de aquiles de se saber o que te irrita, e você, como todo humorista, se irrita demasiadamente fácil. (Fico rindo aqui com sua baixíssima resistência quando eu falo para você não se irritar: é tiro e queda.) E a menção do outro transcodificador do Cavalheiro da Triste Figura, então, é de ver bufar com a cara vermelha (assim como essa frase agora surte o mesmo efeito).
Eu tenho uma dislexia genética, herdado da minha mãe. A minha mãe é muito mais terrível do que eu: ela escreveu certa vez em seu Facebook “pães”, várias vezes, ao invés de “pais”. Há várias palavras que eu não consigo escrever corretamente. Por mais que eu tente decorar a diferença entre “mal” e “mau”, isso não me entra na cabeça. Tenho uma teoria que a dislexia esteja muito ligada a uma estética pessoal incontornável, pois eu acho a palavra “mau”, com “u”, de uma feiura terrível. Assim como abomino a palavra “aonde”; que coisa tosca é a palavra “aonde”, sonoramente quebrada, vulgar, proto-fônica. Transforma toda frase em uma pichação de muro das mais bestiais. E, bom, agora falo do meu amor-próprio (me levo pouco a sério, mas tenho um amor-próprio filho da puta_ não me condene por isso: é estúpido condenar algo que o instinto milenar trabalhou tanto para plantar certa eficácia de sobrevivência apenas pelo mesmo medo das sombras da caverna e do rugido à distância): eu amo esses meus erros, sempre amei. Lembro que no colegial eu era muito cultuado por minhas professoras de redação (o quê! Pelo menos isso me conceda, porra: você tem vários livros publicados e é o tradutor do Quixote (apesar do Molina…ops, foi sem querer (hehehe)), e eu não sou ninguém, só um blogueiro enrustido no armário do temor da rejeição do mercado editorial), e elas recorrentemente escreviam no verso das redações que não conseguiam me dar dez porque meus erros de português eram inadequadamente evidentes. Eu sempre tirava um digno 8,5, porque jamais abria mão de escrever errado e com uma caligrafia que tinha que me lembrar os rabiscos do Dostoiévski para poder escrever. Acho que esses erros dão plena liberdade para algo sinfônico das ideias.
Não grile comigo não, meu caro! Não se irrite. Vê se comunica o Google esclarecendo que o Molina é o Molina, e o Ssó é o Ssó. E larga mão de esperar uma noite inteira para responder na caixa de comentários, só para dar a impressão de que você é altaneiramente indiferente a isso aqui. Todo mundo sabe que você mal dormiu a noite querendo responder.
Beijos.
“o Sério Molina é você são as mesmas pessoas, pois experimente digitar ‘Sérgio Molina tradutor’ no Google images: dá só você na foto).
Morri! Juro que morri! Mas ainda:
Nada mais revelador do que glossar numa glossa de cinco anos atrás e fingir cacoetes de tradutor em lugar de uma real rivalidade pueril mas tenra. A confissão é metade da literatura. É exatamente por isso que sou mil vezes #TeamCharlles no lugar desse Ssólitário da escrita que nunca se leva a sério. Há uma confissão de covardia aqui que vale uma lição pra vida inteira. Mas quem sou eu pra ser professoral a essa hora da manhã.
Catem aí os erros da minha cacofonia a gosto. E me perdoem advogar pelo Charlles. Foi mais um ato de amizade que de necessidade. Todo mundo sabe que o Charlles não precisa de tutelagem.
Me passou pela cabeça terminar com “Quixote já foi mais feliz,” mas isso seria puro chiste. Confesso. Nem li a sua tradução. 😉
“Não é uma questão de gramatiquice, mas de significado de uma palavra. Coisa que me parece interessante num candidato a escritor.”
Ah, e desanimador ver um escritor já estabelecido golpear abaixo da cintura assim. Outro Ssófima. Confissão involuntária. Vício da vez: ressentimento.
Mas como não sou nenhum moralista não me atrevo a seguir. Afinal enumerar vícios é tão chato como listar erros de ortografia.