Bamboletras recomenda rabinos, esculturas de Porto Alegre e o fim da trilogia Escravidão

Bamboletras recomenda rabinos, esculturas de Porto Alegre e o fim da trilogia Escravidão

A newsletter desta quarta-feira da Bamboletras.

Nurit Bensusan

Olá!

Três importantes livros. A ‘Escultura Pública de Porto Alegre’ mostra os 250 anos da cidade através das obras que são instaladas em praças, viadutos, fachadas, cemitérios, trazendo 1900 fotos, além da história de cada trabalho. Já o Volume III de ‘Escravidão’ finaliza a grande obra de Laurentino Gomes sobre esta definidora chaga de nosso país. E ‘Com quanto rabinos se faz um Raimundo’ é um grande livro de ficção sobre nosso preconceito de classe. Confiram!

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A Escultura Pública de Porto Alegre, de José Francisco Alves (Edição do autor, 412 páginas, R$ 220,00)

Um livraço incrível! Focando-se especificamente nas obras de arte pública da capital, mas tendo por fundo a história da cidade, são abordados centenas de trabalhos, dos primeiros exemplares instalados em 1865 (chafarizes franceses) às peças instaladas em logradouros públicos, em 2022. Com 412 páginas e cerca de 1900 imagens a cores, atuais e históricas, o volume não é meramente um álbum fotográfico. Trata-se do fruto de mais de 25 anos de pesquisa do historiador de arte José Francisco Alves. Como obra comemorativa do 250 anos de Porto Alegre, o livro demonstra a evolução da escultura pública de Porto Alegre; aspectos teóricos da arte pública e políticas da arte pública de Porto Alegre, do Brasil e do Mundo. Também traz verbetes com históricos resumidos (ou estendidos, dependendo do caso) sobre centenas de exemplos de escultura pública, organizados conforme a tipologia. Grande dica para quem ainda ama esta cidade e seu patrimônio artístico em praças, parques, ruas, avenidas, viadutos, fachadas, cemitérios e outros locais.

Escravidão — Volume III, de Laurentino Gomes (Globo, 592 páginas, R$ 69,90)

O último livro da trilogia Escravidão é dedicado ao século XIX; à Independência; ao Primeiro e ao Segundo Reinados; ao movimento abolicionista, que resultou na Lei Áurea de 13 de maio de 1888; e ao legado da escravidão, que ainda hoje emperra a caminhada dos brasileiros em direção ao futuro. A escravidão era, na definição de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, “um cancro que contaminava e roía as entranhas da sociedade brasileira”. Disseminado por todo o território, o escravismo perpassava todas as atividades e todas as classes sociais. Maior território escravista da América em 1822, o Brasil assim se manteria até o final do século XIX, com sua rotina pautada pelo chicote e pela violência contra homens e mulheres escravizados. Nenhum outro assunto é tão importante e tão definidor da nossa identidade nacional quanto a escravidão. Conhecê-lo ajuda a explicar o que fomos no passado, o que somos hoje e também o que seremos daqui para a frente. Em um texto impactante e ricamente ilustrado com imagens e gráficos, Laurentino Gomes lança o terceiro volume de sua obra, resultado de 6 anos de pesquisas, que incluíram viagens por 12 países e 3 continentes.

Com quantos rabinos se faz um Raimundo, de Nurit Bensusan (Confraria do Vento, 180 páginas, R$ 50)

Um livro estupendo! No Alto de Pinheiros — bairro da elite paulistana –, um sem-teto chamado Raimundo vive solitário numa praça próxima a uma sinagoga e a edifícios residenciais. Como não incomoda, mora na praça também sem ser importunado. Mas um dia ele pede para que o rabino distribua alimentos para os pobres. A proposta é aceita. É um estranho pedido de quem não fala com quase ninguém, parece viver de ar e que passa seus dias escrevendo em cadernos e mais cadernos. A aceitação por parte do rabino também é inesperada. A partir deste ponto, a ação bondosa vira problema, pois os habitantes do bairro nobre não veem aquilo com bons olhos. É esquisita aquela gente que vem pegar comida, eles sujam tudo e, mesmo que o rabino contrate pessoas para fazer a limpeza diária, não adianta, os moradores querem o fim daquilo. Ou seja, a fila de famintos tem que ser retirada dali. Mesmo as domésticas e diaristas acham que aquilo não é para aquela região. Ou seja, o preconceito de classe é algo mais complexo e enraizado do que parece. Puro suco de Brasil!

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Bamboletras recomenda uma viagem entre Buenos Aires e o sul do estado

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A newsletter de quarta-feira da Bamboletras.

Olá!

Se você achou misterioso o nosso título, aqui vai a explicação. Nossa primeira sugestão é um livro da portenha María Gainza, que é uma tremenda escritora e crítica de arte. O segundo é de Céli Pinto, que fala de todas as mulheres, mas com foco nas de Bagé. Já o terceiro, de César Lascano, é um raro livro que gira sobre um time de futebol, o Brasil de Pelotas. E é tudo livro bom! Confira!

Abaixo, mais detalhes.

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O nervo óptico, de María Gainza (Todavia, 144 páginas, R$ 54,90)

Deve haver alguma coisa na água de Buenos Aires… O que sai de escritor bom de lá! María Gainza é escritora e crítica de arte. Em O nervo óptico, livro de contos, sentimos a fina linha que percorre as histórias, um tênue fio que confunde as delicadas fronteiras entre a arte e a vida, a beleza e o êxtase, as retinas e o mundo. E como é gostoso quando um escritor faz a ligação entre o cotidiano e a arte, entre o banal e o transcendente. A autora nos faz repensar, nestas onze narrativas sagazes que articulam memória e ensaio, as muitas formas de ver uma obra de arte; e, mais do que isso, nos ensina que também somos inadvertidamente vistos pelas imagens, somos atravessados — invadidos por elas. Com perspicácia ensaística, ironia e um lirismo incidental, María Gainza aguça a própria vocação da arte: “escrevemos algo para contar outra coisa”.

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Tempos e Memórias — Vidas de Mulheres, de Céli Pinto (Zouk, 156 páginas, R$ 49,00)

Vejam só que boa ideia a da Céli Pinto. Este livro reúne 16 relatos de pessoas comuns, situadas em diferentes lugares da constelação social: donas de casa, escriturárias, professoras, faxineiras, dentistas. Têm em comum a idade superior aos 70 anos, a localidade de Bagé e o sexo feminino. São pessoas invisíveis na cena pública, pessoas sem expressão, a quem é dada a oportunidade de se exprimir. Essas mulheres idosas, que acreditam não terem nada para contar, ficam gratas pelo reconhecimento, falam muito, narram seu passado privilegiando a juventude, os pais e a infância, relegando a um segundo plano maridos e filhos, como se o casamento representasse uma cisão em suas vidas. Vidas anódinas cerceadas de restrições, constrangimentos e sujeições em razão do sexo. Neste exercício de história da vida cotidiana feminina na campanha rio-grandense do início do século XX, Céli Pinto lança um olhar crítico e às vezes enternecido de pesquisadora experiente.

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Contos da arquibancada, de César Lascano (Edição do autor, 158 páginas, R$ 49,90)

Vocês conhecem as paixões que movem o Brasil de Pelotas, o Xavante? Se não conhecem, digo que é algo como um vendaval daqueles bem fortes, pra derrubar mesmo. Agora imaginem um livro de ficção que traga a voz do torcedor raiz e que misture personagens e histórias reais a invenções sobre o clube de futebol mais carismático do mundo. Sim, do mundo, ou vocês queriam um torcedor raiz equilibrado? Contos Da Arquibancada é o primeiro livro do músico, compositor, escritor e torcedor apaixonado César Lascano. É um livro escrito por quem conhece o cimento e o grito do Bento Freitas.  Mais do que isso, Lascano traz doses lirismo e drama à história do clube, vistos a partir de seu ângulo mais autêntico.

María Gainza

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