Tchaikovsky teria cometido suicídio a pedido do czar em razão de um ‘desonroso’ caso homossexual

Tchaikovsky teria cometido suicídio a pedido do czar em razão de um ‘desonroso’ caso homossexual

O filho do embaixador ficou tão perturbado e emocionalmente abalado pela experiência que seu pai não teve outra escolha senão expressar sua indignação moral no mais forte dos termos…

Do Russia Insider

Tchaikovsky

Existem inúmeras teorias relacionadas com a causa da morte do compositor russo Pyotr Ilyich Tchaikovsky. Talvez o melhor texto sobre este assunto tenha sido produzido para a BBC pela Dra. Marina Frolova-Walker. A autora é uma musicóloga, historiadora da música russa e professora da Universidade de Cambridge. Lógica e direta, ela tenta uma análise através de uma névoa confusa de conjeturas, rumores e alegações. Após ter examinado todas as teorias, a Dra. Frolova-Walker nos apresenta quatro cenários ou versões possíveis e, em seguida, aborda a plausibilidade de cada uma.

A Versão #1 é a clássica. O compositor morreu de morte natural, como resultado de uma infecção de cólera. Houvera um surto da doença na época da morte de Tchaikovsky e de alguma forma ele se infectou, morrendo de insuficiência renal. Isto teria ocorrido após um jantar com amigos em um restaurante. Nenhum outro do grupo contraiu a doença.

A Versão #2 é que o compositor cometeu suicídio bebendo conscientemente água não fervida, o que levou à morte por infecção de cólera. Seu irmão Modest insistiu em dizer que Pyotr bebeu água contaminada em casa, também de uma torneira. A autora considera que ambas as alegações são altamente improváveis porque Tchaikovsky e seus empregados sempre foram meticulosos sobre toda a água de casa. O fato da mãe do compositor ter morrido de cólera só acentuou sua extrema vigilância sobre o assunto.

A Versão #3 tem a ver com um caso amoroso que Tchaikovsky teve com um membro da Corte Imperial. Tendo recebido uma carta de protesto de um tio indignado, o czar dera-lhe um ultimato: ou enfrentava um julgamento público humilhante ou cometia suicídio. Tchaikovsky teria escolhido o último e, com a ajuda de seu médico, teria se envenenado, provavelmente com arsênico.

A Versão #3a vem da musicóloga russa Alexandra Orlova. Ela sustenta que a morte do compositor foi o resultado de um veredicto de uma corte secreta de Honra. Um certo Nikolai Jacobi supostamente tinha em sua posse uma carta de um conde cujo sobrinho tinha sido seduzido por Tchaikovsky. A carta era para ser entregue ao czar, mas não foi. Este Tribunal de Honra consistia de antigos colegas da Faculdade de Direito e, depois de cinco horas de deliberação, “sugeriram-lhe que cometesse suicídio para evitar a desonra da escola”.

A Versão #4 diz respeito a um assassinato conspiratório em que Tchaikovsky é envenenado por seu próprio médico, Dr. Bertenson, por ordem do czar. O médico, em seguida, teria encoberto o crime.

A Dra. Frolova-Walker, rejeita as versões #2 e #4 como especulações baseadas em rumores. E duvida da #1.

Mas há um toque final para esta história de mistério …

Svetlana Gorbacheva — pianista clássica por formação — foi diretora do “Bolshoi Zal”, sala de concerto no Conservatório de Moscou. Durante sua gestão, Svetlana e sua equipe descobriram uma carta que tinha sido enviada para Tchaikovsky por ninguém menos que o próprio czar russo. Em linguagem inequívoca, o chefe de Estado russo advertia claramente Tchaikovsky por trazer vergonha ao país devido a um caso com o filho do embaixador espanhol em Moscou. O jovem ficou tão perturbado e emocionalmente abalado pela experiência que seu pai não teve outra escolha senão expressar sua indignação moral no mais forte dos termos.

Grave e solenemente, o czar declara que Tchaikovsky — como cavalheiro e aristocrata — saberia o que fazer.

E assim, ninguém sabe exatamente do que morreu Tchai. O que se sabe é que, hoje, poucos acreditam na versão oficial, a #1. Sobram as duas versões da terceira e o incentivo do bondoso czar.

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Neva, peça uruguaia apresentada no Porto Alegre Em Cena

No dia 9 de janeiro de 1905, um dos mais importantes da história do século XX, Olga Knipper e mais dois atores, Masha e Aleko, estão num teatro de São Petersburgo. Olga, viúva de Anton Tchékhov, morto seis meses antes, é uma pessoa de rigorosa frivolidade, ao contrário do ex-marido. Verdade, ela era mesmo assim. Era domingo, dia em que as tropas czaristas massacraram um grupo de trabalhadores que viera fazer um protesto pacífico e desarmado em frente ao Palácio de Inverno do Czar. O protesto, realizado após a missa e com a presença de muitas crianças, tinha a intenção de entregar uma petição — sim um papel — ao czar, solicitando coisas como redução do horário de trabalho para oito horas diárias, assistência médica, melhor tratamento, liberdade de religião, etc. Os trabalhadores não sabiam, mas o czar nem estava no Palácio. A resposta à petição foi dada pela artilharia, que matou mais de cem trabalhadores e feriu outros trezentos. Os Romanov acharam natural.

Porém, dentro do teatro, bem em frente ao rio Neva, Aleko e Masha ajudam Olga, a diva, a ensaiar O Jardim das Cerejeiras enquanto aguardam o diretor de peça, ou a Revolução, ou alguma outra coisa desconhecida. Olga quer apenas o reconhecimento de seu talento, Aleko é conservador e deseja que o mundo permaneça como está e Masha faz discursos inflamados de que mundo mudará para melhor com a Revolução. Mas não é tão simples. Após ensaiar por diversas vezes a morte de Tchékhov com Olga e Masha, Aleko às vezes parece encarnar o autor, agindo de forma diferente do habitual, caindo fora de seu ideário.

A peça Neva — absolutamente notável — é uma montagem uruguaia sobre texto do chileno Guillermo Calderón. É falada, evidentemente, em espanhol. Amigos, que atores e que texto! Nesta pequena anotação, é importante lembrar que o espetáculo traz, em 1h15, um contexto completo: há uma profunda reflexão sarcática a respeito da arte teatral, há a vida privada com foco nas vaidades dos atores e há o drama popular da revolução nascente.

Lembra alguns dos primeiros filmes de Nikita Mikhálkov, principalmente Olhos Negros e Peça Inacabada para Piano Mecânico, mas com muito mais peso. Aqui temos menos humor e muito mais sarcasmo. A peça também se utiliza de grandes fatias da realidade social e da vida pessoal de Olga e Anton. Conhecendo um pouco da história da Rússia e sendo Tchékhov um de meus autores preferidos, dá para notar claramente que o dramaturgo foi fundo na investigação das biografias e da época. As várias versões apresentadas para a morte de Anton são os momentos onde Olga é mais atacada. Indiretamente. O artifício de se fazer teatro dentro do teatro resultou muito eficaz.

A montagem de Neva é despojadíssima. São três personagens, um banco, uma janela por onde passam revoluções e ironias e iluminação mínima que sai de um spot manipulado pelos próprios atores. Os atores são Bettina Mondino, Paola Venditto e Moré.

Olha, recomendo fortemente. A peça ainda estará em cartaz hoje e amanhã, às 22h, no Teatro de Câmara Túlio Piva. Ontem estava quase lotado, o que significa que há ingressos disponíveis.

~o~

Antes das 22h, assistimos à primeira parte do Concerto da OSPA. A Sinfonia Nº 82 de Haydn e a Abertura Coriolano de Beethoven estiveram maravilhosas. Deu dó de sair no intervalo. Mas valeu a pena.

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