Porque hoje é sábado, a música erudita, essa assexuada

(Os nomes das instrumentistas e cantoras estão nas tags, ao final do post).

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Algumas pessoas relacionam a música popular com a sensualidade

Janine Jansen, Violine

e a erudita com a secura e a aridez.

02 helene grimaud

(Sim — fazer o quê? –, é incontornável declarar

03 anna-netrebko

que alguns seres são mais limitados que outros).

04 Julia Fischer

E como há músicas eruditas plenas de sexo, amor e paixão!

05 Angela Gheorghiu

Alguns ouvem música apenas com o sentimento, outros com as pernas,

06 Sarah Chang

mas há aqueles que ouvem toda a estrutura, até a estrutura física de quem executa

07 danielle de niese

a obra e nosso coração. (Pura fantasia deste que vos escreve?).

08 Vanessa-Mae

O instrumento é como se fosse a extensão do corpo do músico..

09 natalie clein (2)

Porém, é evidente que a maioria dos bons músicos não são belos;

alina ibragimova

pois, assim que como nem todos os belos são lá muito sensuais,

11 anne-sophie-mutter

os feios podem ser sensualíssimos.

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Porque hoje é sábado, Anna Netrebko e Alondra de la Parra

A maioria de vocês nem se deu conta,

mas, um dia, William Shimell comentou no meu blog.

Irônico, ele me aconselhou a não sentir muita inveja dele…

Acontece que ele, enquanto gravava Cópia Fiel com Juliette Binoche,

saía à noite para cantar em uma ópera ao lado de Anna Netrebko. Ele é barítono.

Não é que eu sentisse inveja do putão, é que eu sentia — e ainda sinto —

MUITA inveja. Pois Binoche e Netrebko não apenas belas,

são inteligentes e talentosas, características nem tão raras…

… e que deixam irresistíveis as mulheres são delas dotadas.

Sempre achei patéticas aquelas mulheres que dizem que os homens (todos)…

… têm medo da independência, da capacidade e de qualquer coisa excepcional …

… e positiva que haja nelas. Medo de algo tão desejável? Céus, que maluquice.

Penso que seja o argumento das muito feias e nem tão espertas… Ops, desculpem.

Prefiro ser regido por Alondra de la Parra,

adestrado por Anna Netrebko,

ou treinado por Binoche,

e discutir diariamente a regência, o adestramento e o treinamento com elas,

a passar a vida ou alguns meses ou dias com alguém linda e sem conteúdo.

Vejam Alondra acima.

e Netrebko… Há algo melhor?

Depoimento de Alondra de la Parra from Osesp Oficial on Vimeo.

Concerto Osesp – Alondra de la Parra rege Segunda Sinfonia de Mahler from Osesp Oficial on Vimeo.

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Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami

Escrever poucas linhas sobre Cópia Fiel é muito mais complicado do que dedicar-lhe uma tese. Posso começar tergiversando, apesar de dizer uma verdade: é um filme que provoca reações apaixonadas, para o positivo e o negativo. Um sujeito, certamente um menino, crítico de cinema na internet, disse que o filme era chato porque as discussões de relacionamento são chatas. Sim, sei, ele deverá ter futuros. É uma opinião das mais primárias, mas demonstra o cerne de certo ódio ao filme. Porém, dizer que este belíssimo Cópia Fiel, de personagens que mudam de cena para cena, de imagens deslumbranres e atuações impecáveis, de roteiro moderno e até virtuosístico, dizer que o filme é apenas uma DR é uma redução muito emburrecedora.

Com pouquíssimos spoilers, certo? Não pretendo estragar o prazer de ninguém: durante uma visita à Toscana para lançar seu novo livro sobre história da arte e  a importância das cópias nas artes plásticas, o ensaísta inglês James (William Shimmel) é acompanhado por Elle (Juliette Binoche), uma franco-italiana proprietária de galeria de arte. Ela o leva em um passeio de carro para conhecer a região e o dois começam uma discussão — entre o irônico e o azedo — sobre os conceitos do livro. Sem que pareça crível, tudo começa a mudar depois da antológica cena com a dona de um café. Ela, cheia de experiência, admira e elogia a dupla com alguma sabedoria de vida. Então, os dois passam a se comportar como um experiente, velho e cansado casal, transformação que já vinha ocorrendo discretamente e que se completa no café. Aquilo que vimos antes era uma cópia? Ou aqui a temos? A má relação entre Elle e seu filho não é outra cópia fiel desta que nos será apresentada? Quantas cópias, quantos vezes repetimos nossos padrões de relacionamento? E o que tem isto a ver com o filtro interior através do qual analisamos um quadro ou uma realidade? A cena do café, onde até o idioma serve para separar, é central no roteiro de Kiarostami.

Neste filme desalentador, muitas dúvidas universais e humanas nos ocorrem. Como obra cinematográfica, o que me arrebata é o fato de que Kiarostami toca fundo na humanidade dos personagens e dos casais sem a menor afetação. Evitando inteiramente uma fácil abordagem pernóstica e “inteligente”, o iraniano nos leva por um tema universal de forma discreta e firme, mostrando-nos as camadas de realidade que há, umas sob as outras como um quadro repintado ou retocado. Binoche cumpre novamente uma atuação perfeita e os prêmios de Cannes e outros de melhor atriz por este filme são merecidos. A surpresa é a bela atuação de seu partner, William Shimell, que não é bem um ator e sim um conhecido barítono que, nos intervalos das fimagens com Binoche, viajava para contracenar com Anna Netrebko em Cosi fan tutte, de Mozart, já na pele do solteirão Don Alfonso. Ah, se a minha inveja fosse mortal, esse Shimell cairia morto agora.

Serviço: vi Cópia Fiel no fim-de-semana, em pré-estreia no Guion, claro.

~o~

Então, resumindo minha inveja:

Este William Shimell,

contracenava com Juliette Binoche

Juliette Binoche em Cópia Fiel

e, nos intervalos, cantava com Anna Netrebko.

Na boa, vai tomar no cu, Shimell.

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