Retrato do Amor, de Ritesh Batra

Retrato do Amor, de Ritesh Batra

Este é um excelente filme sobre a beleza dos encontros.

Retrato do Amor (mais uma daquelas incríveis traduções brasileiras — o título original é apenas Photograph) é um filme que, em qualidade, fica um pouco abaixo da obra-prima que é Lunchbox, do mesmo Ritesh Batra, mas mesmo assim é muito bom.

(Este filme foi visto no Guion Cinemas — convenhamos, a TV ou o computador de casa só devem ser utilizados quando vemos um filme pela segunda vez, né?)

Acompanhamos os problemas de Rafi (Nawazuddin Siddiqui), um homem que trabalha como fotógrafo em pontos turísticos de Mumbai e que não tem tempo arranjar uma namorada ou esposa. Afinal, ele precisa economizar muito a fim de pagar uma dívida de seu falecido pai para que a avó não perca sua casa. Porém, esta mesma avó o pressiona para achar uma boa esposa. E logo, pois ele está ficando velho. Então, no desespero, ele decide pegar a foto de uma moça que tirou dias antes e dizer para sua avó que está prestes a se casar com ela. Só que a avó decide visitá-lo para conhecer a moça. Milagrosamente, Rafi reencontra a moça e surpreendentemente ela aceita fingir ser sua namorada. Parece bobo, mas não é,

E mais não contaremos.

Foto: Divulgação

Miloni (Sanya Malhotra) é uma jovem inteligente e promissora. É dedicada aos estudos e criada em um núcleo familiar que a estimula. É privilegiada e melancólica. Rafi é um homem humilde e sem grandes pretensões. O filme acerta em mostrar as condições sociais vivenciadas pela classe do rapaz, bem como questões que envolvem honra, tradição e sua cor da pele. Na Índia, assim como aqui, a cor da pele faz diferença.

A calma e doçura do filme não evitam que fique evidente o fato de que as diferenças sociais são fatores fundamentais em Mumbai.

Assim como Lunchbox, Retrato do Amor é uma produção de extrema delicadeza e sensibilidade humanas. Há o receio do toque e de dizer coisas abertamente. Ritesh nos leva até o final do filme de forma muito suave. Aliás, este é de extrema elegância.

Recomendo fortemente.

Três excelentes filmes no findi

Três excelentes filmes no findi

oloboatrasdaportaO Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra. Excelente filme, com um conflito muito bem construído pelo diretor Fernando Coimbra. Dentro de um filme de grande violência psicológica, seu único equívoco foi na escolha de Leandra Leal para um dos papéis principais. Estava sentindo alguma coisa estranha e a Elena Romanov matou a charada. Ela é classuda demais para uma história passada num subúrbio do Rio de Janeiro. Não funciona como amante de um funcionário de empresa de ônibus. Mesmo com roupas de segunda mão, ela parece uma princesa disfarçada. Elena não é alguém que apenas vê objeções, também sugere soluções! Então, indica Cleo Pires ou Débora Secco para o papel. Concordo que Leandra Leal não serve para ser chamada de gata, deusa, diva, pitéu, essas coisas. Insisto nisso só para deixar PERFEITO um filme que já é BONÍSSIMO. Há três cenas antológicas: a do cafezinho xexelento, a da agressão cometida por Bernardo e a da incompreensão do delegado sobre o não envolvimento emocional entre os amantes. Claro que RECOMENDO MUITO.

the-lunchboxThe Lunchbox, de Ritesh Batra. um filme cheio de delicadeza que fala poeticamente sobre a solidão. Merece ser visto e que está lá na Eduardo Hirtz. É raro ver dois filmes tão bons em sequência. Acho que ambos — este e O Lobo Atrás da Porta — vão para lista de melhores de 2014. The Lunchbox recebeu, compreensivelmente, Prêmio do Público no Festival de Cannes de 2013. Uma tele-entrega equivocada coloca em contato uma jovem dona de casa com um desconhecido. Juntos, eles constroem uma relação baseada em bilhetes deixados nas marmitas nas quais as comidas são entregues. Utilizando temperos que misturam comédia e romance, a história tem como coadjuvante o velho, complexo e infalível sistema de entrega de marmitas de Mumbai. São os Dabbawallahs, que permitem que milhões de maridos possam saborear a comida de casa durante o expediente. Certo dia, uma dona de casa infeliz no casamento envia quitutes especiais para o marido. Quando este chega em casa, não comenta nada. No dia seguinte, ela envia um bilhete junto com a refeição e recebe outro, só que do estranho. Então, começam uma inusitada troca de conselhos. Filme encharcado em humanidade.

o-palacio-francesO Palácio Francês, de Bertrand Tavernier, é uma brilhante sátira a essas pessoas cheias de energia e irreflexão que são 80% (75%?) dos políticos. Infelizmente, são essas pessoas, normalmente dotadas de imensa capacidade de trabalho e ignorância, que mandam em todos nós. Sua cultura vem de manuais ou de citações, mudam de opinião a cada momento, apenas tratam da preservação de si mesmos e de seus auxiliares, os quais torturam em busca de mais e mais divulgação. Sim, 80% (75%?) são assim, basta ver a lista de nossos deputados estaduais. Apenas o personagem Maupas pensa — e ri — no filme de Tavernier, que tem um final brilhante (o qual retiro daqui a pedido de Elena). Um excelente filme desagradável, de ritmo alucinante. Recomendo. (E fica a pergunta: existe mesmo democracia?)