Só hoje soube que a editora Estação Liberdade fez nova tradução deste País das Neves. A nova tradução deve ser ótima, conheço a autora, Neide Hissae Nagae. Li outras traduções de Kawabata pela Estação e elas foram totalmente satisfatórias. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer desta tradução (capa ao lado) de Marina Colasanti, feita lá pelos anos 70 para a Nova Fronteira. É a que acabo de ler… Cheia de erros de pontuação e concordância, a tradução não é direta do japonês, tendo vindo do alemão… Foi uma luta não apenas chegar ao final, mas tentar espreitar o Kawabata que estava por trás de tanta confusão. Não obstante, o livro por trás parece ser bom.
Este pequeno romance de Kawabata foi publicado primeiramente em 1937, depois passou por diversas revisões até chegar a seu formato definitivo em 1948. Tantos cuidados… Bem, vou tentar esquecer a tradução.
Shimamura é um homem de Tóquio, casado e com filhos, que viaja repetidamente ao “país das neves” região alta e fria do Japão, cuja neve muitas vezes isola povoados inteiros. É um intelectual observador e tranquilo, mas com enorme fascinação pelo feminino. Já no trem que o leva, fica apaixonado pela voz da jovem Yoko. Depois, tendo se fixado em uma hospedaria de águas termais, Shimamura é apresentado a Komako, uma das gueixas mais requisitadas no povoado. Ele retorna anualmente, sempre na estação fria, ao local e lá forma um estranho triângulo amoroso com Yoko e Komako.
Kawabata é um escritor poético, provocativo e delicadamente indecente. Este livro é o que dá maior liberdade ao leitor. As cenas são jogadas e interrompidas de tal forma que nunca são conclusivas. É um anti-naturalista que causa estranheza e prazer. Como sempre, Kawabata não descreve nenhuma cena de sexo, mas só um louco não veria o enorme erotismo da história.
Kawabata é sempre bom, mas, por favor, fujam desta edição da Nova Fronteira. Busquem a da Estação Liberdade, feita direto do japonês por quem sabe traduzir.