O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra. Excelente filme, com um conflito muito bem construído pelo diretor Fernando Coimbra. Dentro de um filme de grande violência psicológica, seu único equívoco foi na escolha de Leandra Leal para um dos papéis principais. Estava sentindo alguma coisa estranha e a Elena Romanov matou a charada. Ela é classuda demais para uma história passada num subúrbio do Rio de Janeiro. Não funciona como amante de um funcionário de empresa de ônibus. Mesmo com roupas de segunda mão, ela parece uma princesa disfarçada. Elena não é alguém que apenas vê objeções, também sugere soluções! Então, indica Cleo Pires ou Débora Secco para o papel. Concordo que Leandra Leal não serve para ser chamada de gata, deusa, diva, pitéu, essas coisas. Insisto nisso só para deixar PERFEITO um filme que já é BONÍSSIMO. Há três cenas antológicas: a do cafezinho xexelento, a da agressão cometida por Bernardo e a da incompreensão do delegado sobre o não envolvimento emocional entre os amantes. Claro que RECOMENDO MUITO.
The Lunchbox, de Ritesh Batra. um filme cheio de delicadeza que fala poeticamente sobre a solidão. Merece ser visto e que está lá na Eduardo Hirtz. É raro ver dois filmes tão bons em sequência. Acho que ambos — este e O Lobo Atrás da Porta — vão para lista de melhores de 2014. The Lunchbox recebeu, compreensivelmente, Prêmio do Público no Festival de Cannes de 2013. Uma tele-entrega equivocada coloca em contato uma jovem dona de casa com um desconhecido. Juntos, eles constroem uma relação baseada em bilhetes deixados nas marmitas nas quais as comidas são entregues. Utilizando temperos que misturam comédia e romance, a história tem como coadjuvante o velho, complexo e infalível sistema de entrega de marmitas de Mumbai. São os Dabbawallahs, que permitem que milhões de maridos possam saborear a comida de casa durante o expediente. Certo dia, uma dona de casa infeliz no casamento envia quitutes especiais para o marido. Quando este chega em casa, não comenta nada. No dia seguinte, ela envia um bilhete junto com a refeição e recebe outro, só que do estranho. Então, começam uma inusitada troca de conselhos. Filme encharcado em humanidade.
O Palácio Francês, de Bertrand Tavernier, é uma brilhante sátira a essas pessoas cheias de energia e irreflexão que são 80% (75%?) dos políticos. Infelizmente, são essas pessoas, normalmente dotadas de imensa capacidade de trabalho e ignorância, que mandam em todos nós. Sua cultura vem de manuais ou de citações, mudam de opinião a cada momento, apenas tratam da preservação de si mesmos e de seus auxiliares, os quais torturam em busca de mais e mais divulgação. Sim, 80% (75%?) são assim, basta ver a lista de nossos deputados estaduais. Apenas o personagem Maupas pensa — e ri — no filme de Tavernier, que tem um final brilhante (o qual retiro daqui a pedido de Elena). Um excelente filme desagradável, de ritmo alucinante. Recomendo. (E fica a pergunta: existe mesmo democracia?)