Olá, Milton. Antes de abrir e começar a ler, eu estava achando que o título do livro era brincalhão. Bom, e é isso mesmo, mas também é, ao seu modo, apocalíptico, por que não? “Tudo é movimento irregular e contínuo, sem direção e sem meta”, a epígrafe de Montaigne ficou perfeita aplicada não apenas ao conto Breve relato da aniquilação, mas ao livro todo. Há comédia nas histórias e é exatamente por aí, no breve riso, que o irregular sem pausa, sem direção e sem meta, se infiltra por rachaduras abertas a todo instante. Li na ordem em que os contos se apresentam, do primeiro ao último. Perto do fim, estava com sensação de feira do burlesco, com atores mambembes fazendo alegorias da morte. E então encontrei a tua nota final sobre O Sétimo Selo. O bom é que os teus apocalipses insinuados se fazem sem grandiloquência, coerentes com as pequenas comédias do cotidiano cheias de fraturas. Não é um apocalipse de uma só vez, hollywoodiano. A abertura do derradeiro selo acontece em conta-gotas e, por vezes, é de uma graça que desvia o drama de resvalar em direção à desgraça. O teu apocalipse deixa a dúvida, irá mesmo acontecer? E aí está o melhor. Meus contos preferidos foram Adaptações, Para não falar de todas as mulheres (uma pausa no fim dos tempos, um doce com cafezinho), Breve relato da aniquilação, Luciana e o hedonismo, Daqueles que não se denunciam e Vicentina.
Abraço. Espero que 2021 não se torne para o Inter o que 2003 foi para o Grêmio: a prévia da queda mais do que anunciada para o ano seguinte.