Bach é Bach
Handel, um Bach mais religioso
Mozart, um Handel mais jovem e bonito
Beethoven, um Mozart angustiado
Chopin, um Beethoven sem angústia
Tchaikovsky, Chopin mais orquestra
Debussy, um Tchaikovsky descontraído
Ravel, Debussy mais jazz
Gershwin, Ravel e ainda mais jazz
Joplin, Gershwin mas mais jazz
Stravinsky, Joplin atonal
Ives, Stravinsky e mais bagunça
Cage, Ives menos a música
Uma obra religiosa escrita por um ateu, uma obra inspirada pelo amor não consumado a uma mulher casada e uma obra para homenagear a cultura eslava. Este é o resumo do que é a extraordinária Missa Glagolítica do tcheco Leoš Janáček. Mas não vamos ficar apenas no resumo. Vamos adiante.
Alexandre Pushkin foi o escritor que, para além de seus grandes méritos literários, recebeu o crédito de ter ampliado significativamente o vocabulário do idioma, normatizando várias expressões populares e codificando o russo literário. Sabemos da importância que o idioma tem para a identidade e cultura de um povo, da parte fundamental que ele ocupa em sua autoafirmação e independência.
A Morávia do compositor Leoš Janáček foi, por quase toda sua vida, dominada por estrangeiros. Até a Primeira Guerra Mundial, em 1918, por exemplo, existia o Império Austro-Húngaro, que ia do centro da Europa até a fronteira com a Ucrânia. Então, finalmente, o povo tcheco pôde celebrar sua independência… Mas esta valeu apenas até 1938, quando os nazistas resolveram anexar o país. Depois veio a URSS.
Ou seja, a região da República Tcheca foi, até a queda do Muro de Berlim, em 1989, uma região constantemente esmagada pelas potências ocidentais de um lado e pela Rússia de outro.
Em 1926, Janáček, resolveu comemorar a efêmera independência de seu país escrevendo uma Missa. Mas não com uma Missa comum: optou, como ato de afirmação étnica, por uma missa cantada na antiga língua litúrgica eslava, o eslavônico. Por isso o nome da obra – “Missa Glagolítica”, ou seja, missa numa língua escrita no alfabeto glagolítico, antecessor do cirílico.
A Missa Glagolítica (Mša glagolskaja) foi apresentada pela primeira vez em 26 de junho de 1926 em Praga.
A opção do ateu Janáček por escrever uma missa de tintas étnicas é muito simbólica. Janáček apoiava o pan-eslavismo e a obra era um modo de celebrar a identidade e a cultura eslava. Não é uma mera Missa nacionalista tcheca, ela celebra todo o patrimônio pan-eslavo, usando a língua litúrgica que foi utilizada em diversos países eslavos.
Fora as cinco seções tradicionais da missa -– aqui com títulos em eslavônico: o “Credo” virou “Veruju”, o “Gloria” virou “Slava” e assim por diante — Janáček adicionou uma introdução orquestral e, perto do final, um sensacional solo de órgão seguido de um poslúdio sinfônico curiosamente chamado de “Intrada”, sei lá para onde, mas dá para imaginar.
A linguagem musical de Janáček não costuma ser delicada, mas é de originalidade, beleza e modernidade impressionantes. Os ritmos da Glagolítica refletem tanto a aspereza da língua antiga quanto a bagagem folclórica. A orquestração e o uso da voz humana são absolutamente pessoais e convincentes. E o drama da expressão – como na passagem da crucificação de Cristo, na qual o órgão assume papel fundamental – demonstra a vocação de Janáček para o teatro.
A música começa e termina com fanfarras. Há ainda muitos trechos de grande originalidade rítmica — principalmente para ouvidos treinados para formas diferentes –, além de memoráveis passagens para solistas e coro, e o famoso solo de órgão do qual falaremos mais a seguir.
Milan Kundera escreveu: “A Missa Glagolítica é uma orgia, não uma missa”. Vamos a mais um pouco de história: o pai de Kundera — um pianista e musicólogo que faleceu em 1971 — trabalhou com Janáček e ajudou o compositor nos ensaios para a estreia. Ela é uma das várias obras, justamente as melhores de Janáček, que é marcada por dois fatos que o motivaram muito no final da vida: a independência de seu país obtida em 1918 e, bem, seu enorme amor por Kamila Stösslová, uma mulher casada e 40 mais jovem que jamais compartilhou deste sentimento amoroso, mas que jamais afastou-se dele. Sim, os dois mantiveram por anos uma profunda amizade. Janáček parecia não se incomodar muito e mantinha suas juras de amor mesmo sem a contrapartida física.
Então, a musa Kamila Stösslová ocupa um lugar incomum na história da música. Leoš Janáček, ao conhecê-la em 1917 na Morávia, apaixonou-se profundamente, apesar de ambos serem casados e do fato de que ele sera quase quarenta anos mais velho. Ela influenciou profundamente o compositor em sua última década de vida. Kamila estava morando em Luhačovice (Morávia) com seu marido, David Stössel, e seus dois filhos, Rudolf e Otto. David estava no exército e até ajudou Janáček na obtenção de alimentos no tempo de guerra. Provavelmente o serviço militar de Stössel só deixava que ele passasse poucos dias em Luhačovice, dando a Janácek a chance de caminhar e conversar com Kamila durante o resto do tempo. Ele a conheceu em 3 de julho de 1917. Cinco dias depois, já escrevia apaixonadamente sobre ela em seu diário. Uma correspondência cerrada entre a dupla começou em 24 de julho.
Kamila devia ser muito inspiradora, apesar de impedir que o sexo se concretizasse. Foi para ela que Janáček criou várias mulheres de suas óperas, a Katya de Katya Kabanová, a raposa de A Pequena Raposa Astuta e Emilia Marty de O Caso Makropulos. Outros trabalhos que foram inspirados por sua paixão foram O Diário de Um Desaparecido, a Missa Glagolítica, a Sinfonietta e o Quarteto de Cordas No. 2 (Cartas Íntimas), ou seja, suas obras mais importantes. Na dedicatória das Cartas Íntimas, Janáček escreveu: “A música descreverá o medo que sinto de você”.
Como já disse, o ateu Janáček era um entusiasta do “pan-eslavismo”, movimento que valorizava mais as línguas eslavas do que o latim e as germânicas. Kundera tem razão em chamar a Glagolítica de orgia, pois há tanta música feliz, dançante e efusiva, que nem parece que estamos celebrando uma Missa, não obstante a participação do órgão. Ah, o ateísmo é libertador! Tudo na Glagolítica é moderno e original. O soprano solista parece uma guerreira, o baixo parece ter saído direto de um culto da Igreja Ortodoxa. Talvez seja a mais bela Missa do século XX, talvez melhor que a de Bernstein, que também é um espanto.
Voltando ao pai de Kundera, Ludvík: ele escreveu, numa crônica de 1927, que a Glagolítica fora “escrita por um velho homem religioso”. Janáček não parece ter gostado muito: “Não sou nem velho nem religioso”. Toma, Ludovico!
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O alfabeto glagolítico (glagólitsa nas línguas eslavas) é o mais antigo dos alfabetos eslavos que se conhece. Foi criado por São Cirilo e São Metódio por volta de 862-863 para traduzir a Bíblia e outros textos para as línguas eslavas. O nome vem da palavra glagola, que em búlgaro antigo significa palavra. Já glagolati significa falar e pode-se dizer, um tanto poeticamente, que glagolítico são “símbolos que falam”.
O alfabeto glagolítico original constava de 41 letras, embora a quantidade tenha variado levemente com os séculos. Das 41 letras glagolíticas originais, 24 são derivadas, provavelmente, de grafemas do grego medieval, os quais receberam um desenho mais ornamental.
Os caracteres restantes são de origem desconhecida. Acredita-se que alguns podem ter vindo de caracteres hebraicos e samaritanos, que Cirilo teria aprendido em suas viagens.
O nome “Glagolítico” é em checo hlaholice, em eslovaco hlaholika, em polaco głagolica, em russo, macedónio e búlgaro глаго́лица (transliterado glagólitsa), em croata glagoljica, em ucraniano глаголиця (transliterado hlaholytsia), em bielorrusso глаголіца (transliterado hlaholitsa), em esloveno glagolica, etc.
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Agora, um caso com o órgão presente nesta Missa. Ao folhear o livro Tudo tem a ver, de Arthur Nestrovski, dei de cara com um artigo que descreve o pânico de um organista que fugiu por medo de tocar o famoso movimento solo da Glagolítica. Isso dois ou três dias antes do concerto da Osesp. Nestrovski narra seu desespero e a brilhante solução, obtida quase que por sorte. Ah, querem spoilers? Nada disso, comprem o livro — que é bom demais, com ensaios sobre literatura, música popular e erudita.
O Inter fez uma boa apresentação contra o Nacional de Montevidéu e classificou-se para as quartas-de-final das Libertadores 2019. Agora, o adversário será o Flamengo, que eliminou o Emelec nos pênaltis para avançar. O jogo de ida, no Maracanã, será disputado entre os dias 20 e 22 de agosto. A volta será no Beira-Rio, entre os dias 27 e 29. Estaremos lá, imagina se não.
Dessa vez vencemos pelo placar de 2 a 0 — gols de Rodrigo Moledo e Paolo Guerrero –, com direito a bom futebol e algumas jogadas incríveis. Vejam algumas abaixo:
Além disso, a partida também marcou o recorde de público do Beira-Rio após sua remodelação, levando um total de 48.530 pessoas ao Estádio.
Deste modo, o Inter manteve a invencibilidade no torneio. Líder do seu grupo na primeira fase, vencemos as duas partidas das oitavas de final. Ao todo, são 6 vitórias, dois empates e nenhuma derrota, com 13 gols marcados e 6 sofridos.
O placar foi modestíssimo no primeiro tempo: 1 x 0, gol de Moledo. Perdemos muitos gols. Outros foram anulados. No segundo tempo, o time diminuiu um pouco o ritmo, mas nunca permitiu que o Nacional criasse chances de gols. O gol de Guerrero saiu só nos descontos, num contra-ataque, passe de Sóbis.
Foi uma atuação afirmativa, mas não Odair-free. A substituição de Nico López por Sóbis foi incompreensível, pois deixou o ataque mais lento. Nico jogou muito. Todas as jogadas de ataque passavam por ele. O restante dos jogadores atuaram muito bem, com exceção de Patrick, o desligado.
Guerrero é um menino de 35 anos. Dale um garoto de 38. Moledo e Cuesta estão seguríssimos. Lindoso jogou muito, mas saiu lesionado e, bem, ficamos preocupados para o jogo do dia 7 contra o Cruzeiro, no Mineirão, pela Copa do Brasil. Afinal, Dourado está machucado e o time já não terá Dale, expulso contra o Palmeiras. Edenílson passa por excelente fase. É um time muito empolgado, animado mesmo. E o que dizer de Bruno, de quem ninguém esperava nada? Mas as personalidades do time são Dale e Guerrero.
Se não podemos falar ainda em títulos, uma coisa podemos dizer: é um Inter renascido e participante de disputas importantes. Voltamos a ser players. Após a parada da Copa América, tínhamos 7 jogos decisivos em três semanas. Estes poderiam significar o final do ano futebolístico para nós. Em três competições. E estamos vivos nas três com certa tranquilidade.
E olho no árbitro contra o Flamengo. Se contra o Palmeiras já tivemos VAR contra nós, imaginem contra o time da Globo.
E vejam o que escreveu Gustavo Dariva Machado no Facebook:
O calendário que vem aí não vai ser fácil:
Agosto: 07 – Cruzeiro x Inter 14 – Secar ida Grêmio x Athletico 20 – Secar ida Grêmio x Palmeiras 21 – Flamengo x Inter 27 – Secar volta Palmeiras x Grêmio 28 – Inter x Flamengo
Setembro: 04 – Inter x Cruzeiro + secar volta Athletico x Grêmio 11 – 1ª final da CB (torcer ou secar ou ainda Gre-Nal) 18 – 2ª final da CB (torcer ou secar ou ainda Gre-Nal)