Eu estava cansadíssimo. Trabalhei demais hoje. Porém, a noite começou a ficar animada no intervalo do concerto… Opa, já chegamos ao intervalo? Pois é, é que as duas peças iniciais de Ravel não me interessaram muito, aliás não me interessaram nem naquela caixa de 3 CDs onde o Abbado rege toda a música orquestral do francês. Acho um saco as tais Alborada del Gracioso e a Ma Mére L´oye. E cansado a coisa fica ainda pior. Imaginem que dormi na Mamãe Gansa… Sim, amo Ravel, mas não aquelas peças. Ah, esses repertórios…
No intervalo, começamos a rir. Era impossível não achar graça nas duas senhoras que analisavam o cabelo de todas as moças da Ospa. Elas reclamaram do cabelão de uma violinista loira que antes usava cachos, elogiaram a (bielo)russa que antes usava o cabelo armado e que agora adotara o soltinho descabelado — uuuuh, fica muito melhor! Falaram também da elegância de suas mãos. Criticaram de forma violenta, acerba mesmo, a monotonia de quem nunca muda o cabelo. Qual é a graça? Mulher tem que arriscar!
Na segunda parte do concerto, o Arthur Elias — que não teve o penteado comentado e estava no papel de fauno — deu um show no Prélude à l’après-midi d’un faune, obra difícil, gostosa de ouvir e onde a orquestra saiu-se muito bem. Eu já estava acordado. Chamei o Arthur de fauno porque no poema de Mallarmé, o fauno toca uma flauta e eventualmente excita-se e persegue algumas ninfas. Ele não pegou nenhuma.
O melômano que vos escreve faria vários reparos à interpretação de La Mer — houve um momento especialmente descontrolado na região dos violoncelos — , mas que diabo, é música ao vivo e estas coisas acontecem. Ouvi falar que houve poucos ensaios em relação à dificuldade do programa.
(Sempre penso que o movimento Sirènes está no La Mer (O mar tem sereias, correto?), mas ele finaliza Nocturnes. Não esquece mais disso, Milton!).