Chega uma conhecida cliente do interior. Deve ter uns 75 anos, ex-professora da Ufrgs.
— Olha, Milton, minha irmã dizia que não teria Alzheimer e agora sei lá, esquece de metade das palavras. Ela ia muito ao cinema, via tudo. Eu sempre disse: lê, lê também, que tu vai ter cérebro até o último dia. Eu leio sempre. Ela ainda vai incomodar muito a família.
A cliente já tinha pegado sete livros e eu perguntei se ela já tinha lido um monte de coisas. Ela não somente tinha lido quase tudo, como fazia um breve comentário sobre cada sugestão minha.
Então, ela viu o livro da Fernanda Montenegro.
— Olha só, Milton, Essa aqui manteve a cabeça sempre em dia, decorando textos, etc. Que mulher lúcida. Está como eu: perplexa com o retrocesso do país. E olha só que capa linda, que mulher bonita, quem é que disse que a velhice tem que ser feia e com baba?
E pôs na pilha. Deve ter levado um dez livros pra serra, onde mora.