Eu (ou)vi Mônica Salmaso cantar novamente

Eu (ou)vi Mônica Salmaso cantar novamente
Mônica Salmaso e eu, todo bobo | Foto: Norberto Flach
Mônica Salmaso e eu, todo bobo | Foto: Norberto Flach

Já se passaram mais de três dias e eu ainda não desci. O recital de Mônica Salmaso André Mehmari no StudioClio tirou-nos do chão de tal forma que ainda estou flutuando em perfeito conforto eufônico. Escrevo ainda com alguns centímetros a mais. Na saída do recital, ficamos conversando com Mônica e Mehmari como se não houvesse amanhã. Mônica pediu um Suco de Coruja, isto é, a cerveja Baca, da Coruja, e Mehmari disse que nunca a tinha visto com um copo daqueles na mão. Fotografou-a. Então, achamos — eu, Elena Romanov, Catia Nunes, Norberto Flach, Rovena e Francisco Marshall — que tínhamos realmente presenciado algo inédito.

Engano. Esta é a quarta vez que assisto um show de Mônica e foi sempre assim: voz linda, cheia de insuspeitados timbres, afinação perfeita, impecável senso de estilo e uma escolha de repertório de extremo bom gosto. E sempre com diferentes canções. Artista na mais gloriosa acepção do termo, ela sempre consegue criar um clima de tal eletricidade no ar que a gente sai da sala cuidadosamente para que nada estrague a sensação. Com simplicidade, ela se autodenomina uma “carola da canção”. Quando termina, nada mais natural do que aproximar-se de Mônica para garantir que não foi imaginação e que a moça que nos leva às alturas é mesmo de verdade. E conhecemos uma pessoa acessível e muito disposta a conversar — justo com a gente!

Haverá mais oportunidades para ver Mônica. Afinal, é só aqui no nosso Mercado Público que tem a rapadura preparada com melado enrolada em palha de milho que a avó dela ama.

E, para não esquecer, aí está a lista de canções do show:

Camisa Amarela  (Ary Barroso)
Acaçá (Dorival Caymmi)
Tonada da Luna Llena (Simon Diaz)
Milagre (Dorival Caymmi)
Senhorinha (Guinga / Paulo C. Pinheiro)
Doce na Feira (Jair do Cavaquinho)
Pra que discutir com madame  (Janet Almeida / Haroldo Barbosa)
Insensatez (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
Saruê (Sérgio Santos / Paulo Cesar Pinheiro)
Sinhá (Chico Buarque/João Bosco)
Pés no chão (Mario Laginha/Maria João)
Morro Velho (Milton Nascimento)
Modular Paixões (André Mehmari/Luiz Tatit)
Espelho (André Mehmari)
Tentar dormir (André Mehmari/Luiz Tatit)
Casamiento de negros  (Rec. adap.Violeta Parra)
Baião de Quatro Toques(José Miguel Wisnik)
Canoeiro (Dorival Caymmi)

P.S. — O StudioClio é perfeito para este tipo de artista. Sala aconchegante e de boa acústica, a melhor de Porto Alegre.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Crônica de encerramento do 2º POA Jazz Festival

Crônica de encerramento do 2º POA Jazz Festival

POA Jazz FestivalO 2º POA Jazz Festival teve uma noite de encerramento que aponta tranquilamente para a consolidação do evento em nossa cidade. Afinal, para ver o triplo concerto de Swami Jr., do New York Gypsy All-Stars e de John Surman, lá estavam 1100 pessoas. Isso é gente pacas. E eles não se decepcionaram.

A noite de encerramento começou às 20h de domingo e terminou à 1h30 de segunda-feira. Ainda bem que era feriado.

Tudo começou com o brasileiro Swami Jr. Ele tocou violão solo, mas os melhores momentos foi quando chamou ao palco Alexandre Ribeiro (clarinete e clarone) e Douglas Alonso (percussão). O clarinete de Alexandre Ribeiro tomou conta do palco, engolindo até o protagonista. Mas não pensem mal de Swami. É comum a banda entusiasmar mais do que o artista que fomos ver.

Swami Jr. | Foto: Eduardo Quadros (Divulgação)
Swami Jr. | Foto: Eduardo Quadros (Divulgação)

A mistura de culturas tomou conta do palco com o grupo New York Gypsy All-Stars. Formada nos Estados Unidos com músicos oriundos das principais escolas do país, a banda tem a peculiaridade de possuir como instrumentistas um clarinetista da Macedônia, um baixista grego, um baterista turco e dois norte-americanos de origem judaica. Eles fazem um som do car… dos Bálcãs, melhor dizendo. Com a energia do melhor Goran Bregovic e com o espírito festivo muito particular da região — uma tremenda bagunça com músicos de arrebatador virtuosismo –, os caras fizeram a plateia dançar, bater palmas e vibrar como se estivesse num campo de futebol vendo o seu time vencer o tradicional rival. Jogando bem e bonito. Deixaram uma batata quente para John Surman, que…

The New York Gypsy All-Star | Foto: Eduardo Quadros (Divulgação)
The New York Gypsy All-Star | Foto: Eduardo Quadros (Divulgação)
Essa foto do site de clarinetista Ismail Lumanovski demonstra mais o ambiente do show
Essa foto do site de clarinetista Ismail Lumanovski demonstra mais o ambiente do show

… tirou de letra. Surman é um gigante, literal e metaforicamente. Grande estrela da ECM, onde gravou verdadeiros clássicos do jazz, como Upon Reflexion (solo), Coruscating (com quarteto de cordas) e Brewster’s Rooster (com banda de jazz), este inglês de Tavistock chegou para repor a ordem no festival. Aos 71 anos, entrou sozinho no palco com seu saxofone soprano. Fez um solo sobre uma base pré-gravada por ele mesmo (*). Algo hipnótico que nos tirou do ambiente de festa cigana para voltar ao mundo do melhor jazz — nada contra os ciganos, bem entendido. Começava ali o brilhante encerramento do festival. Surman tocou com os músicos brasileiros Nelson Ayres (piano), Rodolfo Stroeter (baixo) e Ricardo Mosca (bateria), isto é, 3/5 do Pau Brasil.

Entro sozinho e hipnotizo todo mundo | Eduardo Quadros (Divulgação)
Surman poderia ter dito: “Entro sozinho e hipnotizo todo mundo” | Foto: Eduardo Quadros (Divulgação)

O resultado foi absurdamente bom. O Pau Brasil é um supergrupo, Ayres e Stroeter são extraordinários, mas Surman fica um passo acima. A forma como ele ouve os outros músicos, como toma seus solos para si, a sonoridade delicada e profunda de seus sax soprano e do clarone, justificaram plenamente o fato de termos saído de lá em plena madrugada, nesta cidade chuvosa e insegura. O entusiasmo dos músicos que estavam com Surman foi bonito de ver. O baixista Stroeter, por exemplo, parecia querer continuar o show ad infinitum. Por ele, acho que estaríamos até agora lá. Se o estoque de Corujas aguentasse, tudo bem.

Monstros: Surman e Stroeter em ação.
Monstros: Surman e Stroeter em ação | Foto: Francisco Marshall

(*) O clarinetista Augusto Maurer me corrige:

O solo inicial do Surman não foi sobre uma base pré-gravada! Aquilo era um algoritmo que manipulava o que ele tocava EM TEMPO REAL! Como um eco computadorizado, bem sofisticado (alterava oitavas, coisas assim…).

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Solar Coruja

Solar Coruja

Já faz tempo, quase uma semana. Na última terça-feira à noite, fui convidado para a apresentação do Solar Coruja, na Rua Riachuelo, 525. No coquetel, houve cerveja Coruja, comidinhas e música, pois há salas para tanto na bela casa do novo Solar. Mas o que impressiona é o novo e extraordinário local para happy hours na cidade. E é isso mesmo. O bar abre das 17 às 22h, oferecendo cervejas e acompanhamentos, mas nos outros horários haverá cursos sobre, é claro, cerveja.

A Coruja parece ser uma empresa diferente, preocupando-se frequentemente em ligar a arte e a história a seus produtos. Deve ser matéria de convicção de seus proprietários a insistência num gênero de convívio que privilegia o frutífero e a sabedoria ao beber. Porque arte, música, livros e espaços culturais como o StudioClio não dão dinheiro no Brasil, mas os caras insistem. É bonito e digno e eu adoro a Labareda, aquela cerveja com pimenta…

Abaixo, quatro fotos do local para sentir o clima:

Solar Coruja 1

Solar Coruja 2
Solar Coruja 3
Solar Coruja 4

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!