Bamboletras recomenda “Abandonar um gato” de Murakami, CDs de Vitor Ramil e ainda Pilar Quintana

Bamboletras recomenda “Abandonar um gato” de Murakami, CDs de Vitor Ramil e ainda Pilar Quintana

A newsletter desta quarta-feira da Bamboletras.

Haruki Murakami (1949)

Olá!

Calma gente, o gato acaba bem. O novo Murakami, Abandonar um gato, é formado por cenas corriqueiras da infância e da juventude do autor. Ao longo da narrativa, Murakami também traz à tona traumas familiares e de guerra, além contar sobre sua relação com o pai, com quem passou anos sem contato. Um baita livro! Também recebemos vários CDs — saudades dos CDs, né, gente? — de Vitor Ramil e recomendamos Os Abismos, de Pilar Quintana.

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Abandonar um gato (o que falo quando falo do meu pai), de Haruki Murakami (Alfaguara, 112 páginas, R$ 64,90)

“Claro que tenho muitas lembranças do meu pai. É natural, considerando que vivemos sob o mesmo teto de nossa casa não exatamente espaçosa desde o momento em que nasci até sair de casa aos dezoito anos. E, como é o caso da maioria das crianças e pais, imagino, algumas das minhas lembranças do meu pai são felizes, outras nem tanto. Mas as memórias que permanecem mais vívidas em minha mente agora não se enquadram em nenhuma das categorias; envolvem eventos mais comuns. Quando morávamos em Shukugawa, um dia fomos à praia para nos livrar de um gato. Não um gatinho, mas uma gata mais velha. Por que precisávamos nos livrar disso, não me lembro. (…) Em casa, descemos da bicicleta – discutindo como sentimos pena do gato, mas o que poderíamos fazer? – e quando abrimos a porta da frente o gato que acabamos de abandonar estava lá, nos cumprimentando com um miado amigável.”

CDs de Vitor Ramil — Campos Neutrais / Avenida Angélica / Ramilonga – A Estética do Frio / Foi no mês que vem (coletânea)

Com preços variando entre R$ 39,90 a R$ 59,90, recebemos boa parte da obra de Vitor. Ele precisa de apresentação? Compositor, letrista, cantor e escritor brasileiro, nascido em Pelotas, Ramil é autor de doze álbuns, um melhor do que o outro. “Avenida Angélica” é seu último trabalho, onde ele coloca música em poemas de Angélica Freitas. “Foi no mês que vem” é uma coletânea de trabalhos anteriores regravadas por convidados especiais como Fito Páez, Jorge Drexler, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Pedro Aznar, os manos Kleiton e Kledir, a cantora Kátia B, o percussionista Marcos Suzano, o violonista argentino Carlos Moscardini e, entre outros, as revelações da nova geração porto-alegrense Bella Stone e seu filho Ian Ramil. Smos apaixonados por “A Estética do Frio”. Nossa que CD bom!!! Explora nossas rapizes de um modo muito especial. Para completar “Campos Neutrais” foi indicado ao Grammy Latino na categoria de “Melhor Álbum de Música Popular Brasileira”. É mole?

Os Abismos, de Pilar Quintana (Intrínseca, 270 páginas, R$ 69,90)

A menina Claudia mora com os pais em Cáli, na Colômbia, em um apartamento tomado por plantas. O ambiente, exuberante e bem cuidado, é um contraste, uma oposição à mãe indiferente que está em conflito com os caminhos de sua própria vida. Como muitas famílias, a de Claudia passa por uma crise, e basta o casamento de seus pais estremecer para que ela comece a entender a fragilidade dos limites que mantêm seu cotidiano. A partir da expectativa e de seu olhar atento e ao mesmo tempo inocente de criança, é a menina que narra os acontecimentos que abriram as fendas por onde entraram seus piores medos, aqueles que são irreversíveis e podem levar à beira dos abismos.

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Um romance histórico, outro que é só romance e um espetacular livro de crônicas são as dicas da Bamboletras

Newsletter de 19 de abril de 2021

Olá!

Semana boa para ler! Imaginem que tem um feriado encravado bem no meio dela! Nossas sugestões só incluem livros deliciosos — bons de cama, cadeira, mesa, rede e sofá.

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O Último Processo de Kafka, de Benjamin Balint (Arquipélago, 272 pág., R$ 64,90)

Franz Kafka, pouco antes de morrer, deixou ao seu melhor amigo, Max Brod, também escritor, a tarefa de queimar seus manuscritos — muitos deles inéditos. Para nossa sorte, Max traiu Franz transformando seu amigo em um dos maiores nomes da literatura do século 20.”O Último Processo de Kafka” é um mergulho fascinante na origem, na importância inestimável e no destino de grande parte destes documentos, que por quase meio século, juntaram pó num apartamento pequeno em Tel Aviv. Nos dias atuais, combinando seus talentos de pesquisador, ensaísta, biógrafo e repórter, Benjamin Balint alterna seu olhar entre a grande amizade de Kafka e Brod e a longa batalha judicial de uma velha senhora solitária contra poderosos interesses nacionais.

A Cachorra, de Pilar Quintana (Intrínseca, 160 pág., R$ 39,90)

Desde muito cedo, a vida de Damaris é marcada por tragédias. Ela carrega uma solidão que talvez tivesse sido aplacada pelo filho que nunca conseguiu ter. Cuidar da casa de veraneio há muito abandonada pela família Reyes ocupa seus dias, aliviando sua consciência pelo que sente ter sido uma omissão sua no passado, mas nada disso lhe traz conforto. Quando, num rompante, decide adotar a cachorra da ninhada de uma vizinha, Damaris tem a chance de desviar um pouco o foco das tentativas frustradas de engravidar. A fêmea que agora circula pela casa modesta faz aflorar instintos protetores e violentos, emoções díspares e profundas que supostamente só poderiam ser despertadas pela maternidade.

Ingresia, de Franciel Cruz (P55, 260 pág., R$ 40,00)

Ingresia é um livro de crônicas sobre a província da Bahia lambuzada de dendê e de exclusões. O autor, Franciel Cruz, é um jornalista e personagem deste livro espetacular. São crônicas e mais crônicas, uma melhor que a outra, todas muito bem escritas, todas em rigorosa forma franceliana — uma linguagem barroca e desbocada, irreverente e ateia, altamente pessoal, cheia de surpresas e beleza. Sim, beleza, esta fugidia menina. Tanto que às vezes temos que lê-las duas vezes por pensar que perdemos algo da forma no afã (recebam meu afã no peito) de não perdemos a linha do pensamento original e bêbado do autor que escrevia bêbado, mas editava sóbrio (beijinho no ombro, Hemingway). E a capa? Que capa, senhores!

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