Todas as coisas, se postas à luz, distribuídas com equilíbrio e observadas de forma serena, apresentar-se-ão tais quais são, ao menos com o máximo de verdade que se pode obter numa esfera humana. A Verdade está sempre associada à luz, ao desatar de nós e à contemplação imparcial.
Dito isto, e usando este critério, todo sistema de ideias que seja simples, claro e objetivo, está do lado da Verdade, ou ao menos se pode dizer que está “no caminho certo”. E, por outro lado, todo sistema que seja confuso, hermético e complicado, tende a estar do lado da Mentira.
A marca histórica da esquerda é a falta de clareza. Claro, pois para justificar um sistema de crenças que não funciona, é esperado que as assertivas não pudessem ser facilmente analisadas ou refutadas, esperando-se do discípulo apenas a fé no que o mestre diz. Assim, não só disciplinas típicas da esquerda, como a Sociologia e a História, mas todas as outras são absorvidas em seu aspecto heterodoxo, para ser útil à agenda esquerdista.
Vejamos alguns exemplos de complicações oportunas:
Tendo o objetivo final de implantar o socialismo, associado à ideologia marxista, é necessário primeiramente, a quem busca isto, dizimar os sistemas de crenças concorrentes. O Cristianismo, a ideia de Verdade, o conceito de indivíduo, de responsabilidade, família e outros ligados à tradição e com matizes conservadores, devem ser postos em contradição, desacreditados, deixando a todos sem um sistema de crenças, perdidos, para, em seguida, ser vendida a solução socialista. O povo desesperado e atomizado não terá escolha senão amar o Grande Irmão, como em 1984, de George Orwell.
Um time de filósofos se empenhou, alguns talvez inconscientemente, nessa missão. Cito como exemplos a Escola de Frankfurt, tendo como representantes ilustres Adorno, Horkheimer e Habermas, retomando Marx, Hegel e outros anteriores, agora em termos mais atuais e adequados à nova geração. A França contribuiu bastante, com Sartre, Foucault, Derrida, Deleuze, Guattari e outros. As obras Pensadores da Nova Esquerda, de Roger Scruton, e Imposturas Intelectuais, de Sokal, dão conta de explicar o fenômeno.
Dada a competência literária de alguns desses filósofos, como Foucault e Deleuze, o que temos é um desfile de conceitos imprecisos, conclusões ilógicas e projeção de vivências impossíveis, ao lado da beleza da escrita, da menção apaixonada de passagens literárias, cinematográficas e filosóficas, com grande pirotecnia erudita e mistura de fatos e sentenças verdadeiras no caldo mentiroso da teoria. O poder de sedução é real, fisgando o leitor incauto.
A física tradicional newtoniana é, para quem quer confundir, excessivamente exata, matemática e previsível. São objetos em movimento no universo, seguindo leis já mapeadas.
O interesse se volta, portanto, para a física quântica e ramos associados. A física quântica, através de extrapolações indevidas de descobertas de cientistas como Einstein, Heisenberg, Schrödinger, Planck e outros, ganhou a fama de ser o ramo científico onde “tudo pode”. Estar em dois lugares ao mesmo tempo, ser e não ser, teletransporte, telepatia, o mundo como um sonho, o nada que é tudo, enfim, uma espécie de “liberou geral” da ciência, contrário à física newtoniana, e que certamente não seria autorizado pelos físicos quânticos, os quais eram sérios.
E por que o interesse da esquerda na física quântica? Porque “harmoniza” com o uso de drogas, com a ideia de que o indivíduo é uma ilusão, criando uma justificativa racional para a irresponsabilidade e o ateísmo. Ambos os resultados bem úteis e “capitalizados” pelo movimento revolucionário.
A Estatística pode justificar virtualmente qualquer coisa e esconder a verdade, ao invés de trazer esta à luz. O tratamento estatístico dos dados, contrariamente ao uso atual, foi concebido para mensurar a incerteza do mundo e organizar as probabilidades dos eventos de forma elucidativa, permitindo induções.
A obscuridade vem de não sabermos exatamente, na enxurrada de informações, de onde vêm as tabelas, as conclusões, quais os métodos usados pelo IBGE etc. Dizem disponibilizar, mas não é simples achar. E se sabe da ingerência em órgãos de estatística por governos autoritários, como constatado pela revista The Economist, em relação à Argentina, no artigo Wrong Numbers (2013).
Na televisão, usa-se o dado, por exemplo, em relação: 1) ao mês passado 2) ao mesmo período do ano passado 3) ao desenvolvimento no trimestre 4) ao acumulado no ano 5) à série histórica dos últimos 3, ou 5, ou 10 anos. Isto dependendo do que se quer provar e do interesse de dar informação “positiva” ou “negativa”. Parte-se do resultado para a pergunta, quando deveria ser o contrário.
É notória a prolixidade dos textos de economistas keynesianos ou de cunho intervencionista. A matemática intrincada preenche as lacunas racionais, criando nos leitores a sensação de que quem escreveu aquilo “sabe o que está fazendo” e o entendimento, um tanto caipira, de confiar em alguém que fala algo difícil, como se fosse verdade. Questionar tais equações levaria o aluno ou cidadão a ser alvo de um riso de superioridade do economista.
O resultado todos conhecem bem, em especial no Brasil: aumento do gasto público e desenvolvimentismo. Todas aquelas elegantes variáveis dispostas num arranjo indecifrável levam ao populismo. Claro, contas devem ser feitas, mas podem muito bem ser claras e resumidas. De nada adianta termos derivadas e integrais, se não sabemos somar, fato que se infere das propostas legislativas irracionais e déficit fiscal insolúvel.
A grande qualidade da Escola Austríaca foi retomar a “simplicidade” dos primeiros economistas liberais, os quais, em grande parte, eram também filósofos. O autor de Riqueza das Nações, Adam Smith, um dos pais do liberalismo clássico, por exemplo, foi também autor de Teoria dos Sentimentos Morais.
O alerta de Hayek em Desemprego e Política Monetária permanece atual. Expressa que prefere “o conhecimento imperfeito, mas verdadeiro – mesmo que ele traga, necessariamente, considerável dose de indeterminação e incapacidade de previsão – a um pretenso conhecimento exato, mas provavelmente falso”. Bertrand Russell também nos diz na obra Os Problemas da Filosofia que “as verdades da lógica e da matemática têm (grosso modo) menos evidência à medida que se tornam mais complexas”.
O Ocidente começa com a simplicidade das perguntas de Sócrates, que pedia que “os que sabem” dissessem o que, de fato, sabem. Devemos retomar isto. Quando um filósofo, estatístico, físico ou economista disser algo impenetrável e sem sentido, devemos dizer “não entendi, explique melhor”. Sem medo do ridículo, o que causará pânico entre os esquerdistas. Estejam alertas!
* Lucas de Moura Lima é formado em Administração de Empresas, especializado em Produtos Financeiros e Gestão de Risco