Uma faceta de Erico Verissimo no dia de seus 120 anos

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Hoje é o dia dos 120 anos de Erico Verissimo. Ele foi o escritor me convenceu que este negócio de literatura era mesmo interessante. “O Continente”, primeiro volume de “O Tempo e o Vento”, me pegou de jeito. Tinha 15 anos e não era muito de ler, era só de jogar futebol da manhã à noite, para desespero de minha mãe e de minhas roupas.

Ele também demonstrou que a música era algo que ocuparia um grande espaço em minha vida. O tal “Solo de Clarineta” era o solo do Quinteto de Brahms para Clarinete e Cordas. Alguém em “O Senhor Embaixador” dizia que não conseguia mais ouvir Bartók, pois a primeira metade do século XX europeu estava ali. E está mesmo. Se lembro bem, o Eugênio de “Olhai os Lírios do Campo” toca Chopin ao piano, e peças de compositores como Beethoven e Schubert são citadas. Não lembro de nada do romence “Música ao Longe”, mas o título denuncia. A gênese de “O Tempo e o Vento” foi um tio de Erico sentando sobre (e quebrando) alguns de seus discos e simplesmente pedindo desculpas. Ops.

Em romances como “Clarissa” e “Caminhos Cruzados”, a música surge como sinal de sensibilidade e refúgio íntimo. Personagens escutam rádio, tocam piano, comentam concertos ou canções populares. A música é desejo de transcendência e sinal de classe social.

Já em “Incidente em Antares”, a música ganha tons irônicos e críticos: bandas, hinos, músicas oficiais e populares contrastam com o absurdo da situação, reforçando a sátira. O som do poder entra em choque com o caos moral da cidade.

Erico escreve com o ouvido. Sua prosa tem ritmo, alternância de andamentos, pausas, crescendos. Ele alterna vozes, repete motivos, cria variações. Nesse sentido, sua literatura é musical não só no conteúdo, mas na forma.

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