Li no livro Bartleby e companhia, de Enrique Vila-Matas, a curiosa definição de Marguerite Duras sobre o ato de escrever: escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos. Dou-lhe inteira razão, mas há algumas pessoas, dentre as quais me incluo, que negam o que escrevem e raramente releem o que deixam escrito por aí. Nem este blog é relido por mim.
Hoje, dediquei algum tempo a reler uns posts antigos e surpreendi-me com o grande número de frases e expressões que revisaria ou cortaria. Há idiotices incríveis. Encontrava aqui uma ideia que deveria estar clara e não está; ali, uma frase horrenda; mais adiante, surpreendia-me comigo mesmo — eu escrevi isto, isto sou eu ou um personagem? Ou sou eu meu personagem? Acho que é o caso. Afinal, quando divagamos sobre nossas vidas, não estamos reescrevendo um livro com caracteres mais brilhantes ou não para depois recolocá-lo — capa dura ou brochura — em nossa memória, a fim de retirá-lo no momento seguinte com o objetivo de mais uma revisão, a mesma revisão que não faço aos duros caracteres do monitor? Escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos.
Pô, que bom que vc se releu e se deu conta de todos esses … “probleminhas”… não sabia como te dar o toque.
Tem que reler, Milton, por favor! tem que reler…
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Engraçadinha…
Mas isso foi sério, não foi?
Bem Milton, esse é um sintoma bastante natural em gentes que tem um pouco de auto-crítica! Aliás, auto-crítica (maldita reforma ortográfica, não sei como se escreve isso!, sempre me pareceu reflexo de inteligência. Acho mesmo que a manifestação de reconhecer as qualidades e defeitos do próprio caráter, ou os erros e acertos de suas ações merece ser festejada, pois, não fosse assim, o universo da criação literária e da circulação das idéias poderia ser bem mais inflacionado de coisas cretinas e platitudes imperdoáveis! Eu próprio sou atacado por esse sintoma em proporções tamanhas que a muito tempo desisti de escrever qualquer coisa, salvo posts para o Milton. Acho até que andei assassinando uma reencarnação de Balzac que pretendeu se manifestar em mim…
Puxa vida, se ando despertando a autocrítica (acho que é assim) desta forma, vou acabar provocando suicídios.
Deixa de ser bobo, Milton! Tô tirando onda com a tua cara! Logo eu! Que releio trilhões de vezes o que eu escrevo e publico cheio de erros crassos e nao apenas estilísticos!
Ah vá! esse é o post tipo quero elogio, então toma: tu escreves nuito bem, ter coisa sobrando é normal e a gente só vê depois, às vezes, só com o tempo mesmo. Mas uma coisa é verdade: releio. Quem não relê nao acha nada para mudar! Não tem jeito!
Sabes que eu falo, quando eu acho alguma coisa pelo caminho, né? Então não pira!
Só tava pegando no teu pé pq eu gosto de ti e do que tu escreve!
Tá melhorzinho agora?
Então tá vou terminar minha greve (mas por tempo determinado: comporte-se)
Um beijo, Flávia
Me comportarei, prometo.
Eu releio centena de vezes a maioria dos meus textos antes de publicar… depois de publicados, continuo relendo. Cada vez que o faço, fico com vontade de mudar algo (e muitas vezes mudo mesmo… não vou perder cabelo por causa disso). Sou um escritor atormentado pelos meus escritos. 🙂
Bá, eu não tenho saco para mim mesmo…
Diz a lenda que Lévi Strauss também não relê… (sempre achei meio prepotente isso, e duvidei tb)
Clarice lispector relia e reescrevia mil vezes, mas depois de publicado, nunca mais!
Eu, como o Lévi Strauss, normalmente não releio minhas mensagens aqui no Milton, e por isso escrevo tantas asneiras e com tantos erros! hahaha
Não é prepotência, acho. É chato ficar se relendo.
Ou é pior que prepotência, acho que deveríamos ter revisores. Um slave revisor, saca?
Eu não sei Milton, eu não seria tão duro comigo mesmo no seu lugar. Você é um dos poucos blogueiros que conheço que escreve um texto por dia, e textos ótimos sobre assuntos ótimos. Erros aparecem, e não só erros como também trechos que nos incomodam (que me incomodam mais do que erros. Se o fagotista não alcança tal nota, que a pule, mas sentir que um trecho é fraco me incomoda muito mais). Mas para isso é preciso tempo… se você estivesse escrevendo um livro seria diferente. Ter um blog é como compor diariamente para televisão ou algo assim: tem que ter um nível de qualidade, mas a frequência e o pouco tempo impede o surgimento de obras primas. Eu componho muito rápido normalmente, e passo então o triplo do tempo revisando, polindo, acertando. Depois da versão final eu nunca mais mudo nada, para justamente assistir ao progresso. Não teria porque mudar composições antigas, nas quais meu estado de espírito era completamente outro.
Eu me forço a compor um pouquinho todo dia, nem que seja ao menos uma ou duas linhas ou até improvisando no piano e fazendo anotações grotescas e semi-ilegíveis.
Enfim, gosto muito dos teus textos e é por isso que passo diariamente aqui. Agora chega de puxação.
Grande abraço!
Obrigado, mas acho que vou largar o esporte da autorevisão.
Abraço!
Eu não costumo reler os meus textos, mas sempre que dou uma paradinha para olhar, meu Deus do céu, acho tudo meio esquisito, errado, confuso, penso que poderia ter feito diferente…sei lá o que é isso. hehehe
bjocas
Oh, me identifiquei!
O que mais me irrita no Vila-Matas é justamente essa coisa de, meio incapaz de colocar as próprias idéias em jogo, destaca em seus livros as idéias dos outros, que são as mais interessantes de seus livros. Nada do que escreveu sobre Bartleby o escrivão chega perto do conto/novela original de Melville; há somente uma elegância troncha de segunda via… Ok, isso que escrevi antes vale inclusive para as coisas que eu mesmo escrevo mas, conforme sua prática e de muita gente, dificilmente a gente relê o que escreve, o que, no meu caso, sobretudo, é um grande álibi para os erros cometidos, de estilo, gramática ou lógica elementar. Noytro dia foi engraçado: minha mulher citou um trecho que escrevi sem dizer a fonte, daí que, por método derrisório, meti o sarrafo nele. Gostaria de descobrir porque minha esposa gosta tanto de me sacanear. Uuummmmuuu…
A Rachel é esperta, não a deixe ensinar seu maquiavelismo, que fique só para ti…
:¬)))
Ah, sobre o Vila, estamos de acordo, para variar.
Milton, esta viagem ao redor do umbigo denomina-se TEMPO!
miLToN fRaNciS RiBeiRo, não acredito que você não tenha uma análise crítica sobre os textos que tu escreves neste Blog!
Tu estás de brincadeirinha, não estás?
É o seguinte:
então manda de volta, pra NÓIS, aquele texto sobre os veados (tenho a plena certeza que você sabe qual é) pra eu mandar de volta pra UCÊ, e pra NÓIS, o comentário sobre a veadagem no Pampa (já que você não lembra de nada, meu caro “Garibabaldidi”…).
você já esqueceu…
escreva algo sobre a própria condição de inteligência, ou de maneira mais precisa escreva para onde dirigem-se as maiores cabeças de nosso país… eu juro que eu vou ler a sua resposta… abraço