A Ospa e o Grêmio

Para mim foi surpreendente; afinal, o Teatro do Sesi estava quase cheio. Havia um jogo pela Libertadores — o divertido Caracas 2 x 1 Grêmio — e, como se não bastasse, tinha o show Thick as a Brick, do Jethro Tull, no Araújo Vianna. Mas o pessoal deslocou-se até o “interior” para chegar ao Sesi e ver o concerto inaugural de 2013. Era uma cortina lírica com aberturas, árias e cenas de Giuseppe Verdi e Richard Wagner. Em 2013, ambos completam 200 anos de nascimento e devem ser figurinhas fáceis antes do ano da Copa.

Não tenho muito a dizer sobre o concerto, não sou afeiçoado ao gênero, porém é absolutamente obrigatório citar o espetacular tenor Martin Muehle. Trata-se de um cantor que não apenas é excelente, mas que também está no auge. Mesmo na ‘Cena 3 do primeiro ato da ópera “Die Walküre”’ — uma longa cena que consiste em aproximadamente 15 minutos de clímax, algo que no início é parecido com o sexo tântrico mas que logo dá sono — , o cara deu um banho. Perto do final da cena, olhei para o lado esquerdo, uma pessoa dormia; olhei para o outro lado, duas. O Martin não merecia Wagner. Será que em Bayreuth é também assim?

Eu estava sentado na poltrona A13 / 9.

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Em Caracas, falava-se em outra poltrona…

Quando saí do Concerto e liguei o celular, o Dario Bestetti já estava em chamas, mandando torpedos de “Chávez Vive!”. Logo vi que algo muito legal estava rolando em Caracas. Liguei pra ele e soube que Cris era o Bolívar careca. Caraca, vi os gols agora! A definição é mais do que exata. Claro, não assisti o jogo e tenho convicção de que o Grêmio irá se classificar em primeiro lugar em seu grupo — o Flu está muito mal e o Grêmio poderia vender saldo gols e ainda assim permanecer em vantagem — , mas perder pontos é sempre legal. O porteiro do prédio do Sul21 não me recebeu com o olho tapado em referência ao pirata Barcos, prova de que o golpe deixou-o abalado. Não lhe disse nada. Nem precisava. Todo mundo sabe da derrota e da faixa.

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O mico que veio do espaço

Não sou jornalista nem publicitário, mas penso que meus 51 anos me deram um pingo de sabedoria para poder refletir sobre meus erros e os de outrem. Quando a agência W3Haus (aqui e aqui, posts alusivos no blog da agência) intermediou a compra do nome de uma estrela por parte do Grêmio, deveria ter pensado em todas as piadas e no simbolismo que envolveria um negócio estranho como este. Por exemplo, uma coisa que a agência deveria ter considerado é que nossos clubes costumam pôr estrelas em suas camisetas. É como se desejassem imprimir suas maiores realizações no firmamento. Até aí tudo bem, o ser humano é ridículo mesmo. Só que tais estrelas são conquistadas, nunca compradas. Será que não pensaram que estariam dando de graça uma piada aos colorados e expondo seu cliente ao ridículo ao adquirir uma estrela num ano sem títulos?

Para uma pessoa da minha geração, o fato também lembra aquele dilacerante e várias vezes repetido especial da Rede Globo sobre Elis Regina, produzido em 1983, um ano após sua morte. Chamava-se Agora sou uma estrela. O especial utilizava escritos que a própria Elis deixara em diários e que eram, no programa, interpretados por Irene Ravache. A frase agora sou uma estrela, repetida à exaustão nas propagandas e no especial, tinha claro significado: morri, agora estou no céu, agora sou uma estrela. Aquilo ficou na cabeça de minha geração, mas acredito que a relação não exista apenas para nós, pois se consultarmos os livros de História e relacionarmos todos os povos que pensavam em seus mortos ao olhar para o céu — ou nas religiões que os enviavam e enviam para o mesmo local após a morte –, concluiremos que é coisa atávica.

Há mais: falei que o torcedor gosta de estrelas na camiseta, mas gosta ainda mais de estrelas em campo. Uma equipe cheia delas é “galáctica” como o Real Madrid. Eu compreenderia que uma instituição riquíssima comprasse uma estrela no céu para demonstrar aos outros que já tem tudo o que deseja na Terra, eu entenderia também que um time recém campeão do mundo adquirisse uma estrela para significar que aguarda, quem sabe, agremiações marcianas capazes de vencê-la. Mas não entendo que qualquer endividado clube brasileiro — ainda mais um abstinente de títulos — faça uma compra tão estapafúrdia.

Mas há muito mais: se os compradores de nomes de estrelas tivessem alguma habilidade com a Internet, poderiam descobrir facilmente o mico total, integral, definitivo:

The International Star Registry is not in the business of officially assigning star names; it is in the business of finding people willing to part with their money for a piece of paper that in a scientific sense means precisely nothing.

“We produce a good product, a fun product. We may have planted a seed with people, educated them even slightly about astronomy, about the stars,” said Rocky Mosele, vice president of marketing and advertising for ISR. “For people to say, ‘Well, it’s not official’ — I think people are OK that it’s not official. I’m sure of it. I know because customers call again and again and again.”

Ou seja, o vice-presidente de marketing da ISR, sigla que lembra outra a qualquer gremista desta galáxia, admite que a compra de estrelas é um fun product, uma brincadeira ou talvez um presente de cunho romântico, como fez Nicole Kidman ao presentear Tom Cruise com a estrela “Forever Tom” ou Winona Ryder com Johnny Depp. A compra de nomes de estrelas não é oficial, nem reconhecida pelos astrônomos. A IAU (International Astronomical Union), fundada em 1919, com 8300 membros individuais e 66 países membros, é a única instituição autorizada a nomear corpos celestes. E o Grêmio comprou o seu da ISR.

Basta comparar os linques acima. Com toda a razão, a IAU declara que a ISR é um deplorável truque comercial. Fundada em 1979, a ISR já comercializou 1 milhão de estrelas por US$ 50 cada. Todos os donos receberam belos certificados. Como há mais de 400 bilhões de estrelas disponíveis apenas em nossa galáxia, é um baita negócio.

Porém, mesmo que a culpada seja a agência de propaganda que o induziu a um mico, acreditamos que o Grêmio tenha acesso à rede mundial para descobrir a fama da ISR e seja PLENAMENTE MERECEDOR de todas as piadas (eu descobri a farsa em 5 minutos). Afinal, na noite de 11 de dezembro de 2008, na Sociedade Libanesa, em Porto Alegre, a diretoria do Grêmio anunciou séria, feliz e em grande estilo a adoção de uma certa Estrela Grêmio, localizada na Constelação de Órion, a mais brilhante. Se isso em nenhum momento lhes soou como uma compra de indulgências – cujas vendas fez Martinho Lutero escrever 95 teses em 1517 –, CÉUS, afirmaria que são um bando de tolos. Ou siderados.

Quando os gremistas pensavam estar extinta a voz de Flávio Obino cantando as maravilhas do Trovão Azul e do site, quando silenciaram os comentários sobre a alegre poltrona 36, chega-lhes um curioso problema de outro mundo: a fama de comprador de uma grande e distante estrela paraguaia.

E dizem que nem pode ser vista a olho nu.

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